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Segurança alimentar e horticultura agroecológica familiar

Ivo de Sá Motta

O termo segurança alimentar tem entre seus significados “alimento para todos, com qualidade e quantidade* *suficientes”. A qualidade dos alimentos diz respeito, principalmente, ao seu valor nutritivo. Na alimentação humana, as exigências nutricionais estão relacionadas às proteínas (carnes, leite, ovos, feijão, soja, entre outros), carboidratos (arroz, milho, trigo, mandioca, etc.), lipídeos (óleos vegetais e gorduras animais), vitaminas e sais minerais (principalmente frutas e hortaliças). Uma refeição completa e bem balanceada precisa ter todos os nutrientes essenciais. Incluir frutas e hortaliças nas refeições significa enriquecer a alimentação com vitaminas e sais minerais. Alimento com qualidade, isto é, saudável, significa também alimento sem resíduos de agrotóxicos e sem aditivos químicos (muito usados nos alimentos industrializados). Por isso, de uma maneira geral, é preferível consumir alimentos frescos (“in natura”) e, sempre que possível, produzidos de forma agroecológica (orgânica).

Em relação à quantidade de alimentos, é previsível que ocorrerá um aumento de consumo proporcional ao aumento da população: atualmente a população mundial já ultrapassa seis bilhões de habitantes, e até o ano de 2050 ultrapassará o total de 9 bilhões, ou seja, um aumento na ordem de 50% em 40 anos.

No Brasil, tem-se a perspectiva favorável para o aumento da oferta de alimentos. Existem áreas de terra a serem exploradas de forma mais eficiente e agricultores, trabalhadores rurais para atender as atividades agrícolas. De uma forma simplificada, pode-se dizer que dentre os principais fatores de produção agrícola, a terra e mão-de-obra são suficientes, mas em muitas situações falta o capital, ou seja, faltam recursos financeiros para insumos, equipamentos e instalações.

Existem atividades agrícolas que demandam recursos financeiros em quantidades relativamente baixas, como por exemplo, a produção orgânica de hortaliças em escala familiar. Neste caso, o principal fator limitante é a falta de conhecimento. Conhecimento de técnicas agrícolas que buscam o uso sustentável dos recursos naturais: solo, água, ar e biodiversidade (animais, vegetais e microorganismos). Produzir com eficiência econômica, sem poluir, sem degradar, aproveitando racionalmente os recursos locais existentes, com menor dependência de recursos externos.

Fica evidente, ao se conhecer a realidade atual da agricultura familiar do Mato Grosso do Sul (agricultor familiar tradicional, assentados, indígenas, quilombolas e pescadores), a carência de recursos financeiros (capital) e de assistência técnica (conhecimento). Ao se falar em agricultores de baixa renda, entende-se que são necessárias estratégias emergenciais para alcançar efetivamente o desenvolvimento rural e, ao mesmo tempo, o aumento da produção de alimentos em quantidade e qualidade.

Para o desenvolvimento rural com sustentabilidade, é fundamental investir na educação da população, por meio de escolas bem estruturadas e professores motivados e preparados, inseridos no meio rural. Mas também, outra forma de levar o conhecimento para as famílias do campo, é por meio da assistência técnica e extensão rural.

Entre as estratégias existentes, em nível nacional, de promoção do desenvolvimento rural com sustentabilidade, vale a pena destacar o sistema Produção Agroecológica Integrada Sustentável (PAIS) - apoiado pelas instituições: Fundação Banco do Brasil, Sebrae, Ministério da Integração Nacional, Petrobrás, Agraer, Embrapa, Prefeituras Municipais, integrados a uma grande rede de organizações não governamentais, entre elas Associações de Produtores Rurais.

Este sistema é uma tecnologia voltada para o agricultor familiar e consiste em horta com formato circular, com um galinheiro ao centro. Em um terreno anexo tem-se o quintal agroecológico. No conjunto, consiste numa produção agroecológica (orgânica) diversificada de alimentos: hortaliças, frutas, plantas medicinais, milho, feijão, mandioca, frangos e ovos entre outros.

No PAIS adotam-se as práticas agroecológicas, entre as principais: compostagem, vermicompostagem (húmus de minhoca), uso de biofertilizantes e defensivos alternativos (caldas, extratos de plantas, produtos biológicos e outros), cultivos consorciados (plantas companheiras), adubação verde, barreiras vegetais, rotação de culturas, plantio direto e variedades resistentes.

É importante ressaltar que com a produção diversificada de alimentos, incluindo frutas e hortaliças, o agricultor e sua família terão uma alimentação melhor balanceada e desta forma mais saúde, com maior resistência a doenças e mais disposição para o trabalho, entre outros benefícios. Além de atender o auto-abastecimento, o sistema pode gerar excedentes que poderão ser comercializados.

Como diz o velho ditado, ao invés de darmos o peixe a quem necessita, devemos ensiná-lo a pescar. A Embrapa Agropecuária Oeste, em parceria com a Agraer, tem realizado pesquisas em horticultura orgânica e treinamentos para estudantes, técnicos e agricultores, com o objetivo de gerar e difundir tecnologias para esta atividade agrícola.


Ivo de Sá Motta concluiu o doutorado em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Estadual de Maringá (2005). Atualmente é Pesquisador em Agroecologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS). Atuou no IAPAR - Instituto Agronômico do Paraná e na EMATER/PR - Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Fitotecnia, atuando principalmente nos seguintes temas: Agroecologia, Agricultura Orgânica, Agricultura Familiar, Fruticultura Tropical, Sistemas Agroflorestais.



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

MOTTA, I.S.  Segurança alimentar e horticultura agroecológica familiar. 2009. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_1/SegAlimentar/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 16/01/2009

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