BACIA HIDROGRÁFICA DO ALTO TIETÊ: PESQUISAS DO INSTITUTO DE PESCA ANALISAM COMPLEXIDADE DO SISTEMA

por Antônio Carlos Simões


A Bacia Hidrográfica do Alto Tietê Cabeceiras tem 1.889 km2 de área de drenagem e é constituída pelos rios Tietê (desde sua nascente até a divisa com Itaquaquecetuba), Claro, Paraitinga, Biritiba-mirim, Jundiaí e Taiaçupeba-mirim. Nessa Bacia estão presentes os reservatórios Ribeirão dos Campos, Ponte Nova (no município de Salesópolis), Jundiaí (em Mogi das Cruzes), Taiaçupeba (na divisa de Mogi das Cruzes com Suzano), Biritiba (em Biritiba-Mirim) e Paraitinga (em Salesópolis). Os dois últimos são os mais recentemente concluídos.

Os reservatórios Ponte Nova, Paraitinga, Biritiba-mirim, Jundiaí e Taiaçupeba-mirim formam o Sistema Produtor Alto Tietê (SPAT), um sistema em cascata, no qual os reservatórios são interligados por sistemas de túneis e canais, com a finalidade de aumentar a captação de água para o abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP).

O sistema em cascata está em funcionamento desde junho de 1999 e atualmente disponibiliza um total de 10 m³/s de água, a partir da entrada em funcionamento dos reservatórios Biritiba e Paraitinga, explica Suzana Sendacz, sendacz@pesca.sp.gov.br, pesquisadora do Instituto de Pesca, vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SP). A meta é disponibilizar até 15 m³/s de água para o município de São Paulo.

Com a finalidade de avaliar o processo de eutrofização (elevação do teor de nutrientes na água, principalmente nitrogênio e fósforo, que leva à proliferação indesejada de diferentes organismos) ao longo do sistema, a carga de nutrientes foi determinada por pesquisadores do Instituto de Pesca, através do projeto “Facilitando a negociação sobre a gestão da terra e da água em sub-bacias periurbanas na América Latina: combinando modelagem multiagente com jogo de papéis (Negowat)”, com o apoio da Comunidade Européia - Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (CIRAD), França, e da FAPESP. O objetivo global do projeto é testar a modelagem multiagente, que permite a simulação computacional do meio físico e sociológico, como ferramenta na negociação de conflitos entre a água e o uso e ocupação do solo.

Nos reservatórios em cascata ocorre, geralmente, diminuição dos poluentes ao longo do sistema, pois o reservatório tem o papel de reter parte dos poluentes e nutrientes indesejáveis, levando à melhoria da qualidade da água e do sedimento ao longo da cascata. No entanto, observa a pesquisadora, ao invés da esperada gradual melhoria da qualidade da água ao longo da série de reservatórios do Sistema Produtor Alto Tietê (SPAT), constata-se um aumento progressivo da eutrofização ao longo do sistema. Isto, porque os reservatórios da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê foram implantados em áreas onde os solos são ricos em nutrientes, devido ao uso agrícola, acarretando no sedimento desses sistemas aquáticos a formação de um compartimento com nutrientes estocados, que podem suprir a massa d’água por longos períodos, diz Suzana.

Ao longo do Sistema Produtor tem ocorrido aumento progressivo dos efeitos da eutrofização, pois, desde 1997, concentrações de variáveis que podem provocar alterações indesejáveis na qualidade da água vêm apresentando valores elevados em reservatórios, levando, por exemplo, a constantes florações de algas azuis (produtoras de toxinas que, se liberadas no ambiente e, ainda que indiretamente, consumidas pelo homem, podem ser prejudiciais à saúde).

No período de estiagem, revela a estudiosa do Instituto de Pesca, a transferência de água entre reservatórios é intensificada, verificando-se elevadas vazões no reservatório Ponte Nova e no canal Jundiaí-Taiaçupeba para garantir a quantidade de água necessária para captação no reservatório Taiaçupeba. Já no período chuvoso verifica-se redução das vazões, com a finalidade de armazenar água no reservatório Ponte Nova, utilizado como reserva para o abastecimento de parte da Região Metropolitana de São Paulo.

Qualidade da água

Na Bacia do Alto Tietê Cabeceiras, a degradação da qualidade da água dos reservatórios que compõem o Sistema Produtor Alto Tietê (que contribui com 12% do total necessário à Região Metropolitana, fornecendo cerca de 10 m3 de água por segundo) está mais associada ao manejo hidráulico, que contempla transposições de água entre represas, causando um impacto negativo cumulativo nos corpos receptores. As elevadas vazões nos túneis e canais de interligação entre as represas carreiam grandes cargas de nitrogênio e fósforo. Em razão disso, alerta Suzana Sendacz, é comum o intenso desenvolvimento de cianobactérias (microrganismos com potencial para produzir toxinas) ou o crescimento excessivo de plantas aquáticas, como o aguapé e a alface-d’água, principalmente no reservatório Biritiba-mirim, o que encarece o tratamento da água que será disponibilizada a, aproximadamente, 3,5 milhões de pessoas diariamente.

Tendo em vista a complexidade do sistema, a pesquisadora aponta para a necessidade de alterar a dinâmica de vazões dos reservatórios envolvidos, de modo a ser possível planejar e compatibilizar aspectos hidrológicos, ecológicos e socioeconômicos relacionados ao uso múltiplo da água. Suzana recomenda a remoção de nutrientes da água do sistema, por meio de um bem planejado manejo de plantas aquáticas capazes de, por reprodução e crescimento rápidos, absorver grande quantidade desses nutrientes da água.

Ao se identificar que o problema da qualidade da água dos reservatórios está associada ao manejo dos reservatórios e não preponderantemente à atividade agrícola, a agricultura pode ser fomentada sem representar perigo para os corpos d’água, desde que haja preocupação com a sua adequação tecnológica.

Além de Suzana, os seguintes pesquisadores constituem a equipe do Instituto de Pesca que atua na especialidade: Adalberto José Monteiro Júnior, Cacilda Thaís Janson Mercante, Luciana Carvalho Bezerra de Menezes e Paula Maria Gênova de Castro.

*Origem: Instituto de Pesca www.pesca.sp.gov.br


Antônio Carlos Simões, Jornalista, 57, atua na área de divulgação científica. Foi diretor-técnico do Museu de Pesca de Santos (SP), de 1979 a 1997. Desde 1997, é diretor-técnico do Centro de Comunicação e Transferência do Conhecimento, do Instituto de Pesca, São Paulo (SP).
Contato:
antoniosimoes@sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

SIMÕES, A.C. Bacia hidrográfica do alto tietê: pesquisas do Instituto de Pesca analisam complexidade do sistema. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_3/Tiete/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 02/07/2007

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