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Adubação com manganês para o controle do “amarelão” da mandioca no Extremo Sul da Bahia*

 

Arlene Maria Gomes Oliveira
Luciano da Silva Souza
Jackson Lopes de Oliveira
Luiz Estevão do Nascimento Maia
Gildo Silva Santos

 

            A ocorrência de deficiência em micronutrientes, principalmente manganês e zinco, tem sido observada em diversas culturas. Entretanto, existem poucos relatos de deficiência de manganês em mandioca (Manihot esculenta Crantz). Cultura reconhecidamente rústica, a mandioca adapta-se às mais diferentes condições edafoclimáticas, sendo muitas vezes relegada a áreas marginais, de baixa fertilidade. São encontrados plantios comerciais em todos os estados brasileiros, sendo considerada um dos principais alimentos utilizados pela população de baixa renda.

 

            No Extremo Sul da Bahia, o cultivo da mandioca está praticamente restrito aos agricultores familiares, que a utilizam tanto para a geração de renda como para consumo próprio. Todavia, a produtividade nos municípios dessa região é inferior à média nacional (12 t ha-1), com rendimentos entre 10 a 12 t ha-1. Em muitos municípios do Extremo Sul da Bahia foi observado um grande número de áreas com plantas que, em vários estádios de desenvolvimento, apresentavam as folhas amareladas (Figura 1). Quando o amarelecimento surgia logo no início da brotação, as plantas definhavam e morriam. Quando as plantas desenvolviam-se com um amarelecimento menos intenso, na época da colheita, observava-se que as raízes eram raquíticas ou ausentes. Esse sintoma começou a ser evidenciado após o cultivo intensivo das áreas e foi designado localmente como “amarelão” da mandioca. Com o fim do ciclo madeireiro na região e início da exploração agrícola, inicialmente os agricultores promoviam queimadas e plantio na capoeira, obtendo boas produções devido aos resíduos orgânicos depositados e, pela queima dos restos vegetais, aos minerais liberados. Com a degradação do solo, por um cultivo intensivo e sem rotação de culturas, a mandioca hoje apresenta-se com produtividades muito baixas, não gerando retorno econômico ao produtor. Isto se deve, principalmente, ao fato de os agricultores não utilizarem os adubos necessários para suplementar as deficiências do solo e por não adotarem práticas conservacionistas, como rotação de culturas, pousio e adubação verde.

 

Figura 1. Plantas de mandioca com sintoma do amarelão (A, B e C) e sadias (D).

 

            Existem algumas indicações na literatura sobre a possibilidade do sintoma do amarelão ser advindo da deficiência de micronutrientes, sendo o mais provável o Mn. Como a mandioca é uma planta pouco adubada e os agricultores já inseriram nas suas técnicas o uso de calcário, essa deficiência pode estar sendo agravada pela própria calagem, visto que o uso de adubação com micronutrientes não é uma prática comum. A recomendação para prevenção da deficiência de Mn em mandioca em áreas com histórico de ocorrência do problema é a aplicação de 20 kg de sulfato de manganês por hectare. Porém, plantios estabelecidos na região com o uso desta recomendação ainda apresentaram sintomas de deficiência.

 

            No projeto de Assentamento São Miguel, em Santa Cruz Cabrália (BA), plantas com sintomas do amarelão que receberam aplicações foliares de soluções de sulfato de manganês a 2 e 4%, repetida com 15 dias, apresentaram as brotações novas sadias, com folhas de coloração verde normal, independente da dosagem. Nesse mesmo assentamento, em uma densidade de 16667 plantas ha-1, foram estabelecidos plantios com aplicação, em cobertura, de diferentes doses de sulfato de manganês (26% de Mn), equivalentes a 0, 2, 4 e 8 g planta-1, utilizando a variedade de mandioca Caravela, muito utilizada na região e reconhecidamente sensível ao aparecimento do amarelão. O solo, antes do plantio, apresentou os seguintes atributos químicos, na profundidade de 0-20 cm e 20-40 cm, respectivamente: pH água = 6,3 e 6,0; P (mg/dm3) =1,3 e 1,5; K (mg/ dm3) = 33 e 16; Ca (cmolc/dm3)= 2,0 e 1,1; Mg (cmolc/dm3) = 0,3 e 0,2; Al (cmolc/dm3) = 0,0 e 0,0; H+Al (cmolc/dm3) = 2,1 e 2,1; Mn (mg/dm3) = 6,9 e 2,8; e matéria orgânica (g/kg) = 3,6 e 2,0. Com base nesse resultado, não foi necessária a calagem e as plantas foram adubadas na cova com 20 g de superfosfato simples e, em cobertura, com 9 g de sulfato de amônio e 3 g de cloreto de potássio, 45 dias após o plantio.

