ConsÓrcio milho – cana-de-açúcar: CUSTOS DE IMPLANTAÇÃO DE CANAVIAL COMERCIAL E NO MANEJO EM CORSÓRCIO, Na região NoRoeste do Estado de São Paulo

 

Adelina Azevedo Botelho

Waldo A. R. Lara Cabezas

 

A implantação de um sistema de produção deve mostrar viabilidade técnica e econômica, e um cenário definido para sua efetivação. Um dos problemas que dificulta o cultivo de grãos na região do Noroeste Paulista em sistema plantio direto é a manutenção de cobertura viva durante o período da seca, evitando o pousio perverso que somente encarece os custos da próxima safra e degrada o recurso natural solo. A cana-de-açúcar pode ser uma séria candidata a cumprir esse papel, se tratada como mais uma cultura anual, dentro do sistema de rotação. A seguir se mostra um exercício de cálculo de custos, comparando a implantação convencional de um canavial e os custos efetivos estimados no ensaio de consórcio, apresentados em artigo anterior: “CONSÓRCIO MILHO – CANA-DE-AÇÚCAR: ALTERNATIVA PARA A PRODUÇÃO DE FORRAGEM E COBERTURA DE SOLO NO OUTONO-INVERNO, NA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO".

 

Custos de implantação de canavial convencional e em consórcio com milho.

Nas tabelas 1 e 2 se mostram os custos diretos totais envolvidos na produção de um canavial convencional e os custos do consorciamento da cana-de-açúcar com a cultura de milho, na condição de cultivo anual ou bianual, estimados a partir da experiência vivenciada no Pólo Regional. Os custos na condição de consórcio são aproximadamente 1/3 dos custos estimados na implantação convencional. Não são consideradas a adubação e operações de mecanização que mais oneram os custos. Neste sistema, a adubação é herdada do milho e não são necessárias as operações mecanizadas para um investimento mais duradouro. O plantio seria mais raso (8-10 cm de profundidade), o que diminui os custos de sulcamento profundo, visto que a cultura deve ser dessecada para a inserção de outra cultura na próxima safra. Nada mais é que um sistema Santa Fé adequado para uma cultura de expressiva presença na região, oferecendo alternativas para a agricultura familiar. Cabe salientar que ainda esses custos poderiam ser barateados se a mão de obra é do próprio produtor, eliminando R$ 235,00 dos custos indicados na tabela 2. Ainda, o produtor poderia utilizar variedade de milho e não híbrido, barateando os custos com semente e contribuindo à menor demanda de fertilizante, item que contribui expressivamente nos custos de plantio. Se fosse efetuada colheita manual do grão, a cana na entrelinha não sofreria o estresse pela passagem de maquinário tendo maior produção de matéria seca para ofertar na entressafra.

 

Tabela 1. Custos totais por hectare na implantação da variedade IAC 86-2480, para uma produção esperada de 100 t ha-1 e uma vida útil de cinco anos.

MECANIZAÇÃO

     Operação

Equipamento

Qtde.

Unid.

Valor Unit.

Total

 

 

 

 

R$

R$

 Gradagem Pesada

Valtra BH-140

3,20

hm

 44,51

      142,43

 Aração

Valtra BH-140

2,20

hm

43,49

        95,68

 Gradagem Niveladora

MF-290

0,73

hm

40,02

        29,21

 Curvas de nível

Motoniveladora

0,76

hm

70,00

        53,20

 Sulcação e adubação

Valtra BH-140

1,32

hm

44,13

        58,25

 Marcação de sulco

MF-290

0,56

hm

47,40

        26,54

 Cobrição de sulcos

MF-290

1,10

hm

39,24

        43,16

 Aplicação de herbicida

MF-290

1,40

hm

38,87

        54,42

 Enleiramento

MF-290

0,83

hm

38,62

        32,05

 Tríplice operação

Valtra BH-140

1,60

hm

44,73

        71,57

 Subtotal                                                                                                                                                 579,30                                                                                                                                   

INSUMOS

     Categoria

Descrição

Qtde.

Unid.

Valor Unit.

Total

 

 

 

 

R$

R$

 Corretivos

Calcário

1,50

Ton.

