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VARIAÇÃO TEMPORAL E ESPACIAL DA AVIFAUNA DA FAZENDA SANTA ELISA (IAC), CAMPINAS, SP.

Jefferson Santana Otaviano

1. Introdução

As aves são os animais mais bem conhecidos e mais facilmente detectados em ambiente natural. O grau de ameaça sofrida por determinadas espécies já é há tempos estabelecido pelos ornitólogos e a presença de uma ou várias espécies ameaçadas em determinado local ajuda a estabelecer o grau de preservação do mesmo e a importância de se preservá-lo. Isso faz das aves um grupo usado pelos biólogos como bio-indicadores, ou seja, pesquisando-se somente a avifauna tem-se idéia da riqueza de todo o ecossistema . Outro fato é a importância das aves como agentes polinizadores e dispersores de sementes, sendo fundamental sua existência para a expansão e regeneração das florestas e áreas degradas pelo homem (ANDRADE,1993).

     As aves podem ser usadas com sucesso em programas de educação ambiental, ou mesmo como atividade de lazer, chamando atenção para a conservação da natureza. A observação das aves é uma atividade altamente difundida em países da Europa e América do norte (DEVELEY; ENDRIGO, 2004).

A América do Sul é o continente das aves, sendo o número de espécies residentes aproximadamente da ordem de 3.200 (SIBLEY; MONROE, 1990 apud SICK, 1997).  O Brasil é país privilegiado com uma das maiores biodiversidades em aves no mundo. São 1.677 espécies consideradas pertencentes à avifauna brasileira e anualmente são realizados novos registros e até mesmo descritas novas espécies. Em matéria de aves, o Peru e a Colômbia, países relativamente pequenos, rivalizam com o Brasil, não só por participarem da larga escala da riqueza da fauna amazônica, como ainda por abrangerem a fauna andina, tão extraordinariamente variada, que falta inteiramente ao Brasil. Por outro lado, o Brasil possui elementos da grande fauna patagônica (relacionada à fauna dos Andes), que penetram na região sul. Riquíssimos em aves são também a Bolívia, Venezuela e América Central. Este enorme patrimônio genético tem de ser preservado em sua representatividade para o benefício das atuais e futuras gerações. (SICK, 1997).

Além da quantidade, a avifauna do Brasil reúne inúmeros superlativos quanto à qualidade. Vive por aqui, uma das maiores ave do mundo, a ema, ao lado das aves de menos porte, os beija flores.  Entre as espécies brasileiras, encontram-se também os voadores de maior porte da terra: o Condor e o Albatroz, ambos de ocorrência apenas ocasional. O Gavião Real, residente no Brasil, é a ave mais possante do mundo. Ocorrem aqui as aves de vôo mais veloz: falcões e andorinhões. A ema é uma das poucas aves do mundo que renunciaram totalmente a capacidade de voar, a favor de um deslocamento no solo. Isso é também particularidade dos pingüins, visitantes regulares das nossas costas meridionais e que se tornaram campeões de natação submarina, usando as asas como remo. (SICK, 1997).

Devido a inúmeros atributos favoráveis, à observação de aves (Bird Watching) no Brasil vem crescendo muito. A atividade consiste em visitar ambientes naturais a procura das aves que lá ocorrem, vendo-as e ouvindo-as, procurando-se identificar as espécies encontradas, tanto por sua aparência como por seu canto. O grande desafio é justamente a correta identificação de cada ave avistada ou ouvida dentre as dezenas e, por vezes, centenas de espécies possíveis de serem encontradas em determinado local. O prazer está em apreciar a beleza, a curiosidade das formas, as peculiaridades de hábitos e a sonoridade dos cantos das aves, unindo uma atividade física saudável com um exercício intelectual ao alcance de todos. (GAGLIARDI 2006).

Dentre os biomas brasileiros, a Amazônia apresenta o maior número de espécies de aves, seguidos pela Mata Atlântica e o Cerrado ( MARINI e GARCIA, 2005). Mais de 10% das espécies no Brasil são endêmicas e habitam a mata atlântica, fazendo desse país um dos mais importantes para investimentos de conservação (SICK, 1997).

A diversidade ambiental do estado de São Paulo com seus relevos e vegetações variadas possibilitaram o aparecimento de uma grande riqueza de aves. O Número de espécies já registradas no estado varia de 700 a 788, o que equivale a 45% das espécies que ocorrem no Brasil (SILVA; ALEIXO, 1996; CBRO, 2006).

A importância do presente trabalho é observar a distribuição espacial e temporal da avifauna em 03 (três) diferentes tipos de hábitats na Fazenda Santa Elisa (IAC) no município de Campinas, SP.