 

Aos sessenta dias após plantio, as plantas que não receberam sulfato de manganês apresentaram folhas em tom amarelado enquanto nas demais as folhas se mostraram com coloração normal. Algumas plantas com deficiência tiveram o seu desenvolvimento afetado, com as folhas totalmente amareladas, raquíticas, com hastes finas e internódios curtos, morrendo antes de produzirem. A maior parte das plantas (52% em relação ao estande inicial) presentes nas parcelas que não recebeu sulfato de manganês, ao ser arrancada, não apresentava raízes enquanto as parcelas que receberam a dose de 2 g de sulfato de manganês por planta apresentaram 92% de plantas com raízes.

 

            Para se determinar as doses físicas e produções máximas, a partir dos dados obtidos, estimaram-se modelos quadráticos de superfície de resposta. A adubação com manganês incrementou o número de raízes por hectare e a produção de raízes e de parte aérea, em 113%, 189% e 146%, respectivamente. Segundo os modelos de regressão ajustados, a produtividade sem o uso do manganês ficaria em 6,4 t ha-1, muito inferior à média da região (10 t ha-1), que já é abaixo da média nacional (12 t ha-1), tornando o cultivo da mandioca economicamente inviável em solos carentes desse micronutriente. Porém, a dose máxima física de 5,35 g de sulfato de manganês planta-1 (89 kg ha-1), estimada pelos modelos, mostrou-se muito acima da recomendada e da dose que está sendo praticada pelos agricultores. Além disso, a maior produtividade estimada (18,6 t ha-1) ainda está abaixo do potencial da cultura, mostrando que outros fatores devem ser equacionados para melhorar o desempenho da mandiocultura na área, tais como pousio, rotação de culturas e eliminação da prática de queima dos restos vegetais utilizada pelos agricultores como forma de limpeza da área. Dessa forma, pode-se concluir que a mandioca respondeu positivamente à aplicação de manganês no solo, mostrando ser inviável economicamente o seu cultivo sem a aplicação desse micronutriente nas áreas de ocorrência da carência.

 

            Em função desses resultados e de observações de campo, os agricultores têm usado a dosagem de 1,7 a 2,4 g de sulfato de manganês por planta (30 a 40 kg ha-1) em áreas onde se observa sintomas de deficiência deste micronutriente (menor dose na ocorrência mais leve dos sintomas). Recomenda-se alternar o uso do adubo em plantios consecutivos na mesma área quando do uso de maiores dosagens. No caso de se observar o amarelecimento das folhas das plantas em campo, recomenda-se a aplicação de uma solução de 20 g de sulfato de manganês por litro de água (2%), repetida com 15 dias.

 

* Trabalho Financiado pela Embrapa e CNPq.


Arlene Maria Gomes Oliveira; Luciano da Silva Souza – Pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical

Jackson Lopes de Oliveira – Administrador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

Luiz Estevão do Nascimento Maia; Gildo Silva Santos – Bolsista do CNPq.



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

OLIVEIRA, A.M.G; SOUZA, L.S.; OLIVEIRA, J.L. de; MAIA, L.E.N.; SANTOS, G.S.  Adubação com manganês para o controle do “amarelão” da mandioca no Extremo Sul da Bahia. 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_4/Amarelao/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 06/12/2008

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