UTILIZAÇÃO DE SILÍCIO AUMENTA A PRODUTIVIDADE COMERCIAL DA BATATA

 

Carlos Alexandre Costa Crusciol
Rogério Peres Soratto

 

A batata (Solanum tuberosum L.) é a quarta cultura na ordem de importância mundial, sendo cultivada em mais de 125 países e consumida por mais de um bilhão de pessoas. Sua eficiência produtiva garante um maior aproveitamento de áreas destinadas à produção de alimentos, característica que mostra a tendência do crescimento da cultura num cenário mundial de constante crescimento populacional.

Uma tecnologia promissora para a cultura da batata é a utilização de adubação silicatada. Pesquisas realizadas na Faculdade de Ciências Agronômicas - UNESP, campus de Botucatu, mostraram que o fornecimento de silício a cultura da batata, promoveu redução de 63,2% no acamamento das plantas e aumentou a produção total em 14,3% e a produção de tubérculos comerciais em 15,8%, conforme tabela.

 

Cultivo da batata

Acamamento

(%)

Produção de batata

(g planta-1)

Tubérculos comerciais

(g planta-1)

Sem Si

61

828

778

Com Si

39

946

901

 

A adubação silicatada não é amplamente utilizada na agricultura brasileira, contrariamente ao que se nota em outros países, como no Japão. Isto, possivelmente, deve-se aos poucos dados experimentais obtidos no Brasil, em comparação a outros países.

O Si é um elemento que se concentra na epiderme das folhas formando uma barreira física à invasão de fungos nas células, dificultando também o ataque de insetos sugadores e mastigadores e diminuindo os danos causados às plantas. Em condições de ataque de pragas, a planta com Si terá seu tecido “mais duro” para o inseto mastigar ou sugar, preferindo esse uma planta com baixo teor do elemento. O mesmo raciocínio pode se usado para as doenças.

Outro benefício proporcionado à planta é a maior resistência ao acamamento, como visto na tabela. A melhoria da arquitetura da planta na cultura da batata pode possibilitar o adensamento promovendo incrementos na produtividade, como também pode evitar que as hastes toquem o solo e aumentar a aeração na cultura, diminuindo o potencial de ocorrência de doenças. Assim, o fornecimento de Si à cultura da batata pode reduzir o uso de defensivos agrícolas, proporcionando a obtenção de produto de maior qualidade, além de gerar menor impacto ambiental nos sistemas de produção da batata.

O efeito da proteção mecânica do Si nas plantas é atribuído, principalmente, a sua deposição/acúmulo na parede celular na forma de sílica amorfa. Outra hipótese relacionada com o controle de doenças seria a formação de fenóis favorecida pela absorção de Si. Compostos fenólicos e Si acumulam-se nos sítios de infecção, cuja causa ainda não está esclarecida. O Si pode formar complexos com os compostos fenólicos e elevar a síntese e mobilidade destes na planta. Uma rápida deposição de compostos fenólicos ou lignina nos sítios de infecção é um mecanismo de defesa contra a infecção por patógenos, e a presença de Si solúvel facilita este mecanismo de resistência.

Pesquisa estudando a aplicação foliar de Si na cultura da batata, cultivar ‘Atlantic’, demonstraram que tal prática, quando utilizada semanalmente, reduziu em até 50% a severidade da requeima (Phytophora infestans), em relação às plantas que não receberam Si, sendo essa doença considerada como uma das principais da cultura.

O acúmulo de sílica na folha também provoca redução na transpiração e faz com que a exigência de água pelas plantas seja menor, ou seja, a planta fica mais tolerante a veranicos e períodos de baixa disponibilidade hídrica, mantendo o processo de crescimento por um período maior, em relação às plantas que não receberam o elemento. Na cultura da batata tal efeito é importante, já que essa cultura é exigente em água e mais sensível ao estresse hídrico, comparada a outras culturas, pois possui um sistema radicular superficial e seu cultivo é freqüentemente realizado em solos de baixa a média capacidade de retenção de água. Os benefícios do Si são observados com maior freqüência em solos pobres no elemento e em anos com adversidades, como veranicos ou períodos secos prolongados. Sob tais condições, a planta bem nutrida com silício tolerará por um período maior a falta de água, pois usará melhor água absorvida e a perderá numa velocidade menor em relação a planta com baixo teor de silício. Na prática, o fornecimento de Si pode reduzir o consumo de água pela batata, evitando o desperdício desse recurso natural cada vez mais escasso.

