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Certificação em Produção Integrada de Mamão: Informações básicas

 

 

Jailson Lopes Cruz

 

Introdução

 

O mamoeiro é uma planta tropical, que encontra excelentes condições de desenvolvimento em várias regiões do Brasil. A participação brasileira na produção mundial de mamão é da ordem de 24%, com um volume de 1,6 milhão de toneladas de frutos (FAO, 2006), e apresentando um valor da produção estimado em R$ 765 milhões (IBGE, 2006). Dentre os Estados com maiores volumes de produção destacam-se a Bahia, responsável por 46% da produção nacional, e o Espírito Santo, com 40% (IBGE, 2006). Vale ressaltar que a cultura do mamão é uma das principais atividades da fruticultura baiana, gerando em torno de 30 mil empregos. Em relação ao mercado da fruta, o mamão encontra-se listado na pauta de exportações brasileira, tendo atingido, em 2005, um montante superior a 30 milhões de dólares, classificando-a como a sexta fruta fresca em valor exportado (FAO, 2006). Mesmo ocupando essa posição, a participação brasileira na exportação de mamão ainda está muito aquém do desejado, pois a quantidade que é colocada no mercado internacional corresponde a menos de 2,5% da produção nacional. No entanto, o potencial brasileiro de exportação do mamão é muito grande, visto que as variedades produzidas no País são compatíveis com a demanda do mercado externo.

Um dos problemas relacionados à pequena capacidade de exportação do mamão brasileiro é a falta de certificação que ateste a qualidade das frutas e a forma mais sustentável como elas foram produzidas. Exigências dessa natureza têm sido feitas pelo Mercado Comum Europeu, principal comprador do mamão brasileiro, bem como pelo mercado norte americano.

 

Histórico da Produção Integrada

 

Segundo Fachinelo (1999) “a Produção Integrada de Frutas (PIF) surgiu como uma extensão do Manejo Integrado de Pragas (MIP) nos anos 70, como uma necessidade de reduzir o uso de pesticidas e de se obter maior respeito ao ambiente. Nesta época os produtores de maçãs do Norte da Itália verificaram que os ácaros da macieira tinham adquirido resistência aos acaricidas. Em função disso, e com auxilio de pesquisadores, iniciaram um programa de manejo integrado de ácaros, usando monitoramento e técnicas alternativas de controle. Posteriormente foi verificado que o problema dos ácaros perdeu importância e os produtores voltaram aos velhos costumes. Em conjunto decidiram que deveria haver mudanças profundas em todo o sistema e que as práticas isoladas para o controle de uma praga ou doença não eram suficientes; era necessária uma integração com as demais práticas culturais Assim foram dados os primeiros passos para o estabelecimento das bases para a Produção Integrada de Frutas (PIF)”. No Brasil, técnicos da Embrapa Uva e Vinho perceberam a necessidade brasileira de também responder aos apelos da sociedade para se obter produtos agrícolas dentro dos critérios de sustentabilidade, o que fundamentou a decisão de propor um processo para a maçã. Para isto, convidaram no fim de 1996 instituições públicas e privadas para desenvolver no Brasil este sistema e ofereceram à Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM) e a quatro empresas e uma cooperativa de pequenos produtores a parceria para implantar, em cada uma delas, a primeira versão de um sistema de Produção Integrada no Brasil (Sanhueza, 2007).

 

Definição

 

Os Sistemas de Produção Integrada visam estabelecer práticas que, no seu conjunto, tenham como objetivo viabilizar, a médio e longo prazo, o empreendimento rural como negócio rentável, com segurança para a saúde humana e com sustentabilidade. Assim, esse sistema estabelece várias metas nas quais se incluem a redução/racionalização no uso de agroquímicos para a proteção (pesticidas) e nutrição (fertilizantes) das plantas, substituindo-os, ainda que parcialmente, por métodos alternativos. Estabelece, ainda, a necessidade de avaliação dos efeitos das práticas culturais sobre a qualidade do ar, da água e do solo. Essa forma de praticar a agricultura, melhorando a qualidade do fruto e preservando o meio ambiente, tem como enfoque principal o conhecimento holístico do sistema agrário, o qual combina o uso de métodos naturais, biológicos e químicos, considera a melhoria do meio ambiente e leva em consideração o atendimento às demandas sociais.

