Infobibos - Informações Tecnológicas - www.infobibos.com

Manejo da água na produção de ovos

Nilce Maria Soares

Dany Alberto Mesa

 

Tem-se observado nos últimos anos maior demanda da água em todo o mundo devido ao crescimento populacional. A água é um recurso natural que já se apresenta escasso em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. Esta escassez pode ser um fator limitante para a manutenção dos nossos plantéis, não só de forma quantitativa como também qualitativa.

 

Para 10.000 galinhas poedeiras de ovos para consumo, são gastos aproximadamente 5.000 litros de água por dia, considerando a água de dessedentação, limpeza e higienização das instalações, lavagem dos ovos e higienização dos equipamentos e instalações do armazém de processamento de ovos. Daí a sua importância como recurso de valor econômico.

 

A água na produção de ovos deve ser considerada como o nutriente essencial mais importante e, ainda assim, sua importância é subestimada pelos empresários e a maioria dos técnicos avícolas. As aves consomem pequenas quantidades de água, porém com muita freqüência, devendo ser garantido a elas um fornecimento constante e a vontade.

 

O Ministério do Meio Ambiente, por meio das resoluções CONAMA nº 357 (de 17/03/2005) e no 369 (de 03/04/2008), estabelece que a água utilizada na dessedentação das aves deve ser de classe três. Entretanto, vários estudos indicam que a água destinada ao consumo animal deve ter as mesmas características da água potável consumida pelos seres humanos.

 

Pesquisadores que desenvolvem estudos na área definiram recentemente uma lista de características para as quais a água utilizada na granja deve ser analisada. Tais pesquisadores sugerem que as granjas de produção de aves e seus produtos, no Brasil, analisem as amostras da água utilizada para os diversos fins na propriedade.

 

As características da água que se devem levar em conta na produção de ovos são as físicas, químicas e bacteriológicas. As características físicas da água devem ser: insípida, inodora e transparente. Uma alteração da qualidade física da água pode ser percebida através dos órgãos dos sentidos humanos, levando ao não-consumo pelas aves.

 

As características químicas são um indicativo da qualidade da água. Entre elas, tem-se a determinação de sólidos dissolvidos totais: na água se dá pela quantificação de todas as impurezas nela dissolvida, pelo qual se pode primariamente determinar a qualidade química da água. A qualidade piora, à medida que o valor de SDT (sólidos dissolvidos totais) aumenta, o que faz diminuir o consumo de água pelas aves e causa prejuízos no desempenho zootécnico e na saúde do lote.

 

As concentrações de cada elemento deverão ser determinadas de acordo com os parâmetros das Resoluções CONAMA nº 357/2005 e 396/2008 (Tabela 1). O pH da água mostra se esta é acida ou alcalina. A faixa recomendada está entre 6 e 8. O consumo de água com pH diferente desta faixa pode alterar o desempenho das aves, a produção e a qualidade dos ovos, bem como precipitar o uso de antibióticos e interferir na eficácia da cloração da água. Além disso, pode também comprometer a eficácia das vacinas vivas e prejudicar a ação de desinfetantes.

 

Tabela 1 - Parâmetros de qualidade de água a serem monitorados

Parâmetro

Nível (mg/L)

Sólidos dissolvidos totais (SDT)

500

pH

6-9

Dureza total

<110

Cloreto

<250

Nitrato

<10

Sulfato

250

E. coli

0/100 mL

 

A dureza da água refere-se, principalmente, à concentração de carbonatos de cálcio e magnésio. Em determinados níveis, a dureza causa sabor desagradável à água, formação de biofilmes, efeito laxativo e interferência na eficácia de alguns medicamentos, vacinas vivas e desinfetantes. Também influencia a capacidade de o sabão e o detergente formarem espuma, característica que também deve ser observada na água utilizada em granjas, interferindo na limpeza e desinfecção das instalações.

 

Os nitratos indicam poluição que pode estar ocorrendo há algum tempo, porque estes são os produtos finais da oxidação do nitrogênio. A toxicidade aguda por este composto deve-se à formação da metahemoglobina, que é incapaz de transportar oxigênio às células. Atualmente, a agricultura intensiva pelo excesso de fertilização e a exploração animal em alta densidade são responsáveis pelo aumento da concentração de nitratos nas águas subterrâneas. Os efeitos da toxicidade crônica de nitrato/nitrito para as aves incluem inibição do crescimento, diminuição do apetite e agitação. O nível máximo de nitrito não deve passar dos 4 mg/L.

