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Fungos em plantas medicinais, aromáticas e condimentares – solo e semente

Pedro Carlos Kruppa
Olga Maria
Ripinskas Russomanno

Desde há muito tempo é conhecida a importância das plantas medicinais, aromáticas e condimentares nas necessidades humanas. Porém, só recentemente houve um aumento significativo no cultivo e na comercialização dessas plantas, devido às inúmeras pesquisas demonstrando seus efeitos fitoterápicos. As ervas aromáticas e condimentares têm sido empregadas com freqüência no preparo de alimentos, dando-lhes aroma, sabor ou aspecto agradável, além de ajudar na sua conservação.

Com a expansão do cultivo dessas plantas no país e sem um manejo fitossanitário adequado, torna-se inevitável o surgimento e/ou agravamento de problemas causados por doenças fúngicas. Os prejuízos podem ocorrer tanto pela diminuição da produção agrícola, em decorrência da incidência de doenças, como por alterações produzidas na composição da planta, podendo afetar suas propriedades terapêuticas e sabor. As doenças fúngicas das plantas medicinais, condimentares e aromáticas, além de serem causadas por fungos da parte aérea, também são causadas por fungos de solo e de sementes.

Fungos de solo

Os fungos de solo afetam principalmente a semente, a raiz, o colo, o sistema vascular e os órgãos de reserva (tubérculos e bulbos) das plantas. Eles podem provocar podridão de sementes, na fase de semeadura, ou interferir na germinação e no crescimento das plântulas, prejudicando a formação de canteiros e viveiros. O ataque na raiz, no colo e no sistema vascular compromete a absorção de água e de nutrientes, afetando o desenvolvimento normal da planta, causando redução do crescimento, murcha e, conseqüentemente, o seu tombamento e morte.

As espécies de fungos de solo que causam doenças em plantas pertencem geralmente aos gêneros Cylindrocladium, Fusarium, Phytophthora, Pythium, Rhizoctonia, Rosellinia, Sclerotium e Verticillium. São parasitas facultativos que sobrevivem, na ausência do hospedeiro, em restos de cultura e na matéria orgânica do solo. Alguns são considerados habitantes do solo, outros são invasores. O patógeno penetra nas raízes através de ferimentos de natureza mecânica ou provocados por insetos e nematóides. As ocorrências mais freqüentes de fungos de solo que causam doenças em plantas medicinais, condimentares e aromáticas no Brasil, são as seguintes:

- Cylindrocladium spp. em chá-preto (Camellia sinensis), cupuaçu (Theobroma grandiflorum), erva-mate (Ilex paraguariensis) e guaraná (Paullinia cupana).

- Fusarium oxysporum em alecrim (Rosmarinus officinalis) (Fig. 1), estévia (Stevia rebaudiana), gengibre (Zingiber officinale), gergelim (Sesamum indicum), mamona (Ricinus communis), manjericão (Ocimum basilicum) (Fig. 2), manjericão-anão (Ocimum minimum) (Fig. 3) e maracujá (Passiflora edulis).

 

Fig. 1 - Fusarium oxysporum causando lesões no caule de alecrim (Rosmarinus officinalis)
 

Fig. 2 - Murcha causada por Fusarium oxysporum em manjericão (planta da direita)
 

Fig. 3 - Murcha causada por Fusarium oxysporum em manjericão-anão (planta da direita)
 

- Fusarium solani em maracujá (Passiflora edulis) e pimenta-do-reino (Piper nigrum).

- Fusarium spp. em erva-de-santa-maria (Chenopodium ambrosioides), erva-mate (Ilex paraguariensis), erva-de-bicho (Polygonun persicaria), língua-de-vaca (Talinum triangulare), maracujá (Passiflora spp.), picão-branco (Galinsoga parviflora), serralha (Sonchus oleraceus) e urucum (Bixa orellana ).

- Phytophthora spp. em alcachofra (Cynara scolymus), cupuaçu (Theobroma grandiflorum), gergelim (Sesamum indicum), guaraná (Paullinia cupana), maracujá (Passiflora spp.), pimenta (Capsicum sp.) e pimenta-do-reino (Piper nigrum).