2. Objetivos

Observar a distribuição espacial da avifauna em 03 (três) diferentes tipos de hábitats na Fazenda Santa Elisa (IAC) no município de Campinas, SP. Fazer comparações entre os locais estudados, e identificar as espécies observadas, verificando a variação diária na quantidade de indivíduos e das espécies.

3. Material e Métodos

Como o trabalho tem o objetivo observar a distribuição espacial da avifauna na Fazenda Santa Elisa (IAC) em Campinas/ SP, bem como, identificar as espécies observadas no local e verificar a variação na quantidade de indivíduos e das espécies, a metodologia utilizada foi de observação em Transecções . Essa metodologia pode ser utilizada fora da estação reprodutiva, com aves que não precisam ser necessariamente territoriais: permitem, alem disso, detectar jovens e vagantes.

 Os vários tipos de transecções atualmente utilizados diferem basicamente quanto a considerar ou não a distância da ave ao observador. Quando essa distância for considerada, a diferença está em estipular ou não uma distância fixa para o registro das aves. (BURNHAM et al. ,1980 apud MATARAZZO-NEUBERGER,1994) apontam para a necessidade das transecções serem distribuídas ao acaso, afim de que os resultados possam ser extrapolados para uma área maior do que aquela na imediata vizinhança da transecção. Sendo assim, os transectos serão instalados em locais que representam situações ambientais diferentes, permitindo assim, o avistamento de um maior número de espécies de aves.

Para o referido estudo, não será estipulada distância entre o observador e a ave. O observador caminhará por uma linha pré-definida (transecção) e registrará todas as aves avistadas.

 Esse método é eficiente para gerar rapidamente uma tabela de espécies, e obter dados para comparações interespecíficas, como por exemplo: entre estações do ano e habitats, pois todos os indivíduos são igualmente detectados em todas as amostras (MATARAZZO-NEUBERGER, 1994).

Foram geradas três Tabelas de espécies, sendo uma Tabela para cada área estudada separadamente;

Transecto  “A” Plantação : Área de campo aberto, onde predomina lavoura de grãos.

Transecto “B” Monjolinho : Área entre duas grandes lagoas com vegetação aquática, mata de várzea e uma pequena mata fechada.

Transecto “C” Fitoquímica : Área composto por vegetação rasteira e diversas árvores de médio e grande porte

 A identificação das espécies no campo, foi feita com binóculos da marca SOTEM  8 x 40 – 132mm/1000m. Em boas condições de iluminação e atmosfera límpida, esse aumento é o ideal para visualizar aves nas mais diferentes formações e paisagens (ANDRADE, 1993).  Foram utilizados também materiais para acompanhamento, como: relógio, prancheta, ficha para anotação, lápis e guia de identificação das aves no campo.

Para registro e identificação das aves, serão levados em consideração os seguintes itens: nome popular, gênero, espécie, família e ordem, área de avistamento e número de indivíduos por espécie.

Os horários de observação foram divididos conforme descrito abaixo:

Faixa 1 – Das 6:00 às 8:00 horas

Faixa 2 – Das 8:00 às 10:00 horas

Faixa 3 – Das 14:00 às 16:00 horas

Faixa 4 – Das 16:00 às 18:00 horas

4. Área do Estudo

Situada no município de Campinas, Estado de São Paulo, a Fazenda Santa Elisa, pertence ao Instituto Agronômico de Campinas, órgão de pesquisa da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Fundado em 1887 pelo Imperador D. Pedro II, recebeu a denominação de Imperial Estação Agronômica de Campinas e, em 1892, passou para o Governo do Estado de São Paulo.

A propriedade conta com 1.279 ha de terras distribuídos entre a Sede, Centro Experimental Central (CEC) e 4 Centros Avançados de Pesquisa, com casas de vegetação, laboratórios, campos de plantações e demais instalações.

O CEC (22º54'20"S; 47º05'34"W e 674m), mantêm 19 ha de  mata nativa,  70 ha de arboretos, 75 ha de várzea, 52 ha de cerrado, além dos cursos d'água e represas, reservando uma infinita variedade em espécies de aves e uma abundância em cada uma delas devido à preservação natural do local.

Para realização dos estudos de observação, foram escolhidos locais que representam situações ambientais diferentes (figura 1) , permitindo assim, a visualização de um maior número de espécies, são eles:

Transecto  “A” Plantação : Área de campo aberto, onde predomina lavoura de grãos.  (Figura 2) e (Figura 3)

Transecto “B” Monjolinho : Área entre duas grandes lagoas com vegetação aquática, mata de várzea e uma pequena mata fechada. (Figura 4) e (Figura 5)

               Transecto “C” Fitoquímica : Área composta por vegetação rasteira e diversas árvores de médio e grande porte (Figura 6) e (Figura 7).

