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ENCHENTES

de Biólogo/Prof. Helcias Bernardo de Pádua

E as águas vão rolar

Triste é ver estampadas na mídia as tragédias ocasionadas pela água.

Mas a culpa esta na água? Esta na natureza?

Como biólogo e interessado pelas águas, “embora não saiba nadar”, digo categoricamente que não!

São inúmeros os itens que levam a isso.

Vejamos alguns:

Para se entender e analisar um fato, o primeiro passo deve ser à busca de informações. Depois apontar ou procurar apontar o fator ou fatores que levaram ao inicio do fato, e ai vem à causa, ou seja, o que levou ou poderá conduzir o desencadeamento e suas conseqüências.

Mas tudo isso é previsível?

Tive um professor que sempre afirmava: “a água só sai ou segue por um buraco ou caminho”.

Encontrei na Internet inúmeras figuras que exemplificam bem o que pode acontecer no que se chama de Ciclo Hidrológico ou Ciclo da Água.

Note que a formação de nuvens ocorre pela evaporação da própria água e esta ligada, a principio, a temperatura. O deslocamento dessas nuvens e posteriormente a sua precipitação em forma de chuva ocorre quando do encontro dessa massa com uma área de menor temperatura ou vice versa.

O vapor de água é praticamente invisível, mas rapidamente se torna visível ao se resfriar e condensar em contato com alguma coisa.

Você já reparou na umidade que surge nas janelas de um carro quente em um dia frio. Está vendo a condensação em ação. O vapor de água quente toca a janela fria e volta ao estado líquido. E o embasamento interno no vidro do seu carro, com a formação de gotículas de água quando da ocorrência de chuva ou queda da temperatura externa.

Então as nuvens se formam de maneira semelhante. A atmosfera está repleta de pequenas partículas conhecidas como núcleos de condensação, que vem desde erupções vulcânicas, ventos, incêndios e poluição. Isso numa explicação bem simples.

Quando o vapor de água se condensa, adere a essas partículas microscópicas.

Se houver vapor de água em refrigeração no ar e em volume suficiente, as partículas se acumulam aos milhões e formam nuvens. Caso as temperaturas sejam frias o bastante, a água se transforma em gelo em torno dos núcleos de condensação. Ocorre à precipitação em forma liquida ou mesmo de granizo (gelo).

Essa água pode ser absorvida pelo solo, correr sobre (em cima) ou quando infiltrada, sob (abaixo) uma laje de granito, ou ser acumulada em um vale ou calha.

Um aspecto que garante a infiltração dessa água pelo solo e a presença de vegetação. Caso contrario ela se acumula na superfície e segue o seu caminho, “morro abaixo”. E ai leva tudo. “Água de morro abaixo, fogo de morro acima, chuchu na serra,..., ninguém segura” sabiamente afirmava minha tia.

Da água que precipita sobre as áreas continentais, calcula-se que a maior parte (60 a 70%) infiltra. Vê-se, portanto, que a parcela que escoa diretamente para os riachos e rios é pequena (30 a 40%). É essa água que mantém os rios fluindo o ano todo, mesmo quando fica muito tempo sem chover. Quando diminui a infiltração, necessariamente aumenta o escoamento superficial das águas das chuvas. Ai os rios transbordam, inundando as suas margens.

Portanto a infiltração é importante para regularizar a vazão dos rios, distribuindo-a ao longo de todo o ano, evitando, assim, os fluxos repentinos, que provocam inundações.

Não adianta culpar apenas a natureza.

Esta relação entre a quantidade de água que se precipita na forma de chuva, a quantidade que se infiltra, ou aquela que tem escoamento superficial imediato e a que volta para a atmosfera na forma de vapor, constitui uma verdade da qual não podemos escapar.

Como vimos, quando uma chuva cai, o natural é que grande parte da água se infiltre através dos espaços que encontra no solo e nas rochas. Pela ação da força da gravidade vai até não encontrar mais espaços, começando então a se movimentar horizontalmente em direção às outras áreas. O perigo esta no encontro logo abaixo de uma laje ou porção impermeável, inclinada, fazendo com que a água escorra sobre ela e que com sua força e acumulo arraste camadas superficiais do solo. São os desmoronamentos.

A única força que se opõe a este movimento é à força de adesão das moléculas d’água às superfícies dos grãos ou das rochas por onde penetra, ou seja, a água e retida por infiltração vertical e aonde há suficiente solo permeável ocorre vegetação.