 Além disso, o silício acumulado na folha permite que esta fique mais ereta e com isso aumente a área de exposição à luz solar. Como conseqüência, há redução da queda de folhas, aumento na taxa fotossintética e da produtividade. Outro benefício proporcionado à planta é a redução do efeito da geada.

Uma grande variedade de materiais tem sido utilizada como fonte de Si para as plantas, como escórias de siderurgia, wollastonita, sub-produtos da produção de P elementar em fornos elétricos, metalissicato de Ca, metassilicato de sódio, cimento, termofosfato, silicato de Mg (serpentinitos) e silicato de Ca.

As escórias básicas de siderurgia podem ser utilizadas como corretivo do solo e fonte de Si e outros nutrientes. São constituídas principalmente de silicatos de Ca e Mg, podendo conter impurezas como P, S, Fe, Zn, Cu, B, Mo, Co e outros. Os silicatos comportam-se de maneira similar aos carbonatos (calcários) no solo e são capazes de elevar o pH, neutralizando o alumínio e outros elementos tóxicos às plantas. Em seu estado original, a escória é um material de composição química e granulometria bastante variável, em função do tipo de processo, do minério de Fe e do sistema de forno utilizado. Assim como para o calcário, a reatividade da escória varia conforme sua granulometria, dosagem utilizada, tipo de solo e tempo de contato entre a escória e o solo.

A solubilidade do Si, nos diferentes tipos de escórias é bastante variável. As escórias de alto forno, normalmente, apresentam maiores teores de Si, enquanto as escórias da produção de aço inox são as que apresentam o Si na forma mais solúvel. O produtor deve sempre adquirir produtos de firmas idôneas. No caso de dúvidas, realizar consulta técnica antes de adquirir o produto.

Os países onde a adubação silicata é utilizada mais intensivamente são: Japão, EUA, África do Sul e China. Os principiais resultados obtidos até o momento envolvem as culturas do arroz, cana-de-açúcar, pastagens e milho, que são plantas que acumulam maiores quantidades de Si nos tecidos. Nos últimos anos têm sido realizadas pesquisas também com cultura não gramíneas, tais como: soja, feijão, eucaliptos e batata, com resultados promissores, indicando que tal técnica pode ser interessante para aumentar a produtividade e melhorar a qualidade dos produtos agrícolas.

 

IV Simpósio de Silício na Agricultura

A Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp/Botucatu sedia, nos dias 19 e 20 de junho, o “IV Simpósio de Silício na Agricultura”. Pela primeira vez, o evento será realizado no Estado de São Paulo e contará com a presença de palestrantes internacionais e apresentações das pesquisas científicas mais recentes na área.

O Simpósio vai possibilitar o encontro entre produtores, pesquisadores, profissionais, estudantes e empresários para discutir temas como as interações do silício com as plantas, suas doenças e pragas, movimentação no solo e na planta, atuação fisiológica e sanitária em diversas culturas da área agrícola e florestal, até as formas de produção de fertilizantes, legislação e comercialização.

Mais informações:  www.fca.unesp.br

(14) 3882-6300 – Paula, Priscila ou Fábio

 


Carlos Alexandre Costa Crusciol possui graduação em Agronomia pela Faculdade de Engenharia Campus de Ilha Solteira Unesp (1992), mestrado em Agronomia (Agricultura) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1995) e doutorado em Agronomia (Agricultura) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1998). Atualmente é professor adjunto (livre-docente) da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - Faculdade de Ciências Agronômicas UNESP Botucatu, SP. Tem experiência na área de Agricultura, com ênfase em Fertilidade do Solo, Adubação, fisiologia aplicada, sistemas de produção agrícola e rotação de culturas, atuando principalmente nos seguintes temas: arroz, amendoim, cana-de-açúcar, corretivos de acidez e adubação, silício na agricultura, semeadura direta, integração lavoura-pacuária. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 2.

Contato: crusciol@fca.unesp.br


Rogério Peres Soratto
possui graduação em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1999), mestrado em Agronomia (Sistemas de Produção) [Ilha Solteira] pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2002) e doutorado em Agronomia (Agricultura) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2005). Atualmente é revisor dos periódicos: Magistra , Scientia Agraria (UFPR) e professor assistente doutor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - Faculdade de Ciências Agronômicas  UNESP Botucatu, SP. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Sistemas de Produção Agrícola, atuando principalmente nos seguintes temas: nitrogênio, plantio direto, feijão, phaseolus vulgaris e adubação de cobertura

Contato: soratto@fca.unesp.br



Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

CRUSCIOL; C.A.C;  SORATTO, R.P. Utilização de silício aumenta a produtividade comercial da batata. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_2/silicio/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 08/05/2007

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