 

Figura 1 – Vista aérea das áreas estudadas da Fazenda Santa Elisa IAC Campinas SP.

 

Figura 2 - Transecto  “A” Plantação -  Vista aérea da área da Plantação

 

Figura 3 - Transecto  “A” -  Plantação -  Vista do local.

 

Figura 4. Transecto “B”  Monjolinho . Vista aérea da área do Monjolinho

 

Figura 5. Transecto “B”  Monjolinho . Vista do local

 

Figura 6  - Transecto “C” Fitoquímica : Vista aérea da área da Fitoquímica

 

Figura 7 - Transecto “C” Fitoquímica : Vista do local

 

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Considerando a metodologia adotada, foi possível identificar 75 espécies de aves em um total de 96 horas de trabalhos de observação nas três áreas citadas abaixo:

Área 1 – Plantação - área de campo aberto, onde predomina lavoura de grãos

Área 2 – Monjolinho - área composta por grande lagoa com vegetação aquática e uma pequena mata.

Área 3:  Fitoquímica – área de vegetação rasteira e diversas árvores de médio e grande porte 

As espécies estudadas estão distribuídas em 15 ordens, 29 famílias e 75 espécies, resultando em 3518 indivíduos registrados.(Figura 8).

Figura 8 - Número de ordens, famílias e espécies distribuídas pelas áreas estudadas na Fazenda Santa Elisa IAC Campinas 

Os não-passeriformes somaram 47 espécies com 2878 indivíduos registrados totalizando 81% da amostra total, com maior representatividade nas famílias Columbidae com 1736 indivíduos observados (49,35%) e Phalacrocoracidae com 203 indivíduos observados (5,77%). 

Na ordem dos passeriformes foram observadas 28 espécies distribuídas em 640 indivíduos (19%), com maior representatividade nas famílias Thraupidae com 203 indivíduos observados (5,77%), Tyrannidae com 116 individuos observados (3,30%), e Icteridae com 96 indivíduos observados (2,73%) . 

As espécies com maior representatividade nas ordens não- passeriformes e passeriformes foram respectivamente Columba livia (Pomba Doméstica) com 822 indivíduos observados (23,37%) e Thraupis sayaca (Sanhaço Cinzento)  com 181 individuos observados (5,14%).
 

Tabela 1 - Relação Geral das Unidades Taxonômicas das aves Não-Passeriformes registradas nas áreas estudadas na Fazenda Santa Elisa IAC Campinas. 

Ordem

Famílias

Espécies      (Continua)

 Anseriformes

Anatidae

Dendrocygna viduata

 

 

Amazonetta brasiliensis

 

 

 

Apodiformes

Trochilidae

Amazilia lactea

 

 

Eupetomena macroura

 

 

Amazilia versicolor

 

 

Chlorostilbon lucidus 

Caprimulgiformes

Caprimulgidae

Nyctidromus albicollis

 Cathartiformes

Cathartidae

Coragyps atratus

 Charadriformes

Charadriidae

vanellus chillensis

 

 

Vanellus cayanus 

Ciconiiformes

Ardeidae

Syrigma sibilatriz

 

 

Ardea alba

 

 

Egretta thula

 

 

Butorides striata

 

 

Ardea cocoi 

Columbiformes

Columbidae

Columba plumbea

 

 

Columbina talpacoti

 

 

Columba livia

 

 

Columba picazuro

 

 

Zenaida auriculata

 

 

Columba cayennensis

 

 

Leptotila rufaxilla

Ordem

Famílias

Espécies     (Conclusão)

Coraciiformes

Alcedinidae

Chloroceryle americana

  

 

Ceryle torquatus 

Cuculiformes

Cuculidae

Crotophaga ani

 

 

Pyaia cayana

 

 

Guira guira

 

 

Tapera naevea 

Falconiformes

Accipitridae

Elanus leucurus

 

 

Rupornis magnirostris

 

 

Ictinea plumbea 

 

Falconidae

Caracara plancus

 

 

Falco femoralis

 

 

Mivalgo chimachima
Falco sparverius

Pelicaniformes

Phalacrocoracidae

Phalacrocorax brasilianus

 Piciformes

Picidae

Colaptes campetris

 

 

Picumnus cirratus

 

 

Melanerpes candidus

 

 

Veniliornis spilogaster 

 

Ramphastidae

Ramphastus toco

 Psittaciformes

Psittacidae

Pionus maximiliani

 

 

Aratinga leucophthalma

 

 

Forpus xanthopterygius

 

 

Brotogeris tirica 

Strigiformes

Strigidae

Megascops choliba

 

 

Athene cuniculária 

Total     14

    16

         47

  

Tabela 2 - Relação Geral das Unidades Taxonômicas das aves Passeriformes registradas nas áreas estudadas na Fazenda Santa Elisa IAC Campinas. 

