O JARDIM BOTÂNICO IAC FOI, VAI E CONTINUARÁ INDO, À ESCOLA

Maria Jussara Franco Rosa Vieira

Renato Ferraz de Arruda Veiga

Antonio Alberto Costa

SOBRE O JARDIM BOTÂNICO IAC (JBIAC)

O JBIAC, situado na cidade de Campinas, região que passou de berço das tradicionais fazendas de café à pólo de ciência e tecnologia, possui espécies nativas da flora brasileira e espécies exóticas de todos continentes. Trata-se do único Jardim Botânico agrícola brasileiro, com recursos genéticos inestimáveis de: abacaxi, algodão, amendoim, antúrio, arroz, café, cana-de-açúcar, citros, feijão, mandioca, maracujá, milho, pêssego, seringueira, soja, trigo, dentre outras tantas domesticadas ou em vias de domesticação. Possui o quinto maior herbário do Estado de São Paulo, composto por aproximadamente 47 mil exsicatas das mais diversas regiões do país e do mundo e foi classificado pelo CONAMA como Jardim Botânico (JB) “categoria B”, a mais alta classificação obtida dentre outros Jardins Botânicos brasileiros. Como unidade de pesquisa científica, o JBIAC visa à conservação da diversidade agrícola, à educação ambiental agrícola e ao desenvolvimento agrícola sustentável. Sua estrutura e patrimônio genético, botânico e documental são de extremo valor estratégico para a agricultura paulista e nacional.

O Jardim Botânico IAC (JBIAC) também faz parte da Rede Brasileira de Jardins Botânicos (RBJB) e do Botanic Gardens Conservation International (BGCI), buscando com isso estimular a integração, a colaboração mútua e o intercâmbio de conhecimentos, experiências e material científico.

Os JB pertencentes a RBJB abraçaram uma causa nobre de implantar o Projeto Internacional “Investing in Nature apoiado pela WWF, BGCI e Banco Mundial HSBC, coordenado no país pelo Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Este tem o intuito de preservar a diversidade de plantas nativas e conservar a diversidade de plantas exóticas agrícolas, através da conscientização da comunidade escolar, tornando-os multiplicadores do conhecimento adquirido. Neste contexto, todos JB brasileiros estão desenvolvendo um grande esforço para aplicar o conjunto de técnicas e explorar o material pedagógico que faz parte deste projeto, cada qual dando seu toque particular nas escolas parceiras.

A ESCOLHA DA PRIMEIRA ESCOLA

Em 2006, fez-se um levantamento das escolas existentes na vizinhança da principal área do JBIAC, sendo selecionada a escola de ensino fundamental situada ao lado da Mata Santa Elisa, a Escola Estadual Professor “Newton Silva Telles”. Esta escola possui 10 classes de 1ª a 4ª séries, totalizando 258 alunos e um corpo docente composto por 25 professores.

A escola em questão pertence à Diretoria de Ensino Região Leste de Campinas, da Secretaria de Educação de São Paulo, possuindo uma área privilegiada, com um amplo pátio, oferecendo inúmeras possibilidades para futura intervenção paisagística e arquitetônica.

Pela localização da escola espera-se que seus professores e alunos passem a se dedicar mais ao tema “preservação da natureza”, bem como a conhecer melhor o JBIAC e a mata Santa Elisa.

O TREINAMENTO DOS PROFESSORES

Com base na avaliação dos questionários, elaborado pela equipe do JBIAC e, respondidos pelos professores durante as discussões em grupos, montou-se a grade do curso de capacitação (4 horas de planejamento e 16 horas de aulas).

Compondo o grupo de especialistas para dar tal treinamento, contou-se com o apoio dos seguintes pesquisadores/temas: Dr. Renato Ferraz de Arruda Veiga/Biodiversidade e recursos genéticos vegetais, Dra. Roseli Buzaneli Torres/Biomas brasileiros, Dr. André May/Plantas aromáticas e medicinais, Dr. Nilson Borlina Maia/Óleos essenciais e o processo de obtenção, Eng. Agr. Maria Jussara F. R. Vieira/Recepção dos professores no JBIAC e o Técnico Agrícola Francisco de Assis Leitão de Moraes/Recepção dos alunos no JBIAC (todos do IAC); Dr. José Roberto Miranda/Animais silvestres na região de Campinas, Geógrafa Cristina Criscuolo e a Geóloga Denise de La Corte Bacci/Imagens de satélite no processo de ensino-aprendizagem (Embrapa Monitoramento por Satélites); Bióloga Jeanette Inamime Miachir e a Pedagoga Marta Regina Steck Capacle/JBVE, a experiência vivida pelo JB de Paulínia (JB “Adelelmo Piva Jr.- Paulínia); Eng. Agr. Abelardo Gonçalves Pinto/Desenvolvimento Sustentável, Visão holística e valores humanos e Eng. Agr. Escolástica Ramos de Freitas/Na trilha da árvore (Dextru/Cati}.

