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Laranjas sanguíneas no Brasil

 Rodrigo Rocha Latado

 

As laranjas podem ser divididas em dois grandes grupos, em função da coloração da polpa: as laranjas brancas ou claras e as laranjas sanguíneas. As claras seriam caracterizadas pela cor laranja na polpa e no suco, devido a presença de carotenóides, que são pigmentos com cor que podem variar entre o amarelo e o vermelho. As variações de cor da polpa de frutos observadas entre as variedades deste grupo seriam devidas as flutuações na quantidade dos diferentes carotenóides presentes. De modo geral, as carotenóides possuem baixa solubilidade em água e elevada solubilidade em solventes orgânicos. A este grupo pertencem quase que a totalidade das laranjas comerciais cultivadas no mundo, incluindo as variedades de mesa (laranjas Baías, Navel, Baianinhas e outras), variedades usadas para a extração de suco (Pêra, Valência, Natal, Hamlin e outras), laranjas sem acidez (Laranja Lima, Serra d´agua, por exemplo) e outras (Figura 1).

Figura 1. Fruto de laranja da variedade Valência, do grupo das variedades claras.

As laranjas sanguíneas são caracterizadas pela coloração vermelha-intensa (violácea) da polpa e do suco, devido a presença do pigmento antocianina, solúvel em água. As antocianinas são pigmentos pertencentes a família dos flavonóides e possuem uma série de funções na natureza, tais como a proteção de plantas contra o ataque de patógenos, proteção contra os danos causados pela radiação UV e a pigmentação de flores, frutos e sementes, com as finalidades de atração de insetos polinizadores e de dispersão de sementes. Estes compostos têm grande importância na dieta humana, pois participam na constituição de cores e sabores dos alimentos e podem ser consideradas também como agentes terapêuticos. Antocianinas possuem ainda a capacidade de proteção contra o estresse oxidativo, doenças do coração, certos tipos de câncer e outras doenças relacionadas, devido a sua capacidade de inativação de radicais livres.

Como exemplos de variedades mais conhecidas e utilizadas de laranjas sanguíneas podem ser citadas a: Tarroco, Moro, Sanguigno doppio, Sanguinella e Sanguinelo, dentre outras (Figura 2), que são mais cultivadas nas regiões do mediterrâneo e na Índia, por apresentarem maior aceitação comercial. O Banco Ativo de Germoplasma (BAG Citros) do Centro de Citricultura Sylvio Moreira apresenta 17 variedades pertencentes a este grupo com origem de diversos países (Figura 3).

Figura 2. Fruto de laranja da variedade Moro, do grupo das variedades sanguíneas, que apresenta coloração vermelha intensa (violácea) na polpa, quando cultivado na região da Sicília, Itália (clima frio).

 

Figura 3. Planta de laranjeira Moro enxertada sobre tangerina Cleópatra, com idade de 18 anos, mantida no BAG Citros do Centro APTA Citros Sylvio Moreira / IAC, Cordeirópolis, SP.

A presença da coloração violácea e a sua intensidade na polpa das laranjas sanguíneas são dependentes de vários fatores, mas principalmente do clima da região em que são cultivadas. Regiões de clima ameno e/ou que apresentam maior amplitude térmica diária (dias quentes e noites frias) são as que favorecem a formação de frutos com maior teores de antocianina, resultando numa coloração mais intensa. Isto pode ser comprovado pelo fato de várias variedades sanguíneas apresentarem frutos com forte coloração violácea quando cultivadas nas regiões de clima mediterrâneo e apresentarem frutos com coloração vermelha clara, quando cultivadas em regiões mais quentes, como no município de Cordeirópolis (SP, Brasil), por exemplo (Figura 4).

Figura 4. Fruto de laranja da variedade Moro, do grupo das variedades sanguíneas, que apresenta coloração vermelha clara na polpa, quando cultivado em Cordeirópolis, SP (clima quente).

Ainda não existem relatos disponíveis sobre o potencial produtivo e da caracterização agronômica de variedades de laranja sanguínea no Brasil. Nesse sentido, o Centro APTA Citros Sylvio Moreira/IAC tem ampliado uma rede experimental em diferentes regiões do Estado de São Paulo (Sul, Centro e Norte) para avaliação de variedades deste grupo. Assim, será possível avaliar o efeito do clima na performance agronômica destas variedades e nas características físicas e químicas de frutos, visando identificar e selecionar os materiais superiores e as melhores regiões para o cultivo comercial, o que poderá resultar no lançamento de novas variedades.

Uma característica importante é a possibilidade de incrementar a concentração de antocianinas nos frutos e no suco de laranjas sanguíneas por meio do manejo de pós-colheita, com a conservação dos frutos em câmara fria, em temperaturas baixas (4 ou 10oC), durante um período de tempo que pode variar entre 30 e 90 dias. Está comprovado que o armazenamento de frutos de variedades sanguíneas a 10oC, ocasiona o acúmulo de antocianinas totais no fruto e no suco, mas de maneira diferencial, variando em função da variedade (Figuras 5 e 6).

Figura 5. Amostras de frutos de nove variedades de laranjas sanguíneas: (A) no dia da colheita; (B) no 45º dia de armazenamento a 10ºC.

 

Figura 6. Amostras de suco de frutos de nove variedades de laranjas sanguíneas: (A) no dia da colheita; (B) no 45º dia de armazenamento a 10ºC.

O trabalho do Centro APTA Citros, do Instituto Agronômico, procura desse modo desenvolver um pacote tecnológico para o cultivo e processamento de laranjas sanguíneas no Brasil, por meio de: i) caracterização agronômica das plantas e da qualidade de frutos destas variedades, destacando-se os aspectos de capacidade produtiva, qualidade de frutos, resistência a doenças e pragas e a determinação da curva de maturação e do ponto ideal de colheita dos frutos; ii) caracterização e a quantificação de nutrientes adicionais (principalmente as antocianinas) presentes na polpa e no suco de frutos destas variedades; iii) avaliação dos efeitos de variedades, de estádio de maturação de frutos e do clima (local), no acúmulo de nutrientes adicionais; iv) avaliação do efeito do armazenamento de frutos em baixas temperaturas, no acúmulo de antocianinas no suco de frutos de variedades sanguíneas; v) avaliação do efeito do processamento do suco (pasteurização e/ou concentração), na manutenção do conteúdo dos nutrientes adicionais, presentes no suco destas variedades.

Origem: Instituto Agronômico - IAC - www.iac.sp.gov.br


Rodrigo Rocha Latado possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal de Viçosa (1989), mestrado em Agronomia (Genética e Melhoramento de Plantas) pela Universidade de São Paulo (1993) e doutorado em Agronomia (Genética e Melhoramento de Plantas) pela Universidade de São Paulo (1998). Atualmente é pesquisador Científico do Instituto Agronômico - IAC, Centro APTA Citros Silvio Moreira, Cordeirópolis-SP, trabalhando com genética e melhoramento de citros. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Melhoramento Vegetal, atuando principalmente nos seguintes temas: citros, indução de mutações, genética, melhoramento, cultura de tecidos e marcadores moleculares.
CV lattes: http://lattes.cnpq.br/3996404760945509
Contato: rodrigo@centrodecitricultura.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

VLATADO, R.R.  Laranjas sanguíneas no Brasil. 2009. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2009_4/LaranjasSanguineas/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 16/10/2009

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