A água que não se infiltra, escorre sobre a superfície inclinada, levando pouco tempo para percorrer muitos e muitos metros em direção às áreas mais baixas, indo alimentar diretamente os riachos, lagos, rios, mares e oceanos. Nas cidades, grande parte do solo é impermeabilizada e a conseqüência lógica disso é o aumento do volume d’água que escoa, provocando inundações e retenções nas áreas baixas.

Pois então, o caminho subterrâneo das águas é o mais lento e mais seguro.

São corretas as afirmações de que está havendo um aquecimento global e de que este levará ao aumento das chuvas. Espera-se, portanto um agravamento do problema de inundações nos países tropicais, sem contar com o aumento do nível dos oceanos pelo derretimento das calotas glaciais. E olha que já esta ocorrendo inversão nas características climáticas nas regiões.

Já a água subterrânea poderá levar dias e dias para percorrer poucos metros. Havendo oportunidade esta água poderá voltar à superfície, através das fontes, indo se somar às águas superficiais, ou então, voltar a se infiltrar novamente.

O aspecto importante nesse ciclo prende-se a presença da vegetação, pois uma parte da água que cai é absorvida pelas raízes e acaba voltando à atmosfera pela transpiração ou pela simples e direta evaporação (evapotranspiração).

Helcias B. de Pádua

Biólogo-C. F. Bio 00683-01D

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 Inundação - Deslizamento – Desmoronamento

 - as águas vão rolar -

* mais alguns pitacos do Helcias Pádua

Milla Pereira (http: //www. millapereira. prosaeverso. net/- publicado no Recanto das Letras-23/02/2008, cód.texto: 7872833Mila Pereira).

A inundação ocorre quando uma grande quantidade de água, por exemplo, proveniente da chuva ou de um acúmulo, não é suficientemente absorvida pelo solo por causa da impermeabilização ou em áreas ocupadas que anteriormente formavam várzeas por extravasamento de rios, ou impedimento de escoamento em bocas de lobo, etc., causando transbordamento.  

 

 

 

Áreas cobertas por vegetação ou com extensão de solo permeável são capazes de absorver, segurar e dirigir a massa d’água sob a superfície, regulando e evitando seu escoamento excessivo sobre a camada de solo.

Isso não ocorre em áreas devastadas, desmatadas, calçadas, asfaltadas, impermeabilizadas, etc, erroneamente ocupadas pelo ser humano, como construções irregulares, presença de lixo, de resíduos e formas sólidas, obstruindo bueiros e impedindo que as águas escoem pelas galerias pluviais.

Cuidado: toda ocupação de encosta é precedida por desmatamento e aí o solo fica exposto advindo a erosão. Nos períodos em que o índice de chuvas aumenta, o solo torna-se mais pesado, tendendo ao deslizamento e desmoronamento em áreas de declive mais acentuado. Para impedir que isso aconteça, deve-se evitar o desmatamento e a ocupação dessas encostas. É necessário um planejamento antes da ocupação de terrenos (para construção de fábricas, casas, rodovias, etc.).

 (a) início

(a) final

(b)

(a)Desmatamento e Ocupação de Encosta X (b) Ciclo Via Permeável

O deslizamento de terra é um fenômeno geológico que inclui um largo espectro de movimentos do solo, tais como quedas de rochas, falência de encostas em profundidade e fluxos superficiais de detritos.

Embora a ação da gravidade sobre encostas demasiadamente inclinadas seja a principal causa dos deslizamentos, existem outros fatores em ação, como por exemplo, a erosão causada pelo movimento das águas dos rios, das massas glaciais ou das ondas oceânicas que também criam encostas muito inclinadas.

Essas encostas são enfraquecidas por via da saturação pela água proveniente do degelo ou de grandes chuvas e sismos, criando tensões que levam à falência de encostas mais frágeis, isso sem contar com as erupções vulcânicas e mesmo os trovões. As primeiras produzindo depósitos de cinzas soltas, chuvas fortes e fluxos de detritos. Já os trovões causam vibrações e falhas. Além disso, o homem contribui com os seus vários tipos de maquinarias, tráfegos e explosões.

Basicamente o deslizamento ocorre quando materiais sólidos (solos, rochas, vegetação, etc) se movimentam pela ação da gravidade, “encosta abaixo”.

Durante e após os períodos de chuvas fortes e prolongadas, as águas encharcam os solos, pela infiltração e acúmulo das mesmas. Isso é e deve ser evitado com a presença e manutenção de plantas com raízes capazes de segurar a camada do terreno e absorver parte da água.