Famílias

Espécies   (continua)    

 Coerebidae

Coereba flaveola

 Corvidae

Cyanocorax chrysops

 Emberezidae

Zonotrichia capensis

 

Sporophila caerulescens

 

Sporophila lineola

 Estrildidae

Estrilda astrild

 Furnaridae

Furnarius rufus

Icteridae

Gnorimopsar chopi

 

Molothrus bonariensis

 

Icterus cayanensis

 

Sturnella superciliaris

 

Pseudoleistes virescens

 Mimidae

Mimus saturninus

Passeridae

Passer domesticus

 Thoglodytidae

Troglodytes musculus

 Thraupidae

 Thraupis sayaca

 

Thlypopsis sordida

 

Tachyphonus coronatus

 

Ramphocelus  carbo

Turdidae

Turdus leucomelas

 

Turdus  amaurochalinus 

Tyrannidae

Tyrannus melancholicus

 

Pitangus sulphuratus

 

Megarynchus pitangua

 

Myiophobus fasciatus

 

Gubernetes yetapa

 

Myiodynastes maculatus 

Famílias

Espécies  (Conclusão)

Vireonidae

Cyclarhis gujanensis


Total    13

28

           Andrade (1993) afirma que as aves são mais ativas ao amanhecer, quando saem dos seus dormitórios à procura de alimento, e ao entardecer, quando retornam aos seus dormitórios, sendo assim, a metodologia utilizada no referido estudo adequou-se a essa afirmação.

 Os resultados obtidos (Figura 9) com o levantamento da avifauna da Fazenda Santa Elisa IAC Campinas SP, confirma essa afirmação. 
 

Figura 9 -  Distribuição dos registros de aparição de aves por faixa de horário nas áreas estudadas na Fazenda Santa Elisa IAC Campinas

As Famílias mais bem representadas no estudo foram Columbidae (7 espécies), Tyrannidae (6 espécies), Icteridae (5 espécies) e Ardeidae (5 espécies). (Tabela3)
 

Tabela 3 – Distribuição do número de espécies por família registradas nas áreas estudadas na Fazenda Santa Elisa IAC Campinas.

Família

Nº espécies

%

Caprimulgidae

1

1,33

Cathartidae

1

1,33

Coerebidae

1

1,33

Corvidae

1

1,33

Estrildidae

1

1,33

Furnariidae

1

1,33

Mimidae

1

1,33

Passeridae

1

1,33

Phalacrocoracide

1

1,33

Ramphastidae

1

1,33

Thoglodytidae

1

1,33

Vireonidae

1

1,33

Alcedinidae

2

2,67

Anatidae

2

2,67

Turdidae

2

2,67

Charadriidae

2

2,67

Strigidae

2

2,67

Emberezidae

3

4,00

Accipitridae

3

4,00

Falconidae

4

5,33

Picidae

4

5,33

Psittacidae

4

5,33

Trochilidae

4

5,33

Cuculidae

4

5,33

Thraupidae

4

5,33

Ardeidae

5

6,67

Icteridae

5

6,67

Tyrannidae

6

8,00

Columbidae

7

9,33

TOTAL

75

100,00

  Guildas Alimentares

 Diante das observações realizadas em campo viu-se a necessidade de agrupar as espécies registradas em guildas alimentares (Tabela 4), dessa forma podemos perceber que as espécies apresentam sobreposição importante em seu nicho, sem levar em conta sua posição taxonômica, sendo assim, a classificação desses nichos foi baseada em bibliografias específicas como Sick (1997) e Develey; Endrigo (2004).

 

Tabela 4 – Lista das guildas alimentares das espécies registradas Fazenda Santa Elisa IAC Campinas.

Guildas Alimentares

1 – Onívora

 

8 – Necrófaga

2 – Insetívora

 

9 – Néctar-insetívora

3 – Insecto-frugívora

 

10 – Carnívora

4 – Insecto-carnívora

 

11 – Granívora

5 – Insecto-piscívora

 

12 – Frugívora

6 – Piscívora

 

13 – Frugi-insetívora

7 – Pisci-carnívora

 

 

  A estrutura trófica da Fazenda Santa Elisa IAC Campinas SP, demonstrou um elevado predomínio de espécies insetívoras (20%, 15 espécies), seguidas por granívoras e onívoras (18,7%, 14 espécies cada).(Tabela 5) 

 Tabela 5 -  Guildas  Alimentares das espécies registradas na Fazenda Santa Elisa Iac Campinas SP.

