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Como cuidar das árvores frutíferas no inverno

Eduardo M. de C. Nogueira
Josiane T. Ferrari

Como todas as plantas cultivadas, as fruteiras de clima temperado são suscetíveis a inúmeros micro-organismos que atacam brotações, ramos, troncos flores e frutos, levando a perdas na cultura e a enormes prejuízos aos produtores. Esses micro-organismos permanecem no pomar de um ano para o outro e constituem uma fonte de inóculo para o próximo ciclo produtivo.

Tratamento de inverno é o conjunto de medidas utilizadas para reduzir a fonte de inóculo no campo, diminuindo, assim, a possibilidade de infecção pelo patógeno remanescente e preparar as plantas para a brotação, florescimento e frutificação, além de reduzir os micro-organismos por métodos simples e menos agressivos ao homem e ao meio ambiente.

Esse controle deve ser iniciado nos meses de maio/junho e início de julho, fase em que as plantas entram em repouso vegetativo e pode ser subdividida.

Primeira fase:

• Podar os ramos secos, ladrões, fracos e doentes, até encontrar a parte sadia, de forma a permitir melhor arejamento e insolação das árvores;

• Retirar os frutos mumificados, doentes e caídos ao solo, juntamente com os ramos podados e as folhas velhas. Todos esses materiais devem ser amontoados e retirados do pomar;

• Tratar o corte resultante da poda, pincelando-se pasta bordalesa ou cúprica (produto à base de cobre diluido em água), que tem como função a vedação do corte, impedindo a entrada de patógenos ou ainda pode-se utilizar tinta plástica que possui maior durabilidade, pois é mais difícil de ser lavada pela água da chuva ou irrigação por aspersão.

Segunda fase:

• Após a limpeza das árvores e do pomar, antes do início do florescimento, pulverizar as plantas com calda sulfocálcica ou calda bordalesa, que servem para proteção da planta contra patógenos e pragas, além de antecipar ou regularizar floradas, proporcionando um talhão mais homogêneo e o escalonamento da colheita;

• Esta pulverização deve atingir uniformemente todos os troncos e ramos, para eliminação dos esporos remanescentes que não foram eliminados com a poda, além de eliminar alguns insetos, preparando a planta para a próxima frutificação.

 

Resultado final de um pomar de pêssego bem tratado.

 

Parreral bem cuidado.

Preparação de calda bordalesa neutra, sem óleo

A calda bordalesa é um produto alternativo de fácil preparo na propriedade e baixa toxicidade para o homem, sendo uma mistura de sulfato de cobre e cal virgem. Quando bem preparada, pode atuar sobre várias doenças das fruteiras de clima temperado, como ferrugem, crespeira, cancro dos ramos, chumbinho, sarna, podridão-parda, que atacam o pessegueiro; antracnose, míldio, ferrugem e podridões dos frutos que atacam a videira; ferrugem, antracnose e seca da figueira e cercosporiose, antracnose, que atacam o caquizeiro, entre outras.

- Sulfato de cobre - 1 kg
-  Cal virgem - 1 kg
- Água limpa - 100 litros

Preparação

• Para o preparo da calda, são necessários três recipientes (de preferência os de plástico, pois o sulfato de cobre reage com ferro e alumínio), sendo dois com capacidade para 50 litros e outro para 100 litros;

• Colocar os cristais de sulfato de cobre dentro de um saco de tecido, em seguida, pendurá-lo sobre a boca do recipiente de 50 litros, já cheio de água, onde ficará mergulhado por algumas horas até que se dissolvam;

• No outro recipiente de 50 litros, hidratar a cal fazendo adição progressiva de água até completar os 50 litros, sempre agitando, com a finalidade de homogeneizar o “leite de cal”; • Preparada as duas soluções, colocá-las no terceiro recipiente de 100 litros, derramando-as ao mesmo tempo e agitando para perfeita homogeneização;

• Depois de preparada, a calda deverá apresentar reação neutra. Para verificar a reação, pode-se usar o papel de tornassol até apresentar coloração azul, ou introduzir no líquido uma lâmina de aço oxidável por 1 minuto; o escurecimento da lâmina indica que a calda encontra-se ácida. Neste caso, deve-se colocar mais cal até a neutralização completa da calda;

• A calda perde sua ação fungicida se não aplicada no mesmo dia. No caso de grandes volumes, é conveniente fazer preparações “estoque” de sulfato de cobre e “leite de cal” a 20%, que devem ser mantidas separadas até o momento de sua aplicação.

Pasta bordalesa (empregada em pinturas com brocha, após a poda)

Utilizada para proteger cortes e ferimentos no tronco das frutíferas, assim como os cortes feitos durante a poda.