Isso mesmo, a água primeira encharca a superfície do solo, porém logo abaixo, tende a se concentrar e se não houve meios de escoá-la e ser absorvida, vai se acumulando e sob a ação da gravidade e por estar em área inclinada, vai “morro abaixo”. Parece bem simples!

O excesso de peso por acumulação de água da chuva (ou neve), deposição de rochas ou minérios, pilhas de resíduos ou criado por estruturas feitas pelo homem, pode também acumular tensões sobre encostas frágeis.

Atenção: - O deslizamento de terra ocorre com ou sem chuva - basta ter uma área inclinada com um solo frágil ou fragilizado em área inclinada.

“O deslizamento de terra é na verdade apenas uma categoria dos chamados” movimentos de massa “, processo que envolve o desprendimento e transporte de solo ou material rochoso encosta abaixo”.

Repor ou manter a vegetação para que a água desça pelas encostas das montanhas, com menor velocidade, dando tempo para infiltra-se no solo é mais prático, barato e bonito. Caso não se tenha esse equilíbrio, mesmo em áreas pouco inclinadas tem-se a presença ou formação de “voçorocas”.

Outro tipo de prevenção é construir terraços em forma de degraus a fim de proteger o solo da ação das águas pluviais pelo seu peso e velocidade.

 

(a) Incas – (ruínas) em curva de nível

b) Praia do Canto, em Barra de Guaratiba (Zona Oeste do Rio-20

Os “incas” já sabiam disso instalando sua agricultura em planos inclinados, mas com a formação de degraus no solo, as “curvas de nível”.

Por serem eventos altamente localizados, os deslizamentos de terra recebem menos atenção que outros desastres, tanto da parte do público, dos órgãos oficiais e até de alguns dos cientistas. São vistos como riscos secundários, subprodutos de catástrofes maiores tais como terremotos, incêndios ou tempestades e por ocorrerem muitas vezes em regiões remotas e subdesenvolvidas. Outras vezes podem causar confusão na interpretação, assim: - uma encosta desliza durante uma tempestade enquanto a colina vizinha se mantém intacta.

Já o desmoronamento é a queda de edifícios, casas, barrancos, morros, vias em encostas ou outros tipos de construção humana ou mesmo da natureza. Tanto as inundações, quanto os deslizamentos, ocasionam desmoronamentos.

Obs: os três eventos acima podem produzir vítimas fatais por afogamento, soterramento e marcas acidentais, sem contar as famílias desabrigadas e as perdas dos seus bens materiais.

Helcias Bernardo de Pádua

Dez.2010 - spsp

 

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A história se repete

 ... e as águas vão rolar (ainda mais)

Helcias B. de Pádua

Jan.2010

Desde dezembro de 2009, grande parte da população dos estados brasileiros vive assustada e com uma sensação de incompetência diante dos fatos e catástrofes ou dos chamados “fenômenos da natureza”. São as precipitações pluviais, as inundações, as enchentes, casas e vias públicas alagadas, o perigo de doenças originadas por transmissão ou vinculação hídrica, proliferação e o ataque de animais, (pequenos anfíbios, répteis, mamíferos e insetos), deslizamentos, desmoronamentos, desabamentos, soterramentos, acidentes e mortes.

Em tudo a água é sempre apontada como a culpada.

Será?

Justamente, ela - a água - que é um dos elementos fundamentais para a existência do homem na Terra, estando impregnada em todos os seus tecidos por ser o meio de transporte dos elementos nutritivos para as células, transportando as substâncias solúveis que atravessam as membranas.

E o alarmismo: “Relatório anual das Nações Unidas faz terríveis projeções para o futuro da humanidade. A ONU prevê que em 2050 mais de 45% da população mundial não poderá contar com a porção mínima individual de água para necessidades básicas. Segundo dados estatísticos existe hoje 1,1 bilhão de pessoas praticamente sem acesso à água doce. Estas mesmas estatísticas projetam o caos em pouco mais de 40 anos, quando a população atingir a cifra de 10 bilhões de indivíduos. A partir destes dados projeta-se que a próxima guerra mundial será pela água e não pelo petróleo”.

Voltemos aos deslizamentos, inundações, soterramentos, etc, ocorridos desde os iniciais séculos, no Brasil, por assim dizer. Então verificamos que a história se repete.