Guildas

Plantação

 

Monjolinho

 

Fitoquímica

 

Total Espécies

 

Total Indivíduos

 

 

Nº Espécies

%

Nº Espécies

%

Nº Espécies

%

Nº Espécies

%

Nº Espécies

%

Carnívora

5

22,7

4

7,4

3

7,3

7

9,3

88

2,5

Frugi-insetívora

0

0,0

2

3,7

0

0,0

2

2,7

4

0,1

Frugívora

1

4,5

4

7,4

3

7,3

4

5,3

145

4,1

Granívora

10

45,5

7

13,0

9

22,0

14

18,7

1939

55,1

Insecto-carnívora

1

4,5

1

1,9

2

4,9

2

2,7

19

0,5

Insecto-frugívora

3

13,6

0

0,0

1

2,4

1

1,3

5

0,1

Insecto-piscívora

2

9,1

3

5,6

1

2,4

3

4,0

71

2,0

Insetívora

0

0,0

12

22,2

8

19,5

15

20,0

347

9,9

Necrófaga

0

0,0

1

1,9

1

2,4

1

1,3

154

4,4

Néctar-insetívora

0

0,0

4

7,4

5

12,2

5

6,7

24

0,7

Onívora

0

0,0

9

16,7

8

19,5

14

18,7

444

12,6

Pisci-carnívora

0

0,0

4

7,4

0

0,0

4

5,3

49

1,4

Piscívora

0

0,0

3

5,6

0

0,0

3

4,0

229

6,5

TOTAL

22

100,0

54

100,0

41

100,0

75

100,0

3518

100,0

Figura 10 -  Número de espécies distribuídas por guildas alimentares, observadas na Fazenda Santa Elisa IAC Campinas SP.

 

Do grupo insetívoro (20%), destacam-se as espécies  Guira guira (98 indivíduos), Crotophaga ani (95 indivíduos), Colaptes campestris (59 indivíduos) e Tyrannus melancholicus (22 indivíduos).            

Os onívoros (19%) e granívoros (19%) aparecem em segundo lugar na distribuição trófica .Seus maiores representantes são  Thraupis sayaca (181 indivíduos) e Columba livia (822 indivíduos) respectivamente. 

A grande variedade de ambientes na Fazenda Santa Elisa IAC Campinas SP possivelmente explica a predominância da guilda insetívora, pois segundo Sick (1997) a riqueza de habitats traz consigo uma variada fauna entomológica, que dão maior vantagem aos insetívoros. 

Ao se analisar a distribuição das guildas por indivíduo, isto é, levando-se em consideração a abundância de cada espécie, nota-se que a guilda mais representativa é a dos granívoros com 55,15% do total. Isto deve-se ao grande número de columbiformes existente na amostra, que somados  resultam em 1736 indivíduos. (Figura 11) 

Figura 11 -  Número de indivíduos distribuídos por guildas alimentares, observadas na Fazenda Santa Elisa IAC Campinas SP.

 

Espécies Ameaçadas

 Segundo a Tabela Nacional das espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção (IBAMA 2003), nenhuma espécie registrada na Fazenda Santa Elisa IAC Campinas SP encontra-se ameaçada.

Análises de cada área estudada na Fazenda Santa Elisa IAC Campinas SP.

Plantação: 

Foram registradas na área da plantação 1643 aves divididas em 22 espécies, (47% da amostra total) (Tabela 10 dos anexos) Os columbiformes (79,2%) foram os mais abundantes, sendo Columbia livia com 562 indivíduos observados (34,2%) a mais representativa, seguidos de Columbina talpacoti (15,2%), Columba plumbea (13,2%), Columba cayennenses (7,5%), Columba picazurro (7,1%) e Zenaida auriculata (2,0%). 

Na ordem dos passeriformes Molothrus bonarienses (4,5%) foi a espécie mais abundante, seguida por Sporophila caerulescens (1,8%) e Sporophila lineola (1,4%). 

Devido ao grande número de columbídeos no local, os Falconiformes , que são seus predadores naturais, aparecem com 5 espécies representantes, são elas  Falco sparverius (0,8%), Elanus leucurus(0,5%), Caracara plancus (0,5), Falco femoralis (0,3%) e Ictinea plúmbea (0,%2). 

