A fruta achachairú

Wilson Barbosa

Fabiane Aparecida Artioli

 

 

A CEAGESP vem comercializando há alguns anos o achachairú, fruta exótica produzida no nordeste brasileiro. Trata-se de frutífera nativa da Bolívia e muito apreciada em Ayacucho, Santa Cruz, onde se realizam festas anuais para promoção da fruta e de seus produtos industrializados, como sucos e doces.

Essa frutífera pertence ao gênero Garcinia (ex-Rheedia), cujo parente mais famoso é o mangostão (Garcinia mangostana L.), originado no trópico asiático. Com a recente mudança do gênero Rheedia para Garcinia, vem ocorrendo certa confusão na nomenclatura das espécies catalogadas. Muitos autores nacionais, ainda, empregam o termo Rheedia para algumas frutíferas nativas e exóticas, existentes em várias regiões tropicais mundiais.

         Os frutos têm massa média de 30g e são globoso-oblongos, semelhantes a uma nêspera, com diâmetros transversais e longitudinais de 35,8mm e 45,2mm respectivamente. A base peduncular do fruto é estreita e a calicinal mais larga. São amarelo-alaranjados, com casca grossa (3,53mm), lisa, firme e resistente; internamente a casca é creme-palha. A polpa, não aderente à casca, é branca, suculenta e de textura mucilaginosa, representando 1/3 da massa média do fruto, sendo que após retirada dos frutos se oxida rapidamente. O sabor, que lembra um pouco ao do araçá, é bem agradável e adocicado, com oBrix 15 e acidez pH próxima a 4,0.  As sementes desuniformes, de 1 a 3 por fruto, são esbranquiçadas, alongadas (2,6 x 1,2cm) e grandes. Normalmente, há apenas uma semente por fruto, com massa de 4,29g, sendo as demais chochas. Testes de germinação indicaram que as sementes iniciam a emissão da radícula após 30 dias sob ambiente controlado de estufa B.O.D. No nordeste brasileiro, a maturação dos frutos ocorre em fevereiro a abril, sendo esses bastante resistentes ao transporte e de boa conservação em geladeira comum. No Brasil, o achachairú é pouco conhecido e, ás vezes, confundido pelo público leigo com frutas de outras espécies, como o bacupari, bacuripari e bacurizinho.

         Em levantamento realizado no Lattes/CNPq, verificou-se que há menos de 30 artigos científicos brasileiros envolvendo as espécies Rheedia gardneriana, R. acuminata, Garcinia cambogia, G.  mangostana, G.  macrophylla, G. gardneriana, G. cochinchinensis  e G. multiflora. A grande maioria destes artigos relata pesquisas sobre caracterização química e efeitos terapêuticos das frutas; somente 10% deles dizem respeito à propagação.

          Segundo a literatura especializada, a família do achachairú (Clusiaceae) é composta por trinta e um gêneros e sessenta e duas espécies. São espécies de grande importância para a indústria farmacêutica, uma vez que dos frutos e folhas são extraídas algumas substâncias químicas como biflavanóides e benzofenonas. As substâncias químicas isoladas dos frutos ou folhas possuem atividades imunotóxicas e anti-inflamatórias e potencial antioxidante anticancerígeno. Na medicina popular, os frutos e folhas são utilizados como cicatrizantes, digestivos e laxantes e em tratamentos de reumatismo, úlcera gástrica, inflamação.

O IAC vem pesquisando a propagação seminífera do achachairú e formando mudas para plantios locais, visando obter maior conhecimento sobre o comportamento das plantas fora de seu habitat.

 


WILSON BARBOSA, pesquisador Científico VI do Instituto Agronômico (IAC) e mestre em Fitotecnia pela Universidade de São Paulo (ESALQ/USP). Atua nas áreas de melhoramento genético, ecofisiologia e manejo de recursos genéticos de frutíferas. Em 28 anos de pesquisas, lançou 60 cultivares de frutíferas, sendo 28 de pêssego, 7 de nectarina, 6 de pêra, 5 de caqui, 4 de ameixa, 4 de maçã, 3 de nêspera e 3 de umê. Publicou 85 artigos em periódicos especializados, 75 trabalhos técnico-científicos em veículos diversos, 17 capítulos de livros e 107 resumos em anais de eventos. Tem como destaque especial na carreira o lançamento de ‘IAC Douradão’, principal cultivar de pêssego do mercado paulista.
Contato: wbarbosa@iac.sp.gov.br

 

FABIANE APARECIDA ARTIOLI:  fabiane_art@yahoo.com.br


 

Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

BARBOSA, W.; ARTIOLE, F.A. A fruta achachairú. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_1/achachairu/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 14/03/2007