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Etnobotânica e Taxonomia do Urucuzeiro

Camilo Flamarion de Oliveira Franco
Fabiano de Cristo Pereira da Silva
Jorge Cazé Filho
Miguel Barreiro Neto
Abel Rebouças São José
Tiyoco Nair Hojo Rebouças
Ivan Sérgio Campos Fontinélli

Etnobotânica

Por conta da sua dispersão em diferentes regiões do mundo, pode-se encontrar a planta do urucuzeiro, com vasta sinonímia vulgar: Arnoto, em Ceilão; Atolé, Achiote, Bija, no Peru e em Cuba; Axiote, no México; Achiote, Achote, Anatto, Bija e Santo Domingo, em Porto Rico; Ditaque e Kifasu, em Angola; Bixa, na Guiana; Orleans Laum, na Alemanha; Roucou, Rocouyer, na França; Analto, em Honduras; Guajachote, em El Salvador; Onotto e Onotillo, na Venezuela; Shambu, no Peru; Achiote e Urucu, na Bolívia; Anatto e Anatto-Tree, na Inglaterra; Urucu, na Argentina; Roucou, em Trindad; Roucou e Koessewee, no Surinam. No Brasil, essa planta é conhecida vulgarmente por urucum, urucu, açafrão, açafroa e açafroeira da terra.

Sua disseminação em várias partes do mundo está relacionada com a procura do corante natural na utilização das industrias de medicamentos, cosméticos, têxtil e, principalmente, alimentos.

Taxonomia

Universalmente, o urucuzeiro pertence à família Bixaceae e ao gênero Bixa. Quanto à espécie, apesar de existir várias, a mais freqüente em nosso meio é a Bixa orellana, em homenagem a Francisco Orellana, primeiro europeu a navegar o Amazonas (Cânova, 2000). Embora haja dúvidas quanto à denominação entre urucum e açafrão, já que ambas são fornecedoras de materiais corantes, a primeira pertence à família Bixaceae, produtora do corante natural bixina, enquanto a segunda, Zingiberaceae, usualmente, cultivada na Índia, Malásia e China, é produtora do corante natural conhecido por curcumina.

O Sistema de Engler, citado por Lima (1990), classifica o urucuzeiro em:

XVIII Divisão: Angiospermae
Subdivisão: Angiosperma
Classe: Dicotiledoneae
Ordem: Parietales
Subordem: Cistianeae
Família: Bixaceae
Gênero: Bixa
Espécies: Bixa orellana L. (tipo cultivado), Bixa arborea, Bixa Americana, Bixa urucurana, Bixa purpurea, Bixa upatensis, Bixa tinetoria, Bixa oviedi.

Descrição da planta

O urucuzeiro é um arbusto que pode alcançar de 2 a 9 m de altura. É planta ornamental, pela beleza e colorido de suas flores e utilíssima como fornecedora de sementes condimentares, estomáticas, laxativas, cardiotônico, hipotensor expectorante e antibiótico, agindo como antiinflamatório para as contusões e feridas, apresentando, ainda, emprego interno na cura das bronquites e externo nas queimaduras. Dela se extrai também o óleo industrial. A infusão das folhas tem ação contra as bronquites, faringite e inflamação dos olhos. A polpa que envolve a semente é reputada refrigerante e febrífuga, obtendo-se valiosas matérias tintoriais amarela (orelina) e vermelha (bixina), esta última, constituindo um princípio cristalizável (Corrêa, 1978).


Vista parcial de uma planta de Urucuzeiro

As aludidas matérias corantes são fixas, inalteráveis pelos ácidos e pelo alume, inofensivas e têm largo emprego na arte-culinária como condimento e na indústria têxtil para colorir tecidos. Na indústria de alimentos são utilizadas para dar cor em manteiga, margarina, maionese, molhos, mostarda, salsichas, sopa, sucos, sorvetes, produtos de panificação, macarrão e queijo, comumente chamado "do reino", procedente da Holanda. Também é bastante empregado na indústria da impressão e na tintura. Muitos aborígines serviam-se do corante, naturalmente obtido em mistura, para colorir os objetos de cerâmica e outros vasos de uso doméstico. A maioria dos índios coloriam a sua pele para embelezarem-se durante os rituais religiosos e, principalmente, por uma necessidade de protegerem-se dos raios ultravioletas do sol e das picadas dos pernilongos que infestavam as matas (Cânova, 2000). O líber fornece fibras para cordoalha grosseira. Diz-se que o lenho incendeia-se pelo atrito; é tintorial e de pouca utilidade, sendo mesmo fraco combustível. A raiz contém um princípio digestivo; o pó resultante da trituração das sementes, passa por afrodisíaco; a infusão a frio dos renovos serve para lavar os olhos inflamados e a decocção das folhas é usada para combater os vômitos da gravidez (Corrêa, 1978).

