Desenvolvimento do cultivar Tangor Murcote em latossolo amarelo subsolado

 

 SANTOS, K. S.

 NEVES, P. M.

AGALHÃES, A., F. de J.

REZENDE, J. de O.

COSTA, J. A.

SHIBATA, R. T. 

 

INTRODUÇÃO:

A má distribuição das chuvas e solos com horizontes coesos (densos) - particularmente Latossolos Amarelos e Argissolos Amarelos - restringem a potencialidade do ecossistema Tabuleiros Costeiros para a agricultura. Os horizontes coesos, por exemplo, prejudicam atributos físicos do solo que favorecem o desenvolvimento das plantas, tais como: aeração, retenção e disponibilidade de água, disponibilidade de nutrientes, regime térmico e resistência à penetração do sistema radicular (REZENDE, 2000; REZENDE et al., 2002). OLIVEIRA (1967) e HAYNES (1970) já recomendavam a prática da subsolagem em solos de tabuleiros, para romper os horizontes coesos. Para esses autores, tal prática favorece a estrutura do solo e, conseqüentemente, a aeração a retenção e a disponibilidade de água, e a penetração de raízes em profundidade, com reflexos positivos na produtividade do sistema de produção agrícola (solo-planta-atmosfera). ROCHA (2001) e BRANDÃO (2005) ao publicarem os resultados da primeira e segunda etapa da presente pesquisa, respectivamente, mostraram que a subsolagem resultou numa menor resistência do solo à penetração radicular, maior crescimento das plantas (raízes e parte aérea), maior produtividade e melhor qualidade dos frutos. Considerando que a citricultura é uma das principais atividades econômicas desenvolvidas no ecossistema Tabuleiros Costeiros do Estado da Bahia, procura-se avaliar, no transcorrer dos anos, além das alterações provocadas na estrutura do solo, o crescimento das plantas, o número e o peso dos frutos por hectare e o peso médio dos frutos do cultivar tangor Murcote, cultivado em um Latossolo Amarelo Coeso submetido a distúrbios crescentes provocados pela subsolagem. Os dados parciais ora apresentados referem-se apenas às colheitas obtidas no ano de 2005, correspondentes à terceira etapa da pesquisa.

 

MATERIAL E MÉTODOS:

Em maio de 1998, o experimento foi instalado na Fazenda Lagoa do Coco, do empresário-fruticultor Rokuro Shibata, localizada no município de Rio Real (Litoral Norte do Estado da Bahia), às margens da BR-101, coordenadas geográficas 11°34’25” latitude Sul e 37°52’58” longitude Oeste, altitude de 182 m, pluviosidade média anual de 960 mm (Figura 1). O solo da área experimental foi classificado como LATOSSOLO AMARELO Coeso A moderado textura argilosa fase floresta subperenifólia relevo plano, com as características físicas apresentadas nas tabelas 1. O delineamento experimental constou de blocos sistematizados em esquema de parcela subdividida, sendo as parcelas destinadas aos seguintes tratamentos de preparo do solo: 1. Convencional, isto é, aração + gradagem + cova de 0,4m x 0,4m x 0,4m; 2. subsolagem com uma haste nas linhas de plantio; 3. subsolagem cruzada, com uma haste, nas linhas de plantio; 4. subsolagem com três hastes nas linhas de plantio; 5. subsolagem cruzada, com três hastes, nas linhas de plantio. As parcelas experimentais, compostas de quatro fileiras de plantas no espaçamento de 7,0 m entre linhas e 5,0 m entre plantas, têm área total de 1120 m2, contendo 1200 plantas. Dentro de cada uma dessas parcelas, ao longo das duas fileiras centrais, foram demarcadas seis unidades de observação (separadas por plantas bordaduras) contendo 12 plantas cada (seis em cada fileira), totalizando uma área útil de 420 m2. Tanto a correção da acidez do solo quanto a adubação - esta igual para todos os tratamentos - foi e têm sido feitas de acordo com as recomendações contidas em Comissão Estadual de Fertilidade do Solo (1989). No plantio, foram utilizadas mudas do cultivar tangor Murcote enxertada em limão ‘Volkameriano’. Sempre que necessários, os tratos culturais e fitossanitários são feitos com o devido rigor, seguindo-se orientação técnica pertinente. Com o objetivo de auxiliar o rompimento da camada adensada do solo, e não deixá-lo descoberto, mantém-se nas entrelinhas de plantio o feijão-de-porco.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tabela 1 – Resultados das análises físicas do solo. Fazenda Lagoa do Coco, Rio Real -BA. 1998

Horizonte

Composição granulométrica* da terra fina (gkg-1)

Classe textural

Argila natural

(gkg-1)

Grau floc.

