ALIMENTAÇÃO DE OVINOS CRIADOS INTENSIVAMENTE

Mauro Sartori Bueno

Luiz Eduardo dos Santos

Eduardo Antonio da Cunha

Ovinos são animais ruminantes e devem ser alimentados com forrageiras de boa qualidade, produzidas a baixo custo. Um sistema intensivo de produção animal, com grande número de cordeiros produzidos durante o ano inteiro, necessita de alimentos de boa qualidade, o que pode ser conseguido através de uma produção vegetal eficiente. Deve-se planejar o plantio de boas pastagens para as ovelhas, com correção de solo (acidez e fósforo) e aplicação de nitrogênio para aumentar a capacidade de suporte e o valor nutritivo da forrageira. Também é necessário o cultivo de forrageiras de corte para animais estabulados. Deve-se planejar o plantio de milho ou outro cereal, quando possível, para colheita e armazenamento em grão ou espigas, ou ainda a confecção de silagem para uso durante o período de estiagem.

Produção de leguminosas, para corte ou pastejo direto, na propriedade pode resultar em custos mais baixos que a produção de gramíneas, pois as leguminosas dispensam a adução nitrogenada. A produção desse tipo de forragem, na propriedade, resulta na diminuição da necessidade de aquisição de farelos protéicos, que tem preço elevado. Isto tudo diminui o custo da alimentação, item de grande expressão no preço final, na produção do cordeiro para abate precoce.

Machos adultos, fora da estação de monta e ovelhas sem crias ao pé, até a parição, em sistema de uma parição por ano têm as suas exigências nutricionais plenamente atendidas se alimentadas exclusivamente com volumosos de bom valor nutritivo. Todavia, animais em crescimento acentuado ou em atividade reprodutiva intensificada (intervalo entre partos de 8 meses ou menos), na fase final de gestação e na amamentação necessitam de suplementação alimentar com ração concentrada, devido à sua elevada exigência nutricional.

ALIMENTOS VOLUMOSOS

Assim são denominadas as forragens verdes (pasto, capim elefante, leguminosas, etc) ou conservadas, como silagens e fenos.

Pastagem

As espécies recomendadas são aquelas de bom valor nutritivo e alta produção por área como os capins dos gêneros Cynodon (coast cross, tiftons e estrelas) e Panicum (aruana, tanzânia, massai, áries, green panic, etc). Pode-se também utilizar ainda o pangola, rhodes, pensacola, etc.

As braquiárias apresentam baixo valor nutritivo e menor produção por área, sendo que a Brachiaria decumbens pode, ainda, causar intoxicação e, em algumas situações, fotossensibilização. Pequenas áreas com braquiária podem ser utilizadas, mas a predominância das pastagens com tal capim não é recomendado.

Volumosos de corte para o verão

Devem ser plantados próximos às instalações dos animais a serem alimentados, devendo ser adequadamente adubados, para se conseguir elevada produção por área.

Capim-elefante (capim-napier)

Excelente valor nutritivo quando colhido entre 35-45 dias (1,5-1,7 m de altura). Possui entre 8-12% de proteína bruta (PB) e 55-60% de nutrientes digestíveis (NDT) e bom teor de cálcio e fósforo. Produz entre 120-300 t de matéria verde/ha/ano.

Feijão guandu

Excelente volumoso para corte; rico em proteína e cálcio e de boa aceitação pelos animais. Diminui a necessidade de suplementação protéica com concentrados. No período seco perde as folhas e não pode ser utilizado. Susceptível à geada e deve ser replantado a cada 2 anos, pois seu rebrote fica prejudicado, apos vários cortes. Plantar em solo com pH corrigido, adensado: 5-8 sementes por metro linear e espaçamento entre linhas de 0,6 a 1 m. Não necessita de adubação nitrogenada.

Amoreira

Alimento de alta palatabilidade, de excelente nível de proteína (22% PB), produzindo cerca de 50 t de matéria verde/ha/ano. Deve-se plantar no espaçamento de 0,50 x 0,50 m, fornecendo as ramas picadas ou inteiras, em manjedouras. Ressalte-se que devido às características da própria planta, no período do inverno a seu crescimento é lento e quando as plantas estão altas as suas folhas caem. No verão, podem ser efetuados de corte entre 45-60 dias, podendo ser armazenada na forma de feno.

SILAGENS E FENOS

Durante a “época das secas” as pastagens e as forrageiras de corte diminuem seu crescimento e seu valor nutritivo. Para uma exploração racional da ovinocultura é essencial a conservação de alimentos produzidos na “época das águas”, para uso no período de escassez.