O resultado obtido com o estudo realizado na área de plantação confirma a afirmação de Sick (1977) quando se refere à ordem dos Columbiformes “espécies da família Columbidae vivem em sua maioria em regiões campestres, sendo beneficiadas pelo desmatamento e expansão das culturas”. 

 

Tabela 6 - Espécies cujo registro foi restrito a área de plantação da Fazenda Santa Elisa IAC Campinas

NOME CIENTÍFICO

NOME VULGAR

Falco femoralis

Falcão de Coleira

Ictinea plumbea

Sovi

Molothrus bonariensis

Chopim

Sporophila lineola

Bigodinho

Sturnella superciliaris

Polícia Inglesa

  Monjolinho

 O Monjolinho apresentou a maior riqueza de espécies dentre as áreas estudadas. Das 75 espécies registradas no estudo, 54 (72%) foram identificadas nesse ambiente.  

É importante destacar que quando se refere ao monjolinho, considera-se tanto o ambiente aquático e/ou de várzea, como também a mata, e vegetação rasteira adjacente às represas. Diante disso, observou-se nesse ambiente 1053 indivíduos, resultando em 30% da amostra total. (Tabela 10 dos anexos) As espécies mais abundantes foram Phalacrocorax brasilianus (19,3%), Guira guira (7,0%), Dendrocygna viduata (6,7%) e Thraupis sayaca (6,6%). 

Sendo o monjolinho composto na sua maior parte por duas represas e mata de várzea, observou-se grande concentração das aves denominadas aquáticas, que somadas totalizam 34,18% dos indivíduos registrados nesse ambiente. As espécies aquáticas e seus respectivos números de indivíduos registrados constam na Tabela 5. 

Os Biguás (Phalacrocorax brasilianus) foram as aves aquáticas mais comuns nos lagos do monjolinho. Descansam pousados na beira da água, sobre pedras, árvores e estacas.  O Biguá encharca-se todo quando mergulha a procura de alimento, é comum vê-los com as asas abertas e bem esticadas para secar sua plumagem.

Por outro lado, os Irerês (Anatídeos), aves também encontradas em grande quantidade na área do monjolinho, não se encharcam quando nadam.  São mais ativas ao entardecer, ficando a maior parte do dia paradas em bandos na beira das lagoas onde também se alimentam.

Tabela 7 -  Espécies aquáticas registradas na área do Monjolinho da Fazenda Santa Elisa IAC Campinas

Nome Científico

Nome Vulgar

Nº indivíduos

 

Egretta thula

Garça branca pequena

1

 

Ardea cocoi

Socó Grande

2

 

Syrigma sibilatriz

Maria faceira

3

 

Amazonetta brasiliensis

Ananaí

8

 

Ceryle torquatus

Martim pescador grande

11

 

Butorides striata

Socozinho

13

 

Chloroceryle americana

Martim pescador pequeno

15

 

Ardea alba

Garça branca grande

33

 

Dendrocygna viduata

Irere

71

 

Phalacrocorax brasilianus

 

Biguá

 

203

 

TOTAL

360

 

 Tabela 8 - Espécies cujo registro foi restrito a área do Monjolinho da Fazenda Santa Elisa IAC Campinas

NOME CIENTÍFICO

NOME VULGAR

Amazonetta brasiliensis

Ananai

Aratinga leucophthalma

Maracanã

Ardea alba

Garça branca grande

Ardea cocoi

Socó Grande

Butorides striata

Socozinho

Ceryle torquatus

Martim pescador grande

Chloroceryle americana

Martim pescador pequeno

Cyclarhis gujanensis

Pitiguari

Dendrocygna viduata

Irere

Egretta thula

Garça branca pequena

Gubernetes yetapa

Tesoura do brejo

Mimus saturninus

Sabia do campo

Myiophobus fasciatus

Filipe

Phalacrocorax brasilianus

Biguá

Picumnus cirratus

Picapauzinho Anão Barrado

Pseudoleistes virescens

Dragão do brejo

Tachyphonus coronatus

Tié Preto

Tapera navea

Sací

Thlypopsis sordida

Saí canário

Turdus leucomelas

Sabia branco

Vanellus Cayanus

Batuíra de esporão

  Fitoquímica

 A área da fitoquímica foi representada no estudo por 41 espécies totalizando 822 indivíduos observados

(23% da amostra total) (Tabela 10 dos anexos) As espécies mais abundantes foram Columba lívia (31,6%),  Thraupis sayaca (13,5%), Coragyps atratus (12,4%) e Furnarius rufus (3,8%). 