Manchete 1 (uma das mais antigas manchetes)

- Deslizamento soterra um grupo de holandeses

Possível manchete de um deslizamento que soterrou e expulsou um grupo invasor de piratas holandeses, caso excepcionalmente atribuído a um milagre da santa padroeira da cidade, ainda no século XVII.

“Spilbergen atacou Santos em 1615. - Conta Netscsher, o historiador dos holandeses no Brasil, que Joris Van Spilbergen foi enviado em 1614 pela Companhia das Índias Ocidentais, para procurar, pelo Estreito de Magalhães, uma passagem mais curta para as Molucas, e a sua expedição compunha-se de seis navios: o Groote Maan, o Jager, e o Meeuw, pela Câmara de Amsterdam; o Eolus, pela Zeelândia, e o Morgenster, por armadores de Rotterdam e que, chegada ao Brasil, ancorou junto à Ilha Grande, e, depois, perto de Santos ou São Vicente, a fim de refrescar, pois a equipagem ia enfraquecida e enferma".

“Isto é o que conta Netscher, mas a verdade anda bem longe de quanto ele afirmou, procurando atenuar culpas históricas dos homens de sua pátria. O histórico dessa passagem marítima acha-se feito, segundo Taunay, por um precioso, embora tosco, documento iconográfico: uma estampa de Miroie Oest et West Indical, publicada em 1621 por Jan Janez, editor de Amsterdam, cujo título vem a ser: Le portrait de Capo de St. Vincent en Brésil”. Houve sim uma tentativa de invasão.

“Nela – (estampa abaixo) se vêem as cinco naus holandesas bloqueando a barra de Santos, ao passo que a Gaivota vigia o porto de São Vicente. Assinala-se no canal o ponto extremo a que chegou o Caçador, a certa distância de uma fortaleza grande, cujo fogo os escaleres de reconhecimento não ousaram enfrentar”.

“As duas povoações (vilas) de Sanctus e St. Vincent têm portas, estacada, igrejas, edifícios altos, sendo a segunda maior do que a primeira. Notam-se em diferentes pontos do litoral numerosas tropas de índios e brancos armados, à espera do desembarque dos batavos”.

 

Le portrait de Capo de St. Vincent en Brésil

Estampa de Miroie Oest et West Indica (1621)-publicada por Jan Janez, editor de Amsterdam

Manchete 2

- Deslizamento despeja terra e pedras causando vítimas

* Deslizamento no Monte Serrat

 

*Um grande desastre abalou Santos, em 10 de março de 1928: o desabamento de parte da encosta do Monte Serrat, soterrando muitas casas e várias dependências da Santa Casa de Misericórdia de Santos, que então estava instalada no sopé daquela elevação, em área onde a partir de 1950 foi construído o Túnel Rubens Ferreira Martins e três décadas depois a alça de acesso viário com viaduto sobre esse túnel. Estas são algumas fotos do desabamento da encosta, que quase levou à própria demolição do morro.

- Foto: Poliantéia Santista, 1996, Ed. Caudex, S. Vicente/SP - * 10/03/1928 – Encosta, casas e dependências da Sta. Casa de Misericórdiai –

Manchete 3

Toneladas de pedra, lama e terra nas casas e ruas.

 

foto: Rafael Herrera

Bairro do Marapé – S. Vicente/SP – 01.03.1956

* Em 1956, o Morro do Marapé foi palco de uma tragédia semelhante à do Monte Serrat, mas com menor número de vítimas. Como no acidente de 1928, o do Marapé ocorreu no mês de março, dia 1º, deixando 22 mortos. A causa, novamente, as chuvas.

Manchete 4

- Deslizamento no sopé do Monte Serrat

Foto: 1956 Monte Serrat, S. Vicentee/SP

- A Tribuna -

Manchete 5

- Deslizamentos em Santos

Santos – 1958

Obs: - Outros casos destacados aconteceram e acontecem e que justificam e forçam a realização de amplos e constantes trabalhos de contenção das encostas e monitoramento da situação hidrogeomórfica.

Terreno sedimentar, com fina capa de solo, quando enfrenta chuva forte e não tem mais cobertura vegetal que fixe o solo... o resultado é um deslizamento de terras, e quem estiver no caminho sofre as conseqüências. Os escorregamentos em áreas de encostas ocupadas costumam ocorrer em taludes de corte, aterros e taludes naturais agravados pela ocupação e ação humana.

