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Produção de cordeiros em pasto

 

 

Eduardo Antonio da Cunha

Luiz Eduardo dos Santos

Mauro Sartori Bueno

 

A carne ovina atualmente disponível nas grandes cidades da região sudeste, tanto a originária do sul do país, como a do nordeste, pela própria característica genética das matrizes utilizadas e ainda pelos sistemas de criação adotados, normalmente não atendem ate às exigências do mercado. O produto ofertado é caracterizado por carcaças imaturas, sem adequada proporção de gordura, provenientes de animais de baixo peso, ou então, quando em cortes maiores, provenientes de animais mais velhos, resultando em carcaças com excesso de gordura, tanto de cobertura, como entremeada nos tecidos e carne com menor maciez.

 

O mercado da região Sudeste valoriza a carcaça de animais jovens, abatidos com idade inferior a 150 dias e peso vivo entre 28 a 32 kg. Essas carcaças têm que apresentar uma proporção significativamente maior do corte traseiro, em relação ao dianteiro e costilhar, alem de apresentar uma boa distribuição de gordura de cobertura que, sem ser excessiva, deve envolver boa parte da carcaça, protegendo-a contra a perda acentuada de umidade. A gordura entremeada na carne, em níveis moderados, também é necessária para garantir a maciez e o seu sabor característico.

 

Esse tipo de produto pode ser produzido, nas condições do Estado de São Paulo, a custos viáveis, desde que a atividade seja conduzida de forma racional e com o devido planejamento técnico.

Como o objetivo é a produção de cordeiros para abate, tres pontos são considerados básicos para o sucesso do empreendimento:

·         alta lotação das pastagens (maior número de matrizes possibilita a obtenção de maior número de crias)

·         elevada eficiência reprodutiva (menor intervalo entre partos e maior fertilidade resulta em maior número de crias)

·         maior potencial genético para peso ao nascer e precocidade (maior peso ao anascer e maior velocidade de ganho de peso resulta em abate mais precoce de crias e menor idade à primeira cobertura).

 

Se por um lado a meta maior é a produção do maior número possível de crias, em condições ideais para abate, por outro a minimização dos custos é premissa básica para a viabilidade do empreendimento. Nesse sentido a alimentação das matrizes é um dos fatores de maior preocupação, não só em função da considerável quantidade, mas também da alta qualidade, de alimento exigível, mormente para matrizes em final de gestação ou em lactação.

 

Face à condição de ruminante do ovino é desnecessário discutir a importância do alimento volumoso à essa espécie. A disponibilidade de forragem de elevada qualidade, mas a custos compatíveis, é uma das condições para êxito, visto que o fornecimento de forrageiras pobres em nutrientes ou com baixa digestibilidade, resulta, obrigatoriamente, em maior necessidade de fornecimento de alimento concentrado, o que acarreta em aumento de custos.

 

O pastejo direto, utilizando forrageiras de elevada produtividade e valor nutritivo, tais como Coast cross, Tiftons, Pangola, Transvala, Estrelas, Tanzânia e Aruana, é a melhor opção para a atividade.

 

As matrizes são mantidas em pastagens, em sistema rotacionado, durante todo o período de gestação. Após o parto, durante todo o período de aleitamento, que varia de 45 a 60 dias, são mantidas em pastagens específicas para a cria dos cordeiros.

 

Se a qualidade e a disponibilidade da forragem forem boas e houver acesso à água e mistura mineral adequada, não haverá necessidade de qualquer outro tipo de suplementação alimentar para as ovelhas durante o período pré-parto, todavia, após a parição, por melhor que seja a situação da pastagem haverá necessidade de suplementação alimentar, seja para as matrizes seja para as crias.

 

As áreas de pastagens para uso após a parição devem ser diferenciadas em relação ao manejo geral das pastagens e quando não estiverem em uso pelas ovelhas com crias, devem ser destinadas, preferencialmente, à outras espécies (bovinos ou eqüinos) ou às crias já desmamadas. Essa prática, em função da diminuição do efeito da verminose sobre as matrizes e sobre as crias, resulta em melhor desempenho dos animais em função do menor nível de contaminação.

 

Após o desmame as ovelhas voltam ao rebanho geral, para novo acasalamento, sendo as crias confinadas até atingirem peso ideal para abate. Os animais destinados à reprodução permanecem em confinamento até os 4 ou 5 meses, quando começam a ter acesso gradativo às pastagens até atingirem idade e peso suficiente para entrar em reprodução (9 a 10 meses), quando passam para o rebanho de matrizes adultas.

 

Dependendo da disponibilidade de área, o confinamento de ovelhas e crias, logo após a parição, é uma alternativa. Nessa situação os animais recebem toda a alimentação volumosa (capim picado no verão ou silagem ou feno no inverno) em cochos.

 

Tanto num caso como no outro há necessidade de se suplementar a alimentação de ovelhas e crias com o uso de concentrados, visto que, por melhor que seja o volumoso disponível, dificilmente ele atenderá toda a exigência nutricional, tanto das matrizes como das crias. E para que estas não sofram a competição com as ovelhas, deverão ter acesso a área exclusiva para fornecimento de concentrado (“creep feeding”).