- Pythium spp.em alcachofra (Cynara scolymus), erva-mate (Ilex paraguariensis), gengibre (Zingiber officinale) e pimenta (Capsicum sp.).

- Rhizoctonia solani em alcachofra (Cynara scolymus), alecrim (Rosmarinus officinalis), gergelim (Sesamum indicum), guaraná (Paullinia cupana), lavanda (Lavandula sp.), maracujá (Passiflora edulis), pimenta (Capsicum sp.), salsa (Petroselinum spp.), sálvia (Salvia officinalis) e tomilho (Thymus vulgaris).

- Rhizoctonia sp. em erva-mate (Ilex paraguariensis), cupuaçu (Theobroma grandiflorum ) e gengibre (Zingiber officinale).

- Roselinia sp. em chá-preto (Camellia sinensis), erva-mate (Ilex paraguariensis) e estévia (Stevia rebaudiana ).

- Sclerotinia sclerotiorum em alcachofra (Cynara scolymus), maracujá (Passiflora spp.) e pimenta (Capsicum sp.).

- Sclerotium spp. em alcachofra (Cynara scolymus), gergelim (Sesamum indicum), graviola (Annona muricata), hortelã (Mentha spp.), maracujá (Passiflora edulis) e pimenta (Capsicum sp.).

- Verticillium albo-atrum em gergelim (Sesamum indicum).

- Verticillium dahliae em alcachofra (Cynara scolymus) e hortelã (Mentha spp.).

Fungos de sementes

A maioria das espécies de plantas medicinais, condimentares e aromáticas é propagada por sementes. As sementes são consideradas um dos meios mais eficientes de disseminação e transmissão de patógenos às plantas e isso possibilita a introdução de doenças nas áreas de cultivo, podendo causar prejuízos na produção agrícola. A associação do fungo com a semente propicia a sobrevivência do patógeno por longos períodos de tempo e os prejuízos vão desde o apodrecimento das sementes, provocando falhas na germinação, à podridão de raízes causando morte de plântulas, ou posteriormente, o aparecimento de manchas foliares, resultando em plantas mal desenvolvidas e menos produtivas.

A ocorrência de gêneros de fungos em sementes em plantas medicinais, condimentares e aromáticas no Brasil é grande, porém, podem-se destacar Alternaria, Aspegillus, Bipolaris, Cladosporium, Curvularia, Epicoccum, Fusarium, Mucor, Penicillium, Pestalotiopsis, Phoma, Rhizopus e Trichoderma, como os de maior freqüência. As espécies dos gêneros Aspergillus, Epicoccum, Mucor, Penicillium, Rhizopus e Trichoderma são consideradas contaminantes em sementes. Cladosporium, Curvularia (Figs. 4 e 5) e Pestalotiopsis também aparecem como contaminantes em sementes mas, em alguns casos, atuam como patógenos e, dependendo da espécie fúngica e da planta hospedeira, podem ocasionar doenças. Os gêneros Alternaria (Figs. 6 e 7), Bipolaris (Fig. 8), Fusarium (Fig. 9) e Phoma (Fig. 10) possuem espécies que podem causar importantes doenças, conforme o hospedeiro envolvido.

 
Fig. 4 - Crescimento de Curvularia lunata em semente de manjericão (Ocimum basilicum)
 
Fig. 5 - Curvularia lunata causando lesão em plântula de manjericão (Ocimum basilicum)
 
Fig. 6 - Alternaria alternata crescendo na semente e plântula de manjericão (Ocimum basilicum)
 
Fig. 7 - Alternaria alternata causando morte de plântula de manjericão (Ocimum basilicum)
 
Fig. 8 - Crescimento de Bipolaris sp. em semente de manjericão (Ocimum basilicum)
 
Fig. 9 - Crescimento de Fusarium moniliforme em semente de funcho (Foeniculum vulgare)
 
Fig. 10 - Phoma sp. causando a morte de plântula de manjericão (Ocimum basilicum)
 

O Aspergillus e Penicillium são fungos de armazenamento e a sua presença, geralmente, indica má qualidade ou problemas na conservação das sementes. Eles podem provocar alterações físico-químicas nos tecidos das sementes, causando perda de lipídeos, carboidratos, proteínas e aumento de ácido graxo, comprometendo suas propriedades terapêuticas e sabor. Além disso, Aspergillus e Penicillium, juntamente com o Fusarium, possuem espécies produtoras de micotoxinas que são prejudiciais à saúde humana.