       69,00

      103,50

 Adubo de plantio

05.25.25

0,50

Ton.

     805,00

      402,50

 Inseticida de solo

Regente

0,25

Lt.

     640,00

      160,00

 Velpar K

      10% da área

0,22

kg.

       41,00

          9,02

 2 lt Combine + 3lt Gesapax

 

1,00

Ton.

     139,50

      139,50

 Herbicida

   Velpar K

2,20

kg.

       41,00

        90,20

 Adubo cobertura

  20.05.20

0,50

Ton.

     792,00

      396,00

 Subtotal                                                                                                                                                  1.300,72

MUDA

     Descrição

Qtde.

Unid.

Valor Unit.

Total

 

 

 

R$

R$

 IAC 86-2480

 10,00

  Ton.

        70,00

      700,00

 Subtotal                                                                                                                                                     700,00

MÃO-DE-OBRA

     Descrição

Qtde.

Unid.

Valor Unit.

Total

 

 

 

R$

R$

 Calagem

0,20

DH

        25,00

         5,00

 Adubação

0,20

DH

        25,00

         5,00

 Distribuição

1,65

DH

        25,00

       41,25

 Corte de toletes

0,83

DH

        25,00

       20,75

 Repasse

1,65

DH

        25,00

       41,25

 Acerto de cabeceira

0,67

DH

        25,00

       16,75

 Aplicação de herbicidas

0,20

DH

        25,00

         5,00

 Catação de plantas daninhas

1,50

DH

        25,00

       37,50

 Combate à formiga

1,00

DH

        25,00

       25,00

 Capina manual

2,10

DH

        25,00

       52,50

 Subtotal                                                                                                                                                    250,00

TOTAL                                                                                                                                                   2.830,02

hm = hora máquina, DH = diária homem. Fonte: COOPERCANA – Sertãozinho (SP).

 

Tabela 2. Custos totais por hectare na implantação da variedade IAC 86-2480, em esquema de consórcio com milho.

MECANIZAÇÃO

     Operação

Equipamento

Qtde.

Unid.

Valor Unit.

Total

 

 

 

 

R$

R$

     Sulcação

Valtra BH-140

0,80

hm

        44,13

        35,30

     Marcação de sulco

MF-290

0,56

hm

        47,40

        26,54

     Cobrição de sulcos

MF-290

1,10

hm

        39,24

        43,16

     Aplicação de herbicida

MF-290

1,40

hm

        38,87

        54,42

     Subtotal                                                                                                                                               159,42

INSUMOS

     Categoria

Descrição

Qtde.

Unid.

Valor Unit.

Total

 

 

 

 

R$

R$

     Inseticida de solo

Tiodan

  0,25

    Lt.

       16,00

         4,00

     Subtotal                                                                                                                                                 4,00

MUDAS

     Descrição

Qtde.

Unid.

Valor Unit.

Total

 

 

 

R$

R$

      IAC 86-2480

  8,00

   Ton.

       70,00

    560,00

     Subtotal                                                                                                                               560,00

MÃO-DE-OBRA

     Descrição

Qtde.

Unid.

Valor Unit.

Total

 

 

 

R$

R$

     Distribuição

  1,65

   DH

       25,00

      41,25

     Corte de toletes

  0,83

   DH

       25,00

      20,75

     Repasse

  1,65

   DH

       25,00

      41,25

     Acerto de cabeceira

  0,67

   DH

       25,00

      16,75

     Catação de plantas daninhas

  1,50

   DH

       25,00

      37,50

     Combate à formiga

  1,00

   DH

       25,00

      25,00

     Capina manual

  2,10

   DH

       25,00

      52,50

     Subtotal                                                                                                                                             235,00

    TOTAL                                                                                                                                 958,42

hm = hora máquina, DH = diária homem.

 

Valor de produção do consórcio milho – cana.