A área da fitoquímica é composta na sua maioria por árvores esparsas de pequeno e médio porte, não oferecendo variedade de alimentos para as aves columbiformes que se alimentam de grãos. A grande  freqüência dessas aves  nesse ambiente dá-se por utilizarem o mesmo como dormitório. Observando figura 12 percebemos que a freqüência desses indivíduos aumenta muito na parte da manhã (das 6:00 às 8:00 hrs.) quando os mesmo saem dos dormitórios para forragear, caindo drasticamente durante a maior parte do dia e aumentando novamente ao entardecer (Das 16:00 às 18:00 hrs), quando começam a voltar para seus dormitórios.

Figura 12 –Ocorrência de columbiformes x faixas de horários na área da Fitoquímica

 

 

Tabela 9 - Espécies cujo registro foi restrito a área da Fitoquímica da Fazenda Santa Elisa IAC Campinas

NOME CIENTÍFICO

NOME VULGAR     

Coereba flaveola

Cambacica

Cyanocorax chrysops

Gralha do Campo

Furnarius rufus

João De Barro

Gnorimopsar chopi

Pássaro Preto

Icterus cayanensis

Encontro

Leptotila rufaxilla

Gemedeira

Megarynchus pitangua

Bem-te-ví de bico chato

Megascops choliba

Corujinha do Mato

Mivalgo chimachima

Gavião Carrapateiro

Passer domesticus

Pardal

Ramphastus Toco

Tucano

Ramphocelus  carbo

Pipira vermelha

Tyrannus melancholicus

Suiriri

Veniliornis spilogaster

Picapauzinho Verde Carijó

Zonotrichia capensis

Tico Tico

 

5. CONCLUSÕES

 As espécies estudadas estão distribuídas em 15 ordens, 29 famílias e 75 espécies, resultando em 3518 indivíduos registrados

 Embora sendo a área estudada profundamente antropizada, por ser um centro experimental agronômico, constatou-se com o estudo, que a avifauna do local apresenta grande riqueza de espécies, que pode estar relacionada aos diferentes tipos de habitats existentes na fazenda, que propiciam recursos suficientes para a permanência das espécies no local.

O fato de o local do estudo ser um centro experimental agronômico e possuir grandes áreas devastadas para o plantio de experimentos com grãos, propicia a grande proliferação dos columbiformes, que são aves granívoras e aparecem em grande porcentagem na amostra total do estudo.

Comparando as três áreas estudadas conclui-se que o Monjolinho apresenta a maior riqueza de espécies da avifauna da Fazenda Santa Elisa IAC Campinas SP. Esse fato pode estar ligado à maior diversificação na vegetação desse ambiente e suas áreas alagadas, propiciando refúgio e fonte de alimento para várias espécies de aves, entre elas as aquáticas.

A Conservação da Fazenda Santa Elisa IAC Campinas SP é totalmente relevante para a preservação da avifauna da cidade de Campinas. Como a área já foi muito impactada pelas atividades agrícolas, seria extremamente importante que projetos de reflorestamento baseados no conhecimento da avifauna local fossem iniciados.  Dessa forma, espera-se que o presente estudo contribua com informações úteis para futuros projetos nessa questão ambiental.

 

7. REFERÊNCIAS

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 DEVELEY, P. F.; ENDRIGO, E., Guia de campo – Aves da Grande São Paulo. Primeira Edição, Editora Aves e Fotos, São Paulo, 2004, p. 295. 

DORNAS-OLIVEIRA, T. & FIGUEIRA, J.E.C. Levantamento das Espécies de aves de uma lagoa temporária da APA Carste de Lagoa Santa – MG. Livro de Resumos do XII Congresso Brasileiro de Ornitologia, Sociedade Brasileira de Ornitologia, Blumenau, 2004.

 FRISCH, J.; FRISCH C. Aves Brasileiras e as Plantas que as Atraem. 3ª Edição – Editora Dalgas Ecoltec. São  Paulo – SP, 2005.

 MATARAZZO-NEUBERGER, W.M. Guildas, organização e estrutura da comunidade: Análise da avifauna da represa Billings - São Paulo. Tese apresentada à Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor, São Paulo, 1994.

RODRIGUES, M.; MICHELIN, V. B. Riqueza e diversidade de aves de uma lagoa natural no sudeste do Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, Minas Gerais. n. 22, 2005. 

ROSSI, R.F.; ROSSI, J.J.C; ROSSI, R.F. Distribuição de aves na nascente do córrego Cruzeiro, área urbana de Quirinópolis, Goiás, Brasil. p. 01-06, 2005. 

