Infobibos - Informações Tecnológicas - www.infobibos.com

A QUESTÃO AMBIENTAL E OS IMPACTOS CAUSADOS

PELOS EFLUENTES DA SUINOCULTURA

Edilaine Regina Pereira;
João José Assumpção de Abreu Demarchi;
Fábio Enrique Lemos Budiño

 

A preocupação com a água adquire maior complexidade na medida em que amplia o campo de visão e assume aspectos ambientais, econômicos, políticos e sociais envolvidos na sua gestão pública. A degradação ambiental que afeta a qualidade das águas de rios e lagos, decorrentes do acelerado e desorganizado desenvolvimento industrial e os indicadores de abrangências da cobertura do saneamento básico do país. São fatores que nos fornecem um quadro dramático da situação atual do país, com maior gravidade e possibilidade de colapso nas regiões metropolitanas.

 

Além do aspecto da degradação ambiental, os indicadores de moléstias associadas à falta de saneamento básico são alarmantes, prevalecendo as chamadas moléstias de veiculação hídrica, cuja contaminação e propagação estão diretamente relacionadas às condições de saneamento ambiental, e cuja prevenção, portanto, está diretamente ligada à melhoria das condições do saneamento básico.

 

Dentro do amplo quadro no qual se insere a preocupação com a política pública referente aos recursos hídricos, a água, vista como recurso natural, conquista o status de bem ambiental e incorpora a preocupação com relação ao aspecto de sua sustentabilidade e sua relação com os impactos ambientais.

 

Impacto ambiental define-se como sendo “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o bem estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais” (CONAMA, 1986).

 

            Além da indústria e da urbanização (esgoto doméstico), a suinocultura é considerada pelos órgãos de fiscalização e proteção ambiental, uma atividade de grande potencial poluidor, face ao elevado número de contaminantes contidos nos seus efluentes, cuja ação individual ou combinada, representa uma fonte potencial de contaminação e degradação do ar, dos recursos hídricos e do solo. Na produção de suínos, em função da alta concentração dos rebanhos, os dejetos podem exceder a capacidade de absorção dos ecossistemas locais, sendo causa potencial da poluição e dos problemas de saúde relacionados com matéria orgânica, nutrientes, patógenos, odores e microrganismos gerados na atmosfera.

 

O problema crucial na criação de suínos reside no apreciável volume de dejetos produzido e na sustentabilidade da sua produção. O lançamento indiscriminado de dejetos não tratados em rios, lagos e no solo podem provocar doenças (verminoses, alergias, hepatite); trazer desconforto à população (proliferação de insetos e mau cheiro) e, ainda, provocar impactos no meio ambiente (morte de peixes e animais, toxicidade em plantas e eutrofização dos cursos d’água). Constitui-se, dessa forma, um risco à sustentabilidade e expansão da suinocultura como atividade econômica (Bley Junior, 1997).

 

Na maioria dos casos, os dejetos de suínos são utilizados como fertilizante agrícola, o que, se não tratados, gera um risco muito grande de poluição ambiental. As principais preocupações em relação ao meio ambiente devido ao manejo inadequado dos dejetos de suínos estão representadas na Figura 1.

 

Figura1. Principais riscos ambientais devido ao manejo dos dejetos de suínos na     forma líquida. (Fonte: Oliveira, 2003).

 

É de grande importância que o setor produtivo tome consciência da degradação ambiental causada pelo lançamento de águas residuárias da suinocultura nas coleções de água e, diante da ação fiscalizadora de órgãos públicos responsáveis pela qualidade do ambiente, busquem soluções específicas no sentido de tratar, dispor ou reutilizar os resíduos (Gomes Filho, 2000).

 

 

Legislação Ambiental

 

A proteção ambiental no Brasil é regida por uma série de leis, decretos e portarias e que relacionam o uso dos efluentes da produção animal como fonte de adubação e impõem limites para o lançamento destes em corpos de água. Destacam-se na produção animal as Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA): a de no. 357 de 2005, que estabelece padrões de lançamento de efluentes nos corpos d’água (Pereira, 2006) e a de no 375, de 2006, que regulamenta a aplicação do efluente animal no solo quando este se encontra na forma de lodo (Miele e Kunz, 2007). A legislação brasileira, por meio do Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA, órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, através da Resolução n0 357, de março de 2005, estabelece que o despejo de resíduos da produção animal não é permitido em rios de Classe I, destinados ao abastecimento doméstico. Em rios de Classe II e III, o despejo pode ser feito desde que tratado para obter os mesmos padrões qualitativos da água do rio, ou seja, permita a autodepuração.

