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Toxoplasmose

Elizabeth Spósito Filha
Sueli Moda de Oliveira

A toxoplasmose é uma infecção parasitária causada pelo protozoário Toxoplasma gondii. Essa zoonose ocorre em várias partes do mundo e pode acometer aves, répteis, anfíbios e mamíferos, incluindo-se o homem. Nem todos os indivíduos infectados desenvolvem a doença. A maioria das infecções é assintomática. No homem a doença pode ser considerada rara.

Embora exista apenas uma espécie desse protozoário parasitando as diferentes espécies animais, cepas isoladas apresentam comportamentos diferentes com relação à virulência e formação de cistos.

O ciclo desse parasita é complexo. De modo simplificado, pode-se dizer que necessita de dois tipos de hospedeiros: definitivo e intermediário.

Os hospedeiros definitivos são os felídeos, principalmente os gatos, nos quais esse protozoário realiza dois tipos de reprodução. A reprodução assexuada origina taquizoítos livres, com multiplicação rápida, observados na fase aguda da doença, e bradizoítos contidos em cistos, com multiplicação lenta, detectados na fase crônica da infecção. A reprodução sexuada ocorre no epitélio do intestino delgado, produzindo oocistos que são eliminados junto com as fezes. O gato é o único hospedeiro definitivo urbano. Outros felídeos são responsáveis por manter o ciclo em áreas silvestres.

Os hospedeiros intermediários, nos quais o parasita realiza somente a reprodução assexuada, são todos os outros animais, domésticos ou silvestres, e o homem. Nestes hospedeiros encontramos somente as formas de bradizoítos, dentro de cistos, ou taquizoítos livres. Os cistos podem estar presentes em vários tipos de tecidos e órgãos, e os taquizoítos já foram detectados em sangue, sêmen, leite e urina de animais com infecção aguda.

A infecção pode determinar quadros variados, desde a ausência de sintomatologia até o desenvolvimento da doença com manifestações graves, dependendo da imunidade do indivíduo. Má nutrição, estresse, doenças imunossupressoras e transplantes podem agravar a evolução dessa parasitose.

Modos de infecção

Em geral, o modo de infecção mais comum é por via oral, por ingestão de carne crua ou mal cozida, contendo cistos do protozoário, ou de água e frutas ou vegetais crus, contaminados com oocistos de T. gondii.

Outra importante via de infecção é a intra-uterina, denominada transmissão vertical, quando o parasita passa da mãe para o feto durante a gestação.

Na literatura citam-se também outros modos de infecção de menor grau de incidência, como a ingestão de leite não pasteurizado, transfusão sanguínea e transplante de órgãos.

Fatores relacionados com hábitos de higiene, alimentares e culturais, além da ocupação profissional e do clima, têm influência direta na prevalência da toxoplasmose em determinadas regiões.

Gato

Os gatos infectam-se ao serem alimentados com carne crua ou mal cozida ou ao caçarem roedores ou pássaros que contenham cistos ou taquizoítos de T. gondii. Também podem se infectar se ingerirem oocistos do parasita, presentes no ambiente.

O gato começa a eliminar oocistos junto com as fezes de três a dez dias após a ingestão de tecido contendo cistos do protozoário. Os oocistos são eliminados não esporulados, isto é, não infectantes. Os oocistos tornam-se infectantes no ambiente somente depois de um a cinco dias, dependendo da temperatura e da umidade. A excreção dos oocistos pode durar, em média, entre uma a duas ou três semanas, após a primeira exposição do gato ao parasita.

Depois desse período, o gato não elimina oocistos novamente, pois desenvolve imunidade contra o protozoário. Com relação a esse fato, há na literatura relatos de resultados de experimentos que indicam a possibilidade de o gato voltar a eliminar oocistos em condições especiais.

Os oocistos são muito resistentes e podem permanecer viáveis no ambiente durante meses, principalmente pelo hábito desses felinos defecarem e enterrarem suas fezes em terra fofa ou areia.

