Controle Agroecológico da Fusariose do Abacaxi com Plantas Antibióticas

Rêmulo Araújo Carvalho
José Teotônio de Lacerda
Eliazar Felipe de Oliveira
Salim Abreu Choairy
Miguel Barreiro Neto
Elson Soares dos
Santos
 

          A modernização da agricultura, em seus mais variáveis aspectos técnicos, sociais e econômicos, tem proporcionado aos produtores rurais altas produtividades e rentabilidades. Avanços estes promovidos, também pela pesquisa agrogenética que aliada à utilização de modernos insumos agrícolas, tem permitido a exploração de grandes áreas agricultáveis com culturas selecionadas, melhoradas e/ou até transgênicas.

          Entretanto, ao concentrar milhares de plantas semelhantes geneticamente em uma determinada área, o homem tem provocado um desequilíbrio ecológico em favor de insetos, fungos e bactérias que encontram nas modernas grandes culturas, adensadas e homogêneas, um ambiente propício à epidêmicas infestações e propagações, constituindo-se em pragas e doenças, destruindo plantações, alimentos e investimentos. Paralelamente, tem sido desenvolvida uma indústria agroquímica especializada na proteção de plantas contra pragas, doenças e ervas daninhas. Esta indispensável proteção é feita principalmente por agrotóxicos, dentre os quais destacam-se os inseticidas, fungicidas e herbicidas.

          Apesar de sua comprovada eficiência, os agrotóxicos são perigosos para o homem e para o meio ambiente. A utilização inadequada desses produtos pode gerar distúrbios gástricos, respiratórios, neurológicos, psicológicos e até mesmo câncer em indivíduos que os manuseiam e os consomem.

          No meio ambiente os agrotóxicos destroem também populações de insetos benéficos e de inimigos naturais, contaminam solos e mananciais, com conseqüências sobre a fauna e sobre a cadeia alimentar de áreas que geralmente ultrapassam os limites da propriedade rural onde o produto químico é aplicado.

          Atualmente existe uma conscientização ecológica globalizada que exige alimentos mais naturais e que tem influenciado o aprimoramento e a utilização de medidas de controle integrado de pragas e doenças agrícolas. Neste tipo de controle, métodos alternativos são utilizados para proteção de plantas objetivando diminuir a utilização de produtos químicos.

          Acompanhando essa tendência agrícola mundial direcionada a uma agricultura ecológica e natural, a Emepa, em parceria com o Banco do Nordeste, tem investigado cientificamente diversas possibilidades de controle integrado de pragas e doenças do abacaxizeiro.

          Merecem destaque os resultados obtidos no controle da fusariose do abacaxizeiro com a utilização de plantas medicinais com propriedades antibióticas. O uso desta tecnologia tem proporcionado um controle da fusariose tão eficiente quanto o controle com o uso de fungicidas, com a vantagem de não prejudicar o homem nem o meio ambiente.
 

FUSARIOSE DO ABACAXIZEIRO

          A fusariose do abacaxizeiro, causada pelo Fusarium subglutinans, destaca-se pela freqüência com que ocorre e pelos graves danos causados nas principais áreas produtoras do Brasil. As perdas são variáveis podendo atingir índices superiores a 80% caso a frutificação ocorra em épocas chuvosas e de temperatura amena.

          Os sintomas são caracterizados, principalmente, pela exsudação de goma, que pode aparecer nas mudas, plantas e frutos. Os mais conhecidos sintomas ocorrem nos frutos, durante a fase de maturação, quando a exsudação gomosa ocorre através das cavidades florais, e a parte afetada diminui de tamanho por causa da exaustão dos tecidos internos, exibindo uma coloração avermelhada. O fruto pode ser parcial ou totalmente afetado e adquirir no estágio final de evolução da doença um aspecto mumificado.

 

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Exsudação gomosa em muda Exsudação gomosa no fruto Fruto mumificado no estágio final Fruto sadio (sem exsudação gomosa)
Fotos: Rêmulo Araújo Carvalho


          Como medidas de controle têm sido recomendados:

a) Mudança da época de produção;


b) Utilização de mudas provenientes de plantios onde a incidência tenha sido nula ou muito baixa;

c) Seleção de mudas, descartando-se as que apresentarem goma ou estejam injuriadas;

d) Tratamento de frutos contra a broca, com a finalidade de evitar possíveis injúrias capazes de provocarem a penetração do fungo;

e) Uso de variedades resistentes;

f) Pulverizações preventivas durante o desenvolvimento floral, com fungicidas.

          Possuindo a maior biodiversidade do planeta, a flora brasileira é riquíssima em plantas medicinais. Estas têm sido usadas há milênios pelas nossas populações indígenas e sua utilização tem sido assimilada pela população brasileira, sendo uma cena comum encontrar em nossas cidades tabuleiros de vendedores ambulantes contendo uma grande variedade de plantas cujas propriedades terapêuticas já estão consagradas, principalmente na medicina alternativa das populações menos favorecidas.

