SISTEMA DE PRODUÇÃO INTENSIVA DE OVINOS EM PASTAGEM DE CAPIM ARUANA

Luiz Eduardo dos Santos
Eduardo Antonio da Cunha
Mauro Sartori Bueno

O sucesso na produção intensiva de ovinos, em pastagens, exige que se trabalhe com uma eficiência reprodutiva alta em termos de fertilidade, prolificidade e pequeno intervalo entre partos, garantindo um elevado número de crias para abate. Isso depende da utilização de matrizes e, principalmente, reprodutores de elevado potencial zootécnico, de maneira a se ter crias precoces, com altos níveis de ganho de peso e carcaças bem conformadas, bem como da obtenção de altas taxas de lotação nas pastagens, possibilitando o trabalho com o maior número possível de “ventres” por área.

A utilização de matrizes de porte médio, com 60 a 65 kg de peso vivo, com menor susceptilidade à verminose e outros problemas sanitários, férteis, prolíficas e sem estacionalidade reprodutiva, aliada à utilização de forrageiras de elevada produtividade e alto valor nutritivo, que atendam adequadamente às exigências nutricionais das matrizes, principalmente quando em gestação, é condição básica para a viabilidade do empreendimento.

Por questões de hábito e facilidade de manejo, as forrageiras mais utilizadas com ovinos são aquelas de hábito de crescimento prostrado (forrageiras estoloníferas), tais como Coast Cross, Tiftons e Estrelas (gênero Cynodon), Pangola (gênero Digitaria), Pensacola (gênero Paspalum). Essas gramíneas atendem relativamente bem às exigências e hábitos de pastejo peculiares dos ovinos, apresentando características tais como: resistência à seleção intensa e ao pastejo rente ao solo; porte médio a baixo, inferior a 1,0 metro; enraizamento intenso e profundo, boa produtividade e valor nutritivo, incluindo-se aí a boa concentração em nutriente, alta digestibilidade e, principalmente, alta aceitabilidade pelos animais.

Essas forrageiras apresentam, no entanto, dois aspectos negativos: a maioria apresenta propagação por mudas, o que dificulta e encarece a formação de áreas maiores de pastagens e, mais importante, em função do hábito de crescimento estolonífero; formam uma massa vegetal densa e fechada que, mesmo quando rebaixada, impede a penetração da radiação solar e mantém um microclima favorável às larvas dos helmintos. Isso torna mais difícil o controle da verminose, que é o principal problema sanitário para os ovinos, sendo essa dificuldade tanto maior quanto maior a lotação das pastagens.

Espécies forrageiras de maior porte e habito de crescimento entouceirado (forrageiras cespitosas), frequentemente utilizadas para bovinos, normalmente são menos utilizadas para ovinos, por apresentarem maior dificuldades de manejo devido ao porte alto. Nesse tipo de forragem, quando manejadas em altura superior à altura média do ovino, é comum observar-se um pastejo mais intenso nas beiradas da pastagem, resultando em super pastejo nessas áreas e sub pastejo nas áreas mais internas, além disso, algumas forrageiras desse grupo não tolerarem o pastejo baixo e pisoteio intensivo promovido pelo ovino, o que dificulta a sua utilização. Nesse grupo estão incluídas a maiorias das gramíneas dos gêneros Panicum (Colonião), Chloris (Rhodes) e Setária, esta última ainda com o agravante da baixa aceitabilidade. As gramíneas do gênero Brachiaria, apesar da vantagem de propagação por semente, apresentam problemas de baixo valor nutritivo, hábito de crescimento prostrado, dificultando o controle da verminose, sendo ainda esses aspectos agravados pela maior possibilidade de ocorrência de foto-sensibilização.

Dentro desse quadro temos o capim Aruana (Panicum maximum cv. IZ-5), que vem sendo utilizado na Unidade de Ovinos do Instituto de Zootecnia, em Nova Odessa (SP), há mais de 10 anos, em pastejo com lotação rotacionada com ovinos.

