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Altas lotações nas pastagens: uma técnica viável para ovinos

 

Luiz Eduardo dos Santos

Eduardo Antonio da Cunha

Mauro Sartori Bueno

Cecília José Veríssimo

 

A afirmativa de se poder criar ovinos em sistema intensivo de pastejo, utilizando-se forrageiras de elevada produtividade, como os capins do gênero Panicum (Aruana ou o Tanzânia), com lotação média de 35 ovelhas/ha/ano é baseada em anos ininterruptos de utilização desse sistema, na Unidade de Ovinos, do Instituto de Zootecnia/SAA, em Nova Odessa (SP), obtendo-se índices zootécnicos expressivos, notadamente em cruzamentos com ovinos deslanados da raça Santa Inês, abaixo relacionados:

 

Parâmetros

índices

Peso ao nascer*

3,5 - 4,0 kg

Peso vivo ao desmame*

15,0 - 17,0 kg

Idade ao desmame

45 - 60 dias

Ganho diário de peso vivo pré desmame*

0,240 - 0,280 kg

Peso vivo do cordeiro ao abate*

28,0 - 30,0 kg

Idade ao abate*

95 a 110 dias

Ganho diário de peso vivo pós desmame*

0,200 - 0,240 kg

Rendimento de carcaça*

42 - 44 %

Lotação média de pastagens**

35 cab./ha/ano

Fertilidade **

85 - 90 %

Número de ovelhas paridas**

26 cab./ha

Intervalo médio entre partos**

7,5 – 8,0 meses

Número médio de parições/matriz/ano**

1,5

Prolificidade média**

145%

Mortalidade até 120 dias de idade**

5%

* referentes a cruzados Suffolk x Santa Inês ou Ile de France  x Santa Inês

** referentes a matrizes Santa Inês

        

Estes índices tem sido obtidos dentro das seguintes condições de criação:

 

*     A lotação média preconizada para o nosso sistema  é de 35 matrizes/ha/ano.

*     A produção média do capim Aruana é de 19 t de Matéria Seca/ha/ano, nas condições de manejo com lotação rotacionada (7 a 15 dias de ocupação e 30 a 45 dias de repouso, conforme a época do ano), com uso de cerca eletrificada, em faixas, e número variável de piquetes; com adubação anual com 150 kg de N/ha subdividida em duas aplicações, sendo 2/3 no final do “período das águas” (abril/maio) e 1/3 no início do “período das águas” seguinte (setembro/outubro).

*     A proposta do Instituto, para produção de carne de cordeiro, no Estado de São Paulo, baseia-se na utilização de ovelhas da raça Santa Inês, com peso vivo médio de 60 kg, em cruzamento com reprodutores de raças de corte tais como Suffolk, Ile de France, Poll Dorset e Texel.

*     O consumo diário médio estimado de MS por matriz é de 2,7% do peso vivo, variando de 2,3% nos períodos pós-desmame e de início de gestação até 3,0% no terço final de gestação. Todavia, para efeito de calculo de lotação e considerando-se as perdas durante o pastejo (pisoteio e acamamento) utilizamos o valor máximo (3% do PV)

*     Nas nossas condições de produção o intervalo entre partos é de 7 a 8 meses, ou seja, são obtidas 3 parições a cada 24 meses, o que representa 1,5 parições/ano.

*     Dentro do sistema utilizado em Nova Odessa, as matrizes permanecem nas pastagens até o parto, quando são recolhidas às baias e mantidas confinadas até o desmame, com período de 45 a 55 dias (média de 50 dias), sendo alimentadas com capim Napier cv Guaçu (no verão) e silagem (inverno). Nesse período recebem suplementação com concentrados (média de 0,5 a 1% do PV, conforme o número de crias).

*      Com base nisso considera-se que cada matriz permanece confinada por 75 dias durante o ano. Esse período é obtido pela multiplicação do número médio de parições (1,5 parição/matriz/ano) pelo período médio de aleitamento (50 dias).

*     Dessa maneira considera-se que cada matriz permanece em pastagem por um período médio de 290 dias por ano, resultante da subtração do período de confinamento para aleitamento (75 dias) do total de dias do ano (365 dias).

*     Dessa maneira temos:

kg de PV x 3% = 1,8 kg de MS de forragem/dia

x 290 dias = 522 kg de MS/cabeça/ano

kg x 35 matrizes = 18270 kg de MS/ano

 

Lotes de borregas Ile de France em pastagem de capim Aruana

 

Verifica-se que a exigência em forragem, em termos de Matéria Seca, para manutenção de uma lotação média de 35 cabeças/ha/ano, da ordem de 18.270 kg, enquadra-se plenamente na estimativa de produção de 19 t de MS/ha/ano, sendo esse o valor médio obtido em mais de nove anos de trabalho com essa forrageira, nesse sistema de manejo, com limites de 18 a 21 t/ha/ano.

