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Viabilidade do Uso de “Coquetel” Comparado a Leguminosas Solteiras em Sucessão com a Cultura da Soja no Sistema Plantio Direto em Campinas (SP)

por Sandro Roberto Brancalião

          A dinâmica do Sistema Plantio Direto (SPD) no Estado de São Paulo requer estudos que forneçam informações sobre época de semeadura, decomposição da fitomassa, reciclagem de nutrientes e medições que permitam inferir sobre o aporte efetivo de carbono no solo, além da qualidade da matéria orgânica do solo.

         O consórcio de plantas de cobertura em pré-safra pode ser uma estratégia bastante vantajosa em rotação com culturas de verão. Dados preliminares informam um acúmulo de carbono orgânico total (COT) nos primeiros cinco centímetros do solo, após dois anos da instalação dos tratamentos com plantas de cobertura, sendo que o histórico da área experimental são quatro anos com a cultura do milho, precedendo a instalação do Projeto.

         No presente trabalho utilizou-se a soja IAC-23 (Figura 1) para expressar o potencial de reciclagem de nutrientes bem como aferir a produtividade diante do manejo utilizado.

Fig1. Cultura da soja IAC-23 semeada sobre o coquetel

        

Embora o chícharo (Latyrus sativum) seja a mais promissora leguminosa de inverno (Figura 2), adaptada climaticamente a região de Campinas (SP) e apresente um bom recobrimento do solo, a produtividade de fitomassa, não é suficiente para proporcionar boas condições de plantabilidade para a cultura da soja. Ou seja, não reflete em manutenção da umidade, menor amplitude térmica ao longo do perfil e demais premissas que valorizam a tecnologia e explicam a vantagem de semear direto na palha.

 

Fig2. Chícharo no experimento de culturas de cobertura.

 

         Sendo assim, o objetivo do trabalho foi ilustrar o que tem sido feito como alternativa a gramíneas em pré-safra, antecedendo a cultura da soja.

         Utilizaram-se como padrão para regulagem da semeadora as sementes de aveia branca, pois são maiores que as de nabo e milheto. Perfazendo 40 % de aveia branca, 30% de nabo e outros 30% da cultura do milheto.

         A semeadura foi realizada em 30 de maio de 2006 e somente após 25 dias, a emergência foi obtida, por ocasião da precipitação, pois ao longo de todo este período não houve precipitação em Campinas (SP). A emergência das culturas de cobertura estudadas no coquetel seguiu a seguinte ordem: 50% para o nabo forrageiro, 30% para aveia e 20 % para o milheto, diferentemente do depositado na ocasião da semeadura.

         Isto pode ser explicado entre outros fatores pela própria fisiologia da planta em competição, mas também por fatores, tais como: disponibilidade de água, fotoperiodismo, competição inter e intra-específico (Ex: nabiça) com plantas daninhas e luminosidade, além do que logicamente o comportamento diferenciado destas plantas pode ser atribuído as propriedades químicas, físicas e microbiológicas do solo.

         O cultivo intercalar é justificado no consórcio, pois pressupõem que para uma melhor extração de nutrientes é necessário a distribuição eqüidistante de plantas. Contudo ao se utilizar a semeadora de grãs finos, com todas as sementes na mesma linha, reduzindo o espaçamento para 30 cm obteve-se 73% de recobrimento do solo, valor superior a uma leguminosa solteira como o chícharo.

          Vale salientar que nestes três anos agrícolas a mucuna cinza foi uma excelente cobertura do solo, avaliada sete dias após a dessecação química, 85%.

         Ambas as modalidades de rotação, com relação às plantas de cobertura em discussão, quer seja o coquetel (Figura 5), ou a leguminosa solteira, a saber: o chícharo e a mucuna cinza, foram conduzidas com a mesma adubação (100 kg /ha de 8-28-16). Com relação ao chícharo e o coquetel (Figura 3), a produtividade da soja semeada subseqüentemente foi 20% maior sobre o coquetel.

 

Fig 3. Restos culturais do coquetel na fase reprodutiva da cultura da soja IAC-23

 

         O nabo forrageiro tem a capacidade de reciclar enxofre (S) prontamente para a safra subseqüente, e esta característica é bastante importante na síntese de proteínas da cultura da soja.

         Outra característica importante desta brássica, é o seu potencial na produção de óleo, estima-se que com seus grãos obtenha-se 50% de óleo, inclusive para ser estudado como fonte para o biodiesel.

         Neste mesmo experimento realizado no CEC – Santa Elisa do IAC-Campinas (SP), a cultura de cobertura que proporcionou maior recobrimento do solo foi a aveia branca IAC-7, entretanto o objetivo da apresentação destes resultados foi evidenciar a importância do coquetel, comparado apenas a uma leguminosa solteira, no presente caso, o chícharo.

         Com relação a resultados preliminares na avaliação física do solo, realizada em 2007, observou-se uma tendência no pousio de incrementar a agregação do solo, logo abaixo se exemplifica os restos culturais (Figura 4). Embora seja deficiente a cobertura proporcionada, estes resultados sugerem a ação do sistema radicular de plantas voluntárias.

