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Aflatoxina em frangos de corte

Eliana Neire Castiglioni Tessari
Ana Lúcia Sicchiroli Paschoal Cardoso
 

As Aflatoxinas (AFL) fazem parte de um grupo de toxinas produzidas por fungos como metabólitos secundários, sendo produzidas pelos fungos Aspergillus flavus, A. parasiticus e A. nominus. As aflatoxinas foram descobertas em 1960, ao provocarem um surto com alta letalidade em perus na Inglaterra conhecido como turkey - X disease. São metabólitos secundários tóxicos produzidos por linhagens fúngicas do gênero Aspergillus, como A. flavus e A. parasiticus. Diversos compostos são conhecidos como aflatoxinas, porém somente as aflatoxinas B1, B2, G1 e G2 possuem importância toxigênica conhecida.

A presença de micotoxinas em grãos e rações, cujo tipo ou estrutura química depende do desenvolvimento de linhagens fúngicas específicas, está sujeita à influência de fatores ambientais como umidade do substrato e temperatura ambiente. Portanto, a contaminação de rações e outros alimentos por micotoxinas pode variar de acordo com as condições ambientais, métodos de processamento ou produção e armazenamento. Depende também do tipo de alimento, já que alguns grãos são substratos mais aptos que outros para o crescimento de determinados fungos.

Quando alimentos contaminados são ingeridos pelos animais, as aflatoxinas são rapidamente absorvidas, afetando principalmente o fígado, levando a distúrbios metabólicos. A degeneração gordurosa hepática e proliferação dos ductos biliares induzem diversas alterações séricas, principalmente constatadas pelo aumento da atividade das enzimas, coagulopatias e diminuição na produção de proteínas. Outros órgãos como intestino, baço, linfonodos e rins também podem sofrer alterações, principalmente em animais monogástricos como aves e suínos.

Os efeitos deletérios das aflatoxinas em frangos são maiores na fase inicial de criação (até os 21 dias de vida), porém o reflexo negativo sobre o ganho de peso é persistente até a fase final de criação.

Os principais sintomas observados nos plantéis contaminados são: imunossupressão, alteração na função hepática, redução na absorção dos alimentos, redução na eficiência alimentar, despigmentação e empenamento irregular. Os sinais clínicos específicos em aves intoxicadas por aflatoxinas incluem anorexia, diminuição do ganho de peso, letargia, palidez da crista, barbela e pés, além de sinais nervosos.

As aflatoxinas exercem efeitos tóxicos sobre a resposta imunológica, causando uma inibição na síntese proteica e, conseqüentemente, uma diminuição na formação dos anticorpos. Essa redução pode resultar em um aumento da susceptibilidade às infecções por bactérias, vírus, fungos e doenças parasitárias. Este efeito imunossupressivo pode estar diretamente relacionado com a inibição da síntese de proteína, incluindo uma diminuição nos títulos de IgG e IgA, redução no número de linfócitos e efeitos sobre a “bursa de Fabricius”.

A imunossupressão é apresentada como um sintoma subclínico com baixos níveis de toxina. Nos casos crônicos, o efeito observado é a acentuada redução na produtividade, caracterizada pela diminuição da velocidade de crescimento e da eficiência alimentar, provocada pela redução do metabolismo protéico e lipídico.

Do ponto de vista econômico, as intoxicações subclínicas causadas por baixos níveis de toxina são importantes por causarem atrofia de órgãos linfóides, interferindo na resposta imune, tornando as aves susceptíveis às doenças infecciosas e parasitárias e fazendo com que não respondam bem à vacinação.

Absorção e metabolismo de aflatoxinas nas aves
 

Uma das causas da extrema toxicidade das aflatoxinas para aves é sua rápida absorção pelo trato gastrointestinal, evidenciada pelo rápido aparecimento de aflatoxinas imediatamente após a ingestão. Uma vez absorvida, a aflatoxinas B1 é prontamente ligada, de forma reversível, à albumina e, em menor escala, a outras proteínas. Formas de aflatoxinas ligadas e não ligadas a proteínas séricas espalham-se pelos tecidos, especialmente o fígado. Depois de depositada no fígado, as aflatoxinas são biotransformadas pelo sistema microssomal hepático em metabólitos muito tóxicos, como aflatoxinas B2a e 2,3 - epóxido de aflatoxinas. Esses metabólitos reativos têm a habilidade de se ligar de forma covalente com constituintes intracelulares, incluindo DNA e RNA, além de alterarem a síntese de proteínas no tecido hepático. Essas ligações de aflatoxinas com proteínas provocam mal funcionamento do fígado, levando a uma profunda alteração nas propriedades funcionais e na síntese das proteínas das aves.

Os efeitos primários da aflatoxicose em aves podem ser utilizados como guia para diagnóstico clínico da doença. A primeira mudança é alteração no tamanho dos órgãos internos. Ocorre aumento de tamanho no fígado, baço e rins, enquanto a bursa e timo estão diminuídos. O fígado de aves com aflatoxicose tem como característica a coloração amarelada e friável, com acentuada infiltração de gordura (Fig. 1). Na aflatoxicose não ocorrem erosões na moela, apesar de muitas aves com lesões características dessa micotoxicose também apresentarem esse tipo de alteração. Cerca de 36% das linhagens de A. flavus, além de produzirem aflatoxinas, também produzem uma outra micotoxina, o ácido ciclopiazônico (CPA), responsável por erosões na mucosa da moela.

