SILAGEM
Capricho na retirada é fundamental para colocar no cocho silagem de boa qualidade

 

Josiane Aparecida de Lima

Eduardo Antonio da Cunha

 

Para fornecer silagem de boa qualidade aos animais não basta apenas tomar as devidas precauções no momento de ensilar. Para que a silagem chegue com a mesma qualidade ao cocho dos animais é fundamental estar atento a algumas estratégias importantes após a abertura do silo. Essas estratégias aqui serão denominadas de ‘manejo do painel do silo’.

Para facilitar o entendimento da importância de determinados cuidados no manejo do painel do silo é necessário tomar conhecimento do que acontece no interior deste após a colocação da forragem, compactação e vedação. Após essas práticas, várias transformações ocorrem na forragem que foi ensilada. Quando se coloca a forragem no interior do silo e procede-se a compactação, elimina-se grande parte do oxigênio existente entre as partículas de forragem. Após a correta vedação do silo, os microrganismos aeróbios (necessitam de oxigênio para sobreviverem) que acompanham a forrageira se encarregam de consumir o restante do oxigênio. Com o término do oxigênio, a condição no interior do silo se torna anaeróbia (sem oxigênio). Nesta condição, os microrganismos que necessitam de oxigênio para sobreviverem (aeróbios) morrem ou se tornam inativos e começa o desenvolvimento de outra classe de microrganismos, os anaeróbios (não necessitam de oxigênio para sobreviverem).

Esses microrganismos (anaeróbios) utilizam os açúcares da forragem para produzirem alguns ácidos orgânicos que são responsáveis pela conservação da forragem na forma de silagem. E se não houver entrada de ar e, ou água no interior do silo, a silagem poderá ser armazenada por longo período. No entanto, após a abertura do silo, a silagem ficará exposta ao ar e, nesta condição, os microrganismos aeróbios (aqueles que necessitam de oxigênio para sobreviverem) voltam a atuar. Esses microrganismos são prejudiciais à qualidade da silagem, pois são agentes responsáveis pela degradação da proteína e transformam o ácido lático (fundamental para preservação da silagem) em ácido butírico. A presença de ácido butírico na silagem é indicativa de fermentação inadequada, ou seja, é indicativa de perda do valor nutritivo da silagem.

Sendo assim, se determinados cuidados não forem tomados, a qualidade da silagem que é colocada no cocho dos animais será muito inferior à qualidade da silagem que está no interior do silo. A conseqüência desse fato é evidente, ou seja, compromete-se a performance produtiva e reprodutiva do rebanho, resultando em prejuízos econômicos para o criador. Esse fato é lógico, pois os animais somente evidenciam seus potenciais de produção e reprodução se receberem alimentação de boa qualidade.

Para que isso não aconteça e se possa garantir o fornecimento de silagem de boa qualidade ao rebanho, basta tomar algumas precauções simples, porém de fundamental importância. A adoção de algumas estratégias básicas no manejo do painel do silo certamente evitará perdas e prejuízos desnecessários. Exige, apenas, cuidado, zelo e capricho na retirada e utilização da silagem. Sendo assim, após a abertura do silo, diariamente, deve-se descartar as partes estragadas (escuras, podres) e as partes com presença de mofo (fungadas). Silagens com essas características possuem elementos tóxicos que poderão causar sérios problemas à saúde dos animais, inclusive morte.
 

 

A camada de silagem a ser retirada do silo, diariamente, não deve ser inferior a 20 cm. Deve-se retirar a silagem de forma que o painel do silo seja mantido liso, ou seja, não devem ser escavados ´buracos´ ou ´escadas` na silagem. Quando procede-se dessa forma, aumenta-se a área de silagem exposta ao ar e, consequentemente, perde-se qualidade de forma significativa. Portanto, a silagem não deve ser retirada apenas em uma parte do painel do silo e, sim, deve ser retirada em toda a superfície deste. È importante ter sempre em mente que a retirada da camada diária de silagem que será fornecida aos animais deverá ser perpendicular ao solo e deverá abranger todo o painel do silo.
 

 

Para que seja possível adotar esse manejo correto de retirada de silagem, o dimensionamento do silo deve ser compatível com o tamanho do rebanho. É preferível construir maior número de silos, com menores dimensões, ou silos compridos e estreitos. Assim, a área de exposição da silagem ao ar será menor e haverá rápida progressão na retirada da silagem, sendo que essa prática ocorrerá de forma mais rápida que a entrada de ar no interior do silo.

Diante do exposto, é de fundamental importância ficar atento ao tamanho do silo. Por exemplo, um silo trincheira com grandes dimensões não deve ser utilizado para um rebanho composto por poucos animais. Nesta condição, certamente o criador terá grandes prejuízos, pois houve gasto considerável na produção da silagem e os animais certamente não receberão silagem com qualidade compatível à que está no silo, pelas razões já expostas, ou seja, pela perda de qualidade da silagem em função da grande área de silagem exposta ao ar.

Outro cuidado que deve ser tomado é não retirar silagem que somente será colocada no cocho dos animais horas mais tarde ou no dia seguinte. Retire apenas a quantidade de silagem que será colocada no cocho naquele momento. Abandone completamente o hábito de colocar na carreta silagem que será fornecida aos animais horas depois. Essa prática, aparentemente, facilita a logística operacional da propriedade, mas, com toda certeza, reflete negativamente nos lucros do criador, pois, nesta condição, também haverá perda significativa da qualidade da silagem. E, ainda, poderá ocorrer o desenvolvimento de microrganismo nocivos à saúde dos animais.

E os cuidados no manejo do painel do silo não param aí, é importante também, após a retirada da silagem, proteger o painel com lona, pois as chuvas e a incidência de ventos e raios solares também contribuem, e muito, para a perda da qualidade da silagem.

Todos os cuidados mencionados são simples, fáceis de serem adotados e devem ser seguidos com rigor, pois, dessa forma, o criador estará garantindo alimentação volumosa de boa qualidade para ser fornecida aos ovinos e caprinos na época seca. A adoção dessas estratégias, com toda certeza, contribuirá para a lucratividade do empreendimento. É importante ter sempre em mente que ter cuidado, zelo e capricho no manejo do painel silo também é tecnologia. E, tecnologia, é sinônimo de lucro.
 

Forma errada de retirar silagem do silo.
Escavações irregulares (escadas e buracos)
é um procedimento totalmente errado, pois é prejudicial à qualidade da silagem.

 

Manejo correto do painel do silo, sem escavações.
Silagem retirada em toda a face do silo.

 


Josiane Aparecida de Lima possui graduação pela Universidade Federal de Lavras (1987), mestrado em Zootecnia pela Universidade Federal de Lavras (1992) e doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa (1997). Tem experiência na área de Zootecnia , com ênfase em Pastagem e Forragicultura. Atuando principalmente nos seguintes temas: seletividade, pastagem natural, fístula esofágica.
(Texto gerado automaticamente pela aplicação CVLattes)
Contato:
josiane@iz.sp.gov.br


Eduardo Antonio da Cunha
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Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência de Pesquisa Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo - SAA, Graduação em Zootecnia. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil.
Contato: cunha@iz.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

LIMA, J.A. de, CUNHA, E.A. Silagem: Capricho na retirada é fundamental para colocar no cocho silagem de boa qualidade. 2006. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2006_3/Silo/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 21/12/2006