detecção de Sclerotinia sclerotiorum em sementes de Feijão e soja, PELO Método do rolo de germinação modificado

 

João José Dias Parisi 1

Priscila Fratin Medina 1

Mônica Cagnin Martins 2

Pedro Venício Lima Lopes 2

  

As sementes podem levar, na sua superfície ou internamente, bactérias, fungos, vírus e outros organismos (Rahalkar & Neergard, 1969), desempenhando um importante papel na disseminação de patógenos, uma vez que funcionam como fonte de inóculo para cultivos posteriores, sendo responsáveis também pela introdução de patógenos em áreas livres de doenças (Goulart et al., 1995). Nos locais onde já existe uma determinada doença, as sementes portadoras podem introduzir novas raças mais virulentas, aumentando os danos (Ribeiro, 1996).

 

A disseminação de patógenos por sementes é importante quando se observam as seguintes razões (Sinclair, 1981; Menten & Bueno, 1987):

1. A semente, por ser um ótimo substrato nutritivo, assegura a presença do inóculo viável e patogênico por mais tempo.

2. A presença do patógeno na semente favorece a infecção primária.

3. Há uma distribuição homogênea do inóculo pela área semeada.

4. Áreas isentas do patógeno podem ser contaminadas.

5. É bastante eficiente e independente da distância.

 

Entre os patógenos disseminados por sementes destaca-se o fungo Sclerotinia sclerotiorum, causador da doença mofo branco em mais de 400 espécies de plantas, inclusive feijão, girassol, soja e algodão. Este patógeno pode ser transmitido pelas sementes, associado às mesmas na forma de micélio dormente ou acompanhando o lote através das estruturas de resistência, chamadas escleródios, que podem permanecer viáveis no solo por aproximadamente 10 anos.

 

O uso de sementes com boa qualidade fisiológica e sanitária, ou dentro dos padrões de tolerância estabelecidos para as principais culturas e doenças está entre as melhores estratégias para diminuir a disseminação de patógenos, de forma que a comercialização de sementes não certificadas e/ou não recomendadas de uma região ou de um Estado para outro, é um dos fatores responsáveis pela disseminação de patógenos como S. sclerotiorum.

 

Em virtude disso, está sendo proposto, em consulta pública, pelo Ministério da Agricultura na Portaria no 47, de 26 de fevereiro de 2009 (Diário Oficial 40, seção 1, pág. 10 e 11 de 02/03/2009), o padrão zero para Sclerotinia sclerotiorum em sementes de feijão, soja e girassol, não podendo haver nenhum escleródio no exame da amostra de sementes secas, sem se referir à detecção de sementes infectadas pelo fungo, que apesar de baixa pode vir a infestar áreas isentas.

 

A ocorrência de S. sclerotiorum em amostras de sementes de feijão e soja é relativamente baixa, raramente ultrapassando o índice de 2% (Perez, 1996). Isto faz com que os métodos, além de baratos, rápidos e reprodutíveis, devam também ser muito sensíveis para detecção desse patógeno.

 

Atualmente, o teste de sanidade recomendado pela RAS para a detecção de S. sclerotiorum em sementes de feijão é o método do papel de filtro, com incubação por 30 dias, à temperatura de 5o C a 7o C, sob escuro contínuo (Brasil, 1992). Este método apresenta como principal inconveniente o período longo de incubação. Segundo o mesmo autor, há também a possibilidade da utilização do método do rolo de germinação, sob temperatura de 20o C e fotoperíodo de 12 horas, para a detecção de alguns fungos, como Colletotrichum lindemuthianum, Macrophomina phaseolina, Fusarium spp. e Rhizoctonia solani, não sendo mencionada a detecção do fungo S. sclerotiorum.

 

Em virtude do longo período de incubação no método atualmente recomendado para a detecção de S. sclerotiorum em sementes de feijão, foi avaliada a eficiência do método do rolo de papel toalha modificado, em sementes de feijão e soja. Quatrocentas sementes dessas culturas, naturalmente infectadas com S. sclerotiorum, foram incubadas por 7 dias a 20º C, em rolos de papel toalha e mantidas em germinador sob condições de 100% de umidade relativa, conforme metodologia descrita para sementes de feijão (Parisi et al.,2006) e soja (Parisi et al., 2009). Após esse período, as plântulas infeccionadas e as sementes mortas circundadas por micélio característico do fungo (Fig. 1) foram transferidas para caixas tipo gerbox, sobre três folhas de papel de filtro umedecido. Após 3 dias de incubação a 20º C e sob regime alternado de 12 horas de luz, os escleródios foram observados nas sementes e plântulas (Fig. 2).