Assim, a Produção Integrada de Frutas veio para substituir os atuais sistemas de produção - que têm gerado aumento de custos, problemas ao ambiente (erosão, desertificação, poluição por agrotóxicos e perda de biodiversidade) e problemas à saúde do consumidor (altos níveis de pesticidas nos frutos) - por sistemas de produção mais sustentável.

 

Situação atual

 

Todos os principais países produtores da Europa, além da Austrália, da Nova da Zelândia e da África do Sul, têm o sistema de Produção Integrada em funcionamento, especialmente para maçãs, para outras frutas de clima temperado e para alguns produtos derivados, tais como o vinho. Esta estratégia de produção também está sendo implementada para hortaliças e cereais. No ano de 1998, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento concebeu o programa geral de Projeto de Produção Integrada de Frutas como forma de melhorar o padrão de qualidade das frutas brasileiras e dinamizar as exportações, bem como atender o crescente anseio da população brasileira – mercado interno – por frutas mais saudáveis e produzidas com base em boas práticas agrícolas. O programa foi expandido para além da fruticultura e transformou-se em Sistema Agropecuário de Produção integrada – SAPI, abrangendo 56 projetos e incorporando culturas e criações diversas. A partir do ano de 2004, a coordenação da Produção Integrada de Mamão na Bahia (PI Mamão) passou a ser exercida pela Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical que, juntamente com a Adab, EBDA e Sebrae, conseguiu implantar esse sistema em algumas propriedades da região do extremo sul desse Estado. Os números referentes à Produção Integrada de Frutas encontram-se na Tabela 1.

 

Tabela 1. Situação atual da Produção Integrada de Frutas.
Espécie Nº de produtores/empresas Área (ha) Produção (t)
Maçã* 283 17.319 461.860
Manga* 242 7.025 172.221
Uva** 206 4.031 133.670
Mamão* 26 1.200 120.000
Citros* 212 1.315 30.425
Banana* 67 500 17.500
Pêssego* 105 520 6.240
Caju* 15 1.500 1.800
Melão 39 5.500 85.000
Goiaba* 27 75 300
Figo* 25 120 1.093
Caqui* 23 84 3.000
Maracujá* 30 56 5.500
Coco* 12 414 20.368
Abacaxi 16 125 4.000
Morango 193 105 2.550
Total 1.521 39.889 1.065.527
* projetos com Normas Técnicas Específicas publicadas
Fonte: DEPROS/SDC/MAPA – 18/12/2006

                                                                                                                                                                 

Vantagens da Produção Integrada

 

Para o produtor:

- Organização da base produtiva;

- Produtos de melhor qualidade;

- Valorização do produto e maximização dos lucros;

- Diminuição dos custos de produção;

- Produto diferenciado;

- Competitividade;

- Permanência nos mercados.

 

Para o consumidor:

- Garantia de frutas de alta qualidade;

- Índice de resíduos de acordo com padrões brasileiros e internacionais;

- Sustentabilidade do processo de produção e pós-colheita.

 

 

Diferenças entre sistemas de produção

A comparação entre três sistemas de produção pode ser visto na Tabela 2.

 

Tabela 2. Rápida comparação entre três sistemas de produção.
Práticas agronômicas Convencional PIF Orgânico
Manejo do solo Intenso Mínimo Mínimo
Agroquímicos Pouco controle Restritos Naturais
Adubação Pouco controle Sob controle Orgânica
Legislação Não dispõe IN 20/2001 Lei CCE 2092

 

Uma das principais diferenças entre os sistemas entre o sistema PIF e o convencional, além da legislação existente, é que nesse novo sistema a aplicação de defensivos deve levar em consideração os seguintes aspectos:

- Produtos registrados;

- Métodos preventivos;

- Não aplicação calendário;

- Racionalização do uso e do número de aplicações (quantidades exatas);

- Produtos seletivos;

- Baixa toxicidade ao homem, animais e ao meio ambiente;

- Aplicação correta, evitando contaminar o aplicador e o meio ambiente.

 

 

Documentos que orientam a implantação da PI Mamão

- Grade de agroquímicos;

- Cadernos de campo e pós-colheita;

- Normas Técnicas Específicas – NTE;

- Listas de verificação campo/empacotadoras.

 

Grade de agroquímicos. Na PIF, somente é permitida a utilização de produtos registrados para a cultura, os quais devem constar da grade de agroquímicos.