Controle

O controle das doenças fúngicas em plantas medicinais, condimentares e aromáticas deve ser feito preferencialmente pelo emprego de variedade resistente e pelo uso de semente, muda e material propagativo livre de fungos. É recomendável que as sementes e mudas sejam adquiridas de fornecedores idôneos que garantam a sua procedência, qualidade e vigor. No caso de utilização de sementes colhidas de plantas nativas ou cultivadas pelo próprio produtor, elas devem ser retiradas de plantas sadias e vigorosas e a semeadura deve ser observada por algum tempo, para evitar a disseminação de doenças. O emprego de sementes sadias e de alto vigor evita a introdução de patógenos nos canteiros, viveiros e no campo e, quando semeadas a uma profundidade adequada, possibilitam a rápida emergência e crescimento das plantas, permanecendo por menos tempo suscetíveis aos patógenos.

O controle de patógenos que ocorrem no solo é difícil, pois esse ambiente é muito complexo, além disso, alguns fungos sobrevivem nesse meio por longos períodos de tempo, dificultando sua erradicação. O emprego de variedades resistentes nem sempre é viável, pois a agressividade de alguns patógenos e a falta de especificidade de outros, em relação ao hospedeiro, dificultam a obtenção de variedades resistentes. Assim, a adoção das seguintes práticas culturais pode colaborar na redução dos danos causados por fungos: evitar o plantio em área com incidência de doenças; realizar rotação de cultura, utilizando plantas não hospedeiras do patógeno; eliminar restos culturais e  plantas daninhas; empregar adubação equilibrada, sem excesso de nitrogênio; espaçar corretamente, evitando alta densidade de plantas no canteiro e no campo; plantar em solos com boa drenagem, sem excesso de umidade; podar os ramos em arbustos e árvores e eliminar as partes doentes da planta.

O uso de fungicidas no tratamento de sementes e do solo nos locais destinados ao cultivo de plantas medicinais, aromáticas e condimentares não é recomendado. Entretanto, um levantamento realizado por pesquisadores do Instituto Biológico constatou que sementes comerciais desse grupo de plantas são tratadas com captan ou thiram, por algumas empresas sementeiras. Essa prática, além de ser pouco eficiente para algumas espécies fúngicas, deve ser evitada devido à possível contaminação causada pelos resíduos químicos dos fungicidas no meio ambiente, podendo afetar a saúde humana.

Atualmente, novas técnicas culturais na agricultura têm empregado métodos menos agressivos ao ambiente para o controle de doenças. O controle biológico, utilizando organismo antagônico como Trichoderma ou simbiontes como as micorrizas, aplicados no solo, em sementes ou material propagativo, pode constituir-se em medida para o controle de patógenos. A utilização de extratos vegetais brutos ou óleos essenciais (Fig. 12) também se mostra promissora no controle de fitopatógenos.

Ainda, o uso da solarização ( link 1 - link 2 ) é uma prática que vem se tornando viável no controle de alguns fitopatógenos do solo. É um método de desinfestação do solo que controla patógenos, pragas, nematóides e ervas-daninhas pelo uso da energia solar. O efeito da elevação da temperatura na superfície do solo pela solarização é prejudicial a vários organismos que vivem nesse ambiente. Espécies fitopatogênicas de Fusarium, Phytophthora, Pythium, Sclerotium, Sclerotinia, Verticillium, Rhizoctonia, entre outras, são controladas por esse método.

Outras práticas culturais como a desinfestação de ferramentas utilizadas nas operações de tratos culturais, a inundação da área infestada pelo patógeno ou a aração profunda, podem dar bons resultados. É importante que os canteiros e viveiros sejam vistoriados regularmente, observando o aparecimento de doenças logo no seu inicio, evitando-se assim, a disseminação de fungos.