Silagem de milho

É alimento de valor energético muito bom, mas apresenta baixo teor protéico, necessitando ser suplementado com fontes de proteínas (farelo de soja ou de algodão, uréia, etc) para ser eficientemente aproveitado pelos animais. Deve-se colher no ponto certo, quando apresentar grãos farináceos, ser picado, compactado eficientemente e coberto com lona plástica até o momento de seu uso. Não necessita de aditivos, pois sua fermentação é muito boa, produzindo alimento de ótima aceitação pelos animais. O milho a ser plantado deve ser o de maior produção de grãos para a região. Quando bem plantado e fertilizado adequadamente, produz 30-50 t/ha de massa verde a ser ensilada.

Silagem de sorgo

Excelente alimento volumoso conservado. Pode ser utilizado em substituição à silagem de milho, pois apresenta valor energético similar. Deve-se optar por variedades graníferas e mistas, pois estas apresentam valor energético superior às demais. Boa silagem é feita com ponto de colheita adequado (grãos farináceos).

A silagem de sorgo tem um custo de produção menor que a de milho, visto ser uma cultura menos exigente em termos de tratos culturais e pode produzir até dois cortes.

Silagem de capim-elefante

O capim-elefante apresenta bom valor nutritivo quando colhido precocemente, entre 35 a 45 dias. Contudo neste estádio apresenta teor elevado de umidade o que dificulta sua ensilagem, produzindo alimento com fermentação inadequada, resultando em baixa aceitação pelos animais. Para se obter silagem de boa qualidade deve-se diminuir o teor de umidade, fazendo o emurchecimento no campo, todavia esse sistema é trabalhoso e pouco eficiente. Pode-se adicionar, no momento da ensilagem, algum material seco, objetivando o aumento do teor matéria seca da massa ensilada para 25-28%. Pode-se utilizar para esse fim milho moído ou rolão de milho ou polpa cítrica desidratada na quantidade de 5-10%.

Silagem de girassol

Apresenta-se como opção para plantio na “safrinha”, principalmente após a colheita do milho, e em regiões ou épocas com maior probabilidade de deficiência hídrica, pois seu sistema radicular pivotante garante maior profundidade de exploração do solo. Sua silagem é de boa aceitabilidade pelos animais, com teor protéico (11%) e em óleo (10%) mais elevado que silagens de cereais (milho ou sorgo), todavia seu teor energético é inferior. Deve ser colhido quando os seus receptáculos (flores) estão voltados para baixo, com a parte dorsal na coloração amarelo escuro e grande quantidade de folhas secas.

FENOS

Fenos de gramíneas são alimentos volumosos de boa aceitação pelos animais. Um bom feno tem cor esverdeada, grande quantidade de folhas, macio ao tato e com mais de 10% de proteína bruta. Fenos pálidos, duros e com grande quantidade de talos são inferiores. Coast-cross, Tifton, Rhodes, Áries e Aruana produzem feno de boa qualidade e devem ser colhidos com 28-40 dias de vegetação.

A chuva é o grande problema na produção de feno, pois fenos “chuvados” são de qualidade muito inferior.

Feno de alfafa é de excelente qualidade, mas é caro para ser adquirido. Sua produção necessita de excelente fertilidade do solo.

Para pequenas criações, o capim-elefante e outras forrageiras (guandu, leucena, colonião, etc...) também podem ser desidratados e produzir fenos de boa qualidade. Devendo ser picados e secos em terreiro em camada fina, revirando varias vezes ao dia e cobrindo a noite. Após secos podem ser ensacados ou armazenados a granel. Confecção contínua de pequenas quantidades durante o verão é o mais adequado.

CANA-DE-AÇÚCAR

Forrageira que se conserva “in natura”, pois seu maior valor energético é no período “da seca”, quando deve ser utilizada. Produz até 120 toneladas de massa verde/ha/ano. Apresenta o inconveniente de possuir grande quantidade de açúcar altamente solúvel no rúmen, que prejudica a digestão da fibra do bagaço. Possui, ainda, baixo teor protéico, devendo ser suplementada com farelos de oleaginosas ou uréia (0,5-1,0 % na matéria original, após período de adaptação). Pode ser utilizada para animais menos exigentes como ovelhas “secas” e animais adultos em geral.