 

            Para utilização dos efluentes da suinocultura, torna-se fundamental que, primeiramente, se conheça suas características físicas, químicas e microbiológicas, de forma que se possa estabelecer medidas adequadas de proteção ambiental e a escolha de tecnologias apropriadas para a sua disposição no ambiente. A tecnologia a ser empregada deve visar maior eficiência no aproveitamento do resíduo e a minimização dos impactos negativos sobre o ambiente.

 

São diversos os níveis de tratamento dos efluentes e envolvem desde os processos preliminares até os terciários, sendo o primeiro deles decorrentes da retirada de sólidos grosseiros e o último à remoção de poluentes específicos ou de poluentes não suficientemente removidos no tratamento secundário (FAO, 1992).

Alguns processos e sistemas de tratamento são utilizados com mais freqüência para a remoção de poluentes de resíduos orgânicos líquidos. A disposição no solo presta-se principalmente à remoção de sólidos em suspensão, de matéria orgânica biodegradável, de patógenos e de elementos químicos nocivos como o nitrogênio (N) e o fósforo (P).

 

Além da disposição no solo, outro tratamento de efluentes dos suínos consiste em promover a decomposição do material orgânico nelas contida por meio de processos biológicos aeróbios, anaeróbios ou facultativos (Fernandes e Oliveira, 1995).

 

Essa combinação de fatores e possibilidades tem provocado grande demanda junto aos órgãos competentes no sentido de viabilizar soluções tecnológicas adequadas ao manejo e disposição dos resíduos, que sejam, ao mesmo tempo, compatíveis com as condições econômicas dos produtores, atendam as exigências legais e que possam ser de fácil operacionalização. Dada a importância do setor produtivo de suínos na geração de renda e emprego, a conseqüente influência na definição das regras para a atividade, e considerando também que não há legislação federal específica para coordenação das legislações estaduais, a expansão do setor tende a provocar agravamento ambiental decorrente dos problemas da inadequação da estocagem e utilização dos dejetos.

 

Sendo assim, é de extrema importância a implantação de projetos que visem abordar as diversas técnicas de tratamento de efluentes da produção animal, assim como um estudo detalhado da condição da qualidade das águas, o que vem sendo proposto pela parceria entre pesquisadores da Faculdade de Engenharia Agrícola (Unicamp) e o Instituto de Zootecnia/APTA/SAA. Dentre as propostas encontra-se um estudo da viabilidade técnica do reuso dos efluentes animais, um estudo da remediação de sedimentos e da avaliação das áreas contaminadas por tais resíduos; os aspectos legais diretamente relacionados aos resultados das amostragens obtidas, assim como a implantação de novas formas de análise estatística dos dados gerados com a inserção de novas e inovadoras técnicas de modelagem matemática em vários projetos desenvolvidos em ambas as instituições.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BLEY JUNIOR, C. Instalações para tratamento de dejetos. In: Ciclo de Palestras sobre Dejetos de Suínos, Manejo e Utilização, do Sudeste Goiano, 1, 1997, Rio Verde. Anais. Rio Verde: Fundação do Ensino Superior de Rio Verde, ESUCARV. 1997. p. 48-68.

CONAMA, Conselho Nacional de Meio Ambiente. Legislação Ambiental, Resolução n0001, de 23 de janeiro de 1986.

FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS (FAO) Wastewater treatment and use in agriculture. Roma: 1992. 125 pages (Irrigation and Drainage. Paper, 47).

FERNANDES, C.O.M.; OLIVEIRA, P.A.V. Armazenagem de dejetos suínos. In: Aspectos práticos de dejetos de suínos. Florianópolis: EPAGRI, EMBRAPA-CNPSA, 1995. p. 45-68, 1995.

GOMES FILHO, R.R. Tratamento de águas residuárias da suinocultura utilizando o cultivo hidropônico de braquiária (Brachiaria ruziziensis) e aveia forrageira (Avena strigosa). Doutorado (Tese apresentada a Universidade Federal de Viçosa), 2000. Viçosa: UFV, 2000. 143p.

MIELE, M.; KUNS, A. Suinocultura, meio ambiente e competitividade. Revista Suinocultura Industrial, n.7, p. 26-29, 2007.

OLIVEIRA, P.A.V. Impacto ambiental causado pela suinocultura. In: Congresso Internacional de Zootecnia, V. Congresso Nacional de Zootecnia, XII, 2003, Uberaba. Anais. Uberaba – MG, ZOOTEC, p.143-161, 2003.

PEREIRA, E.R. Qualidade da água residuária em sistemas de produção e de tratamento de efluentes de suínos e seu reuso no ambiente agrícola. 129p. 2006. Tese (Doutorado em Agronomia). Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, 2006.

