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Resultados da técnica de enxertia na produção de mudas de maracujazeiro–amarelo (*)

José Carlos Cavichioli

Luiz de Souza Corrêa

 

Um dos principais problemas que afeta a cultura do maracujazeiro é a morte prematura de plantas, que está associada a fungos do solo, como Fusarium oxysporum f. passiflorae, Fusarium solani e Phytophthora spp., bem como a bactéria, como Xanthomonas axonopodis f. passiflorae. As medidas de controle da morte prematura são preventivas e, uma vez afetada pelos patógenos, certamente a planta morrerá, pois não há controle curativo1.

 

A adoção da enxertia em porta-enxertos resistentes à morte prematura de plantas pode ser um caminho para o plantio em áreas com histórico da doença. Por sinal, é o caminho que a cafeicultura está encontrando para possibilitar a convivência com os nematóides2.

 

Para que uma espécie de maracujazeiro seja recomendada como porta-enxerto, é necessário que exista facilidade de propagação, haja compatibilidade com o enxerto, seja resistente a patógenos do solo e proporcione rápido crescimento e alta produtividade.

 

Um estudo foi realizado no município de Adamantina (SP), no período de dezembro de 2005 a abril de 2006, para avaliar o desenvolvimento e a sobrevivência de plantas de maracujazeiro-amarelo (Passiflora edulis Sims) enxertadas sobre três porta-enxertos. Os porta-enxertos testados foram Passiflora edulis Sims (maracujá amarelo ou azedo), Passiflora alata (maracujá doce) e Passiflora giberti, em dois sistemas (com e sem câmara úmida). Foram utilizadas a enxertia hipocotiledonar e a enxertia convencional pelo método de garfagem tipo fenda cheia.

 

A enxertia hipocotiledonar foi realizada 25 dias após a emergência das plantas, quando os porta-enxertos e enxertos atingiram cerca de 6 a 8 cm de altura e uma a duas folhas definitivas. Nesta fase, deceparam-se os porta-enxertos abaixo dos cotilédones, abrindo-se uma fenda longitudinal com cerca de 1,0 cm. Procedeu-se então a retirada dos garfos, decepando-se as plântulas doadoras abaixo dos cotilédones e fazendo-se uma cunha em bisel duplo de forma a expor os tecidos do câmbio.

 

Para isso, utilizou-se uma lâmina de platina bem afiada do tipo lâmina de barbear. Na seqüência, juntaram-se enxertos e porta-enxertos, com cuidado para coincidirem os tecidos cambiais. Utilizou-se de fita para envolver a região da enxertia, protegendo-os, de maneira a evitar o seu ressecamento, assim como o excesso de umidade. Também funcionou como tutor das mudas, que depois de enxertadas foram tutoradas por uma estaca de madeira (figura 1A) .

 

A enxertia pelo método convencional foi realizada 60 dias após a semeadura dos materiais, quando as mudas utilizadas como porta-enxerto para o maracujazeiro-amarelo apresentavam haste com diâmetro em torno de 3 mm. Na execução da enxertia, as mudas dos porta-enxertos foram decepadas à 10-12 cm, a partir do colo, altura em que foi feita uma fenda longitudinal de 1 a 2 cm, na qual se introduziu um garfo com 2 entrenós e com a base despontada em cunha. A haste, nessa região, foi envolvida com fita plástica para manter o enxerto e o porta-enxerto em contato firme, bem como para proteção.

 

Depois de enxertadas, as mudas foram tutoradas por uma estaca de madeira. Os tratamentos com câmara úmida (figura 1B) foram cobertos com um saco plástico transparente (12 x 20 cm), que foi preso com um elástico de borracha, para manter um ambiente de alta umidade relativa ao redor do enxerto e na região da enxertia, durante 15 dias. As mudas foram colocadas em estufa com tela anti-afídeo, colocando-se uma cobertura com tela de sombreamento. Aos 15 dias, removeu-se o saco plástico para os tratamentos com câmara úmida e, aos vinte e cinco dias, retirou-se a tela de sombreamento. O sistema de irrigação adotado foi o de microaspersão.

 

Figura 1 - Mudas de maracujazeiro-amarelo enxertadas pelo sistema de enxertia hipocotiledonar sem câmara úmida (A) e pelo sistema convencional de garfagem em fenda cheia, câmara úmida (B). Adamantina,SP,2006.

 

Avaliaram-se a sobrevivência e a altura das plantas, bem como o diâmetro do caule do porta-enxerto e do enxerto e o número de folhas. Observou-se um excelente pegamento sobre os porta-enxertos P. giberti e P. edulis, com mais de 90% de sobrevivência das plantas (tabela 1), enquanto que em P. alata a sobrevivência foi de 60% na enxertia hipocotiledonar e de 76,3% na enxertia convencional. Os melhores resultados apresentados na enxertia de P. edulis sobre ele mesmo já eram esperados, uma vez que enxerto e porta-enxerto são da mesma espécie, havendo maior compatibilidade entre os mesmos em relação às outras combinações.