RESTOS DE CULTURA E SUBPRODUTOS AGRÍCOLAS

Alguns resíduos produzidos durante ou após a colheita de cereais, oleaginosas, tubérculos ou raízes e mesmo do processamento de frutíferas, podem ser utilizados para alimentação de ovinos. As palhadas são, geralmente, pobres em proteína, com baixo valor energético e palatabilidade. Podem ser utilizadas para manutenção de ovelhas secas, devidamente suplementadas com alimentos protéicos. A utilização de palhas e cascas de arroz não é recomendada devido a sua baixa digestibilidade. Palhadas de milho, sorgo, aveia e trigo podem ser utilizadas para manutenção de ovelhas secas, suplementando-se com uréia (0,5-1,0%, com período de adaptação) e farelos de oleaginosas ou ração concentrada com elevado teor protéico (18-20%). Devem ser picadas ou moídas e misturadas a alimentos mais palatáveis. Palhadas de soja e feijão apresentam teor mais elevado de proteína bruta que as palhadas de cereais, mas também apresentam baixo teor energético, podendo ser utilizadas se complementadas neste aspecto. As vagens apresentam valor nutritivo mais elevado e as cascas dos grãos tem bom valor nutritivo.

Não é recomendada a utilização do bagaço de cana cru na alimentação de ovinos devido seu baixo valor nutritivo e palatabilidade, porém, quando hidrolizado, o bagaço de cana apresenta maior digestibilidade e, consequentemente, um valor energético maior, podendo ser utilizado na alimentação de ovelhas secas e animais pouco exigentes. Pode compor dietas para ovelhas secas, em até 40% na matéria seca e para cordeiros, em pequena proporção (10 a 20%), em dietas com elevada proporção de concentrados.

As ramas de mandioca, após a colheita das raízes e aproveitamento das manivas para novo plantio, podem ser utilizadas. Deve-se aproveitar o terço superior, que apresenta maior quantidade de folhas e menor de talos. Apresentam bom valor nutritivo e alta palatabilidade; possui entre 9-15% de proteína bruta e bom valor energético. Podem ser picadas e secas ou conservadas como silagem, sem necessidade de aditivos ou emurchecimento. As variedades de mesa (mansas) apresentam baixo teor de ácido cianídrico, mas as variedades para farinha, denominadas bravas, apresentam teor elevado desta toxina; picagem, secagem e ensilagem diminuem o teor desta substância e assim não causam problemas aos animais. Para fornecimento “in natura” deve-se picá-la com antecedência (12 horas) para que o processo de autólise enzimática diminua a toxidez. Também é aconselhável a introdução gradativa das ramas na dieta, visando adaptar os animais ao seu consumo.

Resíduos de farinheiras são ricos em amido e podem ser utilizados para todas as categorias. Apresentam baixo teor de proteína bruta e minerais, principalmente cálcio e fósforo, mas bom valor energético, que varia em função do seu teor em amido e fibra. Substitui, parcialmente, o milho ou polpa cítrica e pode combinar-se com uréia ou farelos. Cascas de mandioca podem ser utilizadas, desde que seu conteúdo de solo aderido seja pequeno.

O resíduo de cervejaria úmido tem ao redor de 25% de proteína bruta e 60-65 % de NDT na matéria seca, podendo ser fornecida até 3 kg por ovelha/dia. Tem elevado teor de fibra e é bem aceito pelos animais, sendo considerado um alimento muito bom para ruminantes. A forma úmida, geralmente a mais disponível no mercado, apresenta o inconveniente de ter que ser utilizada rapidamente, pois sofre degradação rápida e acentuada, com o desenvolvimento de fungos, com o passar do tempo, podendo ser armazenada na forma de ensilagem. Utilização por mais de 5 dias deve ser evitada por perigo de intoxicação.  A forma desidratada apresenta a vantagem de poder ser armazenada mais eficientemente, pode ser fornecido até 1,0 kg/ovelha/dia, todavia o custo é superior.

CONCENTRADOS

São denominados os ingredientes de elevado teor energético ou protéico utilizados como complemento das dietas volumosas. São concentrados energéticos o milho e outros cereais (aveia, trigo, arroz), os altamente protéicos os farelos de soja, de algodão e de girassol, e os de valor protéico inferior os farelos de trigo e arroz.

CONCENTRADOS ENERGÉTICOS

Milho grão: Excelente fonte energética por ser rico em amido. Possui baixo teor de proteína e cálcio, moderado de fósforo, devendo ser combinado com farelos de oleaginosas para compor rações com adequado teor protéico.

Rolão de milho (milho desintegrado com palha e sabugo): Apresenta valor energético e protéico inferior ao milho-grão devido a presença do sabugo e palha.

Polpa cítrica: possui valor energético similar ao do milho e pode substituí-lo integralmente em rações para ovinos. Deve ser utilizada quando apresentar preço de até 85% do milho. Possui elevado teor de cálcio e baixo de fósforo e proteína. Deve ser armazenado adequadamente, pois absorve umidade com facilidade, o que leva a proliferação de fungos e bolores prejudiciais aos animais.

