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Mudanças climáticas e problemas fitossanitários do cafeeiro

Flávia Rodrigues Alves Patrício

O Brasil é o maior produtor, exportador e o segundo maior consumidor de café no mundo. A produção brasileira, de aproximadamente 43.000.000 sacas previstas para a safra 2008/2009, se concentra nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Paraná e Bahia. Nesses estados há regiões com características edafoclimáticas distintas e que empregam diferentes tecnologias, porém, em todas as regiões cafeicultoras brasileiras, doenças, como a ferrugem e a cercosporiose, e pragas, como o bicho mineiro, são prejudiciais e limitantes para a produção do cafeeiro.

Um dos fenômenos mais associados às mudanças climáticas é o aumento na concentração de gás carbônico na atmosfera que, prevê-se, deverá continuará por muitas décadas, apesar dos esforços internacionais no sentido de reduzi-lo. De maneira geral, o aumento da concentração de CO2 atmosférico promove o crescimento das plantas, mas até o momento não se sabe se tem algum efeito sobre doenças e pragas de importantes culturas, como o café. Por esta razão está sendo iniciado um projeto, realizado pela Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna, em parceria com o Instituto Agronômico (IAC) e o Instituto Biológico (IB), em Campinas, que deverá avaliar o efeito do aumento da concentração de CO2 atmosférico sobre problemas fitossanitários do cafeeiro.

O estudo faz parte de um projeto em rede nacional da Embrapa, coordenado pela pesquisadora Raquel Ghini, que avaliará impactos de mudanças climáticas sobre doenças e pragas em 16 culturas, envolvendo 40 subprojetos. Mais informações sobre o projeto encontram-se no site http://www.macroprograma1.cnptia.embrapa.br/climapest.

Os pesquisadores Wagner Bettiol e Raquel Ghini, da Embrapa Meio Ambiente, Oliveiro Guerrero Filho, Luiz Antonio Fazuoli e Masako Toma Braghini, do IAC, e Flávia R. A. Patrício, do IB, estarão diretamente envolvidos na condução do projeto que relaciona as doenças e pragas do cafeeiro ao aumento do CO2 atmosférico.

No cafeeiro serão estudados o bicho mineiro, a ferrugem e a cercosporiose, doenças e pragas consideradas de importância primária para a cultura. A ferrugem (Fig. 1), causada pelo fungo Hemileia vastarix, ocorre em todas as regiões produtoras de café do Brasil, causa queda prematura de folhas, podendo reduzir até 30% da produção, além de diminuir a vida útil da lavoura. A cercosporiose ou mancha- de-olho-pardo (Fig. 2), causada pelo fungo Cercospora coffeicola, também ocorre em todas as regiões cafeicultoras do Brasil. A doença causa lesões em folhas e em frutos que, além de reduzir a produção de grãos, prejudicam a qualidade da bebida. O bicho mineiro (Fig. 3) pode ser considerado a principal praga da cultura no Brasil. Os prejuízos causados pelo inseto decorrem das lesões nas folhas, que caem, ocasionando a desfolha drástica dos cafeeiros.

Fig. 1 - Ferrugem do cafeeiro causada por Hemileia vastatrix.

 

Fig. 2 - Cercosporiose ou mancha-de-olho-pardo, causada por Cercospora coffeicola.

 

Fig. 3 - Bicho mineiro.

Nesse projeto, as doenças e o bicho mineiro serão estudados em dois sistemas: OTCs (“Open-top Chambers”, ou estufas de topo aberto), nas quais ocorre liberação de CO2 até a obtenção de uma concentração nas proximidades da copa da planta de aproximadamente 550 ppm de CO2 (Fig. 4) e, na segunda fase do estudo, serão utilizadas estruturas chamadas FACE (“Free Air Carbon Dioxide Enrichment”), em que o CO2 é liberado diretamente no campo (Fig. 5).

Fig. 4 - Estufas de topo aberto com injeção de CO2 (Embrapa Meio Ambiente, Jaguariúna, SP).

 

Fig. 5 - Experimento FACE (Townsville, Austrália).

Um evento para discutir os efeitos das mudanças climáticas sobre os problemas fitossanitários do cafeeiro foi realizado na Cooxupé, em Guaxupé, no dia 19 de agosto de 2009. Nesse dia foram abordados os principais efeitos das mudanças climáticas sobre a cultura e sobre os problemas fitossanitários do cafeeiro. Também foram apresentadas alternativas, já disponíveis ou em desenvolvimento, para a convivência com as mudanças climáticas, bem como as principais pesquisas em andamento, visando auxiliar o cafeicultor brasileiro a conviver com esta nova realidade.

Fig. 6 - Plantação de café

 

Origem: Instituto Biológico - www.biologico.sp.gov.br


Flávia Rodrigues Alves Patrício possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade de São Paulo (1982), mestrado em Agronomia (Fitopatologia) pela Universidade de São Paulo (1991) e doutorado em Agronomia (Fitopatologia) pela Universidade de São Paulo (2000). Atualmente é Pesquisadora Científica da APTA / Instituto Biológico – Centro Experimental Central. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Fitopatologia, atuando principalmente nos seguintes temas: Trichoderma spp., Fusarium spp., Rhizoctonia solani, Colletotrichum gossypii e Botryodiplodia theobromae.
(Texto baaseado no CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/8586497295407668)

E-mail: flavia@biologico.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

PATRÍCIO, F.R.A.  Mudanças climáticas e problemas fitossanitários do cafeeiro. 2009. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_3/ClimaCafe/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 12/08/2009

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