 

   
Fig. 1. Plântulas de soja com sintomas de infecção por Sclerotinia sclerotiorum no teste do rolo.

 

 

Fig. 2. Plântulas e sementes de soja (incubadas previamente em rolo de papel toalha, por 7 dias) com formação de escleródios de Sclerotinia sclerotiorum, após três dias de incubação em caixa tipo gerbox.

 

Comprovou-se que este método é sensível, rápido, simples e de baixo custo, podendo ser utilizado nas análises de rotina, como medida preventiva da disseminação do patógeno e também poderá ser avaliado para a detecção de S. sclerotiorum em sementes de outras culturas.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BRASIL. Ministério da Agricultura, Abastecimento e Reforma Agrária. Regras para análise de sementes. Brasília, DF: SNDA/DNDV/CLAV, 1992. 365p.

 

GOULART, A.C.P.; PAIVA, F. de A.; ANDRADE, P.J.M. Controle de fungos em sementes de soja (Glycine max) pelo tratamento com fungicidas. Summa Phytopathologica, v.21, n.3-4, p.239-244, 1995.

 

MENTEN, J.O.M.; BUENO, J.T.  Transmissão de patógenos por sementes. In: SOAVE, J.; WETZEL, M.M.V.S. ed. Patologia de sementes. Campinas: Fundação Cargill, 1987. p.164-91.

 

PARISI, J.J.D.; MEDINA; P.F.; MARTINS; M;C.; LOPES; P.V.L. Detecção de Sclerotinia sclerotiorum em sementes de soja através do método do rolo de papel toalha modificado. In: Congresso Paulista de Fitopalogia,. v.35, n.3, 2009, São Pedro SP, 2009. Resumo em CD.

 

PARISI, J.J.D., PATRICIO, F.R.A., OLIVEIRA, S.H.F. Método do rolo de papel toalha modificado para a detecção de Sclerotinia sclerotiorum em sementes de feijão. Summa Phytopathologica, v.32, n.3. p.288-290, 2006.

 

PERES, A.P. Detecção de Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) De Bary em sementes de feijão (Phaseolus vulgaris L.) e soja (Glycine max (L.) Merrill): desenvolvimento de metodologias. Lavras, 1996. 51p. Dissertação (M.S.). Universidade Federal de Lavras.

 

RAHALKAR, P.W.; NEERGARD, P. Studies on aureofungin as seed treatment in controlling seed borne fungal diseases. Hindustan Antibiotics Bulletin, v.11, n.3, p.163-165, 1969.

 

RIBEIRO, A.S.  Tratamento de sementes com fungicidas, p. 381-408. In: LUZ, W.C. (ED).  Revisão Anual de Patologia de Plantas (RAPP), 4. Passo Fundo: EMBRAPA - CNPTrigo. 1996.  415p.

 

SINCLAIR, J.B.  Fungicides sprays for the control of seedborne pathogens of rice, soybean and wheat. Seed Science and Technology, v.9, p.697-705, 1981.

 

Origem: Instituto Agronômico - IAC - www.iac.sp.gov.br


1 Pesquisador Científico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Fitossanidade - IAC, Av. Barão de Itapura, 1481, CEP 13020-432, Campinas - SP.
E-mail: jparisi@iac.sp.gov.br, pfmedina@iac.sp.gov.br


2. Pesquisador Científico, Fundação de Apoio a Pesquisa e Desenvolvimento do Oeste Baiano, Av.  Ahylon Macedo, nº 11, Morada Nobre,  47806-180, Barreiras, BA. Fundação Bahia. Barreiras.
E-mail:
pedro@fundacaoba.com.br, soja@fundacaoba.com.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

PARISI, J.J.D.; MEDINA, P.F.; MARTINS, M.C.; LOPES, P.V.L.  Detecção de Sclerotinia sclerotiorum em sementes de feijão e soja, pelo método do rolo de germinação modificado. 2009. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_3/sementes/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 26/08/2009

Veja Também...