Mandioca raiz: Bom valor energético, mas pobre em proteína e minerais. Pode ser utilizada para compor a dieta em até 30%, ou até 1,5-2kg de raiz úmida/animal/dia para ovelhas de 60kg. Deve ser fornecida picada, devendo os animais serem previamente adaptados ao seu consumo, iniciando com um terço da quantidade que se desejar fornecer e aumentar progressivamente até atingir o máximo em sete a dez dias. Pode ser armazenada na forma seca: picar em pedaços pequenos ou em raspas e secar em terreiro; ou na forma de ensilagem, não necessitando de aditivos.

CONCENTRADOS PROTÉICOS

Farelo de soja:  é uma das melhores fontes protéicas utilizadas na alimentação de animais domésticos. Possui 45 a 47% de proteína bruta. Deve compor preferivelmente rações para cordeiros (creep-feeding e confinamento), devido seu preço elevado.

Farelo de algodão: Fonte protéica de boa qualidade para ruminantes, utilizado para todas categoria, inclusive machos reprodutores , pois apresenta-se detoxificada. No comércio pode ser encontrada com 28 ou 38% de proteína bruta.

Farelo de trigo: Possui teor protéico médio (16%) e maior teor de fibra que as demais fontes protéicas. É excelente fonte de micro-elementos minerais, como selênio, zinco e outros. Possui elevadíssimo teor de fósforo e desta maneira não deve ser utilizado em grande quantidade, máximo de 20-25% da ração concentrada, pois a ingestão elevada de fósforo pode causar a urolitíase obstrutiva (cálculos na uretra), principalmente em machos.

Uréia: É uma fonte de nitrogênio-não-protéico que pode ser convertido, pelos microrganismos ruminais, em proteína microbiana e ser, assim, aproveitada pelos animais. Deve ser direcionada, preferivelmente para animais adultos, com grande capacidade de fermentação ruminal, como ovelhas e animais em fase final de crescimento. Pode compor rações a base de cereais, como milho, trigo ou cevada, ou ainda polpa cítrica, na proporção de 1% e no máximo 2%. Pode, ainda, ser utilizada para aumentar o teor protéico de volumosos úmidos, como silagem de milho ou sorgo, cana-de-açúcar, na quantidade de 1%.

Fenos de qualidade inferior, palhas em geral e pastagens pobres a fim de melhorar seu aproveitamento pelos animais. Pode-se, neste caso, preparar mistura de 2 partes de sal mineral e uma  de uréia e deixar disponível em saleiros. Animais adultos, quando já adaptados podem consumir até 0,5 g/kg de peso vivo/dia. Consumo excessivo (10g de uma só vez), por animais não adaptados, pode levar a intoxicação por amônia. Os sintomas de intoxicação por consumo excessivo de uréia são salivação excessiva, incoordenação motora e levando a óbito. O fornecimento de uréia deve ser acompanhado da utilização de fonte de enxofre (S), na quantidade de 10 partes de N para uma de S (flor de enxofre, sulfato de amônio ou de cálcio), dessa maneira podemos utilizar 8 partes de uréia para duas de sulfato de cálcio ou uma parte de sulfato de amônio. Não deve ser utilizado para cordeiros desmamados precocemente até 90 dias.

Soja em grão: Apresenta elevado teor protéico e energético; contudo devido ao seu elevado teor de óleo e presença de princípios não nutritivos tem seu consumo restrito. Animais adultos podem receber até 20% da dieta total (MS),ou até 400-500g dia/ovelha.

Caroço de algodão: Como a soja grão, tem bom valor energético e protéico, rico em óleo e com presença de substancias tóxicas. Jamais fornecer para machos reprodutores, pois possui elevado teor de gossipol, que pode causar infertilidade. Pode ser utilizado em quantidades moderadas para ovelhas e borregas, na quantidade de 200-500g/dia, por períodos não muito longos para se evitar problemas hepáticos devido ao gossipol.

MISTURA MINERAL

Utilizada para suprir as carências minerais encontradas nas pastagens, pois as gramíneas geralmente apresentam baixos teores de fósforo e os animais, quando em pastejo, estão sujeitos a deficiências desse elemento, que deve ser suplementado na forma de mistura mineral. A suplementação de micro-elementos minerais é também necessária, principalmente cobalto, selênio, zinco, cobre e outros, pois muitas vezes estão deficientes na forrageira, dependo da região e solo onde são cultivadas.