 

Caderno de campo. Local para anotação de tudo o que foi feito, como foi feito e o que foi usado. Importante para o processo de rastreabilidade.

 

Normas Técnicas Específicas. Descreve os procedimentos que devem ser adotados pelos produtores, com vistas à certificação. Ao todo são 15 áreas temáticas e os itens divididos em obrigatórios, recomendados, proibidos e permitidos com restrição.

Áreas temáticas das Normas Técnicas Específicas:

1 - Capacitação de Recursos Humanos;

2 - Organização de Produtores;

3 - Recursos Naturais;

4 - Material Propagativo;

5 - Implantação de Pomares;

6 - Nutrição de Plantas;

7 - Manejo e Conservação do Solo;

8 - Recursos Hídricos e Irrigação;

9 - Manejo da parte aérea;

10 - Proteção integrada da planta;

11 - Colheita e pós-colheita da fruta;

12 - Análise de resíduos;

13 - Processos realizados nas empacotadoras (Packing);

14 - Sistema de rastreabilidade e caderno de campo;

15 - Assistência técnica.

 

Lista de verificação. Documento em que se baseiam os auditores para inspecionar o cumprimento das Normas Técnicas Específicas por parte dos produtores.

 

Rastreabilidade

A rastreabilidade é a ação de poder determinar, a partir de um certo momento, todas as condições em que foi produzida, transportada e embalada a fruta. Estas ações requerem a correta identificação do produto, de forma que se consiga determinar, através de registros existentes, todas as condições mencionadas. As frutas produzidas dentro do sistema de produção integrada devem-se manter sempre identificadas desde o momento da colheita até o embarque para o local definitivo de venda. A rastreabilidade é um sistema de identificação e registros que permitem encontrar a história, a origem do lote e, eventualmente, a causa de uma impropriedade (GIRARDI, 2001), ou seja, com a rastreabilidade é possível saber a procedência dos produtos; os procedimentos técnicos adotados e quais os produtos utilizados no processo produtivo.

 

Certificação em PIF

Depois que os auditores concluírem que não existe nenhuma inconformidade na propriedade (baseada na lista de verificação), emitem um documento certificando a área avaliada.

Quando o produtor dispõe de casa de embalagem e deseja certificá-la, também é possível realizá-la no âmbito da PIF. As inspeções são realizadas por organismos credenciados, que estão sob o rígido controle do INMETRO.

 

Leitura consultada

OLIVEIRA, V.H. Produção Integrada de Frutas: conceitos básicos. Palestra apresentada no Curso de Capacitação em Produção Integrada de Frutas, Fortaleza, CE, 20/06/2002. 5p.

FACHINELLO, J. C. Produção Integrada de Frutas (PIF) para frutas de qualidade. Palestra apresentada no II Fórum de Fruticultura da Metade Sul do RS. Bagé, RS. 4-6/11/1999. 11p.

GIRARDI, C. L. Manejo pós-colheita e rastreabilidade da fruta na produção integrada. Informe Agropecuário, EPAMIG Minas Gerais, v. 22, p. 75-78, 2001,

IBGE. Valor da produção agrícola municipal. Rio de Janeiro: IBGE-IBGE Sistema de recuperação automática–SIDRA. Disponível em: (http://www.ibge.gov.br), acesso: 09/2007.

SANHUEZA, R. M. V. Dez anos de Produção Integrada de Frutas e Cinco Anos de Avaliação da Conformidade no Brasil – presente e futuro. In: SEMINÁRIO BRASILEIRO DE PRODUÇÃO INTEGRADA DE FRUTAS, 2007, Bento Gonçalves. Anais... Bento Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, 2007. p. 17-24.

 

* Artigo adaptado de Oliveira, 2002.


Jailson Lopes Cruz possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal da Bahia (1982), mestrado em Agronomia (Fisiologia Vegetal) pela Universidade Federal de Lavras (1992) e doutorado em Ciências Agrárias (Fisiologia Vegetal) pela Universidade Federal de Viçosa (2002). Atualmente é pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, Cruz das Almas-BA. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Fisiologia de Plantas Cultivadas, atuando principalmente nos seguintes temas: metabolismo mineral, fisiologia da produção e fotossintese.
Contato: jailson@cnpmf.embrapa.br



Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

CRUZ, J.L. Certificação em produção integrada de mamão: Informações básicas. 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_1/mamao/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 07/01/2008 

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