 

O sistema de confinamento a partir da parição resulta em maiores taxas de crescimento das crias (250 a 350 gramas/dia) em relação ao aleitamento em pasto (150 a 200 g/dia), bem como em menor mortalidade de crias, todavia resulta em maior custo de alimentação das matrizes. A opção dependerá da disponibilidade ou não de áreas para diferimento das pastagens para matrizes em aleitamento, bem como da disponibilidade de instalações adequadas para confinamento.

 

O manejo rotacionado das pastagens é uma das condições básicas para a produção intensiva de cordeiros em pastejo. Um adequado período de repouso, associado a um período curto de pastejo intenso, com acentuado rebaixamento da altura da forrageira, possibilita maior produção e qualidade de forragem, além de ajudar a diminuir o nível de contaminação dos animais por larvas de helmintos parasitas, quando em comparação às condições de pastejo contínuo.

 

Ao contrário do que se supõe, a redução na infestação por ovos e larvas de helmintos não ocorre em função do maior ou menor período de descanso, em que a área fica vedada aos animais, mas sim em função da maior exposição de larvas e ovos à ação da radiação solar e dessecação, resultante do rebaixamento intenso da forragem.

 

O período de repouso adequado é fundamental para a recuperação da forrageira, possibilitando a reposição de área foliar, que resulta em elevado nível de atividade fotossintética e, consequentemente, de elevados níveis de reservas de nutrientes nas raízes e na base da touceira. Isso garantirá boa capacidade de rebrota após um novo ciclo de pastejo tendo, todavia, pouca influência na viabilidade ou não das larvas e ovos de helmintos na pastagem.

 

O efeito positivo da rotação das pastagens é particularmente acentuado em áreas com forrageiras cespitosas (hábito de crescimento ereto), sendo menos, ou pouco efetivo, com forrageiras estoloníferas (hábito de crescimento prostrado), visto que as últimas, mesmo quando bastante rebaixadas, em função do próprio crescimento prostrado, oferecem condições de sombra e umidade, que por não possibilitar ventilação elevada, nem a incidência de radiação solar, resultam em ambiente que favorece a viabilidade das larvas de helmintos.

 

Outras práticas, como a restrição de pastejo nas primeiras horas da manhã, quando a elevada umidade provocada pelo orvalho e a baixa incidência da radiação solar, oferecem condições favoráveis às larvas, também auxiliam no controle do nível de infestação. Quando os animais têm acesso às pastagens somente após a secagem do orvalho e já sob a ação da radiação solar, o número de larvas viáveis na parte superior da forragem, onde o ovino preferencialmente pasteja, tende a ser menor, resultando em menor nível de infestação. Para as nossas condições isso se mostrou significativo no verão, não sendo notadas diferenças no período de inverno.

 

Essas duas alternativas de criação têm se mostrado extremamente positivas para a produção de ovinos na região Sudeste, principalmente quando se lança mão da utilização de matrizes deslanadas, como a Santa Inês. Essa raça, em função da menor porte e conseqüente menor exigência nutricional, possibilitam maiores taxas de lotação, ou seja, maior número de matrizes por área, resultando em maior número de crias. Além disso, a ovelha Santa Inês não apresenta a estacionalidade reprodutiva típica das ovelhas lanadas, resultando em maior eficiência reprodutiva.

 

Também deve ser acentuada a sua maior rusticidade, maior capacidade de exploração dos recursos forrageiros disponíveis e ainda, por não terem lã, apresentam menores custos de manejo, seja por não necessitarem de tosquia, seja por dispensarem o corte de cauda das crias, reduzindo o estresse, as perdas por mortalidade de crias e as ocorrências de bicheiras em ferimentos durante a tosquia.

 

Os aspectos negativos apresentados pela raça Santa Inês são: a baixa taxa de ganho de peso e a pior qualidade das carcaças das crias, todavia estes pontos já vem sendo minimizados pelos trabalhos de seleção e melhoramento desenvolvidos com essa raça nos principais centros de pesquisa e criação. Por outro lado, a utilização de reprodutores de raças específicas para corte, tais como Suffolk, Ile de France e Poll Dorset, entre outras, em cruzamento com matrizes Santa Inês, resulta em cordeiros mais precoces e com melhores características de carcaça, que atendem as exigências do mercado consumidor.

 

Ovelhas Santa Inês, com crias, em pastagem de Aruana.

 

Origem: Instituto de Zootecnia - www.iz.sp.gov.br


Eduardo Antonio da Cunha; Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência de Pesquisa Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo - SAA, Graduação em Zootecnia. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil.
Contato: cunha@iz.sp.gov.br

 

Luiz Eduardo dos Santos; Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência de Pesquisa Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo - SAA, Graduação em Engenharia Agronômica. Universidade de São Paulo, USP, Brasil; Mestrado em Nutrição Animal - Universidade de São Paulo, USP, Brasil.
Contato: cunha@iz.sp.gov.br

 

Mauro Sartori Bueno, Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência de Pesquisa Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo - SAA, Graduação em Zootecnia. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil; Mestrado em Zootecnia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, Brasil. ; Doutorado em Ciências (Energia Nuclear na Agricultura)-[Cena]. Universidade de São Paulo, USP, Brasil. Pós-Doutorado, Escola Superior Agrária de Bragança Instituto Politécnico de Bragança, ESAB-IPB, Portugal.
Contato:
msbueno@iz.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

CUNHA, E.A. da; SANTOS, L.E. dos; BUENO, M.S. Produção de cordeiros em pasto. 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_1/CordeirosPasto/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 09/03/2008  

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