Três fatores de influenciam na ocorrência dos deslizamentos:

1.Tipo de solo - sua constituição, granulométrica e nível de coesão;

2.Declividade da encosta - cujo grau define o ângulo de repouso, em função do peso das camadas, da granulometria e nível de coesão;

3.Água de embebição - que contribui para aumentar o peso específico das camadas; reduzir o nível de coesão e o atrito, responsáveis pela consistência do solo, e lubrificar as superfícies de deslizamento.

A época de ocorrência dos deslizamentos coincide com o período das chuvas, intensas e prolongadas, visto que as águas escoadas e infiltradas vão desestabilizar as encostas.

Nos morros, os terrenos são sempre inclinados e, quando a água entra na terra, pode acontecer um deslizamento e destruir as casas que estão embaixo.

Enquanto isso, as águas continuam rolando, rolando e rolando!

Vejamos...

No planeta Terra:- a avalia-se em 138015 m3, o que equivale a ocupar o volume de uma esfera de 1380 km de diâmetro, estando distribuída pelos seus três principais depósitos, nas aproximadas percentagens: - oceanos 96,6 % - continentes 3,4 % - atmosfera 0,013 %;- dos 3,4% de águas continentais, cerca de 2,4% são de água mais facilmente disponível, porém somente 0,31% não estão concentrados nos pólos na forma de gelo, ou melhor, de toda a água na superfície da terra menos de 0,02% está disponível em rios e lagos na forma de água fresca pronta para consumo; - a quantidade da água salgada dos oceanos é cerca de 30 vezes a quantidade da água doce dos continentes e da atmosfera; - nos continentes concentra-se praticamente nas calotas polares, glaciais e no subsolo, distribuindo-se a parcela restante, muito pequena, por lagos e pântanos, rios, zona superficial do solo e biosfera; - no subsolo representa cerca de metade da água doce dos continentes, mas a sua quase totalidade situa-se a profundidade superior a 800 m; - a biosfera (camada do globo terrestre habitada pelos seres vivos) contém uma fração muito pequena da água dos continentes: cerca de 1/40. 000; - a quantidade perdida pelos oceanos por evaporação excede a que é recebida por precipitação, sendo a diferença compensada pelo escoamento proveniente dos continentes; - a sua precipitação anual sobre os continentes é de 800 mm e reparte-se em escoamento (315 mm) e evapotranspiração (485 mm); - e a precipitação anual média sobre os oceanos é de 1270 mm, resultando a precipitação anual média sobre o Globo igual a cerca de 1100 mm.

Obs: - A água somente passa a ser perdida para o consumo basicamente graças à poluição e à contaminação, nunca devido ao assoreamento como muitos dizem. São estes fatores que irão inviabilizar a reutilização, causando uma redução do volume de água aproveitável da Terra.

No Brasil - classificado como altamente privilegiado em termos de disponibilidade hídrica global, cerca de: um volume médio anual de 8.130 km3, que representa um volume per capita de 50.810 m3/hab.ano * números que devem ser devem ser encarados com uma certa reserva, pois a distribuição de água no Brasil é bastante irregular, por exemplo: a Amazônia, o lugar mais rico em água potável superficial de todo o Planeta, mas está distante dos grandes centros urbanos nacionais; - A grande reserva Brasileira de água: os aquíferos subterrâneos; e.t: o Brasil, a Rússia, a China e o Canadá são os países que basicamente "controlam" as reservas de “água fresca” mundial.

No corpo humano: - representa entre 45 a 75% do peso corporal do ser humano; - relativamente à mulher, o homem tem mais 15% de água corporal total, a qual constitui 60% do peso, devida ao maior teor de gordura habitualmente presente nas mulheres; - as crianças têm, em relação ao volume corporal, maior percentagem de água corporal total que os adultos; - ao nascimento, no bebe apresenta cerca de 75% do peso do corpo, diminuindo com a idade; - a gordura contém relativamente menos água do que o tecido muscular; - a gordura contribui para o peso sem um aumento proporcional no volume total de água no corpo, ou seja, as pessoas obesas tendem a ter menor percentagem do peso corporal constituído por água; - a água impregna todos os tecidos; - é o meio de transporte dos elementos nutritivos para a célula.

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Perenes manchetes Cheias, enchentes, alagamentos e inundações.