- Sulfato de cobre – 1 kg
- Cal virgem (de boa qualidade)
– 2 kg - Água limpa – 10 litros

Os produtos e o preparo são os mesmos da calda bordalesa, porém com redução do volume de água. Essa pasta deve ser pincelada logo após os cortes de poda, o que irá proteger e facilitar a cicatrização.

Preparação da calda sulfocálcica

Cuidados a serem observados

• Recomenda-se usar cal virgem de boa qualidade, com o mínimo de impurezas e bem-calcinada;

• Na ocasião de misturar o sulfato de cobre e a cal, as duas soluções devem estar com a mesma temperatura, sendo que, quanto mais baixa, melhor. Portanto, deve-se esperar esfriar completamente a solução de cal até ficar com a mesma temperatura da solução de sulfato de cobre;

• Não diluir a solução com água depois de preparada;

• Quando for necessário, depois de preparada a calda, adicionar espalhante-adesivo ou qualquer outro produto;

• A qualidade da calda preparada é representada pela sua capacidade de manter seus componentes em suspensão. Para avaliar isso, coloca-se um pouco de calda em um copo de água e mede-se a velocidade da sedimentação. Quanto mais lenta, melhor será a qualidade da calda.

Calda sulfocálcica concentrada (30 a 32˚ Bé)

A calda sulfocálcica é encontrada pronta no comércio. Pode ser conservada por 30 dias em vasilhame bem fechado, tendo-se o cuidado de cobrir o líquido com uma camada de óleo mineral para isolar a ação do ar. Junta-se a calda à água, de acordo com a orientação da embalagem, agitando e tomando o cuidado de não aplicar em dias ou horários quentes.

Se preferir, a calda pode ser preparada na propriedade, conforme segue:

Produtos

25 kg de enxofre em pó 12,5 kg de cal 100 litros de água

• Colocar a cal em um tambor ou recipiente de ferro ou cobre de 200 litros de capacidade. Em outro tambor, colocar 120 litros de água e levar ao fogo até ferver. Com a água fervendo, hidratar aos poucos a cal do tambor de 200 litros, juntando-se, em seguida, água e enxofre até que se forme uma pasta, sempre a mexendo;

• Despejar água fervente sobre a pasta, até completar 100 litros. Levar então o tambor ou recipiente ao fogo, fervendo a calda por meia hora, sem parar, sempre mantendo constante o volume de 100 litros (completando com água quando necessário). Durante a fervura, agitar a calda constantemente com uma pá de ferro ou madeira;

• Após 30 a 40 minutos, ficará com uma coloração amarelo-âmbar e deverá ser, então, retirada do fogo. Deixar esfriar e coar, separando-a da “borra” que se forma;

• A calda assim preparada pesa, geralmente, 30-32˚ Bé, o que pode ser verificado através de um aerômetro. Para usá-la, misturar com água, na proporção indicada, conforme a Tabela 1.

Tabela 1 – Quantidade da solução concentrada (litro) a ser acrescentada a 100 litros de água.

Observações:

• Para armazenar a calda sulfocálcica, utilizar recipiente de vidro ou bombona plástica, desde que bem-vedados e não armazená-la por mais de 30 dias;

• A calda diluída deve ser utilizada no mesmo dia;

• É recomendada a adição de espalhante adesivo à calda (20 mL para 100 litros de calda);

• Obedecer ao intervalo de 20 dias entre a aplicação da calda sulfocálcica e a aplicação da calda bordalesa;

• Após a aplicação da calda sulfocálcica, lavar bem os equipamentos com vinagre, na proporção de 1:10 de água, por ser um produto cáustico, não se devem lavar os equipamentos e nem jogar restos de caldas em rios, córregos, lagos, açudes ou em áreas próximas a cursos de água;

• Para aplicação da calda, é obrigatória a utilização de Equipamento de Proteção Individual (EPI), pois a calda pode não só estragar roupas bem como provocar irritações na pele.

Origem: Instituto Biológico - www.biologico.sp.gov.br


Eduardo Monteiro de Campos Nogueira é Pesquisador Científico do Centro de P&D de Sanidade Vegetal do Instituto Biológico.
Contato: nogueira@biologico.sp.gov.br

 

Josiane Takassaki  Ferrari é Pesquisador Científico do Centro de P&D de Sanidade Vegetal do Instituto Biológico.
Contato: takasaski@biologico.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

NOGUEIRA, E.M.C.; FERRARI, J.T.  Como cuidar das árvores frutíferas no inverno. 2009. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_3/frutiferas/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 13/07/2009

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