 

Acrescentamos que, nos últimos dois anos, com a utilização de irrigação e de plantio estratégico de forrageiras de inverno (aveia, azevém e trevo branco), semeadas a lanço sobre o Aruana, no outono, obtivemos aumento significativo da produção de forragem, refletindo no aumento da disponibilidade de MS tanto no inverno, como no total do ano. Realçamos que estas observações ainda não podem ser consideradas definitivas, necessitando-se de um tempo maior de acompanhamento das respostas de produção, para que possa ser apresentada como tecnologia viável, todavia elas indicam o enorme potencial de crescimento da atividade e a possibilidade de sua intensificação.

 

Vale frisar, ainda, que os sistemas de criação abordados e as tecnologias apresentadas foram desenvolvidas especificamente para as condições do Estado de São Paulo, em termos de suas características edafo-climáticas e sócio-econômicas, incluindo o perfil da distribuição agrária,  bem como da realidade do mercado consumidor, podendo, desde que feitas as devidas adequações, serem aplicadas em boa parte da região Sudeste. Isto deve ser levado em conta quando se buscam alternativas para regiões com características muito diversas das verificadas em São Paulo.

 

Reafirmamos: “nas condições do Estado de São Paulo e parte considerável da Região Sudeste do País, a utilização de lotação média de 35 cabeças/ha/ano e dentro das condições já definidas de exploração, é técnica viável”. E, com base nos dados já obtidos, níveis de lotação mais elevados de lotação poderão ser alcançados, quando adotados níveis de adubação compatíveis, forrageiras de alta produtividade e com utilização de irrigação.

 

Quanto à validade de utilização do pastejo com rebaixamento acentuado da forragem (10 a 15 cm de altura), esclarecemos: o manejo com lotação rotacionada, com utilização do rebaixamento drástico da forragem, é recomendação específica visando a diminuir o nível de infestação das pastagens por larvas de helmintos. Tal prática resulta na redução significativa no número de larvas infestantes e na inativação de parte considerável dos ovos, em função de uma maior exposição dos parasitas à radiação ultravioleta e da dessecação decorrente do efeito da associação de insolação intensa, ventilação e temperatura elevada.

 

Essa técnica de manejo, em uso a mais de 10 anos, tem se mostrado efetiva como “prática complementar” no controle da verminose, todavia exige acompanhamento rigoroso das condições da forrageira e do nível de nutrientes no solo, além de extremo respeito ao período de descanso, de modo a possibilitar a recuperação das reservas de nutrientes da planta, reservas essas a serem utilizadas para a rebrota após um novo ciclo de pastejo.

 

Quanto à diminuição na disponibilidade de forragem nas pastagens no período do inverno, lembramos que no mês de junho inicia-se a estação de parição, ou seja, a medida em que as matrizes vão parindo, vão sendo transferidas para o confinamento, reduzindo-se assim a lotação nos pastos, o que garante a adequação da disponibilidade de forragem às necessidades do plantel, todavia, isto não elimina a necessidade de se contar com disponibilidade de forragem conservada, seja na forma de feno, seja silagem, para maior segurança e certeza de um adequado nível de alimentação dos animais, principalmente os confinados.

 

Vale frisar que a programação da atividade reprodutiva, buscando-se a adequação às condições de mercado e as variações na disponibilidade de forragem nas pastagens é condição primordial ao sucesso na atividade.

 


Luiz Eduardo dos Santos; Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência de Pesquisa Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo - SAA, Graduação em Engenharia Agronômica. Universidade de São Paulo, USP, Brasil; Mestrado em Nutrição Animal - Universidade de São Paulo, USP, Brasil.
Contato: cunha@iz.sp.gov.br

 

Eduardo Antonio da Cunha; Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência de Pesquisa Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo - SAA, Graduação em Zootecnia. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil.
Contato: cunha@iz.sp.gov.br

 

Mauro Sartori Bueno, Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência de Pesquisa Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo - SAA, Graduação em Zootecnia. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil; Mestrado em Zootecnia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, Brasil. ; Doutorado em Ciências (Energia Nuclear na Agricultura)-[Cena]. Universidade de São Paulo, USP, Brasil. Pós-Doutorado, Escola Superior Agrária de Bragança Instituto Politécnico de Bragança, ESAB-IPB, Portugal.
Contato:
msbueno@iz.sp.gov.br

 

Cecília José Veríssimo, Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa (SP), da Agência de Pesquisa Tecnológica dos Agronegócios - APTA, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo - SAA, Graduação em Medicina Veterinária. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ, Brasil.Especialização em Curso de Especialização em Zootecnia (Ruminantes).
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ, Brasil. Mestrado em Zootecnia.
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil.
Contato: cjverissimo@iz.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

SANTOS, L.E. dos; CUNHA, E.A. da; BUENO, M.S.; VERÍSSIMO, C.J.  Altas lotações nas pastagens: uma técnica viável para ovinos. 2009. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_2/LotacaoOvinos/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 25/06/2009

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