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Índices Produtivos na recria de Novilhas Leiteiras

Ricardo Dias Signoretti
Gustavo Resende Siqueira
Fernando Bergantini Miguel

A pecuária leiteira é caracterizada como atividade que demanda investimentos altos e tem baixa margem de lucro. Sendo assim, é fundamental ter elevada escala de produção e alta eficiência de conversão dos fatores de produção.

 

A importância dos custos de criação e do tempo que a novilha pode levar para entrar em produção vem fazendo crescer a preocupação dos técnicos e produtores sobre as taxas de crescimento na recria de novilhas leiteiras, não só visando ganhos maiores, mas também pelo seu impacto sobre a produção de leite durante a vida produtiva dessas fêmeas (NRC, 2001).

 

O custo de criação dos animais de reposição em rebanhos leiteiros é a segunda maior fonte de despesas em um sistema de produção (15 a 20 % do custo da atividade leiteira), ficando atrás somente dos gastos com as vacas em lactação, que este responde de forma imediata aos desembolsos, diferentemente do rebanho em recria.

 

O objetivo na criação de novilhas leiteiras deve ser o de obter um animal capaz de expressar seu potencial genético, através da produção de leite, a um menor custo possível. Deve-se considerar a novilha como um investimento na atividade de produzir leite. Então, o sucesso do programa de criação das novilhas é medido pelo desempenho das mesmas durante a primeira lactação.

 

 Na grande maioria das propriedades o manejo de novilhas, após o desmame, torna-se o principal desafio para os técnicos e produtores, porque elas são tratadas como animais de menor prioridade no rebanho, já que têm menor impacto sobre a receita da propriedade, quando comparadas com as vacas em lactação. Para que o programa de criação de novilhas leiteira obtenha sucesso será necessário alcançar os seguintes índices zootécnicos, como mostrados na Tabela 1.

 

Tabela 1 – Índices desejáveis na criação de novilhas leiteiras

Índices

Raça Holandesa

Mestiças H x Z*

Mortalidade até três meses

5

5

Ganho de peso diário do nascimento até a puberdade (kg)

0,8

0,5

Idade ao acasalamento (meses)

14 a 16

16 a 18

Peso ao acasalamento (kg)

350 a 380

300 a 330

Idade ao primeiro parto (meses)

23 a 25

25 a 27

Peso ao primeiro parto (kg)

540 a 580

410 a 450

Condição corporal ao parto (Escala de 1 a 5)

3,5

3,5


* Mestiças Holandês x Zebu

Fonte: CAMPOS & LIZIEIRE (2005)

 

Além disso, inúmeros fatores influenciam o balanço entre suprimento e descarte de novilhas do rebanho de reposição anualmente (WATTIAUX, 2007).

 

 Deste modo, o número de novilhas que nascem no rebanho depende:

  • Taxa de parição (número de vacas e intervalo de partos);
  • Proporção entre sexo dos bezerros nascidos.
  • Por outro lado, o número de novilhas que saem do rebanho depende da:
  • Taxa de mortalidade dos bezerros;
  • Taxa de descarte (voluntário e involuntário);
  • Idade à primeira parição.

É importante destacar que o número de novilhas de primeira cria disponíveis no rebanho e o número de novilhas de primeira cria necessárias ao rebanho depende dos seguintes fatores:

  • Taxa de descarte de vacas;
  • Venda voluntária de novilhas para reprodução;
  • Taxa de expansão do rebanho.

Em um rebanho onde não ocorre compra de vacas ou novilhas, o número de novilhas de primeira cria por ano determina a taxa máxima de descarte por ano, se a intenção for manter o rebanho do mesmo tamanho. Quando o número de novilhas produzidas é maior que o número de vacas que se deseja descartar, as novilhas em excesso podem ser utilizadas tanto para aumentar o tamanho do rebanho como para a venda voluntária de animais, contribuindo para renda da propriedade.

 

O suprimento de novilhas no rebanho depende em primeiro lugar na taxa de parição, que mede as mudanças no número esperado de bezerros, quando o intervalo de partos é de 12 meses. Com o aumento do intervalo de partos, o número esperado de bezerras nascidas por ano diminui. Deste modo, com o aumento do intervalo de partos de 12 para 18 meses diminui o número de novilhas de primeira lactação disponíveis por ano. Por exemplo, em um rebanho de 100 vacas, este número cairia de 43 para 29 novilhas. Este fato provoca ineficiência no sistema de produção e conseqüentemente, menor produção de leite e renda para o produtor.