(%)

Símbolo

Prof.

(cm)

Areia grossa

Areia fina

Silte

Argila

AP

0-5

680

120

160

40

Areia franca

40

-

A1

5-23

620

110

100

170

Franco arenoso

40

76

AB

23-55

600

110

100

190

Franco arenoso

40

79

BA

55-72

580

100

110

210

Franco argilo arenoso

20

90

BA/BW

72-96

570

90

120

220

Franco argilo arenoso

20

91

BW1

96-135

510

120

110

260

Franco argilo arenoso

20

92

BW2

135+

610

90

60

240

Franco argilo arenoso

20

91

 

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO:

Na tabela 2 encontram-se os resultados obtidos com duas colheitas realizadas no ano de 2005. Tratamentos apresentando letras iguais entre si, ao longo das colunas, não diferem significativamente, pelo teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade. Considerando-se o número índice apresentado na tabela 2 (tomou-se como referencial as produções obtidas com o tratamento 1), observa-se que: do tratamento 1 ao 5, o número de frutos por hectare aumentou na seguinte ordem de valores percentuais: T2 = 25,5 %, T3 = 6,7 %, T4 = 46,9 % e T5 = 18,7 %;  os aumentos percentuais do peso de frutos  por hectare foram: T2 = 10,6 %, T3 = 9,6 %, T4 = 41,0 % e T5 = 20,8 %; entre os tratamentos, o peso médio dos frutos das duas colheitas não variou significativamente. Estes valores confirmam avaliações anteriores, publicadas por ROCHA (2000) e BRANDÃO (2005) (co-responsáveis pela primeira e segunda etapas do trabalho, respectivamente), que o tratamento 4 destaca-se entre os demais (exceto do tratamento 5), principalmente em relação ao tratamento 1, indicando a importância da subsolagem nos solos Coesos dos Tabuleiros Costeiros.

 

Tabela 2: Número e peso de frutos/ha e peso médio de frutos, obtidos com duas colheitas realizadas em 2005

Trat.

Número de frutos / ha

N º

Índice

Peso de frutos (kg/ha)

Índice

Peso médio frutos (kg)

1ª colheita

2ª colheita

Total

1ª colheita

2ª colheita

Total

1

21768 B

159825 C

181593 C

100

4 877 B

25 539 B

 30416 B

100

0,167 A

2

20921 B

207032AB

227953AB

125,5

4267 B

29 371 B

 33638 B

110,6

0,148 A

3

37333 A

156371 C

193704BC

106,7

7472 A

25 873 B

 33345 B

109,6

0,172 A

4

27872 B

238905 A

266777 A

146,9

5546 B

37 326 A

 42872 A

141,0

0,161 A

5

25782 B

189748BC

215530BC

118,7

5217 B

31 516 AB

 36733 AB

120,8

0,170 A

 

CONCLUSÃO:

Do tratamento 1 ao 5, a subsolagem proporcionou os seguintes aumentos percentuais de produção: número de frutos por hectare: T2 = 25,5 %, T3 = 6,7 %, T4 = 46,9 % e T5 = 18,7 %; peso de frutos  por hectare: T2 = 10,6 %, T3 = 9,6 %, T4 = 41,0 % e T5 = 20,8 %; o peso médio dos frutos, nessas colheitas, não sofreu influência dos tratamentos. Estes valores confirmam avaliações anteriores (primeira e segunda etapas do trabalho), que o tratamento 4 destaca-se entre os demais, principalmente em relação ao tratamento 1, indicando a importância da subsolagem nos solos Coesos dos Tabuleiros Costeiros.