As misturas minerais, prontas para uso, encontradas no comércio são, em sua maioria, compostas de sal iodado (NaCl) e fontes de  minerais (cálcio, fósforo e micro-elementos). Devem estar sempre à disposição dos animais em saleiros adequados. Atenção especial deve ser dada ao teor de cobre da mistura, pois ovinos são susceptíveis à intoxicação por excesso deste elemento. Uma boa mistura mineral pronta deve conter ao redor de 8% de fósforo e no máximo entre 300 ppm de cobre.

Ovelhas adultas consomem entre 20-40g/dia desta mistura mineral, dependendo do seu peso, categoria, etc.

Animais em confinamentos e suplementados com ração concentrada a base de grão de cereal não necessitam esta suplementação, pois, como já mencionado, grãos de cereais são ricos em fósforo e os outros minerais normalmente são encontrados em quantidades adequadas na maioria dos componentes de rações.

Machos reprodutores que consomem ração concentrada e ainda tem mistura mineral à disposição, podem apresentar consumo diário excessivamente elevado de fósforo, o que  pode levar ao aparecimento de urolitíase (cálculo uretral)

VITAMINAS

Ruminantes geralmente não necessitam de suplementação com vitaminas do complexo B, pois as sintetizam através dos microorganismos ruminais. Em algumas situações, animais consumindo quantidades muito elevadas de concentrado, podem apresentar deficiência de vitamina B1 e apresentar necrose corticocerebral, com sintomas nervosos (cabeça virada para cima). As vitaminas E e K são encontradas nos alimentos usuais, não havendo necessidade de suplementação, no entanto, a carne de cordeiros suplementados com vitamina E apresenta escurecimento menos intenso no processo de armazenagem a frio. Nesse caso a suplementação pode ser utilizada para melhorar a apresentação do produto final. A vitamina C é sintetizada pelos tecidos em quantidade suficiente, não havendo necessidade de suplementação.

A vitamina D é sintetizada pela pele, a partir da luz solar, não sendo necessário suplementá-la, todavia, se os animais permanecerem confinados por muito tempo em ambiente fechado e sem acesso à luz solar, podem apresentar sintomas de deficiência. Fenos curados ao sol, de boa qualidade, são boas fontes alimentares precursores de vitamina D.

A suplementação com a vitamina A pode ser necessária, quando os animais, principalmente fêmeas em lactação e animais em crescimento, forem, por longos períodos (mais de 3 meses), sujeitos à alimentação pobre nesta vitamina. Forragens verdes, assim como o milho amarelo, são fontes excelentes de vitamina A. Já os volumosos com pouca coloração são pobres: palhas, pastagens velhas, fenos amarelados, com pouca pigmentação, silagens de baixa qualidade e outros alimentos sem pigmentação.

A forma adequada de suplementar é adicionando as vitaminas à ração concentrada. No caso de animais que não se alimentam de ração pode-se adiciona-las à mistura mineral ou adquirir formulações prontas.

ALIMENTAÇÃO DAS DIVERSAS CATEGORIAS 

Ovelhas

Ovelhas solteiras e até o terço final da gestação podem ser alimentadas exclusivamente com volumosos de media qualidade (ao redor de 9% de proteína bruta, 55% de NDT e 0,2% de cálcio e 0,2% de fósforo) e sal mineral. Neste período apresentam consumo voluntário ao redor de 2 a 2,5% de matéria seca. No período das águas podem ser alimentadas com pastagens, capins cortados, leguminosas, etc. Na seca devem alimentadas com pastagens diferidas e suplementadas com volumosos conservados (silagens ou feno) ou cana-de-açúcar, com adequação do teor protéico da dieta, o que permite mantê-las em bom estado corporal. Pode-se utilizar volumosos mais pobres, com palhadas ou bagaço de cana hidrolisado, com pequena quantidade de ração concentrada.

No terço final da gestação o crescimento fetal é acentuado, principalmente no caso de gestação de gêmeos. Neste período o requerimento energético fica aumentado devido ao crescimento fetal e sua exigência nutricional é por volta de 11% de proteína bruta e 60% de NDT, 0,35% de Ca e 0,23% de P. Consomem ao redor de 3-3,5% do peso vivo em matéria seca. Devem receber pastagens de boa qualidade ou serem suplementadas com ração concentrada com 14 -16 % de PB (300-600 g/dia). Nesta fase a ingestão de energia deve ser aumentada para promover adequado crescimento fetal e preparação para a lactação. Consumo baixo de energia em ovelhas excessivamente magras leva a baixo peso ao nascer das crias, diminuição da produção de leite, redução da habilidade materna e a diminuição da viabilidade dos cordeiros recém nascidos e conseqüente aumento de mortalidade das crias. Também os problemas parasitários são aumentados. Deve-se manter a ovelha em bom estado corporal e evitar animais excessivamente gordos. Fêmeas jovens ou em gestando fetos múltiplos, podem apresentar sintomas de deficiência de energia, denominada toxemia da gestação, dessa maneira, na fase final da gestação, os cuidados com a alimentação devem ser redobrados.