 

Outro fator que influencia no número de novilhas de rebanho é a proporção entre sexo dos bezerros recém nascidos. Na maioria dos rebanhos, em média, pode ocorrer uma maior tendência de nascimento de fêmeas ou machos, é normal, mas com o passar dos anos, pode-se perceber que a proporção média é de 51% de fêmeas e 49% de machos. Hoje, com as novas tecnologias os produtores podem escolher o sexo dos bezerros (por sexagem de sêmen), mas ainda apresenta custo elevado e viabilidade inferior.

 

A mortalidade de bezerros e o descarte involuntário de novilhas representam o número total de animais que nasceram no rebanho, mas "desapareceram" antes do primeiro parto devido a doenças ou injúria física. A taxa de mortalidade inclui, ainda, bezerros que morreram e também aqueles que foram descartados por razões imprevistas. A distinção entre taxa de descarte involuntário e a taxa de descarte voluntário (venda de novilhas excedentes para reprodução), são índices importantes por influenciar na eficiência e lucratividade do rebanho.

 

Normalmente, bezerros recém-nascidos encontram-se no estágio de maior risco de contágio de doenças e de morte que bezerros mais velhos. Com o crescimento das novilhas, observa-se gradualmente menor número de casos de morte. Porém, o descarte involuntário pode também ocorrer entre novilhas devido principalmente à:

  • Severa infestação de ecto e endoparasitos (pastagens)
  • Severa dificuldade de parto (ao primeiro parto)

Todo bezerro que morrer ou for descartado involuntariamente representa uma perda de oportunidade, especialmente quando for utilizada inseminação artificial para melhorar o potencial genético do rebanho. Deste modo, um aumento na mortalidade de 0 para 24 % leva à redução de 44 para 34 novilhas de primeira cria disponíveis por ano em um rebanho de 100 vacas.

 

Quando a novilha apresenta idade à primeira cria acima de 24 meses para as da raça Holandesa e acima de 28 meses para as mestiças H x Z, o custo de produção nesta fase aumenta devido as seguintes razões:

  • Haverá excesso de novilhas no rebanho;
  • Custo adicional em alimentação será computado;
  • Menor número de novilhas de primeira cria estará presente no rebanho por ano.

Por exemplo, uma novilha que pariu pela primeira vez aos 36 meses levou 12 meses a mais, ou em outras palavras, 50% a mais de tempo, do que uma novilha que pariu aos 24 meses de idade, para sair do rebanho de reposição. Como conseqüência, o número total de novilhas em um rebanho de 100 vacas pode variar de 83 para mais de 120 animais, porém o número de novilhas de primeira cria produzidas por ano diminuirá de 42 para 28 animais.

 

Monitore o crescimento das novilhas

 

O monitoramento do desenvolvimento das novilhas é através do acompanhamento do ganho de peso mensalmente. Dos 80-90 kg de peso vivo até a puberdade elas não devem ganhar mais do que 900 g por dia. Após a puberdade, ganhos superiores a este são admitidos, mas deve-se evitar que as novilhas fiquem obesas. O crescimento das novilhas pode ser feito através de pesagem (Figura 1) ou pela mensuração do perímetro torácico e altura na cernelha, quando o produtor não possui balança (Figura 2).

 

Figura 1: Pesagem das Novilhas.

 

Figura 2 – Mensurações do perímetro torácico e altura na cernelha

 

Além disso, a condição corporal dos animais pode indicar a qualidade da alimentação e manejo adotados. A condição corporal é avaliada pela escala variando de 1 a 5 (1 = magra e 5 = obesa), as novilhas devem apresentar escore corporal em função da fase de sua vida (Tabela 2), em média, este de ser igual a 3. Registre em ficha individual os pesos e quaisquer problemas ocorridos com as novilhas.

 

Tabela 2 – Condição corporal dos animais

Período

Escore Corporal

Nascimento aos quatro meses

2,75 a 3,00

Quatro meses ao início do pré-parto

3,00 a 3,75

Pré-parto

4,00


Fonte: CAMPOS & LIZIEIRE (2005).
 

