Rede de pesquisa vai incrementar a produção de cucurbitáceas em áreas de agricultura familiar e assentamentos

Iniciativa prevê a participação de pequenos produtores no processo de conservação e uso de espécies de abóbora, abobrinha, moranga e melancia.

Maria Aldete Ferreira
Fernanda Diniz

Cláudio Melo  
 

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa e instituições parceiras estão dando início a uma iniciativa que vai incrementar a produção racional e sustentável de cucurbitáceas em áreas de agricultura familiar e assentamentos da reforma agrária: a criação da Rede Participativa em Pesquisa e Desenvolvimento com Recursos Genéticos de Cucurbitáceas (REPARTIR). Entre as cucurbitáceas, as mais conhecidas no Brasil são: a abóbora, abobrinha, moranga e melancia. Como o próprio nome já sugere, a Rede Repartir vai contar fundamentalmente com a participação dos pequenos produtores para promover ações relacionadas à conservação, valorização e uso dos recursos genéticos. Essa integração é fundamental para fortalecer a agricultura tradicional e garantir a segurança alimentar e nutricional.

Inicialmente a Rede conta com a participação da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia; Embrapa Hortaliças; Embrapa Agroindústria Tropical; Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Programa Biodiversidade Brasil-Itália; Universidade Federal de Minas Gerais/Núcleo de Ciências Agrárias (UFMG/NCA); Instituto Capixaba de Pesquisa, Extensão Rural e Assistência Técnica (INCAPER); Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Porteirinha (STR Porteirinha); Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM); Cooperativa de Trabalho da Reforma Agrária do Distrito Federal e Entorno (COOTRADFE) e do Núcleo de Agricultura Sustentável do Cerrado (NASCer).

 

 Até o momento foram estabelecidos pólos de treinamento e de difusão na Comunidade Furada da Onça, Porteirinha-MG; no Assentamento Cunha, Cidade Ocidental-GO e no Assentamento Mulungu, Tururu-CE. Nestes pólos são estabelecidos ensaios de campo que servem de base para a capacitação e a divulgação dos conhecimentos e das tecnologias.

 

As cucurbitáceas e sua importância na produção agrícola brasileira
 

A família Cucurbitaceae, grupo vegetal que habita as regiões tropicais do mundo, é formada por cerca de 118 gêneros e mais ou menos 825 espécies. Entre as espécies cultivadas desta família estão: a melancia (Citrullus lanatus), abóbora (Cucurbita moschata), abobrinha (Cucurbita pepo) e moranga (Cucurbita. maxima), que ocupam uma parcela significativa do agronegócio brasileiro, estimado em R$ 300 milhões anuais. Estas espécies também são importantes para a agricultura familiar que cultiva inúmeras variedades locais.

 

A espécie Luffa cylindrica (bucha vegetal), apesar de apresentar menor expressão econômica, é cultivada em algumas áreas de agricultura familiar. A produção de bucha tem aumentado diante do mercado promissor de consumo das esponjas vegetais orgânicas. A bucha orgânica apresenta uma série de vantagens em relação àquelas fabricadas com materiais sintéticos pelo fato de serem naturais, biodegradáveis e não poluentes, já que não geram resíduos contaminantes na sua produção e beneficiamento. Além dessas vantagens, apresenta propriedades esfoliantes, sendo usada para limpeza cutânea e massagens, por acelerar a circulação sanguínea e na limpeza de utensílios domésticos e sanitários.

 

Apesar das cucurbitáceas não serem nativas do Brasil, são espécies domesticadas e cultivadas há séculos e, em virtude disso, existe uma ampla variabilidade genética representada pelas variedades locais cultivadas nas diferentes regiões brasileiras. No entanto, as variedades locais sofrem diferentes pressões que podem levar a uma erosão genética.

 

Repartir para produzir mais e melhor
 

O desenvolvimento das pesquisas coordenadas pela Rede Repartir pode possibilitar a inclusão social, o fortalecimento da agricultura tradicional, a geração de renda e de trabalho e, conseqüentemente, a segurança alimentar e nutricional. Tem ainda como finalidade integrar os diferentes beneficiários com base em um enfoque metodológico participativo, multidisciplinar e interdisciplinar, de forma a possibilitar uma interação consistente e constante entre pesquisadores e produtores.

 

Para isso, a Rede prevê o desenvolvimento das seguintes atividades:

1.      Disponibilização de tecnologias existentes que contribuam para a sustentabilidade e a segurança alimentar das comunidades;

2.      Resgate, caracterização e desenvolvimento de programas de pesquisa participativa na avaliação, seleção, melhoramento e produção de variedades locais de cucurbitáceas;

3.      Caracterização de variedades locais de abóbora para o teor de beta-caroteno, composto anti-oxidante e precursor da vitamina A, visando à produção de alimentos funcionais e à confecção de rotulagem nutricional;

4.      Utilização de ferramentas da biologia molecular para quantificar a diversidade genética e auxiliar no manejo e na conservação de variedades locais de cucurbitáceas;

5.      Beneficiamento da bucha para comercialização de esponja vegetal agroecológica, como uma fonte de renda alternativa para as comunidades, gerando uma nova oportunidade de mercado;

6.      Desenvolvimento de estratégias para o estabelecimento de redes locais para produção e difusão de sementes de variedades locais de cucurbitáceas;

7.      Capacitação de pequenos produtores, técnicos e estudantes em resgate, manejo, melhoramento participativo e produção de variedades tradicionais.

 


Maria Aldete Ferreira é Pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

Contato: aldete@cenargen.embrapa.br

 

Fernanda Diniz é Jornalista da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

Contato: fernanda@cenargen.embrapa.br



Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

FERREIRA, M.A.; DINIZ, F. Rede de pesquisa vai incrementar a produção de cucurbitáceas em áreas de agricultura familiar e assentamentos. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_3/curcubitaceas/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 28/08/2007

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