         A produtividade da soja no segundo ano agrícola sobre o coquetel foi de 2400 kg/ha, enquanto que o pousio de inverno (Figura 4) e o chícharo no ano anterior não ultrapassaram 2000 kg/ha. A produtividade da soja sobre resíduos de mucuna cinza foi intermediária, na ordem de 2250 kg/ha.

 

Fig4. Pousio no Inverno e Primavera ( Semeadura apenas no Verão)

 

         Outra característica importante da mucuna cinza e mucuna verde é que ela não reinfesta área, pois não possui dormência, diferentemente da mucuna preta, que é muito agressiva e é disseminada com facilidade no ano posterior.

         A época de semeadura é um fator decisivo na implantação destas plantas de cobertura, portanto não se pode comparar em um mesmo período, já que o chícharo foi semeado no outono e o coquetel na primavera, ficando sempre o SPD na dependência da disponibilidade hídrica, por ocasião da semeadura, e isto interessa sobremaneira ao produtor.

         Além do que os tempos de decomposição destes resíduos de leguminosas, gramíneas e crucíferas são variáveis, também em função de quantidade de chuva, temperatura, época de semeadura e o manejo da fitomassa (mecânico e/ou químico) propriamente dito.

         A cultura da Soja, devido a fixação simbiótica do N, auxilia no incremento de carbono do Solo (Reeves, 1997). Além de a soja manejada sob SPD ser capaz de acumular até 80% do seu N na fixação biológica de nitrogênio (FBN), a proporção do N da cultura exportada, é frequentemente, muito semelhante, deixando, no solo, baixas quantidades de N para as culturas subseqüentes. Para acumular um Mg ha-1 de C no solo na forma de MOS é necessário pelo menos 80 Kg de N ha-1 (Alves et al., 2003).

 

         Diante disso, o sistema de rotação de culturas utilizado pode ter grande influência na produtividade. Sistemas de rotação de culturas que incluem leguminosas aumentam o teor de nitrogênio total dos solos e, conseqüentemente, aumentam as produtividades das culturas subseqüentes.

         Estudos com relação à Dinâmica da Matéria Orgânica do Solo (MOS) estão sendo realizados com uma parceria postulada em 2008 entre o IAC e a EMBRAPA – Instrumentação Agropecuária em São Carlos (SP), com o intuito de ampliar informações sobre MOS em regiões tropicais, cujo inverno seco é característico, sob a Supervisão do Dr Ladislau Martin Neto (Representante da Região Sudeste junto ao Comitê Gestor das Estratégias - CGE da Embrapa).

 

Fig5. Desenvolvimento do coquetel de plantas de cobertura em agosto de 2006 (predomínio do nabo-forrageiro).

 

LITERATURA CITADA

ALVES, B.J.R.; BODDEY, R.M.; URQUIAGA, S. The success of BNF in soybean in Brazil. Plant and Soil, Dordrecht, v. 252, p. 1-9, 2003 

REEVES, D.W. The role of soil organic matter in maintaining soil quality in continuous cropping systems. Soil and Tillage Research, v. 43, p. 131-167, 1997.

 

Equipe:

PqC Dr Edison Ulisses Ramos (APTA- Capão Bonito-Fitotecnia)

PqC Dra Elaine Baia Wutke (IAC-Fitotecnia)

PqC Dr Heitor Cantarella (IAC-Fertilidade do Solo)

PqC Dra  Isabella Clerici De Maria (IAC-Física do Solo)

PqC Dr José Guilherme de Freitas (IAC-Fitotecnia)

            PqC Dr Ladislau Martin Neto (EMBRAPA-MOS e Técnicas Espectroscópicas)

PqC MsC Marcelo Ticelli (APTA- Colina-Fitotecnia)

PqC Dr  Sandro Roberto Brancalião (IAC-Dinâmica da MOS)

PqC Dra Sonia Carmela Falci Dechen (IAC-Conservação do Solo)

 

 


Sandro Roberto Brancalião possui graduação em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista - Jaboticabal (1999), mestrado em Agronomia (Agricultura) - Unesp-Botucatu (2002) e doutorado em Agricultura - Unesp-Botucatu (2005). Atualmente é pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Manejo e Física do Solo, atuando principalmente nos seguintes temas: estrutura do solo, estabilidade de agregados, cereais no inverno, nitrogênio, milheto, sistema plantio direto, cultura da soja, desenvolvimento, matéria orgânica do solo, fracionamento da matéria orgânica do solo, dinâmica da matéria orgânica do solo, reciclagem de nutrientes, culturas de cobertura, culturas de reforma para cana-de-açúcar, integração lavoura & pecuária e manejo do solo.
Contato: brancaliao@iac.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

BRANCALIÃO, S.R.  Viabilidade do uso de “coquetel” comparado a leguminosas solteiras em sucessão com a cultura da soja no sistema plantio direto em Campinas (SP). 2009. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_1/coquetel/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 20/01/2009

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