(e as águas vão rolar - 04)


O Aterrorizante Dilúvio

* A mais antiga manchete

Há cerca de 7.500 anos, quando o homem começava a assentar nas terras férteis da Europa Central e do Oriente Médio, uma enchente avassaladora alterou a história da região. As águas invadiram casas, celeiros, santuários, destruíram plantações, afogaram animais e gente. A fúria do mar engoliu florestas e mudou o relevo. Muitos tentaram escapar em frágeis embarcações, levando consigo o que podiam carregar de gado e alimentos. A maioria não sobreviveu à catástrofe, mais tarde atribuída à ira dos deuses. Apelidada de Dilúvio, a tragédia ficou gravada nas mentes dos que se salvaram e passou para as gerações seguintes, seja por meio das narrativas sumérias e babilônicas, seja pelo Antigo Testamento da Bíblia, com detalhes sobre o drama do patriarca Noé e sua arca diante da ira de Deus sobre os homens.

O Dilúvio, gravura de Gustave Doré (1832-1883)

O termo “Dilúvio” refere-se a uma grande quantidade de chuvas, capazes de inundar e devastar toda uma região.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Dil%C3%BAvio_(mitologia)

# No sentido estrito, Dilúvio, segundo diversas mitologias, foi uma terrível inundação que teria coberto todo o mundo, ou ao menos terras ancestrais de determinados povos. Porém não há evidências científicas que comprove o caráter universal de tal acontecimento. O máximo de credibilidade que se pode atribuir a estes mitos são acontecimentos isolados que realmente aconteceram em algum momento da história de cada povo. O fato é que nas mais variadas culturas, em todos os continentes, existirem tradições que aludem à ocorrência de um dilúvio global, com paralelismos espantosos entre si, tendo sido documentadas mais de 250, em contextos culturais diferentes. Há evidências crescentes de que algo de "excepcionalmente catastrófico" aconteceu há alguns milênios atrás. Os "antropologistas" dizem que há mais de 270 narrativas do dilúvio em povos e culturas diferentes do mundo, e todas elas, coincidentemente, são no início destas civilizações. Exemplos de narrativas sobre o “dilúvio”: - dilúvio judaico; judaico-cristão; hindu; grego; mapuche; pascuense; maia; asteca; inca; uro (lago Titicaca) e as vertentes do criacionismo da Terra jovem - um dos movimentos fundamentalistas que visam defender a literalidade de diversas narrativas religiosas - crêem num dilúvio literalmente universal, que teria provocado a extinção de 90% de todas as espécies que já viveram, cujos fósseis se encontram distribuídos por diversas camadas geológicas de acordo com um padrão que os cientistas atribuem às eras geológicas.

Continuidade

2001 e 2003

Goiás Velho/Go - tombada pela UNESCO – Rio Vermelho

Arrasada em 31 de dez.2001-www.aprendebrasil.com.br/.../default.asp

Foto: Agencia Brasil:Valter Campanato

 

Goiás Velho/Go – 2003 – a cidade se recupera

2008 e 2010

 

São Luiz de Paraitinga/SP – tombada pelo CONDEPHAAT 2008

foto:g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,MUL357432-5...

 

São Luiz de Paraitinga/SP – 05/01/2010 - foto.estadao.com.br/fotoreporter

 

Até pelas massificantes manchetes sobre as catástrofes ocorridas nesses últimos meses entre 2009 e 2010, procurei as narrativas anteriores, verificando que as coisas se repetem mesmo. Coincidência?

Em 17 de março de 2008, a cidade de São Luis de Paraitinga/SP já enfrentava “a pior enchente dos últimos 10 anos”. Em 31 de dezembro de 2009, a última ocorrência que destruiu a cidade, desabrigando metade da população.

Antes, em 31 de dezembro de 2001, a cidade de Goiás Velho/Go, sofria mais uma enchente do Rio Vermelho, destruindo grande os casarões históricos tombados pela UNESCO, incluindo parte da casa da escritora e poeta Cora Coralina.

Aqui pelos lados itahyenses, no meu bairro Itaim Bibi, antigos moradores relatam a marcante enchente ocorrida em 1929 que atingiu severamente as terras varzeanas dos rios Tietê e Pinheiros.

Confluência dos Rios Pinheiros e Tietê, 1929.

• arquivos: Centro Pró Memória – E.C. Pinheiros

http://www.ecp.org.br/pdf/revista/130/revista_130_pg54_memoria

 

 

 # Objetivo alcançado - a que custo?

A empresa canadense The São Paulo Railway Light and Power – concessionária de serviços de transporte e fornecimento de energia elétrica – operava as comportas das represas Guarapiranga e Billings, que desembocam no rio Pinheiros.

