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Ácaros predadores no controle biológico de ácaros-pragas

André Luis Matioli

A grande maioria dos trabalhos científicos que envolvem ácaros predadores utilizados no controle biológico, como ferramenta do manejo ecológico de ácaros-pragas nas diversas culturas mundialmente, está relacionada aos ácaros da família Phytoseiidae como Euseius concordis (Chant), E. citrifolius Denmark & Muma, E. alatus DeLeon, Neoseiulus californicus McGregor, N. idaeus Denmark & Muma, Phytoseilus persimilis Athias-Henriot e P. macropilis (Banks), entre outros. Poucos ainda são os trabalhos relacionados com outras famílias de ácaros predadores, os quais vêm recebendo maior atenção dos acarologistas, em especial as famílias Stigmaeidae, Laelapidae, Bdelidae, Cunaxidae e Cheyletidae.

Várias espécies da família Stigmaeidae também predam ácaros tetranichdeos e tenuipalpídeos, com maior eficiência que muitos ácaros Phytoseiidae, com potencial para uso nos programas de controle biológico de plantas perenes e em casa de vegetação.

Fig. 1 - Casal de ácaros predadores da família Stigmaeidae sobre folha de cafeeiro.
Foto: A.L. Matioli

Pesquisas conduzidas no Laboratório de Entomologia Econômica do Centro Experimental do Instituto Biológico (LEE/CEIB), em Campinas, SP, vêm sendo realizadas com o objetivo de avaliar o potencial de outras famílias de ácaros predadores. De acordo com essas observações, os estigmeídeos têm demonstrado grande potencial de controle natural ou inundativo de algumas pragas nas culturas de café, citros, seringueira, goiabeira, chá, macieira, videira, entre outras.

É fundamental a preservação dos ecossistemas naturais de forma a se constituir em fonte de mantenedora e de dispersão de espécies de ácaros predadores para agroecossistemas. A diversidade de ácaros é um importante indicativo de manejo ambiental adequado e, para tanto, faz-se necessário o conhecimento da biologia e comportamento destes ácaros benéficos, assim como o seu reconhecimento no campo. Outro importante aspecto a ser considerado são as fontes alternativas de alimentos durante períodos em que o ácaro-praga esteja em baixas populações. Dentre essas fontes alternativas podemos citar pólen de diversas espécies de plantas invasoras, em especial o Mentrasto, uma planta espontânea comumente encontrada em pomares cítricos no Estado de São Paulo. De maneira geral, plantas que produzem pólen, as de folha larga são as preferidas pelos ácaros predadores, em especial os do gênero Euseius.

O uso de acaricidas, inseticidas, fungicidas e herbicidas seletivos a estes artrópodes benéficos é fundamental para a preservação e sucesso no Manejo Ecológico de Pragas. Até alguns anos atrás, os estudos de seletividade eram baseados somente na mortalidade dos ácaros predadores em dosagens comerciais. Recentemente esses trabalhos têm sido mais elaborados e muitas vezes percebemos que alguns produtos não matam esses ácaros, porém atuam na redução da fecundidade e na fertilidade das espécies no ambiente.

No LEE/CEIB vêm sendo realizados trabalhos visando determinar quais os principais ácaros predadores nas culturas de café, citros, algodão, abóbora, manga, pêssego, morango e acerola, entre outras, permitindo, em um breve futuro, revelar a importância de espécies predadoras nesses agroecossistemas, além da interação e da competitividade entre as espécies de ácaros predadores. Dentre as espécies de Stigmaeidae que vêm sendo estudadas no LEE/CEIB podemos citar Agistemus brasiliensis Matioli et al., A. pallinii Matioli et al, A. floridanus Gonzalez e Zetzellia spp. O controle biológico clássico em culturas perenes é extremamente difícil, principalmente pelas dificuldades de controle efetivo e também de sua capacidade de estabelecimento em áreas grandes. Muitas pragas estão distribuídas em reboleiras no pomar e a concorrência destes predadores introduzidos com aqueles que já fazem parte do ecossistema é um fator negativo. Tentativas de estabelecimento de controle biológico em pomares comerciais vêm sendo conduzidas no Brasil, porem há um desconhecimento sobre o sucesso dos programas como, por exemplo, o de controle de Panonychus ulmi (Tetranychidae) em macieira no sul do País.

Fig. 2 - Agistemus pallinii (Stigmaeidae) sobre folha de citros.
Foto: A.L. Matioli

Outra dificuldade a qual os pesquisadores encontram em muitas áreas agrícolas é a presença de ácaros pragas que, mesmo em pequenas populações, causam danos severos por serem vetores de viroses, como é o caso dos ácaros tenuipalpídeos, Brevipalpus phoenicis, praga-chave de culturas dos citros e café. Além disso, ácaros-praga como os eriofídeos e tarsonemídeos não possuem predadores eficientes conhecidos.

A maioria dos programas de sucesso de controle biológico está entre os tetraniquídeos, implementado em cultivos sob casa de vegetação ou estufa. O Brasil está iniciando esta prática de controle, porém ainda muito limitada e com demandas de informação sobre as interações predador x presa e predador x predador em diferentes sistemas de produção.

Certamente, muitas das espécies de ácaros predadores encontrados nos levantamentos de campo poderão tornar-se eficientes agentes de controle de ácaros-pragas. O controle biológico é uma realidade mundial, porém o seu sucesso depende do conhecimento de realidades regionais, do nível de tecnologia adotado e do histórico das áreas de produção. É fundamental também para o sucesso do controle biológico o processo de treinamento de técnicos e produtores, e o engajamento das comunidades na melhoria da produção e da segurança dos alimentos.

Referências sugeridas

Moraes, G.J.; Flechtmann, C.H.W. Manual de Acarologia: acarlogia básica e ácaros de plantas cultivadas no Brasil. Ribeirão Preto: Editora Holos, 2008. 288p.

Helle, W.; Sabelis, M.W. World crop pests Spider Mites. Their biology natural enemies and control. Amsterdam: Elsevier Ed., 1985. v.1B, 458p.

Krantz, W.; Walter, D.E. Manual of acarology. 3.ed. Lubbock: Texas Tech University Press. 816p. 2009.

Origem: Instituto Biológico - www.biologico.sp.gov.br


André Luis Matioli possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal de Viçosa (1995), mestrado em Entomologia pela Universidade Federal de Viçosa (1997) e doutorado em Entomologia pela Universidade Estadual Paulista Câmpus de Jaboticabal SP (2002). Atualmente é pesquisador do Instituto Biológico, Centro Experimental Central. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Acarologia e Fitossanidade, atuando principalmente nos seguintes temas: Acari, Taxonomia de ácaros (Stigmaeidae, Acarophenacidae, Phytoseiidae, Tetranychidae e outros), controle biológico, Biologia Molecular de ácaros, citros, café, grãos armazenados.
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2353707988540827

Contato: almatioli@biologico.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

MATIOLI, A.L.  Ácaros predadores no controle biológico de ácaros-pragas. 2009. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_3/acaros/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 14/07/2009

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