 

Fig. 1
A) fígado de frango de corte afetado pela aflatoxina (AFL); B) fígado são.
Foto: David Ledoux, Universidade de Missouri, EUA.

Em surtos de aflatoxicose no campo, uma das características mais marcantes é a má absorção que se manifesta como partículas de ração mal digeridas na excreta das aves. Essa má absorção prejudica a eficiência de conversão alimentar e, conseqüentemente, aumenta o custo da produção. Também se observa, em frangos que recebem aflatoxinas, extrema palidez das mucosas e pernas. Essa pigmentação deficiente parece ser resultado da menor absorção, diminuição no transporte e deposição tecidual dos carotenóides da dieta.

Níveis de tolerância

Em alimentos para consumo animal, matérias primas e rações, o Ministério da Agricultura, através da Portaria MA/SNAD/SFA nº 07 de 09/11/1988, determinou o limite máximo da somatória de AFB1 + AFB2 + AFG1 + AFG2 de 50 μg/kg, sendo válido para qualquer produto, seja para alimentação direta ou como ingrediente para rações.

Medidas de controle para as micotoxinas

O melhor método para controlar micotoxinas em alimentos é prevenir o crescimento de fungos, ou seja, evitar que os fungos encontrem condições favoráveis de crescimento seja no campo ou durante a estocagem. A contaminação dos grãos pode ocorrer devido a condições inadequadas de armazenamento. Procedimentos para redução da umidade dos grãos colhidos e a armazenagem dentro dos padrões recomendados são fundamentais para o controle. Outra alternativa é o uso de inibidores de crescimento fúngico em grãos armazenados como, por exemplo, vários ácidos orgânicos como ácido sórbico, ácido propiônico, acético e fórmico, na forma de seus sais de sódio, cálcio ou potássio. Entre estes o propionato de cálcio é o mais utilizado em rações avícolas.

O controle da atividade dos fungos nas rações das aves e seus componentes tem como premissa básica conseguir matérias primas livres da produção de micotoxinas durante o processo de colheita e armazenagem. Esse controle consiste no uso de medidas que minimizem as perdas econômicas. Dentre elas destacam-se os métodos de detoxicação, para isto têm sido usadas técnicas como a remoção de grãos ardidos e de amoniação (baseado na modificação da molécula de micotoxina). Outro método muito utilizado, particularmente no caso das aflatoxinas, é o uso de argilas de origem vulcânica, os aluminosilicatos e as bentonitas, comercialmente conhecidos como adsorventes e que funcionam como um imã que atrai as micotoxinas. Este processo ocorre no intestino do animal, evitando a absorção da micotoxina. Os adsorventes têm uma vasta área de superfície e moléculas específicas para se ligarem as micotoxinas, neutralizando-as. A eliminação ocorre através das fezes e urina. Estes métodos podem ser ou não efetivos, mas são extremamente caros e economicamente inviáveis.
 

Bibliografia consultada

Phillips, T.D.; Kubena, R.B.; Harvey, D.R.; Taylor, D.R.; Heidelbaugh, N.D. Hydrated sodium clacium aluminosilicate: A high affinity sorbent for aflatoxin. Poultry Science, v.67, p.243-47, 1988.

Cruz, L.C.H. Características gerais das micotoxinas e micotoxicoses. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE MICOTOXINAS E MICOTOXICOSES EM AVES, 1., 1995, Curitiba, PR. Anais. Curitiba: 2003. p.1-13.

Tessari, E.N.C.; Oliveira, A.A.F.; Cardoso, A.L.S.P.; Ledoux, D.R.; Rottinghaus, G.E. Effects of aflatoxin B1 and fumonisin B1 on body weight, and histology of broiler chicks. British Poultry Science, v.47, n.3, p.357-364, 2006.

Origem: Instituto Biológico - www.biologico.sp.gov.br


Eliana Neire Castiglioni Tessari concluiu o mestrado em Zootecnia (qualidade e produtividade animal) pela Universidade de São Paulo em 2004. Atualmente é Pesquisador Científico do Instituto Biológico - Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio Avícola. Atua na área de Imunologia, com ênfase em imunologia aviária. Em seu currículo Lattes os termos mais freqüentes na contextualização da produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: aves, salmonella, coliformes, abatedouro avícola, coliformes, afb1, fb1, parâmetros hematológicos, resposta imunológica humoral, frangos de corte; efeitos tóxicos, água, granjas avícolas e antimicrobiano
Contato: etessari@biologico.sp.gov.br

 

Ana Lúcia Sicchiroli Paschoal Cardoso concluiu o mestrado em Medicina Veterinária pela Universidade de São Paulo em 2004. Atualmente é Pesquisador Científico do Instituto Biológico - Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio Avícola. Atua na área de Imunologia, com ênfase em imunologia aviária. Em seu currículo Lattes os termos mais freqüentes na contextualização da produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: antimicrobianos, aves, escherichia coli,  aspergillus spp., doença respiratória, fungos, campylobacter jejuni, frangos, PCR, hematologia aviária, frangos de corte, Salmonella, afb1, fb1, efeitos tóxicos, água, coliformes, bacteriológico, qualidade da água, rede de abastecimento, teste de sensibilidade.

Contato: alspcardoso@biologico.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

TESSARI, E.N.C; CARDOSO, A.L.S.P. Aflatoxina em frangos de corte. 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_3/aflatoxina/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 05/09/2008

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