O curso para os professores foi desenvolvido em duas etapas, uma efetivada no IAC com as primeiras apresentações e a seguinte na própria escola, uma vez que em sendo uma escola de tempo integral, os seus professores possuíam pouco tempo disponível. Para efetivar o curso os alunos foram dispensados em quatro períodos de quatro horas cada um, a cada quinze dias, começando em 18/04 e finalizando em 30/05. Todos os 25 professores participaram do treinamento, mesmo que nem todos tenham podido acompanhar todas as aulas.

No IAC, vários assuntos e conceitos foram trabalhados durante a apresentação das dependências bem como das coleções de plantas e das paisagens do JB. Dada a impossibilidade de percorrer toda a área no pouco tempo disponível, foi solicitada a ampliação de visitas à área tendo em vista seu encantamento com a beleza da área situada ao lado de sua escola.

Os palestrantes se empenharam na transmissão de seus temas, aos quais adequaram a linguagem, para um melhor aproveitamento dos professores, já que a maioria desconhecia os temas tratados.

O aproveitamento dos professores, em geral, pode ser considerado bom, pois, uma boa parte dos temas foram seguidos por aulas práticas, facilitando o aprendizado e motivando-os a prosseguir o trabalho como os alunos na escola.

Alguns professores mostraram-se mais integrados ao projeto e foram justamente estes que impulsionaram o trabalho dentro da escola.

Logicamente que nosso grupo não tinha experiência didática para a máxima motivação dos professores, o que com certeza será aprimorado com outros grupos futuros, mas isto não mostrou ser um fator limitante ao desenvolvimento do projeto.

Conclui-se que houve um despertar do grupo para os assuntos ambientais, deixando espaço para maior discussão e fixação de conteúdo, que certamente espera-se conduzir à mudanças de visão e atitudes na escola.

AÇÕES COM O BAÚ-DA-VIDA

O Baú foi construído e decorado pela equipe do JBIAC com folhas verdadeiras de matizes e formas as mais diversas, coladas externamente e cobertas por verniz. O nome “baú-da-vida” foi escrito com sementes.

O material constante do baú foi o seguinte: Lupas (20), Coleção DVDs “Um pé de que” (3), DVDs e Fitas VHS (vários) Teatro de Marionetes do Grupo Giramundo, Jogo de Memória dos seis Ecossistemas Brasileiros (12 caixas), Livros diferentes temas (25), Baneres dos Biomas (7), Baneres dos resultados obtidos (5), Pás de Jardinagem (10), Arranca Mato (10), Ancinho (10), Potes (12) diferentes tipos de sementes, Exsicatas (6) diferentes plantas.

Ao entregar o “Baú da Vida” na escola, houve uma curiosidade muito grande por parte dos professores quanto ao conteúdo do mesmo. Desta forma, os professores organizaram o trabalho por séries e fizeram sugestões de como todo aquele material poderia ser utilizado em sala de aula. Alguns exemplos: elaboração de jogos pra trabalhar as diferentes características das plantas, cruzando com as respectivas espécies em estudo; elaboração de mapas das diferentes regiões, climas e países; oficinas de reciclagem; trabalhos de artes usando diferentes técnicas como colagem em mosaicos, impressão de folhas, confecção de painéis e murais; desenvolver teatro de bonecos contextualizado ao tema; planejamento de um canteiro fitoterápico; criação de um livro/dicionário como guia de orientação do uso das ervas; laboratório de sementes usando copinhos com algodão e água; montagem de álbuns com diferentes folhas secas com seus respectivos nomes; formação de horta; atividades diversificadas utilizando os livros infantis (paradidáticos).

Foi selecionado um tema para cada série e as atividades acima, foram acontecendo no desenrolar do projeto:

·                   As 1ªs séries trabalharam o tema “frutas” (3 classes - 80 alunos);

·                   As 2ªs séries trabalharam o tema “flores” (2 classes - 43 alunos);

·                   As 3ªs séries trabalharam o tema “hortaliças” (2 classes - 60 alunos);

·                   As 4ªs séries trabalharam o tema “plantas medicinais” (3 classes - 75 alunos).

O TRABALHO COM OS ALUNOS

As dez salas, divididas em séries, visitaram o JBIAC na primeira semana de setembro, sendo quatro visitas ao todo. Para viabilizar tais visitas obteve-se recursos da Associação Amigos do Jardim Botânico que colaborou com o aluguel de oito ônibus, em função do número de alunos.