A legislação vigente à época previa que toda a área de inundação dos rios seria de utilidade pública e de propriedade da companhia. Em fevereiro daquele ano, após uma grande chuva, as comportas foram abertas alagando as várzeas já saturadas. A inundação atingiu as várzeas dos Pinheiros, do Tietê e o rio Tamanduateí.

Com esta enchente, a companhia, em uma ação considerada por muitos como criminosa, se tornou proprietária de vastas áreas, que anos depois com a canalização dos rios, se transformaram em loteamentos residenciais de alto padrão.

Um audacioso projeto da metade do século XX previa o uso das águas da Bacia do Alto Tietê, onde se insere a Região Metropolitana de São Paulo. O projeto foi idealizado pelo engenheiro americano Asa White Billings e implementado pela Light.

O objetivo era à geração de energia elétrica na Baixada Santista e para tal, foi construída a represa Billings, e os rios Pinheiros e Tietê foram retificados (respectivamente, década de 1920 e de 1940), tendo-se revertido o curso do Pinheiros e suas águas bombeadas e acumuladas na represa. Essas águas descem, serra abaixo, até a Usina de Henry Borden, em Cubatão o que também contribui para o desenvolvimento de São Paulo. Porém, o saneamento e a garantia de água de boa qualidade para abastecimento público não foram tratados com a mesma importância, embora a meta fosse de gerar energia.

Ponte de Pinheiros, perto da Rua Butantã: - Enchente de 1929, usada usada pela Light para demarcar seu território de poder.

 

Reação - “E eu com a Light?”.

A população atingida foi convocada e acordos propostos aos expropriados, sempre estipulando critérios e preços convenientes a Light. Daí para frente, um fiscal de terras passou a proibir as pessoas de usarem a várzea, fosse para jogar bola ou levar cabras para pastorear.

Isso gerou movimentos de resistência de moradores, que foram ao presidente Getúlio Vargas, até que ele se manifestasse contra. Mas a essa altura tudo estava sob litígio e começou o movimento dos advogados que ganhavam dinheiro às custas dos expropriados.

• A Light, da qual hoje pouco se fala, provocou uma grande mobilização no Brasil das décadas de 30, 40 e 50. A companhia era uma espécie de polvo, atuando em diferentes esferas. Foi tão importante na história de São Paulo que passou a integrar o imaginário. Aparecia na música, na poesia, na retórica popular. Havia até uma expressão: "E eu com a Light? - da Geógrafa Odette Carvalho de Lima Seabra, autora de Os Meandros dos Rios nos Meandros do Poder: O Processo de Valorização dos Rios e das Várzeas do Tietê e do Pinheiros - Tese de doutorado na USP – 1987. - http://amorordemeprogresso.blogspot.com/2009/12/inundacao-varzea-pertence-ao-rio.html

Enchentes & Inundações

Existe uma distinção conceitual entre os termos enchente e inundação: a diferença fundamental é que as enchentes referem-se a uma ocorrência natural, que normalmente não afeta diretamente a população, tendo em vista sua ciclicidade. Já as inundações são decorrentes de modificações no uso do solo e podem provocar danos de grandes proporções, incluindo às pessoas.

CHEIA - ENCHENTE = CAUSA NATURAL

ALAGAMENTO - INUNDAÇÃO = ALTERAÇÃO GERALMENTE OCASIONADA PELO HOMEM

A enchente ocorre quando o rio recebe, repentinamente, um grande volume d'água, ocasionado pelas chuvas na sua cabeceira ou nas dos seus afluentes. Por exemplo: o rio Aricanduva, , entre outros, no Rio Tietê/SP (dez.2009); o rio Paraitinga/S. Luís de Paraitinga (dez.2009), afluente do Rio Chapéo; o rio Vermelho/Goiás Velho-Go (dez.2001). Eles recebem e tem que desaguar milhões de litros em alguns poucos minutos.

Enquanto a água do rio não ganha velocidade e a que vem dos afluentes vai sendo acumulada. O rio enche até transbordar.

Por causa desse fenômeno hidráulico, o rio necessita de uma grande área de terra (várzeana) lateral para poder absorver essa enchente, existindo um equilíbrio perfeito, pois a enchente ocorre, mas não chega a transbordar, invadindo avenidas marginais, e tampouco as ruas das proximidades, residências e edificações. Ou seja, não ocorre à inundação.

Saia da frente - Atrás vem água.