Normalmente os gatos não apresentam sintomas de infecção pelo T. gondii. Porém, se estiverem com alguma doença imunossupressora, podem desenvolver a toxoplasmose com a seguinte sintomatologia: febre, diarréia, pneumonia, hepatite, inflamação ocular, doenças neurológicas, etc.

A simples observação da presença de oocistos em exame de fezes não é suficiente para se afirmar que o animal está infectado, pois existem outros protozoários, parasitas de gatos, que apresentam oocistos com morfologia e tamanho muito semelhantes ao de T. gondii.

O diagnóstico da infecção no gato deve ser feito por exames sorológicos que detectam a presença de anticorpos antitoxoplasma. O Médico Veterinário, com os resultados destes testes, saberá se o animal tem uma infecção recente ou não e poderá orientar quanto à necessidade de tratamento do felino ou de medidas de prevenção para seus proprietários.

Humanos

Inquéritos sorológicos realizados em vários países, incluindo o Brasil, apontaram altas prevalências de pessoas com anticorpos antitoxoplasma. Na maioria, 80% a 90%, com imunidade normal, a infecção passou despercebida, pois sequer apresentaram sintomatologia.

Em pessoas imunocompetentes, a toxoplasmose pode ser confundida com a gripe comum, sendo os sintomas mais freqüentes: mal estar, dor de cabeça, dor muscular, febre e gânglios aumentados, popularmente denominados de ínguas. Sintomas mais graves da infecção seriam os relacionados aos problemas oculares, que podem variar de uma simples inflamação até a perda da visão.

Em pessoas com a imunidade comprometida pode haver uma reativação da infecção que estava latente, determinando uma doença muito mais agressiva. Isso ocorre com portadores da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, AIDS. Nesses indivíduos, os cistos se rompem e há a liberação dos bradizoítos, comprometendo órgãos vitais como cérebro, pulmões e coração.

Outro aspecto relevante da toxoplasmose é a forma congênita. A ocorrência durante a gestação pode causar: abortamento, nascimento de prematuro, crescimento intra-uterino retardado, morte fetal e malformações severas. Entre as malformações estão: hidrocefalias, calcificações cerebrais, retinocoroidite, hepatoesplenomegalias e retardo mental.

A toxoplasmose integra a rotina sorológica que o Médico solicita no pré-natal, para saber se a paciente já teve a infecção e se isso foi recente. Exames sorológicos específicos detectam dois tipos de anticorpos, IgG e IgM. A combinação dos resultados deles é que irá traçar o perfil sorológico da paciente, diferenciando uma infecção recente de uma crônica.

Uma mulher que está com a imunidade normal e que já teve contato com o T. gondii, em período bem anterior à gravidez, não corre o risco de passar a doença para o feto.

Por outro lado, mulheres grávidas e HIV positivas ou imunocomprometidas podem apresentar uma reativação de infecção latente.

No primeiro trimestre de gestação a probabilidade de transmissão de T. gondii para o feto é menor, mas as conseqüências são mais graves. O risco de transmissão aumenta com o tempo de gestação, mas diminui a gravidade da doença para o feto.

Outros animais

Desde que foi descrito, em 1908, o T. gondii tem sido detectado em várias espécies animais, diretamente por meio de isolamentos em animais de laboratório ou indiretamente por provas sorológicas. Algumas pesquisas também revelaram que determinadas espécies hospedeiras são mais resistentes geneticamente do que outras, e que a patogenicidade das cepas isoladas também pode variar.

A toxoplasmose pode determinar perdas econômicas devido a problemas reprodutivos como abortos, natimortos, fetos mumificados e repetição de cio.

Os sinais clínicos variam e estão relacionados também com a imunidade do animal.

Na epidemiologia da toxoplasmose destaca-se a importância dos portadores assintomáticos entre as espécies de animais domésticos que servem como fonte de alimento para o homem.