 

A importância da qualidade microbiológica da água a ser fornecida às galinhas deve-se, principalmente, ao fato de que estas ingerem duas a três vezes mais água que ração, fato este que costuma ser subestimado pelos produtores e técnicos. Pode-se considerar a água como importante veículo na transmissão de doenças infecto-contagiosas e intoxicações por diversos elementos ou mantenedora da condição ideal para que determinados patógenos fiquem propícios a infectar as aves.

 

O controle bacteriológico da qualidade da água, através de filtração e sanitização, promove a redução da presença de agentes patogênicos, minimizando sua ação oportunista nos processos patológicos. Entre os indicadores bacteriológicos, destacam-se os coliformes totais, coliformes fecais e Escherichia coli. A vantagem da utilização dos coliformes como indicadores da contaminação da água deve-se ao fato de estes serem encontrados normalmente no intestino do homem e dos animais de sangue quente e serem eliminados em grande quantidade nas dejeções, ou seja, cerca de 108/grama de fezes, podendo ser quantificados por métodos simples.

 

A Escherichia coli representa 95% das bactérias que compõem o grupo dos coliformes fecais, sendo a mais conhecida e a mais facilmente identificada. Sua presença é o melhor indicador de contaminação fecal conhecido até o momento e, geralmente, não se multiplica e nem se mantém viável muito tempo na água, em razão da baixa concentração de nutrientes e das temperaturas adversas.

 

Para análise bacteriológica, as amostras de água utilizadas em unidades produtoras de aves devem ser colhidas em pelo menos três pontos: local de captação, reservatório principal e galpões (nipple ou taça). As colheitas deverão ser realizadas, pelo menos duas vezes ao ano, nos meses de chuva e seca. Para análise química, recomenda-se que seja realizada uma vez ao ano. Para colheita de amostra, deve se contatar o técnico do laboratório onde serão realizadas as análises, visando a uma colheita devidamente correta e em frascos contendo os conservantes adequados para a análise requerida.

 

Considerações finais

 

A limpeza e a desinfecção das linhas de distribuição de água devem ser realizadas a cada saída do lote duas vezes ao ano e, se necessário, com a presença de aves. São recomendadas a instalação e a manutenção do funcionamento do sistema de purificação e cloração de água. Também se deve proceder à correção do pH para a realização de vacinação massal, administração de medicamentos e nutrientes.

 

Para que não haja perigo de contaminação dos lençóis de água, recomenda-se a destinação das aves mortas pelo método de compostagem e o manejo correto das fezes produzidas pelas aves.

 

È importante salientar que o uso de bebedouros tipo nipple tem contribuído notadamente para a manutenção de boa qualidade da água, visto que ele não apresenta reserva de água que possa conter bactérias.

 

O Instituto Biológico (IB-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, através da Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Bastos (UPD Bastos), presta serviços de orientação aos produtores da região, para o fornecimento de água de boa qualidade na dessedentação das aves e outros manejos praticados em uma unidade de produção de ovos de consumo. Na UPDBastos, são realizadas as seguintes análises da água:

- Bacteriológica ’ Coliforme total, coliforme fecal ou termotolerantes e E. coli.

- Químicas ’  dureza total, pH, nitrogênio amoniacal, e matéria orgânica.

 

Origem: Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios - Apta Regional - www.aptaregional.sp.gov.br


Nilce Maria Soares possui mestrado em Mestrado em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista "Julio de Mesquita Filho" (2001) e doutorado em Doutorado em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista "Julio de Mesquita Filho" (2005). Atualmente é Pesquisador Cientifico VI do Instituto Biológico, UPD Bastos-SP. Tem experiência na área de Medicina Veterinária, com ênfase em patologia avícola, atuando principalmente nos seguintes temas: Galinhas de postura, codornas, salmonelose, qualidade de ovos de consumo, manifestação clínica e epidemiologia das doenças respiratoias como: newcastle, micoplasma. pneumovirose, bronquite infecciosa e laringotraquíte. Desenvolve pesquisa em qualidade de água para aves de exploração industrial.
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/3365756507104479

Contato: updbastos@biologico.sp.gov.br

 

Dany Alberto Mesa é Pesquisador Científico do Instituto Biológico, UPD Bastos-SP.

Contato: updbastos@biologico.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

SOARES, NM.; MESA, D.A.  Manejo da água na produção de ovos. 2009. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_3/ovos/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 23/07/2009

Veja Também...