O Aruana é um cultivar do colonião introduzido no Instituto de Zootecnia em 1974, através de sementes provenientes da África, sendo selecionado a partir daí pelos técnicos da então Seção de Agronomia de Plantas Forrageiras, tendo sido lançado comercialmente em 1995.

Dentre as características mais interessantes pode-se destacar:

a)         Porte médio (adequado ao ovino), atingindo aproximadamente 80 cm de altura.

b)         Grande capacidade e rapidez de perfilhamento, com um bom número de gemas basais rebrotando após cada ciclo de pastejo.

c)         Boa capacidade de ocupação da área de pasto, não deixando áreas de solo descoberto, evitando o praguejamento e auxiliando no controle da erosão.

d)         Propagação por sementes (formação mais fácil, rápida e de menor custo).

e)         Boa produção de sementes, garantindo o restabelecimento rápido da pastagem em caso de necessidade de recuperação (após eventuais "acidentes" como queima, geadas, pragas ou degradação por falha de manejo).

f)           Boa tolerância ao pastejo baixo (rente ao solo) promovido pelo ovino, o que possibilita a adoção dessa técnica de manejo como parte da estratégia no controle de helmintos parasitas (favorecendo a exposição de larvas às intempéries climáticas (radiação solar e vento).

g)         A arquitetura foliar ereta e aberta, típica das forragens cespitosas (em touceiras), propicia uma maior incidência de radiação solar e maior ventilação dentro do perfil da pastagem. Isso faz com que o perfil superior da forrageira apresente uma menor concentração de larvas de helmintos parasitas às primeiras horas da manhã, logo após a secagem do orvalho, favorecendo o controle da verminose. Isso acontece porque, com esse tipo de forrageira, o ambiente da parte superior da pastagem, por ação da insolação e da maior ventilação, apresenta um menor nível de umidade, o que, aliado à ação da radiação solar, notadamente da radiação ultra-violeta, elimina uma parte considerável das larvas. Esse ambiente menos favorável causa, ainda, a migração de uma parcela das larvas para a base do capim, onde o ambiente é mais úmido e menos exposto à radiação solar.

h)         Alta produtividade de forragem, com 35 a 40% da produção anual ocorrendo no “inverno” (período seco do ano).

i)           Excelente aceitabilidade pelos animais.

Durante o período em que o Aruana esta em uso na Unidade de Ovinos mostrou-se relativamente tolerante à geadas e ao ataque da cigarrinha, tendo apresentado níveis elevados de produtividade, com valores médios da ordem de 18 a 21 ton. de MS/ha/ano. A boa qualidade da forragem foi evidenciada pela elevada digestibilidade “in vitro” e alto teor em proteína (10 a 12% de PB) e atestada pelo excelente desempenho obtido com fêmeas ovinas das raças Santa Inês, Poll Dorset, Ile de France e Suffolk, em gestação ou em crescimento.

A área de pastagem utilizada é subdividida em piquetes (5), possibilitando um manejo com lotação rotacionada, no qual cada pasto é utilizado por um período de 6 a 12 dias, tendo um período de repouso de 30 a 60 dias, dependendo da disponibilidade de forragem e da situação do "stand" da forrageira no piquete, após cada ciclo de pastejo, e da época do ano.

No “verão” (período das chuvas) cada piquete é subdividido, com auxílio de cerca eletrificada móvel, que é movimentada em faixas, liberando-se 1/3 da pastagem a cada período de 3 a 4 dias.

A elevada produtividade e alto valor nutritivo do Aruana é dependente de uma adequada reposição de nutrientes no solo, que é feita anualmente, no caso do N (150 kg N/ha) e a cada 2 ou 3 anos para a reposição do P e K, com base em análise de solo. A necessidade média de reposição, a cada dois anos, tem sido de 50 kg/ha de fósforo e 30 kg/ha de potássio. A correção da acidez do solo (Al), através de aplicação de calcário, foi feita na formação das pastagens e, posteriormente, com 3 anos e depois aos 7 anos após a formação, com a distribuição, em cada aplicação, de 1000 kg/ha de calcário. A reposição de P, K e Ca foi feita a lanço, normalmente no início do período das águas.