          Com o objetivo de utilizar esses atributos terapêuticos na fitopatologia da cultura do abacaxizeiro, foram investigadas em laboratório as propriedades antibióticas de diversas plantas medicinais em relação ao fungo Fusarium cultivado em meio de cultura BDA (batata-dextrose-ágar). Cada planta foi testada como um extrato aquoso adicionado ao BDA nas seguintes concentrações: 5,05%; 2,5%; 1,2%; 0,6%; 0,3% e 0%. As plantas antibióticas que mais se destacaram nos experimentos laboratoriais foram selecionadas para serem testadas em experimentos de campo, cujos trabalhos foram todos desenvolvidos na Estação Experimental de Abacaxi, em Sape, PB.

          Os experimentos laboratoriais demonstraram que, em geral, o desenvolvimento do fungo Fusarium em meio de cultura foi inversamente proporcional à concentração do extrato vegetal.

          As plantas: aroeira (Schinus molle), barbatimão (Stryphnodendron barbadetiman), caju roxo (Anacardium occidentale), alho (Allium sativum) e gengibre (Zenziber officinale) destacaram-se por inibir o desenvolvimento do fungo Fusarium em laboratório e, portanto, foram selecionadas para os experimentos de campo. Nestes, os extratos vegetais foram aplicados em substituição aos fungicidas durante o período de abertura das flores a intervalos semanais. Por ocasião da colheita, os frutos foram avaliados quanto a presença ou ausência da fusariose.

          A incidência da fusariose do abacaxizeiro nos experimentos de campo foi de 30,2% no tratamento testemunha (sem nenhum produto), e de 7,5% no tratamento tradicional à base do fungicida thiophanato metílico. Dentre as plantas antibióticas, destacaram-se o alho, o gengibre e, principalmente o barbatimão que, com apenas 7,6% de incidência, conseguiu controlar a fusariose do abacaxizeiro tão eficientemente quanto o fungicida.

          Portanto, o uso de plantas medicinais com propriedades antibióticas no controle da fusariose do abacaxizeiro desponta-se como uma tecnologia eficiente, ecológica e econômica, possuindo um grande potencial de aplicação em um programa integrado de controle de doenças de plantas.

          Esta tecnologia, por usar produtos naturais com propriedades medicinais, é completamente inócua ao homem e ao meio ambiente, estando em sintonia com as atuais tendências agrícolas mundiais nas quais a ecologia se alia cada vez mais à química no delicado processo de proteção de plantas contra pragas e doenças.

Esses resultados atestam a atualidade da pesquisa agropecuária paraibana e seu compromisso social e ambiental, forjados na necessidade de aumentar a produtividade do setor agrícola sem negligenciar o impacto ambiental causado pela geração e implementação de novas tecnologias.

Fonte: EMEPA  - Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S/A - http://www.emepa.org.br


Rêmulo Araújo Carvalho possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal da Paraíba (1984) e mestrado em Biologia Ambiental pela University of Guelph (1994) . Atualmente é Pesquisador II da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba EMEPA. Tem experiência na área de Agronomia , com ênfase em Fitossanidade.
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Contato: remuloc@hotmail.com

José Teotônio de Lacerda possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal da Paraíba (1983) e mestrado em Fitossanidade pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (1992) . Atualmente é Pesquisador II da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba. Tem experiência na área de Agronomia , com ênfase em Fitossanidade. Atuando principalmente nos seguintes temas: Mancha angular, Raça fisiológoca, Doença, Isariopsis griseola, Resistência.
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Eliazar Felipe de Oliveira
possui mestrado em Agronomia [Areia] pela Universidade Federal da Paraíba (1991) . Atualmente é Pesquisador da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba. Atuando principalmente nos seguintes temas: Doenças sistema de cultivo consorcio abacaxi seme.
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Salim Abreu Choairy é Engenheiro Agrônomo da Embrapa/Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba (EMEPA).

Miguel Barreiro Neto possui graduação em Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal da Paraíba (1971) , especialização em Pré Serviço de Extensão Rural pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (1972) e mestrado em Genética e Melhoramento pela Universidade Federal de Viçosa (1978) . Atualmente é Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e Pesquisador II da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba. Atuando principalmente nos seguintes temas: Seleção Opaco-2.
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Elson Soares dos Santos possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal da Paraíba (1978) e mestrado em Zootecnia pela Universidade Federal da Paraíba (1981) . Atualmente é Pesquisador II da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba. Tem experiência na área de Agronomia , com ênfase em Estatística. Atuando principalmente nos seguintes temas: melhoramento genético, genética, seleção, herdabilidade, índice de seleção.
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Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

CARVALHO, R.A.; LACERDA, J.T.D.; OLIVEIRA, E.F. de; CHOAIRY, S.A.; BARREIRO NETO, M.; SANTOS, E.S. dos. Controle agroecológico da fusariose do abacaxi com plantas antibióticas. 2006. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2006_2/abacaxi/Index.htm>. Acesso em:


Publicado no InfoBibos em 20/9/2006