Na produção de milho exclusivo, para um valor de produção de R$ 15,43 a saca, segundo o IEA-SP, e considerando a produtividade do artigo anterior, 5.066 kg ha-1, para o consórcio milho – cana cultivada em simultâneo representou um valor bruto de R $1.302,29 por hectare. Cabe salientar que o solo não estava corrigido e apresentava alta deficiência de enxofre, entre outras limitações.  A media do Estado de São Paulo, segundo  CONAB  (2007),  foi  de 4.700 kg ha-1  na  safra  2006-2007,  pelo  que  a  produção valorizada apresentou uma margem de lucro de R$ 111,38, considerando somente os dados de custeio direto da lavoura, apresentados por CONAB (2006) para a região de Rio Verde (GO), que foram de R$ 1.190,91, excluídas as despesas pós-colheitas, financeiras, custos fixos e renda de fatores (remuneração esperada sobre capital fixo e terra).  Sem a cana consorciada esta seria a única receita do produtor na safra, sem investimento na terra para a entressafra.

 

Aplicando o modelo Santa Fé ao consórcio milho-cana, na área segundo citado no artigo anterior, houve uma produção de 7.941 kg ha-1 de massa de matéria seca de cana na parte aérea. Cabe salientar que essa massa seca foi estimada após a colheita mecanizada do milho, o que se refletiu numa menor produção de massa seca. Este valor seria mais expressivo se a colheita de milho fosse manual, como ocorre em área de agricultura familiar. O destino deste material seria cobertura de solo ou alternativa de forragem para consumo animal reforçado com uréia para manter o peso animal na seca com uma dieta nutricional balanceada, tecnologia lançada pela Embrapa de Gado de Corte de Coronel Pacheco (MG). Segundo Thiago & Vieira (2005) em 2002, foi lançada a variedade IAC 86-2480 (Landell, 2002), com hábito de crescimento ereto, bainha aderida fracamente ao colmo (facilitando a desfolha natural), e uma boa relação entre o teor de fibra e a quantidade de açúcar, resultando em um aumento de 17% no ganho de peso, em comparação com variedade industrial. Segundo esses autores, para um animal de peso médio vivo de 300 kg, ofertando-se 18 kg de cana fresca/animal/dia, a produção obtida no consórcio daria para o consumo potencial de 50 animais durante 8 dias. Sobras do material poderiam ser ensiladas ou desidratadas (85 a 90% de matéria seca, como recomendado por Thiago & Vieira (2005). Essa dieta permitiria na seca, atender necessidades de mantença (ganhos de até 200 g/animal/dia). Maiores acréscimos em peso seriam suplementados com milho triturado ou silagem dessa cultura, entre outros, e que poderia vir do próprio milho colhido. Supondo esses valores, portanto, nos 8 dias, 50 animais aumentariam em 80 kg de carne viva.

 

         Efetuando um balanço entre valor da produção e custos operacionais na condição de consórcio, a tabela 3 mostra que somente o milho apresentou margem de lucro, sendo negativo para a cana. É indicada nesse balanço a condição de incluir mão de obra (MDO) como custo e sem custo, se o próprio produtor efetuar as operações.

 

Para a cana com MDO seria necessário produzir 22.900 kg ha-1 de matéria seca para se chegar a um valor de produção de 250 kg de peso vivo (17,00 arrobas) e R$ 1.020,00 de receita; aqui está o ponto de nivelamento onde o valor de produção cobre os custos operacionais.

 

Para se obter um lucro de 10 % teríamos que produzir 24.300 kg ha-1 de matéria seca, chegando a um ganho de 270 kg de peso vivo (18,36 arrobas), e um valor de produção de R$1.101,60 de receita.

Considerando a MDO do próprio produtor tem-se a produção de 16.900 kg ha-1 de matéria seca, chegando a um valor de produção de 180 kg de peso vivo (12,24 arrobas), e R$ 734,40 (ponto de nivelamento).

 

Tabela 3. Balanço entre a produção valorizada de milho e cana em sistema de consórcio e os  respectivos custos operacionais de produção, com base nos dados apresentados.

Cultura

Valor Produção

Custos de Produção

Balanço

 

------------------------------------------R$--------------------------------------

Milho

           1.302,29

           1.190,91

           +111,38

Cana (com MDO)(1)

              324,00

              958,42

            -634,42

Cana (sem MDO)

              324,00

              723,42

            -399,42

(1) MDO = mão de obra.