Os temas foram trabalhados em sala de aula pelo professor, em primeiro lugar, e a seguir prosseguiu com um passeio pela área onde os alunos não só descobriram a grande variabilidade de plantas existente na coleção do IAC, bem como, com a ajuda dos especialistas puderam receber maiores informações sobre as plantas observadas.

Observou-se que os alunos gostaram muito das visitas, o que pode ser comprovado posteriormente pelos desenhos feitos em salas de aula e pela forte motivação durante o plantio no pátio escolar.

As professoras de Artes se utilizaram dessa motivação e a canalizaram numa produção fantástica de trabalhos como: mosaicos, murais e desenhos livres. Foram aplicadas várias técnicas como: pintura, colagem, impressão de folhas, etc.

GERMOPLASMA PLANTADO NA ESCOLA

1) Frutas – Uvaia, Pitanga, Romã, Maracujá, Cereja do Rio Grande, Goiaba Vermelha, Acerola, Amora, Banana, Guaranazinho.

2) Flores - Cássia, Eugenia, Hemerocales, Agave, Agapantus.

3) Hortaliças – Mandioca, Rúcula (sementes), Rabanete (sementes).

4) Aromáticas e Medicinais – Urucum, Capuchinha, Confrei, Arnica, Cavalinha, Guaco, Mil folhas, Tanchagem, Hortelã, Alecrim, Capim limão, Babosa.

RESULTADOS

1. As palestras desenvolvida pelos profissionais do IAC e dos parceiros foram recebidas como tendo sido muito interessantes e didáticas tanto para os professores como para os alunos;

2. Os recursos tecnológicos e a forma de apresentação foram consideradas muito bem selecionados e abrangentes;

3. Todos os temas selecionados para apresentação nas quatro séries: flores, árvores frutíferas, hortaliças, plantas medicinais e aromáticas foram considerados muito relevantes e estimulantes;

4. A equipe do Jardim Botânico foi considerada dedicada, carismática e pontual;

5. O entrosamento entre o pessoal do JB e a equipe pedagógica da escola foi grande, tanto no trabalho conjunto como na apresentação dos conteúdos e materiais constantes do baú-da-vida, bem como nas tarefas dos pátios e das salas de aula;

6. O projeto despertou os alunos para a busca de informações sobre os temas diversos ligados à conservação do meio ambiente;

7. Houve estímulo mesmo dos alunos “problema” e repetentes, inclusive com retorno direto do trabalho com os pais nas tarefas de casa, o que surpreendeu até mesmo aos professores acostumados com indisciplina da classe;

8. O projeto foi considerado uma forma de canalizar e despertar o que a criança tem a nos mostrar também; é uma forma eficiente, nada tradicional em sua concepção, que consegue abranger a totalidade do aluno.

9. Nos trabalhos de plantio, os alunos ficaram exultantes e mostraram um admirável senso de responsabilidade pelas suas plantas.

CONCLUSÕES

O Projeto foi muito efetivo em suas propostas, atingindo suas metas com precisão e provocando um impacto direto nos professores e alunos, muitos dos quais já estavam falando em se tornar um Engenheiro Agrônomo, no futuro. Podemos dizer, inclusive, que o projeto teve impacto até mesmo nos membros da equipe do JBIAC.

Nem todos os resultados pretendidos foram alcançados, como por exemplo a implantação do projeto paisagístico, principalmente pela falta de recursos. Enfim, pelos resultados alcançados pelo projeto, desenvolvido pela primeira vez em Campinas, e pela necessidade de complementação do mesmo, pretende-se continuar ainda na mesma escola Newton Silva Telles e, se possível, estendê-lo a outras escolas do entorno do JBIAC, nos próximos anos.


Maria Jussara Franco Rosa Vieira  possui graduação em Agronomia pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (1973). Atua no Jardim Botânico do Instituto Agronômico - IAC/APTA. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Ciência do Solo. É Coordenadora do projeto "O Jardim Botânico vai à Escola" do IAC.
Contato: jussara@iac.sp.gov.br
 
     
Renato Ferraz de Arruda Veiga é Pesquisador Científico VI  e Diretor do Jardim Botânico do Instituto Agronômico - IAC
Doutor em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil.
Mestre em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil.
Graduado em Agronomia pela Faculdade de Agronomia E Zootecnia Manoel Carlos Gonçalves, FAZMACG, Brasil.
Contato: veiga@iac.sp.gov.br
 
     
 

Antonio Alberto Costa possui graduação em Agronomia pela Escola de Agronomia e Zootecnia "Manoel Carlos Gonçalves" (1975). É Pesquisador Científico II. Atua no Jardim Botânico do Instituto Agronômico - IAC/APTA.

 


Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

ROSA VIEIRA, M. J. F.; VEIGA, R.F.A.; Costa, A.A. O jardim botânico IAC foi, vai e continuará indo, à escola. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_2/JBescola/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 25/05/2007 

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