A importância da integração lavoura SPD x Pecuária para o desenvolvimento da agricultura do Estado de São Paulo

Afonso Peche Filho

Uma característica marcante nas áreas de pastagens brasileiras e particularmente as da região do planalto no Estado de São Paulo é a degradação do solo. É comum encontrar propriedades que exploram a pecuária de corte ou leiteira que tenham áreas compactadas, com pouca cobertura de solo e consequentemente com processos erosivos em estágio avançado.

Uma outra característica marcante na pecuária brasileira e paulista é a convivência com a necessidade de reformar as pastagens pois as mesmas "ficam cansadas" e precisam ser trabalhadas para recuperar as condições originais de produtividade.

Estudos mostram que logo após uma "reforma" a capacidade produtiva da pastagem pode chegar acima de 20 arrobas de carne por hectare ao ano, e no segundo ano a produção cai para o entorno de 12 arrobas, no terceiro cai para 8 arrobas e do quarto em diante cai para menos de 4 arrobas, mesmo apresentando cobertura vegetal o boi não engorda pois o capim é pobre em nutrientes principalmente em nitrogênio que é a base para formação da proteína.

À luz da moderna tecnologia de manejo de solos, a reforma da pastagem clássica, com aração profunda e sucessivas gradagens na entrada das águas, é considerada um violento impacto ambiental causando mais prejuízos do que benefícios, principalmente a longo prazo, e essa é uma das razões do porque das áreas de pastagens se depauperarem tão rapidamente após a reforma. O solo é invertido pelo arado trazendo para a superfície camadas de terra com menor fertilidade e com baixa agregação entre as partículas de argila, areia, silte e matéria orgânica. O solo exposto fica muito vulnerável a ação das chuvas torrenciais do verão e mesmo com o desenvolvimento do capim cobrindo a superfície, a fragilidade do solo é alta e imediatamente após o primeiro pastoreio boa parte da superfície volta a ficar exposta e a gota da chuva atinge fortemente o solo descobrindo as raízes superficiais causando um grande estresse na planta, prejudicando enormemente a capacidade de rebrote, limitando a expansão do sistema radicular, além de promover a destruição dos agregados e provocar o aparecimento de uma crosta superficial que impede a germinação da semente produzida pela planta, impedindo também a infiltração da água e conseqüentemente promovendo a erosão laminar.

Por estes e outros motivos técnicos afirmamos que não dá mais para aceitar a estratégia de reforma de pastagens da forma que estamos fazendo, a reforma quando realmente necessária só deve ocorrer com o preparo do solo no inicio de outono quando o solo ainda tem umidade e as chuvas torrenciais já não ocorrem com freqüência, mesmo assim não há lugar para a aração, a mobilização de correção superficial de ser realizada verticalmente ser inverter a camada superficial e isso se faz com escarificadores trabalhando em uma profundidade suficiente para eliminar sulcos de erosão e camadas compactadas, a gradagem deve ocorrer imediatamente após a passagem do escarificador, para ser eficiente no destorroamento corrigindo a superfície e formando um bom leito para a semeadura.

A integração sistema plantio direto e pecuária é a solução técnica que acaba definitivamente com a reforma das pastagens, possibilitando uma exploração pecuária moderna sem o fardo de uma produção de carne alicerçada nos impactos ambientais gerados pela degradação do solo. Para realizar a integração com sucesso é importante diferenciar as áreas de pastagens depauperadas das áreas de pastagens degradadas. Consideramos pastagem depauperada aquela que apresenta plantas forrageiras fracas porem ainda cobrindo toda a superfície do solo, a área não tem sulcos de erosão e é baixa a infestação de plantas invasoras.

A pastagem degradada apresenta áreas caracterizadas pela presença de sulcos de erosão, altas infestações de plantas invasoras, principalmente as arbustivas e lenhosas substituindo boa parte do capim que desapareceu. Na integração lavoura em SPD e pecuária, o sucesso começa com a escolha correta da área e daí vale uma premissa importante que é a instalação do plantio direto somente em áreas depauperadas, jamais devemos começar em áreas degradadas, não podemos perenizar a erosão e comprometer a sustentabilidade do sistema.

Áreas degradadas devem ser reestruturadas com preparo mínimo (escarificação e gradagem) realizado no início de outono, com cultura de inverno viabilizando o início do plantio direto no verão. Um outro ponto importante é a utilização da soja como cultura principal de verão, pois possibilita o enriquecimento do solo com nitrogênio, elemento fundamental para a qualidade da pastagem. Por fim a integração também deve ocorrer entre os produtores, pois o pecuarista normalmente tem grandes extensões de terra e nenhuma tradição em produção de grãos, o agricultor de grãos tem as máquinas necessárias e pouca terra, uma boa parceria é sucesso garantido. Um ajuda o outro, os dois saem ganhando, e o solo produtivo é produzido.


Afonso Peche Filho, possui graduação em Agronomia (1983), Mestrado (1998) em Engenharia de Água e Solo e Doutorando  em Engenharia Agrícola pela Universidade Estadual de Campinas. É Pesquisador Científico, nível VI, do Instituto Agronômico de Campinas, atuando principalmente nos seguintes temas: Gestão agroambiental, Preparo e manejo do solo, Qualidade em sistemas operacionais de produção.
Contato: peche@iac.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

PECHE FILHO, A. A importância da integração lavoura SPD x Pecuária para o desenvolvimento da agricultura do Estado de São Paulo. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_2/SPD/Index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 23/05/2007