SANTOS, M. P. D. As comunidades de aves em duas fisionomias da vegetação de Caatinga no estado do Piauí, Brasil,  Ararajuba – Revista Brasileira de Ornitologia. n.  12, p. 103-123, 2004. 

SICK, H., Ornitologia Brasileira. Edição revisada e ampliada por José Fernando Pacheco, Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 862 p., 1997 

SILVA, W. R.: ALEIXO, A. L. P. Estudo da diversidade de espécies de aves do estado de São Paulo. Departamento de zoologia do instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas, p. 1- 23, 1996 

COMITÊ BRASILEIRO DE REGISTROS ORNITOLÓGICOS (CBRO). TABELA DE AVES DO BRASIL, 2006, Versão 28/07/2006. Disponível em http/ www.cbro.org.br. Acesso em 05/06/2007 

FAUNA E FLORA URBANAS. Disponível em: http://www2.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/meio_ambiente/fauna_flora/fauna/especies_cidade/aves/0001. Acesso em:  03/10/2006.

OBSERVAÇÃO DE AVES NA FLORESTA DA TIJUCA (Bird Watching).  Disponível em: http://www.terrabrasil.org.br/itb_caminhadas/caminhadas_historico.htm . Instituto Terra Brasil: Rio de Janeiro. Acesso em:  03/10/2006.

INSTITUTO AGRONÔMICO DE CAMPINAS – Fazenda Santa Elisa. Disponível em:http://www.iac.sp.gov.br. Acesso em: 06/11/2006.

 

RESUMO

OTAVIANO, J. S. Variação Temporal e Espacial da Avifauna da  Fazenda Santa Elisa (IAC), Campinas, SP. Campinas, 2007, 63 f. Trabalho de Conclusão de Curso,  Faculdade de Ciências Biológicas  - Centro de Ciências da Vida -  Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

 

As aves são os animais mais bem conhecidos e mais facilmente detectados em ambiente natural. A observação das aves é uma das atividades ligadas ao eco-turismo que mais cresce no Brasil. Consiste em visitar ambientes naturais a procura das aves que lá ocorrem, vendo-as e ouvindo-as, procurando-se identificar as espécies encontradas, tanto por sua aparência como por seu canto. A presença ou ausência de certas espécies, bem como as tendências populacionais podem ser usadas como indicadores de qualidade ambiental.  O objetivo deste trabalho foi o de observar a distribuição espacial da avifauna na Fazenda Santa Elisa (IAC) em Campinas, SP, verificando a variação na quantidade de indivíduos e das espécies durante o dia. Para realização dos estudos de observação, foram escolhidos 3 áreas que representam situações ambientais diferentes. O estudo foi realizado de outubro de 2006 a junho de 2007 utilizando a metodologia de observação em transecções. As espécies estudadas estão distribuídas em 15 ordens, 29 famílias e 75 espécies, resultando em 3518 indivíduos registrados. Os não-passeriformes somaram 47 espécies com 2878 indivíduos registrados totalizando 81% da amostra total, com maior representatividade nas famílias Columbidae com 1736 indivíduos observados (49,35%) e Phalacrocoracidae com 203 indivíduos observados (5,77%).Na ordem dos Passeriformes foram observadas 28 espécies distribuídas em 640 indivíduos (19%), com maior representatividade nas famílias Traupidae com 203 indivíduos observados (5,77%),  Tyrannidae com 116 individuos observados (3,30%), e Icteridae com 96 indivíduos observados (2,73%). A Conservação da Fazenda Santa Elisa IAC Campinas SP é totalmente relevante  para a preservação da avifauna da cidade de Campinas. Como a área já foi muito impactada pelas atividades agrícolas, seria extremamente importante que projetos de reflorestamento baseados no conhecimento da avifauna local fossem iniciados.

 

Termos de indexação: Aves, Avifauna, Variação Temporal, Variação Espacial, Fazenda Santa Elisa (IAC).

 

 

ANEXOS

I - TABELAS BASEADAS NA AMOSTRA TOTAL DO ESTUDO

II - IMAGENS DAS AVES QUE TIVERAM GRANDE PORCENTAGEM DOS REGISTROS NA ÁREA DA PLANTAÇÃO


Jefferson Santana Otaviano possui graduação em Ciências Biológicas pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2007) . Atualmente é Bolsista Treinamento Técnico do Instituto Agronômico de Campinas.
Contato: jeffersonotaviano@yahoo.com.br



Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

OTAVIANO, J.S. Variação temporal e espacial da avifauna da fazenda Santa Elisa (IAC), Campinas, SP. 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_3/passaros/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 07/07/2008

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