Custo de produção

Como foi mencionado anteriormente, o custo de produção de novilhas representa de 15 a 20% dos custos da atividade leiteira. No entanto, o custo da alimentação é o mais representativo, variando de 69 a 72% do custo total, para novilhas Holandesas e mestiças H x Z, respectivamente (Figura 3 e 4).

 

Com relação ao custo estimado para novilhas Holandesas do nascimento ao parto com 24 meses, com recria em confinamento, seriam gastos R$ 2,47 por animal por dia e no período total R$ 1.777,57. Já, para novilhas mestiças H x Z, do nascimento ao parto com 28 meses, com recria a pasto, seriam gastos R$ 1,29 por animal por dia e no período total R$ 1.069, 64.

 

Figura 3 - Novilhas Holandesas

 

Figura 4 – Novilhas Mestiças H x Z

 

A fase da desmama até o parto de novilhas leiteiras não contribuem com a renda da atividade leiteira, é uma fase de investimentos no futuro do empreendimento, buscando-se sempre melhor eficiência e maior rentabilidade nos sistemas de produção de leite. Para que o produtor obtenha sucesso nesta fase da criação de bovinos leiteiros é fundamental antecipar a idade ao primeiro parto e o monitoramento deve ser realizado para atingir as metas desejadas.

 

Literatura consultada

CAMPOS, O.F.; LIZIEIRE, R.S. Criação de bezerras em rebanhos leiteiros. Juiz de Fora: EMBRAPA Gado de Leite, 2005. 142 p.

NRC-NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrient requeriments of dairy cattle. Seven Revised Edition, 2001. 356 p.

WATTIAUX, M.A. The Babcock Institute: For Internacional Dairy Research and Development. 2007.

 


Ricardo Dias Signoretti concluiu o doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa em 1998. Atualmente é Pesquisador Científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Pólo Apta da Alta Mogiana, Colina-SP. Atua na área de Zootecnia, com ênfase em Manejo e alimentação de bovinos de leite e de corte. Em suas atividades profissionais interagiu com 30 colaboradores em co-autorias de trabalhos científicos. Em seu currículo Lattes os termos mais freqüentes na contextualização da produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: Volumoso, Alimentação, Bezerros Holandeses, Exigências Nutricionais, Manejo, Bezerro, Gado de Leite, Viabilidade Econômica e Bovinos.
Contato:
signoretti@apta.sp.gov.br

 

Gustavo Resende Siqueira concluiu o mestrado em Zootecnia (Produção Animal) [Jaboticabal] pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho em 2005. Cursa doutorado em Zootecnia(Produção Animal) [Jaboticabal] pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho desde 2005. Atualmente é Pesquisador Científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Pólo Apta da Alta Mogiana, Colina-SP. Publicou.  Recebeu 1 prêmio e/ou homenagem. Atua na área de Zootecnia, com ênfase em Avaliação, Produção e Conservação de Forragens. Em suas atividades profissionais interagiu com 53 colaboradores em co-autorias de trabalhos científicos. Em seu currículo Lattes os termos mais freqüentes na contextualização da produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: ensilagem, silagem, produção animal, aditivos, valor nutritivo, Bovinocultura de corte, Forragicultura, fermentação, Composição Bromatológica e cana-de-açúcar.

Contato: siqueiragr@apta.sp.gov.br

 

Fernando Bergantini Miguel concluiu a graduação em Administração de Empresas pelo Instituto Municipal de Ensino Superior de Bebedouro em 1993. Atualmente é Pesquisador Científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Pólo Apta da Alta Mogiana, Colina-SP.  Atua na área de Adminsitração, com ênfase em Administração Rural. Em suas atividades profissionais interagiu com 21 colaboradores em co-autorias de trabalhos científicos. Em seu currículo Lattes os termos mais freqüentes na contextualização da produção científica, tecnológica e artístico-cultura são: agregação de valor, aplicação de tecnologias, mercado, desenvolvimento regional, desenvolvimento de novas áreas, gestão, qualidade da produção, agribusiness e elaborar planejamento.
Contato:
fbmiguel@apta.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

SIGNORETTI, R.D.; SIQUEIRA, G.R., MIGUEL, F.B. Índices Produtivos na recria de Novilhas Leiteiras. 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_2/recria/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 02/04/2008

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