ÓLEO VEGETAL NATURAL COMO COMBUSTÍVEL: Por que não?

Sylmar Denucci

Consideremos alguns fatos históricos:

-       Rudolf Diesel declarou em 1912 que no devido tempo os óleos vegetais teriam a importância que o petróleo e o carvão mineral tinham naquela época;

-         Monteiro Lobato, em carta dirigida a Getúlio Vargas em 1930, defendia a utilização do babaçu para produção de energia;

-         Óleos vegetais naturais nunca deixaram de ser pesquisados como possível opção ao óleo diesel e, em algum locais como a África, usados como combustível  para motores de combustão interna em determinados períodos;

-         No Brasil, durante a 2.a Guerra Mundial, óleos vegetais foram utilizados como substituto total do óleo diesel;

-         Na década de 1950, foram realizados com sucesso testes de longo percurso entre Belo Horizonte, Recife e Rio de Janeiro utilizando óleo natural  de palmácea;

-         Em 1980 foi lançado o Programa Nacional  de Óleos para Fins Carburantes que previa substituir até 1990 mais de  um  terço do óleo diesel de petróleo consumido no Brasil. Apesar da luta de patriotas como Bautista Vital, não foi concretizado.


O que está ocorrendo hoje?

Estamos tentando recuperar o tempo perdido. Nossa nação tem condições espetaculares de produção de várias oleaginosas. De Norte a Sul, cada região possui diversas opções de cultivo. Temos potencial de produzir óleos vegetais em quantidade superior ao petróleo extraído pelos maiores países exportadores dessa matéria prima energética.

 

Biodiesel é a única ou a melhor solução para o Brasil?

Enquanto aqui não se utilizam diretamente os óleos vegetais em motores aptos para tal, nossa produção de biodiesel tem sido fortemente estimulada. Isto talvez possa ser interessante, principalmente para fins de exportação. Entretanto, com o avanço do uso da tecnologia H-BIO pela Petrobrás para produção de óleo diesel com a participação de até 30% de óleos vegetais puros, e também com a opção do uso direto desses óleos, o uso de biodiesel no Brasil não parece ser a melhor opção.
 

Por que?

Se a preocupação é produzir energia, por que consumir significativa energia adicional na produção de biodiesel, o que pode ser evitado com a tecnologia H-BIO ou com o uso direto dos óleos vegetais? Consideremos  alguns aspectos:

·        A tecnologia H-BIO é muito mais eficiente que a tecnologia de transesterificação (biodiesel);

·        a tecnologia para o uso puro e direto de óleos vegetais  é disponível e nosso clima facilita esta opção;

·        a eficiência energética da utilização direta do óleo vegetal é significativamente superior à do biodiesel;

·        a indústria de biodiesel é potencialmente poluidora;

·        as possibilidades de remuneração aos produtores de oleaginosas são melhores no caso do uso direto;

·        o uso direto de óleos vegetais naturais elimina a necessidade de investir em usinas para produção de biodiesel;

·        os custos de armazenamento e distribuição dos óleos vegetais naturais são menores que os do biodiesel.

Levemos ainda em consideração a dificuldade tecnológica que a indústria automotiva foi obrigada a superar quando o Proálcool foi lançado. Os motores ciclo Otto daquela época não funcionavam com álcool. Comparemos agora com a situação relativa ao uso direto de óleos vegetais. Qualquer equipamento atual com motor ciclo Diesel, de qualquer marca ou potência e com qualquer sistema de alimentação, funciona quando substituímos o óleo diesel por óleo vegetal natural. E funciona bastante tempo antes de apresentar inconvenientes. Portanto, não há como negar que a obtenção de tecnologia adequada para o uso direto de óleos vegetais naturais é viável.

 

Há chance para o uso direto de óleo vegetal natural?
 

Se fomos capazes de superar os problemas relativos ao álcool combustível, é incompreensível que deixemos de lado o desafio consideravelmente menor que é o do  uso direto de óleos vegetais. A chance é evidente.
 

O que está faltando?

            Deveríamos estar observando no Brasil o desenvolvimento da indústria de motores e equipamentos para uso direto de óleo vegetal. Isto está muito atrasado diante das possibilidades de mercado. Há informações, no entanto ainda não confirmadas, de que pelo menos uma importante indústria fabricante de tratores agrícolas estará lançando comercialmente em futuro não distante máquinas aptas ao uso de óleo vegetal natural. Seria um primeiro grande passo. Exemplos tais como o do lançamento dos motores tipo flex para veículos a álcool/gasolina fazem  crer que isto realmente poderá ocorrer.

 


Sylmar Denucci  é Engenheiro Agrônomo do Departamento de Sementes Matizes e Mudas da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral - DSMM/CATI/SAA-SP.

Contato: sylmar@cati.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

DENUCCI, S. Óleo vegetal natural como combustível: Por que não?. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_3/biocombustivel/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 30/08/2007

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