Soja verde para alimentação humana - alternativa para agricultura familiar

por Oscar José Smiderle

Uma soja de sabor mais adocicado e com características que permitem seu uso na alimentação humana quando os grãos ainda estão imaturos (verdes) está sendo pesquisada pela Embrapa Roraima para cultivo no Estado.

A soja fornece uma proteína balanceada, a qual possui atributos nutricionais e funcionais, tornando-a uma valiosa substituta para a proteína da carne, do leite e de derivados, e do ovo. As vantagens da substituição de outras proteínas pela proteína da soja é que esta é um alimento com reduzido teor de gordura total e de gordura saturada, sem colesterol e rica em fibras quando comparada com outros grãos convencionais.

A soja-verde, utilizada na alimentação humana como hortaliça, apresenta em grãos secos, um maior conteúdo de amido e de sacarose que conferem sabor mais adocicado; possui teores reduzidos de oligossacarídeos rafinose e estaquiose, quando elevados são de difícil digestão pelo organismo humano; e tem mais carboidratos que a soja comum. Um outro valor agregado à soja-hortaliça refere-se ao teor de carboidratos que chega a 83,20 mg/g de peso seco, enquanto na soja comum este valor é de 0,66 mg/g. Isso evidencia o valor nutritivo da soja hortaliça para consumo in natura na alimentação humana.

A Embrapa Roraima (Boa Vista-RR), a partir de sementes obtidas da Embrapa Hortaliças (DF), realizou pesquisas de adaptação da soja verde para as condições de cerrado em Roraima (ecossistema que se estende por aproximadamente 4 mil quilômetros quadrados no Estado).

O cultivo foi realizado em latossolo vermelho de textura média, dos cerrados de Roraima. Em 2004 foram testados dez materiais (CNPSo I; JLM 003; JLM 10; JLM 17; JLM 18; JLM 19; BRM 9452273; BR 36; BRS 155; JLM 004), à semelhança do que é feito para a soja comum segundo as recomendações tecnológicas da Embrapa.

O plantio pode ser realizado com semeadeira adubadeira de parcelas ou mesmo em covas no plantio manual. A adubação de plantio e demais tratos culturais foram realizados com base no que se recomenda para a soja comum. Deve-se dar atenção especial também na fase de colheita, feita de forma manual e escalonada pois as vagens vão ‘chegando’ no ponto de colheita para a comercialização em ‘vagens verdes’ sem uniformidade e o mesmo ocorre para a colheita de sementes com qualidade.

Os melhores resultados de produtividade em Roraima, no primeiro plantio realizado em 2004, foram obtidos com a BRS 155 , produzindo 2330 kg ha-1, seguida da BRM 9452273, com 2150 kg ha-1. O peso de 100 grãos verdes variou de 40 a 90 gramas e o número de vagens em 500 gramas entre 166 e 355. Estes resultados obtidos são satisfatórios, destacando-se a BRS 155 e a linhagem BRM 9452273. Esta linhagem, hoje já está lançada como cultivar de soja denominada de BRS 267.

Em 2005, avaliando a produtividade de vagens verdes foram obtidos com o material JLM 10 (3.559 kg ha-1) seguido do BRM 9452273 (3.207 kg ha-1). A produtividade média de vagens verdes entre os dez materiais avaliados apresentou variação de 2634 a 3559 kg ha-1. O peso de 100 grãos verdes variou de 49,7 (JLM 18) a 95,1 gramas (JLM 10) com a umidade média de 60,9%. O número de vagens verdes em 500 gramas variou entre 187 e 446.

A tecnologia em desenvolvimento consiste na adaptação do cultivo de soja verde (soja-hortaliça) para o cerrado de Roraima, com destino para a agricultura familiar, enfocando a produtividade de vagens e de grãos verdes e principalmente a produtividade e qualidade de sementes que permitam maior divulgação e distribuição aos produtores interessados.

O desenvolvimento de cultivares de soja-verde (soja-hortaliça) para cada região do Brasil, assim como o aprimoramento de técnicas de cultivo e a transferência de tecnologia, podem contribuir muito para inserir e expandir seu consumo humano, enriquecendo a dieta, ajudando no combate à fome e proporcionando uma fonte alternativa de renda para agricultores familiares.

Como a tecnologia utiliza colheita manual, mantém ocupada a mão-de-obra disponível na propriedade, dispensando maiores investimentos e representa uma fonte alternativa de renda para a agricultura familiar.

Estes estudos vem sendo coordenados na Embrapa Roraima em processo de evolução. Em 2006, em continuidade deste trabalho, foram implantadas unidades de observação (para novos materiais) e demonstrativas. Em propriedades de agricultura familiar foram implantadas pequenas áreas para demonstração de cultivo e da utilidade da soja-hortaliça, junto a agricultores abrigados ao projeto Disponibilização e Apropriação de Tecnologias para Agricultura Familiar no município de Iracema-RR, financiado pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), em execução pela Embrapa Roraima.
 


Oscar Smiderle concluiu o doutorado em fitotecnia pela Universidade de São Paulo em 1998. Atualmente é Pesquisador III da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. De setembro de 2003 a outubro de 2005 exerceu o cargo de Chefe Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento.  Atua na área de Agronomia, com ênfase em Produção e Beneficiamento de Sementes. Os temas abordados em sua área de atuação são: cerrado, soja, Roraima, qualidade de sementes, sementes de soja, produtividade, micronutrientes, armazenamento agrícola, tratos culturais, cultivares de soja, girassol, amendoim, pinhão manso e mamona.

Contato: ojsmider@cpafrr.embrapa.br



Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

SMIDERLE, O. Soja verde para alimentação humana - alternativa para agricultura familiar. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_2/SojaVerde/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 28/05/2007

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