A utilização de medidas de controle está condicionada a determinados fatores, como custo de operação, eficiência do controle, viabilidade de execução e natureza do hospedeiro e do patógeno envolvidos. O controle de patógenos do solo geralmente é bem sucedido quando feito em condições de viveiro ou em pequenas áreas plantadas.

O Laboratório de Micologia Fitopatológica, do Centro de P&D de Sanidade Vegetal do Instituto Biológico, vem realizando diagnósticos de fungos em sementes (Fig. 11) e em plantas medicinais, condimentares e aromáticas. Alguns fungos citados foram detectados em materiais procedentes de diversas regiões do Brasil e enviados por produtores na forma de consultas. Pesquisas envolvendo o controle de Fusarium oxysporum, utilizando o óleo de Nim (Azadirachta indica) (Fig. 12), e micorrizas (Glomus clarum e G. etunicatum) em manjericão (Fig. 13) e alecrim (Fig. 14), realizadas pelos pesquisadores do Laboratório, têm demonstrado a eficiência desses métodos no controle de fungos fitopatogênicos.

Fig. 11 - Teste de sanidade de sementes pelo método do papel de filtro
 

Fig. 12 - Efeito do óleo de nim no crescimento micelial de Fusarium oxysporum
 

Fig. 13 - Efeito de micorrizas no desenvolvimento de manjericão (Ocimum basilicum)
 

Fig. 14 - Efeito de micorrizas no desenvolvimento de alecrim (Rosmarinus officinalis)
 

Bibliografia consultada

Agrios, G. N. Plant Pathology. 4.ed. San Diego: Academic Press, 1997. 635p.

Bedendo, I.P. Grupos de doenças. In: Bergamin Filho, A., Kimati, H., Amorim, L. (Eds.) Manual de Fitopatologia. Princípios e Conceitos. 3. ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 1995. v.1, p.805-880.

Kruppa, P.C.; Russomanno, O.M.R. Fungos associados a sementes de plantas medicinais, aromáticas e condimentares da família Apiaceae. O Biológico, São Paulo, 68 (Supl.2), p.392, 2006.

Kruppa, P.C.; Russomanno, O.M.R. Ocorrência de fungos em sementes de plantas medicinais, aromáticas e condimentares da família Lamiaceae. Tropical Plant Pathology, Brasília, v.33, n.1, p.72-75, 2008.

Mendes, M.A.S.; Silva,V.L.; Dianese, J.C.; Ferreira, M.A.S.V.; Santos, C.E.N.; Gomes Neto, E.; Urben, A.F.; Castro, C. Fungos em Plantas no Brasil. Brasília DF: Embrapa, 1998.

Neergaard, P. Seed Pathology. London: The Macmillan Press, 1979.v.1, 739p.

Origem: Instituto Biológico - www.biologico.sp.gov.br


Pedro Carlos Kruppa concluiu o mestrado em Agronomia (Proteção de Plantas) [Botucatu] pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho em 1993. Atualmente é Pesquisador Cientifico do Instituto Biológico - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal. Atua na área de Agronomia, com ênfase em Fitopatologia. Em seu currículo Lattes os termos mais frequentes na contextualização da produção cientifica, tecnológica e artístico-cultural são: fungos, controle químico, Thea sinensis, trigo, Bipolaris sp, Corticium koleroga, gramíneas forrageiras, Alternaria solani, antracnose e batata.
Contato: pckruppa@biologico.sp.gov.br


Olga Maria
Ripinskas Russomanno possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade de Mogi das Cruzes (1977), mestrado em Agronomia (Proteção de Plantas) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1996) e doutorado em Agronomia (Proteção de Plantas) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2006). Atualmente é pesquisador científico do Instituto Biológico - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Fitopatologia (Micologia Fitopatológica), atuando principalmente nos seguintes temas:fungos fitopatogênicos; fungos produtores de toxinas; fungos de solo; forrageiras e rações; plantas medicinais, condimentares e aromáticas; plantas ornamentais; palmeiras (Família Arecaceae); fungos micorrízicos arbusculares; controle alternativo.
Contato: russomano@biologico.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

KRUPPA, P.C.; RUSSOMANO, O.M.R.  Fungos em plantas medicinais, aromáticas e condimentares – solo e semente. 2009. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_1/Fungos/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 19/01/2009

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