 

Para obter um lucro de 10 % é necessário produzir 18.900 kg ha-1 de matéria seca, equivalente a 210 kg de peso vivo (14,28 arrobas), e R$ 856,80 de receita.

De forma geral é possível conseguir maior acréscimo de matéria seca de cana para suplementação animal, através de algumas práticas de manejo indicadas a seguir:

1.                      Efetuar adubação nitrogenada em cobertura na cana imediatamente após a colheita de milho, acelerando o crescimento da cana para melhor aproveitamento das águas residuais.

2.                      Efetuar-se colheita manual de milho, costume na agricultura familiar, o que prejudica menos a área foliar da cana.

3.                      Aprimorar a fertilidade de solo com os benefícios conseqüentes para ambas as culturas.

4.                      Prolongar por mais um ano a presença da cana na área (em ausência de consórcio), após a rebrota, sem custo algum, exceto, adubação. 

 

Referência de Literatura

CONAB. Custo de Produção estimado. Milho 1ª safra – Plantio Direto (80%) safra de verão 2005-2006, Rio Verde (GO). 2006.

CONAB. MILHO 1ª SAFRA – BRASIL. Série Histórica de Produtividade. Safras 1976/77 a 2006/07. 2007.                                                                                                                                        

FIGUEIREDO, P. A variedade IAC 86-2480 como nova opção de cana-de-açúcar para fins forrageiros: manejo da produção e uso na alimentação animal. Campinas: IAC, 2002. 36p. (Boletim Técnico IAC 193 Série Tecnologia APTA).                                               

LANDELL, M. G. A.; CAMPANA, M. P.; RODRIGUES, A. A.; CRUZ, G. M.; ROSSETO, R.;

Thiago, l.r.l. & vieira, j.m. Cana-de-Açúcar: uma alternativa de alimento para a seca (2005).

http://www.udr.org.br/alimentos_6.htm <Lido em 19/09/2007>

 

Agradecimentos

         Os autores agradecem ao Dr. Lúcio Martins do Pólo Regional Centro Norte pela doação de mudas de cana forrageira, às empresas BUNGE Fertilizantes Ltda. e Sementes PIONEER pela doação dos insumos em fertilizante e sementes, respectivamente, e ao pessoal de apoio do Pólo Regional Noroeste Paulista, sem os quais não teria sido possível a realização deste estudo.


Adelina Azevedo Botelho: possui graduação em administração pela Universidade Federal de Lavras (1995). Atualmente é pesquisadora científica nível I da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA). Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Administração de Empresas Rurais e Cooperativismo, atualmente está vinculada ao Pólo Regional Noroeste Paulista na área de Economia e Desenvolvimento.

e-mail: adelina@aptaregional.sp.gov.br

 

Waldo A. R. Lara Cabezas: Possui graduação em Agronomia pela Pontifícia Universidad Católica de Santiago (1979), mestrado em Energia Nuclear na Agricultura pelo Centro Energia Nuclear na Agricultura (1987) e doutorado em Solos e Nutrição de Plantas pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (1991), realizando seu pós-doutorado no CENA-USP (SP) em 1992. Atualmente é pesquisador nível III da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, no Pólo Regional Noroeste Paulista, Votuporanga (SP). Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Fertilidade do Solo e Adubação, atuando principalmente nos seguintes temas: volatilização de amônia, n-15, cobertura de solo, milho, eficiência de fertilizantes nitrogenados, plantio direto e Integração Lavoura Pecuária. Está desenvolvendo atualmente junto a essas atividades estudo na área ambiental, visando a recuperação do Córrego Viradouro em Votuporanga (SP) como coordenador, junto a membros da sociedade civil e, participação de Instituição de ensino (UNIFEV, Votuporanga) e Prefeitura local.

e-mail: waldolar@terra.com.br

 



Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

BOTELHO, A.A.; CABEZAS, W.A.R.L. Consórcio milho – cana-de-açúcar: custos de implantação de canavial comercial e no manejo em corsórcio, na região noroeste do estado de São Paulo. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_4/MilhoCana2/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 01/10/2007

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