 

 

A QUESTÃO AMBIENTAL E OS IMPACTOS CAUSADOS  PELOS EFLUENTES DA SUINOCULTURA

Resumo: Cresce o interesse e a necessidade do uso de efluentes da produção animal como fonte de adubação orgânica em substituição aos fertilizantes químicos. Os atuais sistemas de criação, especialmente no caso de suínos, geram grande quantidade de efluente, cuja proporção de nutrientes mostra-se desequilibrada. Assim, o uso continuado e, ou, excessivo dos efluentes, pode causar danos ambientais, destacando-se a poluição do solo, da água e do ar, além de perdas de produtividade e qualidade de produção. Na produção de suínos, em função da alta concentração de grandes rebanhos, os dejetos podem exceder a capacidade de absorção dos ecossistemas locais, sendo a causa potencial da poluição e problemas de saúde pública. Os efluentes animais, apesar de apresentarem elevado potencial poluidor, podem se tornar alternativa econômica para a propriedade rural, se manejados adequadamente sem comprometer a qualidade ambiental.

Palavras-chave: impacto ambiental; resíduos de suínos.

 

 

THE ENVIRONMENTAL QUESTION AND THE IMPACTS PROVIDES OF SWINE WASTEWATER

Abstract: The interest and necessity in the use of effluent of the animal production system has been grown as source of organic fertilization substitute of chemical fertilizers. The current production systems especially swine, generate great amount of effluent, whose nutrients levels exceed the maximum absorption capacity of the local ecosystem. Thus, the excessive amounts of the effluent can cause environmental damages, pollution of the soil, waters and air, beyond losses of productivity and quality of production. The swine production can be a potential cause of the pollution and health problems. The animal wastewater has high potential of pollution, however, can be the economic alternative to the farm without to disturb the quality of environment.

Key-words: environmental impacts; swine wastewater


Dra Edilaine Regina Pereira Possui Graduação em Engenharia Agrícola pela Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP (1999), Mestrado em Agronomia - área de concentração Irrigação e Drenagem, pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - ESALQ/USP (2002) e Doutorado em Agronomia - área de concentração Irrigação e Drenagem, pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - ESALQ/USP (2006). Pelo período de 2007 à 2008 foi Pesquisadora Colaboradora do Centro de Tecnologia da UNICAMP. Atualmente compõe o quadro de Pesquisadora Colaboradora da Faculdade de Engenharia Agrícola - FEAGRI da Universidade de Campinas - UNICAMP. É Pós doutoranda da mesma e apresenta experiência na área de Engenharia Agrícola, atuando principalmente nos seguintes temas: produção animal, zootecnia de precisão, construções rurais e ambiência, irrigação e drenagem, engenharia ambiental, saneamento ambiental, qualidade da água, tratamento de água e efluentes, engenharia de água e solo e legislação ambiental. Conhecimento avançado da língua inglesa e técnicas de digitação. Grande experiência na execução e implantação de projetos, cursos e palestras. Bolsista de Pós-doutorado Júnior do CNPq.

CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/9513984462191983

 

 

Dr. João José Assumpção de Abreu Demarchi concluiu o doutorado em Ciências Biológicas (microbiologia aplicada) [Rio Claro] pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho em 2001. Atualmente é Pesquisador Cientifico nível VI do Instituto de Zootecnia,  da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios - APTA (Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo), além de professor colaborador do programa de pós-graduação em Nutrição e p Produção Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo desde 2002 (Disciplina de Forragens Conservadas).  Recebeu 9 prêmios e/ou homenagens. Atualmente coordena 4 projetos de pesquisa. Atua na área de zootecnia, com ênfase em avaliação, produção e conservação de forragens. Em suas atividades profissionais interagiu com 145 colaboradores em co-autorias de trabalhos científicos. Em seu currículo Lattes os termos mais freqüentes na contextualização da produção cientifica, tecnológica e artístico-cultural são: conservação de forragens, silagem, ensilagem, cana-de-açúcar, nutrição animal, bovinos, fermentação, bovinos de corte, exigências nutricionais e alimentação animal.
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/1301481279476988

 

 

Dr. Fábio Enrique Lemos Budiñopossui graduação em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista/Campus de Botucatu (1994), mestrado em Zootecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1999) e doutorado em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista/Campus de Jaboticabal (2004). Atualmente é pesquisador científico do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa-SP. Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em Nutrição de Suínos.
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/4311441237726386

 



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

PEREIRA, E.R.; DEMARCHI, J.J.A.A.; BUDIÑO, F.E.L.  A questão ambiental e os impactos causados pelos efluentes da suinoculturaa. 2009. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_3/QAmbiental/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 14/08/2009

Veja Também...