Após a parição as exigências energética e protéica são aumentadas devido a produção de leite. Logo após o parto, o consumo de alimento é menor e aumenta progressivamente. Ovelhas de grande produção de leite perdem peso durante as primeiras 4 semanas de lactação, assim sendo, devem ingerir quantidade  mais elevada de energia e proteína. Necessitam dietas com aproximadamente 64-68% de NDT, 12-14% de proteína bruta, 0,33% de Ca e 0,27% de P e consomem entre 3,5 e 4% do seu peso vivo em matéria seca. Da parição até o desmame, as ovelhas devem ser alimentadas com volumosos de boa qualidade e ração com 14-16% de proteína (400-800g/dia), dependendo do tamanho da ovelha, número de crias e estado corporal.

A ovelha atinge seu pico máximo de produção de leite entre a terceira e quarta semana após o parto, diminuindo progressivamente nas semanas seguintes, sendo que já na oitava semana a produção de leite é muito pequena. O período inicial da lactação concentra-se nas 8 primeiras semanas pós parto, representando 75% da produção. Deve-se ter especial atenção na alimentação dos animais até 30-45 dias pós parto, diminuindo, gradativamente, o fornecimento de ração concentrada até o desmame, para facilitar o processo de secagem da glândula mamaria, evitando mastite, bem como estimular o cordeiro a procurar alimento sólido no “creep-feeding”.

A raça Santa Inês, em seu processo de formação, teve a participação de animais de elevada aptidão leiteira, como da raça Bergamacia, em razão do que apresenta curva de lactação mais longa que as raças de corte, tornando o desmame precoce mais difícil. Aconselha-se nesse caso, diminuição acentuada da alimentação 20-30 dias antes do desmame e, após o desmame, jejum de alimento sólido por 48 horas e hídrico por 24 horas.

As ovelhas, na cobertura, devem ser alimentadas com pastagens ou volumoso de boa qualidade ou ração concentrada. O aumento da ingestão de energia imediatamente antes (10 dias) e durante a cobertura (flushing), garantindo ganho de peso nesse período, pode estimular ovulações múltiplas e ocasionar nascimento de maior número de gêmeos.

Quando o sistema de manejo reprodutivo adotado procura a obtenção de intervalos entre partos de 8 meses, ou menos, a alimentação deve ser acompanhada com maior cuidado, devendo se trabalhar com alimentos de melhor qualidade e valor nutritivo.

O nível nutricional dos animais também influi na sua capacidade imunológica. Ovelhas melhor nutridas, recebendo dietas com teores mais elevados de proteína, tendem a apresentar maior capacidade de resistir à ação da verminose, seja por dificultar a fixação das larvas de helmintos no trato intestinal, seja por apresentar uma reação fisiológica mais forte, dificultando ou mesmo impedindo o seu desenvolvimento, ou seja ainda por uma maior capacidade orgânica frente à ação espoliativa dos parasitas.

Cordeiros em acabamento (confinamento) 

A correta alimentação de cordeiros em acabamento deve prever o estimulo, ainda no período de amamentação, à máxima ingestão de alimentos de elevado valor nutritivo, visto que nesse período os animais apresentam ótima conversão alimentar. A maneira mais fácil é através do fornecimento de ração concentrada através do creep-feeding, que se constituem em cochos separados e inacessíveis às ovelhas e aos quais só os cordeiros tem acesso. Nesses cochos pode-se utilizar rações a base de milho, farelos de soja, algodão, trigo e outros, com 18-22% de proteína bruta, com alta palatabilidade, e que passa a ser fornecida para os cordeiros a partir de 10-15 dias de idade. Estes aumentam gradativamente seu consumo à medida que a disponibilidade de leite da ovelha diminui, atingindo um consumo de 150 a 200 g/cordeiro/dia ao desmame. Esse consumo deve ser estimulado, pois resulta em aumento acentuado de peso dos cordeiros ao desmame, que nesta fase tem conversão ao redor de 2:1, ou seja, cada 2 kg de ração ingerida promove um ganho de peso de 1kg, o que pode ser muito vantajoso do ponto de vista econômico.