Folhas – Alternadas, completas, com longos pecíolos, cordiformes, acuminadas, dispostas alternadamente em relação aos ramos, glabras (quando adultas), medindo de 8 a 20 cm de comprimento e 4 a 15 cm de largura (Batista et al., 1988) e (Morais et al., 1999). Limbo ligeiramente ovalado, nervura central típica e nervura secundária ascendente, sendo quatro a partir da base do limbo, duas de cada lado da nervura central, pouco pubescentes quando novas; discolores com a página inferior de coloração mais clara; apresentando estípula terminal triangular com pubescência semelhante à dos terminais dos galhos e de caducidade precoce, de 3 a 5 mm de comprimento (Ramalho et al., 1987).


Folhas de Urucuzeiro, posições dorsal e ventral

Flores – De cor rosa claro e apresentam um ovário contendo uma série de óvulos em seu interior. São hermafroditas com cinco sépalas, surgindo nas extremidades dos ramos, formando fascículos onde nascem cápsulas ovóides com dois carpelos cobertos de espinhos flexíveis, com cinco pétalas orbiculares, glandulosas na base, decíduas, obovais, inteiras (Santos, 1958; Batista et al., 1988 e (Morais et al., 1999). Os estames são numerosos e as anteras ovais, pistilo simples e alongado. Cada inflorescência é composta por um número variável de flores (10 a 80).


Floração e frutificação de Urucuzeiro

Frutos – Tipo cápsula ou cachopa, ovóide ou globosa, com 2 a 3 carpelos que variam de 3-4 cm de comprimento e 3-4,5 cm de diâmetro, na qual encontram-se sementes de 5 a 6 mm de comprimento. Externamente, são revestidos por espinhos inofensivos e possuem coloração variável entre o verde, vermelho-pálido e roxo. No seu interior, são encontradas, em média, 40 sementes.


Frutos (cachopas) de Urucuzeiro

Sementes – Grosseiramente arredondadas, revestidas por uma polpa mole de coloração avermelhada, as quais tornam-se secas, duras e de coloração escura com o amadurecimento. Apresentam comprimento e diâmetro médios de 0,55 e 0,4 cm, respectivamente. A bixina é o pigmento presente em maior concentração nas sementes, representando mais de 80% dos carotenóides totais, sendo lipossolúveis e sujeitos à extração com alguns solventes orgânicos (Batista et al., 1988). Esta extração está limitada pela utilização de um solvente que seja compatível com o emprego do produto final.

Quando da utilização de soluções alcalinas para a extração de pigmentos, transforma a bixina em norbixato, que nessa forma é solúvel em água e pode ser comercializado em forma de pó ou através da secagem do extrato alcalino obtido (Carvalho, 1990). O conteúdo de bixina na semente está relacionado diretamente com as condições ambientais e genéticas, podendo variar entre 1,0 a 6,0 %.


Sementes de Urucuzeiro

Sistema Radicular – Pivotante, apresentando um eixo principal de onde saem raízes secundárias e terciárias (Lima, 1990).

Normalmente, as raízes são utilizadas na medicina popular no combate às bronquites e doenças respiratórias, contendo também um princípio digestivo.


 

Fenologia

A fenologia do urucuzeiro durante o ciclo vegetativo é, excepcionalmente, caracterizada por ser uma planta que floresce, frutifica e matura durante praticamente, todo o ano. Na Paraíba, em condições normais de clima, a primeira floração é mais intensa entre os meses de fevereiro/março, cuja colheita principal ocorre de junho/julho. A segunda floração ocorre nos meses de julho/agosto com colheita em novembro/dezembro, sendo ambas as colheitas executadas de modo rudimentar, mediante a quebra dos cachos (panículas) não havendo, portanto, o emprego da tesoura de poda.

No Nordeste brasileiro, a abertura das flores ocorre primeiro na parte superior da inflorescência e, posteriormente, na porção inferior. O tempo observado desde a abertura da flor à maturação dos grãos ocorre entre 100 e 140 dias, dependendo da precocidade da cultura.

 

Floração

Frutificação

Maturação

Maturação plena

 

Origem: EMEPA  - Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S/A - http://www.emepa.org.br


Dr.Camilo Flamarion de Oliveira Franco, é Diretor Técnico da EMEPA.
Doutorado em Fitotecnia pela Universidad Politécnica de Madrid, U.P.MADRID, Espanha.
Mestrado em Agronomia (Fitotecnia) pela Universidade Federal do Ceará, UFC, Brasil.
Graduado em Agronomia pela Universidade Federal da Paraíba, UFPB, Brasil.
Está cursando Pós-Doutorado na Universidade Federal de Viçosa em Minas Gerais

Contato
: camilo@emepa.org.br



Reprodução autorizada desde que citadas a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

FRANCO, C.F.O.; SILVA, F.C.P. da; CAZÉ FILHO, J.; BARREIRO NETO, M.; SÃO JOSÉ, A.R.; REBOUÇAS, T.N.H.; FONTINÉLLI, I.S.C.  Etnobotânica e Taxonomia do Urucuzeiro. 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_1/UrucumTaxon/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 25/02/2008