 

RESUMO:

A Bahia ocupa a terceira posição nacional de produção de citros, perdendo para São Paulo e Sergipe. Embora ocupe posição de relativo destaque no cenário nacional, o baixo rendimento dos pomares está relacionado a vários fatores, entre os quais destacam-se: o cultivo em solos compactados e ou adensados e de baixa fertilidade, a má distribuição das chuvas, a utilização de material genético de baixa qualidade, a presença de pragas, e a desinformação generalizada de melhores técnicas de plantio. Neste trabalho, objetiva-se avaliar o efeito da subsolagem em um latossolo amarelo coeso de Tabuleiro Costeiro e as conseqüências no desenvolvimento do cultivar Tangor Murcote (Citrus reticulata Blanco x Citrus sinensis Osbeck). Especificamente, procura-se avaliar a resistência do solo ao penetrômetro quando submetido a distúrbios crescentes provocados, há sete anos, pelas hastes subsoladoras, e as conseqüências no crescimento das plantas (raízes e parte aérea), na produtividade, na queda de frutos e no peso médio dos frutos.

PALAVRAS-CHAVE: Tabuleiros Costeiros, citricultura, manejo do solo.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

BRANDÃO, F. J. C. Subsolagem em LATOSSOLO AMARELO coeso dos Tabuleiros Costeiros e conseqüências no desenvolvimento do cultivar tangor Murcote, 2005. 71p. Dissertação (Mestrado em Ciências Agrárias – Uso, Manejo e Conservação dos Recursos Naturais Solo e Água) - Universidade Federal da Bahia, Cruz das Almas, 2005.

 

COMISSÃO ESTADUAL DE FERTILIDADE DO SOLO (Salvador, BA). Manual de adubação e calagem para o estado da Bahia. Salvador: CEPLAC / EMATERBA / EMBRAPA / EPABA / NITROFÉRTIL, 1989. 173p.

 

HAYNES, J. L. Uso agrícola dos tabuleiros costeiros do Nordeste do Brasil, um exame das pesquisas. Recife: SUDENE, 1970. 739p.

 

OLIVEIRA, L. B. O estudo físico do solo e a aplicação racional de técnicas conservacionistas. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Rio de Janeiro, v.2, p 281-285. 1967.

 

REZENDE, J. de O. Solos Coesos dos Tabuleiros Costeiros: limitações agrícolas e manejo.Salvador, BA: SEAGRI/SPA, 2000. 117 p. il. (Série Estudos Agrícolas 1).

 

REZENDE, J. de O; MAGALHÃES, A. F. de J., SHIBATA, R. T., ROCHA, E. S., FERNANDES, J. C., BRANDÃO, F. J. C., REZENDE, V. J. R. P. Citricultura Nos Solos Coesos Dos Tabuleiros Costeiros: análise e sugestões. Salvador, BA: SEAGRI/SPA, 2002. 97 p. (Série Estudos Agrícolas, 3).

 

ROCHA, E.S.; Efeitos da subsolagem e da correção da acidez em Latossolo Amarelo coeso dos Tabuleiros Costeiros e conseqüências no comportamento de limão Tahiti e tangor Murcott, 2001. 169p. Dissertação (Mestrado em Ciências Agrárias – Uso, Manejo e Conservação dos Recursos Naturais Solo e Água) – Universidade Federal da Bahia, Cruz das Almas, 2001.

 


* Resultante de parceria entre a Escola de Agronomia da UFBA, Embrapa Mandioca e Fruticultura, Fazenda Lagoa do Coco e SEAGRI-EBDA. 


SANTOS, K. S., aluna de Graduação da Escola de Agronomia da UFBA, participante do PIBIC, e-mail:karlasilvasantos@yahoo.com.br;

NEVES, P. M., aluna de Graduação da Escola de Agronomia da UFBA, participante do PIBIC com bolsa do CNPq, e-mail: paty_neves@hotmail.com;

MAGALHÃES, A., F. de J., pesquisadora da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, e-mail: antonia@cnpmf.embrapa.br;

REZENDE, J. de O., professor da Escola de Agronomia da UFBA, Departamento de Química Agrícola e Solos, e-mail: joelito@ufba.br;

COSTA, J. A., professor da Escola de Agronomia da UFBA, Departamento de Engenharia Agrícola, e-mail: albany@ufba.br;

SHIBATA, R. T., Engenheiro Agrônomo, empresário-fruticultor, proprietário da Fazenda Lagoa do Coco – e-mail: rtshibata@ig.com.br



Reprodução autorizada desde que citados os autores e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

SANTOS, K.S.; NEVES, P.M.; MAGALHÃES, A.F. de J.; REZENDE, J. de O.; COSTA, J.A.; SHIBATA, T.T. Desenvolvimento do cultivar Tangor Murcote em latossolo amarelo subsolado. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_4/TangorMurcote/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 26/11/2007

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