Cordeiros desmamados precocemente (50-60 dias) são muito exigentes em nutrientes, principalmente em energia e proteína. O acabamento é feito por um período ao redor de 60 dias, com peso inicial de 14-16 kg, até um peso final de 30 a 35 kg. Ganhos diários de peso acima de 250g são adequados, todavia, esse ganho pode alcançar mais de 400g/dia, em animais especializados e de elevado potencial para ganho de peso, provenientes de reprodutores de elevado peso adulto. A conversão alimentar gira ao redor de 3-3,5:1, sendo, portanto, excelentes transformadores de alimento de origem vegetal, em carne nobre. A exigência nutricional nessa fase situa-se ao redor 14-16% de PB; 70-78% de NDT; 0,45% de Ca e 0,25% de P na matéria seca total, consumindo ao redor de 4,5-5 % do peso vivo em matéria seca, sendo aconselhável o fornecimento, no mínimo, de 60% de ração concentrada, a base de milho e farelos de oleaginosas, na dieta total.

Cordeiros recém desmamados possuem menor capacidade fermentativa ruminal que cordeiros desmamados tardiamente, portanto com menor capacidade de digestão de fibras. Dietas com elevadas concentrações em energia e proteína são necessárias para se conseguir elevados ganhos de peso. Cordeiros devem ganhar 200-300g/dia para atingirem o peso de abate (28-30kg) antecipadamente. Devem ser alimentados com volumosos de alta qualidade (silagem de milho ou sorgo, capim elefante picado e fenos de boa qualidade), a vontade e ração concentrada, com 16-18% de proteína, na quantidade de 2-4% do peso vivo. Essa alimentação perdura até os 30 kg de peso vivo ou até 4 meses de idade (peso ou idade de abate).

A ração concentrada deve ser composta de cereais (milho, aveia, arroz, trigo) e farelos de oleaginosas (soja, algodão, girassol, etc...) e subprodutos de bom valor nutritivo (polpa cítrica, levedura de cana, resíduo de cervejaria, subprodutos da industria de sucos e de milho etc).

Borregas para reposição (dos 4 meses até a cobertura)

Nesta fase as fêmeas são preparadas para serem futuras reprodutoras e fazer parte do plantel de fêmeas adultas. Quanto mais cedo forem cobertas maiores serão os índices produtivos da propriedade.

Nesta fase as fêmeas apresentam exigência nutricional de 11% de proteína bruta, 65% de NDT e 0,4%de cálcio e 0,2% de fósforo na matéria seca total ingerida e consomem entre 3,5 e 4% do peso vivo em matéria seca.  Devem ser alimentadas com volumosos de boa qualidade, à vontade, e quantidade moderada de ração (aproximadamente 1,5-2% do peso vivo) com 14-16% de proteína. A partir dos cinco meses podem ser adaptadas às pastagens e devem atingir o peso de cobertura (70% do peso adulto) entre 8-14 meses.

Fêmeas de primeira cria

Atenção especial deve ser dada no terço final da gestação, pois a cobertura antecipada (8-12 meses), leva à somatória das necessidades nutricionais de crescimento, com as da gestação. Deve-se mantê-las separadas das adultas e fornecer alimentação de melhor qualidade, acompanhando seu o estado corporal, aumentando a suplementação em caso de condição corporal inferior a 2-2,5.

Reprodutores

Carneiros adultos devem ser alimentados preferencialmente à base de volumosos de boa qualidade e pequena quantidade de ração concentrada, com 14-16% de proteína bruta, na quantidade máxima de 0,5 a 0,7 kg/dia dependendo da  idade e do peso dos animais. Dietas com excesso de ração concentrada e pouco alimento volumoso levam ao aparecimento de urolitíase obstrutiva (cálculos na uretra) em razão da formação de cristais de fosfato no sistema urinário, levando a sua obstrução. Caracteriza-se por dificuldade para urinar ou obstrução total da urina, inviabilizando o reprodutor.

Excesso de peso é também um problema com reprodutores adultos, normalmente nas raças de maior peso adulto, devendo ser evitado através do fornecimento de quantidade restrita  de ração concentrada além de exercícios.