A adubação nitrogenada, correspondente a 150 kg/ha de N, tem sido feita utilizando-se, alternadamente, o Nitrocálcio e o Sulfato de Amônio, aplicando-se 2/3 do total (100 kg/ha), distribuídos a lanço no final do período das águas e o 1/3 restante (50 kg/ha) no início do período das águas subseqüente.

Em razão desses aspectos, tem sido possível a utilização lotações altas na pastagem, da ordem de 35 cab./ha/ano, contra uma média de 12 a 20 cabeças/ha/ano, obtido pelos criadores, com outras forrageiras e, ainda assim, necessitar somente de 2 a 3 aplicações/ano de anti-helmínticos contra 10 a 12 usualmente utilizadas pelos pecuaristas.

Dessa maneira, o capim Aruana mostra-se como uma excelente alternativa para pastejo com ovinos, desde que em condições adequadas de manejo, solo e clima, podendo a sua utilização, contribuir significativamente para que a ovinocultura firme-se cada vez mais como alternativa de viabilização sócio-econômica para a pequena e média propriedade rural no Estado.

O capim Tanzânia, desde que adequadamente manejado e fertilizado, também tem apresentado bons resultados em Nova Odessa, garantido elevadas lotações e desempenho razoável, valendo lembrar que, atualmente, outros cultivares de Panicum  tem sido lançados no mercado, como o Aries e o Massai, podendo tornarem-se alternativas interessantes para a ovinocultura.

 

Pastagem formada em capim Aruana com 35 dias de repouso

 

Área formada em Aruana, manejada com lotação rotacionada, com uso de cerca eletreficada

 

Pastagem de Aruana, com lotação média de 35 cabeças/ha/ano

 

Borregas Ile de France em pastejo em Tanzânia

 

Piquete formado com Aruana, em lotação rotacionada, com uso de cerca eletrificada.

 

Relação de alguns fornecedores de semente de Aruana:

SEMENTES AGROCAMPO – 019 38 92 30 66

SEMENTES AGROVALIM – 019 623 55 77 –622 35 03

SEMENTES FACHOLI - 018 261 1980  ou  3263 9000

SEMENTES FEITICEIRA - 065 - 634 4886

SEMENTES FORTALEZA  - 019 32 41 55 33

SEMENTES GASPARINI -  018 32 62 9100

SEMENTES NATERRA - 016 - 605 0506  ou  605 0505

SEMENTES OESP – www.sementesoesp.com.br

SEMENTES RANCHARIA - 018 – 251 1125 ou  251 1578

SEMENTES TUPÃ – 024 33 22 01 01 (Barra Mansa / RJ)

SEMENTES UNIÃO– 018 - 221 3638 ou  9772 4591

 


Luiz Eduardo dos Santos; Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência de Pesquisa Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo - SAA, Graduação em Engenharia Agronômica. Universidade de São Paulo, USP, Brasil; Mestrado em Nutrição Animal - Universidade de São Paulo, USP, Brasil.
Contato: cunha@iz.sp.gov.br

Eduardo Antonio da Cunha; Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência de Pesquisa Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo - SAA, Graduação em Zootecnia. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil.
Contato: cunha@iz.sp.gov.br

Mauro Sartori Bueno, Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência de Pesquisa Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo - SAA, Graduação em Zootecnia. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil; Mestrado em Zootecnia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, Brasil. ; Doutorado em Ciências (Energia Nuclear na Agricultura)-[Cena]. Universidade de São Paulo, USP, Brasil. Pós-Doutorado, Escola Superior Agrária de Bragança Instituto Politécnico de Bragança, ESAB-IPB, Portugal.
Contato:
msbueno@iz.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

SANTOS, L. E. dos; CUNHA, E. A.; BUENO, M. S.. Sistema de produção intensiva de ovinos em pastagem de capim aruana. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_1/oviaruana/Index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 26/03/2007