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O benefício do capim na produção de grãos

Dr. Waldo A. R. Lara Cabezas

 

A experimentação agronômica de campo, às vezes nos oferece valiosa informação, de forma acidental, não formalizada num protocolo experimental. Cabe ao pesquisador avaliar a importância desse fato para sua divulgação. Acreditamos que este seja o caso, na medida em que a visualização de fatos não quantificados atende ao diálogo da natureza com o pesquisador. Ainda sem muita divulgação, a modalidade de manejo Santa Fé em sistema plantio direto na região Noroeste Paulista do Estado de São Paulo, para a produção de grãos, mostra sua vantagem podendo ser muito útil a experiência relatada a seguir na adoção da produção de grãos (milho, soja, sorgo, milheto, etc.) sempre em consórcio com capim. Isto é válido tanto para a época de safra como safrinha, rumando para a diversificação na produção agropecuária e diminuindo os riscos de teimar no monocultivo. Pois o capim instalado a baixo custo, na entrelinha da cultura principal, tem todo sentido para complementar a receita, via pastejo animal, e proteger o solo com cobertura viva numa época propícia para a disseminação de plantas daninhas (outono-inverno).

Em área experimental do Pólo Regional Noroeste Paulista, Votuporanga (SP), a instalação de experimentos com determinados requisitos permite a observação de fatos interessantes - fora do planejamento experimental - que assinalam o caminho a ser trilhado. Esses fatos valem mais que muitas palavras.

A figura 1 mostra uma área que foi ocupada por um experimento de milho na safra 2007/2008 que foi submetida ao cultivo exclusivo e, de forma adjacente, na mesma gleba, uma área de cultivo de milho consorciada com brachiaria ruziziensis (área não experimental). A foto tirada em 03/10/2008 mostra a infestação da área, principalmente por “Buva” (Conyza bonariensis), quando o solo fica em pousio, e ausência de plantas daninhas na área ocupada pelo capim na entressafra.

Figura 1. Área experimental adjacente a área comercial mostrando o efeito do manejo em consórcio e excluisivo de milho após a colheita da safra 2007/2008.

              

Na figura 2 pode-se observar em detalhe as diferenças de infestação por plantas daninhas na área de cultivo exclusivo e da área onde o milho foi consorciado com a brachiaria.

 

Figura 2. Áreas adjacentes de milho colhido em sistema de manejo exclusivo e consorciado.

 

No final de outubro de 2008 foi efetuado o dessecamento da área com glifosate para a semeadura da soja da safra 2008/2009. A Figura 3 mostra o contraste entre a área de cultivo exclusivo e consorciado.  O glifosate, como é sabido, não afeta à buva, a qual continuou de pé após a dessecação.  No restante da área, com o capim dessecado, não observou-se infestação de plantas daninhas. Isto representa um custo adicional para o controle seletivo da buva.

Figura 3. Dificuldade no dessecamento da área infestada com buva e ausência de plantas daninhas na área adjacente de capim proveniente do consórcio milho - brachiaria ruziziensis na safra 2007/2008. Foto tirada em 06/11/2008.

 

O dessecamento da resteva de milho em área de cultivo exclusivo contribui para decomposição mais acelerada da palha de cobertura começando a aparecer o solo, (Figura 4), sem a proteção que proporciona o capim para a próxima cultura. Por sua vez a área protegida pelo capim dessecado, contribui para maior retenção de umidade de solo, ausência de concorrência de invasoras e a correspondente liberação de nutrientes reciclados pelo capim.
 

Figura 4. Cobertura total com palha em área de capim dessecado e solo nu em área sem capim.

 

Posteriormente, os efeitos de um e outro manejo se refletiram na emergência da soja semeada em seguida (safra 2008/2009). Houve um atraso nas chuvas nesta época o que acentuou o efeito negativo da condição de solo com menor cobertura de palha, favorecendo a perda de água por evaporação em relação à área que esteve protegida pela palha de capim dessecado. Como resultado na figura 5 se observa - por foto tirada em 19/02/2009, pouco mais de dois meses após a semeadura - a presença de carrapicho (Cenchrus echinatus L.), na área que não teve capim dentro do quadrante que foi cultivado com milho exclusivo. O restante da área não apresenta a concorrência com essa invasora.

 

Em conseqüência, para a região Noroeste Paulista (SP), faça sua opção de cultivo de grãos sempre consorciada com capim.

 

Esta cultura intercalada na cultura principal não concorre com o adubo aplicado na cobertura nitrogenada para a cultura principal devido ao estiolamento que sofre o capim sob o sombreamento dessa cultura. Para esta região é recomendável fazer as semeaduras de ambas as culturas simultaneamente, permitindo um crescimento inicial do capim, o que é necessário para sua reativação após o termino do ciclo da cultura principal. No caso específico do sorgo talvez seja conveniente adiar a semeadura do capim para a fase da cobertura nitrogenada, em vista que seu crescimento é de menor envergadura, podendo facilitar a eventual concorrência com o capim.

 

   Figura 5. Plantas menores em tamanho e com presença de invasoras (setor sem presença de capim).

 

Esta é uma opção valida para qualquer escala de produção: pequena, média ou grande, com o benefício de manter a continuidade das plantas vivas no local de produção. Estando atentos ao comportamento da natureza poderemos assimilar seus sábios conselhos. Gere renda e cuide do seu capital. A final de contas você produtor, como gestor da sua unidade de produção, é quem decide.

 


Dr. Waldo A. R. Lara Cabezas é Pesquisador Científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios - APTA- Polo Regional Noroeste Paulista – Votuporanga (SP).

E-mail: waldolar@terra.com.br    Telefone: 17-3422.2423

Maiores informações e esclarecimentos contatar o pesquisador.



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

CABEZAS, W.A.R.  O benefício do capim na produção de grãos. 2009. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_1/beneficio/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 03/03/2009

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