Estudos revelaram a presença do parasita em bovinos, caprinos, suínos, ovinos, frango, pato, peru, coelho, entre outros.

A ingestão de carne crua ou mal cozida desses animais pode causar a infecção no homem. O leite não pasteurizado seria outra fonte de infecção, pois o protozoário já foi isolado a partir de leite de cabra com toxoplasmose.

Tratamento

A toxoplasmose pode ser tratada tanto em humanos quanto em animais e, com a utilização de medicamentos, receitados pelo profissional competente, é possível evitar a progressão da doença. A necessidade e o tempo de tratamento são indicados levando em consideração o estado imune do indivíduo e os órgãos afetados.

Prevenção

• Ingerir somente carne bem cozida;
• Lavar bem as frutas e os vegetais;
• Ingerir somente leite pasteurizado;
• Lavar bem as mãos e utensílios após manipular carne crua;
• Usar luvas para praticar jardinagem;
• Cobrir o tanque de areia onde as crianças brincam;
• Alimentar gatos com ração industrializada;
• Não fornecer carne crua ao seu gato;
• Lavar diariamente a caixa de areia do gato e dispensar corretamente as fezes (colocar em sacos plásticos e dispensar junto com o lixo doméstico ou então dispensar diretamente no vaso sanitário);
• Evitar que seu gato se alimente com insetos, roedores e pássaros;
• Manter seu gato em casa;
• Evitar a presença de gatos estranhos;
• Manter a higiene nos diversos ambientes das propriedades rurais, evitando-se, principalmente, a presença de gatos.

Bibliografia consultada

Dubey, J.P.; Beattie, C.P. Toxoplasmosis of animals and man. Boca Raton: CRC Press, 1988. 220p.

Spósito Filha, E.; Amaral, V. do; Santos, S.M.; Macruz, R.; Rebouças, M.M. Toxoplasma gondii em caprinos: isolamento de cepas a partir de diafragmas de animais oriundos do Estado da Bahia e abatidos em matadouros de São Paulo – Brasil. O Biológico, São Paulo, v.49, n.8, p.199-206, 1983.

Spósito Filha, E.; Amaral, V. do; Macruz. R; Barci, L.A.G.; Rebouças, M.M.; Santos, S.M.; Rinald, C.A.S. Toxoplasma gondii em bovinos: evidenciação do parasita a partir de retina e diafragma de animais abatidos em matadouros do Estado de São Paulo – Brasil. Arquivos do Instituto Biológico, São Paulo, v.55, n.1, p.43-47, 1988.

Spósito Filha, E.; Amaral, V. do; Macruz. R.; Rebouças, M.M.; Santos, S.M.; Drumond, L.S. Toxoplasma gondii em ovinos: isolamento do parasita a partir de diafragmas de animais procedentes do Estado do Rio Grande do Sul e abatidos em matadouros de São Paulo para consumo humano. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v.1, n.2, p.117-119, 1992.

Origem: Instituto Biológico - www.biologico.sp.gov.br


Elizabeth Spósito Filha possui graduação em Ciências Biológicas Modalidade Médica pela Universidade de Mogi das Cruzes (1979). Atualmente é Pesquisador Científico do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Animal Instituto Biológico. Tem experiência na área de Parasitologia , com ênfase em Protozoologia de Parasitos.
Contato: sposito@biologico.sp.gov.br

 

Sueli Moda de Oliveira possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade de São Paulo (1977) e especialização em Curso de Técnicas Nucleares em Helmintologia Veter pela Universidade de São Paulo (1987). Atualmente é Pesquisador Científico do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Animal Instituto Biológico. Tem experiência na área de Parasitologia , com ênfase em Helmintologia de Parasitos.
Contato: moda@biologico.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

SPÓSITO FILHA, E; OLIVEIRA, S.M. de Toxoplasmose. 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_3/Toxoplasmose/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 22/07/2008

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