DISFUNÇÕES DE ORIGEM NUTRICIONAL 

Toxemia da gestação ou cetose

Acomete animais no final da gestação devido ao crescimento acentuado do(s) feto(s). Fêmeas com crescimento comprometido, magras, as mais jovens e as excessivamente gordas são mais susceptíveis.  No final da gestação, o aumento do volume uterino causa compressão do aparelho digestivo e o consumo de alimentos fica diminuído. A necessidade de energia da matriz aumenta consideravelmente devido ao aumento na velocidade de crescimento do feto e um aporte inadequado de alimentos pode levar à deficiência de glicose para atender o crescimento fetal. Nessa situação o organismo animal queima gordura corporal para atender esta demanda energética, liberando excesso de corpos cetônicos, que devem ser metabolizado pelo fígado, pois é tóxico ao organismo. Se a quantidade de corpos cetônicos liberados superar a capacidade hepática de metaboliza-los, advém um quadro de cetose: o animal tem dificuldade de locomoção, se afasta do rebanho, deita e tem dificuldade para levantar, apresenta sintomas nervosos e dificuldades visuais. O procedimento adequado para a prevenção seria a separação das fêmeas jovens ou magras e em gestação e o fornecimento de suplementação com ração rica em amido (milho ou outro cereal). Quando os sintomas são observados deve se aplicar solução à base de gluconato de cálcio, por via endovenosa, além da adequação da alimentação.

Cálculo urinário ou urolitíase obstrutiva

É uma doença relativamente comum em reprodutores de maior valor econômico e potencial zootécnico, já que acomete, com maior freqüência, animais que ficam confinados em baias, recebendo grande quantidade de concentrado. A doença é causada pela ingestão excessiva de fósforo; ingestão de dietas com baixa relação cálcio:fósforo e/ou baixa ingestão de alimentos volumosos e água. O excesso de fósforo é eliminado pela urina, que por ser alcalina, favorece a formação de cálculos ricos em fósforo, que se acumulam e bloqueiam o fluxo de urina pela uretra, ocasionando dificuldade de urinar e cólicas, sendo que, muitas vezes a obstrução é total. Freqüentemente o problema leva o animal à morte.

O tratamento é preventivo, devendo-se evitar alta ingestão de ração concentrada e sal mineral conjuntamente, pois os dois são ricos em fósforo. O problema pode ser agravado pela pequena ingestão de alimento volumoso, pois o consumo de alimento volumoso estimula a salivação, que está ligada ao processo de excreção de fósforo. A restrição na ingestão de água, por aumentar a concentração de sais na urina, também é fator predisponente da urolitíase.

A ingestão de concentrado, por carneiros adultos, não deve ultrapassar 500-700g/dia (dependo do peso e idade do animal) por longos períodos e sempre com fornecimento de volumosos. Muitas vezes, o cálculo fica retido no apêndice vermiforme (prolongamento da uretra após a glande), e sua retirada não atrapalha a ejaculação do animal, podendo-se salvar o carneiro, sem prejuízo acentuado de sua capacidade reprodutiva.

ADITIVOS ALIMENTARES

Cordeiros confinados estão sujeitos à cooccidiose (eimeriose), caracterizada por diarréia escura e fétida, devido à presença de sangue decorrente das lesões provocadas pelos parasitas na mucosa intestinal. Causa grande prejuízos para os cordeiros em crescimento pois, diminui acentuadamente o ganho de peso e pode levar a desidratação e óbito. O uso de ionóforos na ração previne a cooccidiose. Tais substâncias modificam também a flora ruminal,  melhorando o ganho de peso e a conversão alimentar; não sendo absorvidas pelo trato digestivo e assim não deixam resíduos na carcaça. Os ionóforos mais utilizados são a monensina sódica (Rumensin) e lasalocida (taurotec). O Rumensin pode ser incorporado à ração concentrada na proporção de 600 g/t.


Mauro Sartori Bueno, Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência de Pesquisa Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo - SAA, Graduação em Zootecnia. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil; Mestrado em Zootecnia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, Brasil. ; Doutorado em Ciências (Energia Nuclear na Agricultura)-[Cena]. Universidade de São Paulo, USP, Brasil. Pós-Doutorado, Escola Superior Agrária de Bragança Instituto Politécnico de Bragança, ESAB-IPB, Portugal.
Contato:
msbueno@iz.sp.gov.br

 

Luiz Eduardo dos Santos; Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência de Pesquisa Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo - SAA, Graduação em Engenharia Agronômica. Universidade de São Paulo, USP, Brasil; Mestrado em Nutrição Animal - Universidade de São Paulo, USP, Brasil.
Contato: cunha@iz.sp.gov.br

 

Eduardo Antonio da Cunha; Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência de Pesquisa Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo - SAA, Graduação em Zootecnia. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil.
Contato: cunha@iz.sp.gov.br


Reprodução autorizada desde que citadas a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

BUENO, M. S.; SANTOS, L. E. dos; CUNHA, E. A. Alimentação de ovinos criados intensivamente. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_2/alimentovinos/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 24/04/2007