# O canal do rio deve ter características que facilitem o livre escoamento das águas.

Acontece que nem sempre é possível se garantir o escoamento livre das águas, surgindo dentro do rio, componentes que "seguram" o fluxo das águas. Esses componentes que diminuem a velocidade de escoamento da água são conhecidos tecnicamente como SINGULARIDADES.

Diversas são as singularidades que afetam o fluxo das águas.

 

1. As paredes e o fundo da calha do rio devem ser hidraulicamente lisas. Paredes e fundos irregulares, paredes revestidas com pedras, muito mato alto, etc. seguram o fluxo das águas e diminuem a velocidade de escoamento do rio. Ao tornar liso o fundo e as laterais da calha de um rio é possível aumentar a velocidade de escoamento até três vezes;

2. O traçado do rio deve ser o mais reto possível. Curvas diminuem a velocidade de escoamento das águas;

3. Mudanças na forma da seção transversal, diminuição da área afetam a velocidade de escoamento;

4. Pontes e viadutos com pilares dentro do rio seguram o fluxo das águas;

5. Galerias e túneis mal projetados, isto é, com dimensões inferiores à do dimensionamento hidráulico seguram as águas, diminuindo a velocidade de escoamento do rio. Qualquer uma das singularidades acima apresentadas diminui a velocidade do rio, facilitando a ocorrência de enchentes.

O rio é um canal onde a água passa. Essa água vem de algum lugar e precisa ir para outro lugar. Qualquer obstáculo que haja no canal vai fazer com que a água perca velocidade e passe a fluir mais devagar. Se ela vem depressa e demora a sair, então é como o ditado popular que diz "Sai da frente que atrás vem gente", no caso vem à água.

Acontece que a água não tem como "sair da frente". Quando há demora na saída, ela chega e começa a "entrar" por debaixo da porção que está parada na frente. Veja no corte longitudinal seguinte o mecanismo de formação de uma enchente.

Observe que o rio ENCHE num ponto. É por isso que se chama ENCHENTE. A enchente é um fato necessário para o rio.

No desenho acima, a parte que encheu forma um desnível. Esse desnível de água é que vai dar impulso para a água ganhar velocidade.

Quando as margens ou as bordas do rio são baixas, a enchente vai passar por cima da borda do rio, isto é, vai transbordar e começar a correr pelas ruas formando uma INUNDAÇÃO que invade as ruas, as casas, lojas e fábricas.

O correto - atenção apresentadores dos noticiários em rádio e TV, redatores de jornais e revistas, etc. - é dizer ou escrever: a enchente do rio inundou ruas e casas. (*) primeiro ocorre à enchente, provocando inundação.

Em áreas marginais ocupadas é necessário garantir uma boa velocidade para o rio em todo o seu percurso, sem obstáculos quaisquer. O segredo do escoamento é a VELOCIDADE e não a largura ou a profundidade da calha.

Cuidado: quando se aumenta à largura ou a profundidade, estamos aumentando a "capacidade", isto é, a quantidade de água que "cabe" no rio e não necessariamente a sua vazão. Aliás, a vazão numa calha maior pode até ser menor, pois uma calha maior implica, necessariamente em velocidade menor.

Caso real - Singularidades na foz de um rio junto ao Rio Tietê -Veja a foz do Córrego Carandiru incidindo perpendicularmente, criando conflito entre as águas.

 

 # - http://www.ebanataw.com.br/roberto/fluvial/fluvial5.htm Leitores: verificar outros textos: # abrir link (GRUPOS YAHOO - http://br.groups.yahoo.com/group/g-mib/ br.groups.yahoo.com) em ANEXOS

• A história se repete – nº 03

• Inundação - Deslizamento – Desmoronamento – nº 02

• E as águas vão rolar – nº 01

Helcias Bernardo de Pádua

Jan/2010

spsp


Professor Helcias Bernardo de Pádua,
Biólogo-C.F.Bio 00683-01/D; Conferencista em "Qualidade das águas"; Especialista em Biotecnologia-C.R.Bio 01; Analista Clínico - Hosp.Clínicas SP; Professor de Biologia e Ciências-L-94.718-DR 5 - MEC, desde 1975; Consultor, professor e colunista; Memorista-AGMIB/Assoc. Grupo de Mem. do Itaim Bibi/SP; Graduando em Jornalismo
Contato:
helciaspadua@yahoo.com.br e www.pescar.com.br/helcias



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

PÁDUA, H.B. de Enchentes. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_1/enchentes/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 07/03/2010