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Artrite-Encefalite dos Caprinos (CAE)

Maria do Carmo Custódio S.H. Lara

O Brasil possui um rebanho caprino bastante significativo no contexto pecuário mundial: 12.160.524 cabeças. Na região Nordeste concentra-se o maior número desses animais, representando, aproximadamente 90% do plantel nacional. A estimativa do rebanho de caprinos, nas várias regiões geo-econômicas do Brasil, segundo o IBGE é a seguinte: Região Norte – 327.990 cabeças; Região Nordeste – 10.912.334 caprinos; Região Sudeste – 372.587 animais; Região Centro-Oeste – 166.159 caprinos e Região Sul – 381.454 cabeças.

Mesmo se tratando de um sistema de criação muito antigo em nosso país, a caprinocultura, ainda, apresenta uma série de problemas, que dificultam a produção econômica desses animais e necessitam de urgentes soluções, visando minorar os grandes prejuízos que causam a essa produção agropastoril.

De fundamental importância dentre esses fatores, destacam-se as enfermidades infecto-contagiosas ainda muito comuns nos rebanhos brasileiros, associadas a outras, ainda consideradas como emergentes. Entre elas poderiam ser destacadas as verminoses, as broncopneumonias, as doenças dos recém-nascidos e a linfadenite caseosa, além do mais merecem atualmente destaque a artrite-encefalite dos caprinos (CAE – abreviação do inglês Caprine Arthritis-Encephalitis) e a micoplasmose.

Caprino infectado pelo vírus da CAE apresentando a forma clínica articular da enfermidade: artrite da articulação do carpo

A artrite-encefalite caprina é uma doença exótica, introduzida no Brasil pela inadequada importação de reprodutores de países, que convivem de forma perigosa com a doença. Sua disseminação em nosso país se deu através da indiscriminada distribuição de matrizes, com excelente padrão genético, porém infectadas, em regiões de tradicional criação de caprinos. Vários estados brasileiros já se mobilizaram no sentido de investigar a real situação de seus rebanhos, quanto a infecção dos caprinos pelo vírus da CAE. Todavia, os resultados obtidos têm sido alarmantes, causando grande preocupação aos criadores e aos médicos veterinários, pois os estudos clínico epidemiológicos, conduzidos nos referidos estados brasileiros, têm demonstrado a cada ano o crescente número de animais infectados e a diminuição do número de rebanhos isentos dessa infecção.

Caprino infectado pelo vírus da CAE apresentando a forma clínica articular da enfermidade: artrite da articulação do carpo, atitude, postura e aprumos anormais

Nas várias regiões de criação de caprinos, principalmente de raças leiteiras, têm sido relatados casos clínicos isolados, envolvendo animais infectados pela CAE. Esses casos tornam-se mais freqüentes e evidenciados, sobretudo pelo crescente número de caprinos acometidos por artrites, mamites e pneumonias.

A CAE é uma enfermidade infecciosa viral específica de caprinos, de difícil controle, sobretudo pela indisponibilidade de vacinas e pela ampla distribuição da doença em plantéis de excelente qualidade zootécnica e grande valor econômico. Por sua ampla difusão, a CAE é considerada cosmopolita e causadora de enormes prejuízos à pecuária de inúmeros países produtores de laticínios de excelente qualidades. A enfermidade geralmente tem evolução crônica, caracterizando-se por apresentar longo período de incubação, com evolução clínica lenta, progressiva e inexorável; sendo todos os tipos raciais de caprinos susceptíveis à infecção e à doença.

Cabrito infectado pelo vírus da CAE apresentando a forma clínica nervosa da enfermidade: tetraparesia

Foi inicialmente descrita nos Estados Unidos, sob a forma clínica de leucoencefalomielite dos caprinos, sendo observada quase que exclusivamente em cabritos, na faixa etária de um a quatro meses de idade. A seguir estabeleceu-se que a doença caracterizava-se por quatro formas clinicamente distintas: nervosa, articular, respiratória e mamária. Os prejuízos econômicos decorrentes de qualquer uma das quatro formas clínicas da CAE foram considerados significativos, principalmente pela diminuição do período de vida produtiva do animal: diminuição gradativa da produção de leite, predispondo a glândula mamária às infecções, causando agalaxia e endurecimento da mama, desvalorizando comercialmente os animais de criatórios considerados infectados. Além do mais, o controle sanitário do rebanho é considerado de difícil idealização, condução ou acompanhamento e os programas de controle e/ou de erradicação demorados e muito dispendiosos.

A infecção dos caprinos pelo vírus da CAE foi considerada como um estado vital permanente, pois o vírus persiste no organismo por toda a vida do animal, havendo a possibilidade da viremia ser permanente, fato que facilitaria a transmissão do vírus, através de fômites, agulhas, tatuadores, aplicadores de brincos e material cirúrgico contaminado com sangue de animal infectado. A transmissão da infecção pelo vírus causador da CAE, por via transplacentária ou por monta natural, em caprinos, ainda não foi comprovada de forma insofismável. O aleitamento coletivo adotado em criações intensivas, foi relatado como uma forma de manejo que favoreceria a disseminação da infecção viral.

O diagnóstico da infecção determinada pelo vírus da CAE pode ser estabelecido por métodos indiretos (detecção de anticorpos no soro sangüíneo) ou diretos pelo isolamento ou comprovação da presença do vírus causador da doença.

Os pesquisadores do Laboratório de Raiva e Encefalites Virais do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Sanidade Animal do Instituto Biológico fazem o diagnóstico sorológico da CAE e dão instruções sobre o controle e/ou erradicação da enfermidade aos caprinocultores. Os interessados devem entrar em contato pelo telefone (11) 5087-1779 ou pelo site www.biologico.sp.gov.br.

Origem: Instituto Biológico - www.biologico.sp.gov.br


Maria do Carmo Custódio S.H. Lara concluiu o doutorado em Clinica Veterinária pela Universidade de São Paulo em 2002. Atualmente é Pesquisador Cientifico V do Instituto Biológico - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Animal. Atua na área de Medicina Veterinária, com ênfase em doenças infecciosas e clinica veterinária. Em seu currículo Lattes os termos mais frequentes na contextualização da produção cientifica, tecnológica e artístico-cultural são: equinos, bovinos, caprinos, arterite viral, soroneutralização, encefalite, vírus, herpesvírus, artrite-encefalite caprina e maedi-visna.
Contato: lara@biologico.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

LARA, M.C.C.S.H.  Artrite-Encefalite dos Caprinos (CAE). 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_4/artrite/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 28/11/2008

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