 

Tabela 1 – Sobrevivência de mudas de maracujazeiro-amarelo enxertadas em três porta-enxertos. Adamantina, SP, 2007.

Porta-enxerto

Enxertia Hipocotiledonar

Enxertia Convencional

 

% de sobrevivência

Passiflora alata

60,0

76,3

Passiflora edulis

95,0

                  100,0

Passiflora giberti

90,0

98,8

 

O menor crescimento de plantas na enxertia hipocotiledonar foi observado em P. alata, com apenas 9,4 cm aos 70 dias de enxertadas. O uso da câmara úmida não interferiu na altura das plantas quando se utilizou a enxertia hipocotiledonar.

 

Considerando a altura mínima das mudas de 15 cm para plantio no campo3,, apenas as plantas enxertadas sobre P. giberti e P. edulis atingiram esta condição aos 70 dias de enxertia. Ao se somarem a esse período mais 35 dias necessários à germinação e desenvolvimento das plântulas para atingir o estádio fenológico para execução da enxertia, pode-se dizer que foram necessários 105 dias para a obtenção de mudas.

 

No sistema de enxertia convencional, não se observaram diferenças entre os quatro porta-enxertos estudados, mas se verificou que o uso da câmara úmida prejudica o crescimento do enxerto.

 

Na enxertia hipocotiledonar, os maiores diâmetros dos porta-enxertos foram observados em P. giberti e no enxerto em P. edulis.

 

Com base nos dados de altura de plantas e diâmetros do caule do porta-enxerto e do enxerto, observa-se que P. alata foi o porta-enxerto com menor desenvolvimento inicial, mostrando assim uma menor compatibilidade com P. edulis

 

Os maiores incrementos na altura das mudas e no diâmetro do caule ocorreram entre os 20 e 40 dias após a enxertia em P. edulis e P. giberti (figuras 2 e 3). Isto provavelmente ocorreu devido ao fato de, neste período, já terem sido vencidos os eventos que envolvem a união da enxertia (soldadura, formação da ponte de calo entre as partes enxertadas e a conexão dos tecidos vasculares). Dessa forma, toda a energia excedente à manutenção dos tecidos da planta estava canalizada para o crescimento vegetativo.

 

Figura 2 - Incremento de altura de mudas de maracujazeiro-amarelo produzidas por enxertia hipocotiledonar, com e sem câmara úmida em plântulas de três espécies de Passiflora. Adamantina, SP, 2006.

 

Figura 3 - Incremento de diâmetro de caule de três espécies de Passiflora utilizadas como porta-enxertos na produção de mudas de maracujazeiro-amarelo produzidas por enxertia hipocotiledonar com e sem câmara úmida. Adamantina, SP, 2006.

 

Com base nos estudos realizados, concluiu-se que os dois métodos de enxertia (hipocotiledonar e convencional) podem ser utilizados na produção de mudas de maracujazeiro. As espécies P. giberti e P. edulis apresentaram melhores resultados como porta-enxertos. Apesar de o P. alata ter se mostrado inferior na maioria das variáveis analisadas, é interessante o uso deste material como porta-enxerto visando à morte prematura de plantas.

 

Apesar de não mostrar diferenças estatísticas para as variáveis estudadas, o uso de câmara úmida propiciou 100% de sobrevivência de mudas enxertadas sobre P. giberti na enxertia hipocotiledonar. Já na enxertia convencional o uso da câmara úmida favoreceu a sobrevivência do enxerto de 87,5% em P. alata. Porém não é recomendada para P. edulis e P. giberti  pois os mesmos atingiram 100% de sobrevivência sem o uso da câmara úmida.

 

1 LIMA, A.A.; CALDAS, R.C.; CUNHA, M.A.P.; SANTOS FILHO, H.P. Avaliação de porta-enxertos e tipos de enxertia para o maracujazeiro-amarelo. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.21, n.3, p.318-321, 1999.

 

2 RUGGIERO, C.; OLIVEIRA, J.C. Enxertia do maracujazeiro. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE A CULTURA DO MARACUJAZEIRO, 5.,1998, Jaboticabal. Anais... Jaboticabal: Funep, 1998. p.70-92.

 

3 SÃO JOSÉ, A.R. Morte prematura do maracujazeiro. In: MANICA, I. Maracujá: temas selecionados. Porto Alegre: Cinco Continentes, 1997. p.47-57.

 

 

(*) Texto elaborado com base na tese de doutorado do pesquisador José Carlos Cavichioli, apresentada à Faculdade de Engenharia da UNESP – Campus de Ilha Solteira.

 

Origem: Apta Regional - www.aptaregional.sp.gov.br


José Carlos Cavichioli

Pesquisador do Pólo Regional Alta Paulista/APTA/SAA
jccavichioli@apta.sp.gov.br

 

Luiz de Souza Corrêa

Professor da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira/UNESP

lcorrea@agr.feis.unesp.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

CAVICHIOLI, J.C.; CORRÊA, L.S.  Resultados da técnica de enxertia na produção de mudas de maracujazeiro –amarelo. 2009. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_2/maracuja/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 12/05/2009

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