Infobibos - Informações Tecnológicas - www.infobibos.com

Pulgão do algodoeiro: um sério problema

Dalva Gabriel

O que é o pulgão do algodoeiro?

O pulgão do algodoeiro, Aphis gossypii, é um inseto de tamanho pequeno, medindo cerca de 1,3 mm de comprimento e de coloração variável do amarelo-claro ao verde escuro. Entre os adultos predomina a cor verde escura. Vivem sob as folhas e brotos novos das plantas sugando a seiva. A capacidade de reprodução desses insetos é enorme e processa-se por partenogênese, isto é, sem a participação do macho. Nas populações de pulgões ocorrem formas aladas e ápteras. À medida que a população começa a crescer de maneira muito intensa, levando à falta de alimento, aparecem as formas aladas, que voam para outras plantas, para iniciarem novas colônias. É uma das primeiras pragas que ocorrem no algodoeiro, podendo ser presenciada logo após a germinação das plantas. Em diferentes épocas do ano, os pulgões permanecem em plantas silvestres ou cultivadas. As fêmeas aladas emigram para o algodoeiro quando as lavouras são estabelecidas.

Pulgão A. gossypii na forma áptera

O ciclo se completa em aproximadamente 10 dias e uma fêmea adulta poderá originar cerca de 100 formas jovens. As infestações mais expressivas ocorrem dos 30 aos 70 dias de idade da planta.

Os pulgões são vetores de duas viroses para o algodoeiro conhecidas como Vermelhão e Mosaico das Nervuras.

Pulgão A. gossypii na forma alada

Quais são os sintomas?

Os pulgões, ao sugarem a seiva, picam a planta com seu rostro ponteagudo, produzindo encarquilhamento das folhas e deformação dos brotos, prejudicando seriamente seu desenvolvimento, uma vez que a planta se torna sensivelmente depauperada. Ao se alimentarem, os pulgões excretam um líquido açucarado que atrai para o local diversas formigas que os protegem de seus inimigos naturais. Parte do líquido que os pulgões expelem cai sobre as folhas e maçãs, favorecendo o desenvolvimento de um fungo, de coloração negra, que se denomina “fumagina”. Quando a fumagina recobre a folha, ela dificulta a respiração e a fotossíntese contribuindo também para o enfraquecimento da planta. Na fase do aparecimento dos capulhos, o açúcar e a fumagina depreciam a fibra, afetando sua utilização industrial.

Sintoma de fumagina no capulho

Altas infestações provocam o engruvinhamento das folhas e a paralisação temporária do crescimento das plantas.

Sintomas das viroses

O Vermelhão é uma virose que deixa as folhas com áreas avermelhadas entre as nervuras, que permanecem verdes. As folhas mais afetadas são as da metade inferior das plantas. É de ocorrência esporádica e causa pequenos prejuízos. Já na virose Mosaico das Nervuras, as nervuras das folhas apresentam um amarelecimento ou palidez, formando um mosaico, que se torna mais visível quando observado através da luz. As folhas permanecem com os bordos curvados e com rugosidades no limbo foliar. Este vírus pode ocorrer em todas as fases de desenvolvimento das plantas e quando surge a forma mais virulenta, denominada “Ribeirão Bonito”, o crescimento é paralisado, com encurtamento dos entrenós.

Sintoma de ataque de A. gossypii no campo

Quais são os prejuízos causados por essa praga?

Os pulgões, quando não controlados, reduzem a produção em cerca de 44%, considerando-se apenas as perdas qualitativas e quantitativas, sem contar os danos das viroses. Quando a incidência da virose se dá no início do desenvolvimento das plantas, e é severa, provoca perdas totais na produção. A virose “Mosaico das Nervuras de Ribeirão Bonito” tem ocorrido mais nos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

As cultivares plantadas na região do cerrado brasileiro, suscetíveis às viroses, desencadearam um processo desenfreado de aplicações de inseticidas, sendo utilizadas cerca de 15 pulverizações de inseticidas não seletivos como organofosforados e carbamatos, por ciclo de cultura, só para o controle do pulgão. Em algumas regiões, o pulgão foi responsável por cerca de 80% das pulverizações realizadas e mesmo assim não atingiu um controle satisfatório.

Frequentes aplicações de inseticidas, feitas contra pulgões por produtores que desejavam alcançar nível de infestação próximo a zero, levaram o pulgão A. gossypii a desenvolver resistência a vários grupos de produtos particularmente ao pirimicarb, que é um produto seletivo e empregado em programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP).

Formas de controle

O controle dos pulgões depende dos níveis de suscetibilidade das cultivares à viroses. Em lavouras semeadas com cultivares sensíveis às viroses haverá necessidade de um controle mais efetivo, mantendo-os sob níveis populacionais menores. Para as cultivares suscetíveis às viroses, as medidas para o manejo dos pulgões são: destruição de soqueiras logo após a colheita, eliminação de plantas hospedeiras na área de cultivo, uso de inseticidas no solo (aldicarb) ou tratamento das sementes, destruição das primeiras plantas com sintoma de Mosaico das Nervuras, semeadura simultânea entre talhões vizinhos e pulverizações iniciais com inseticidas quando o período de controle dos produtos em tratamento de sementes ou do solo estiver acabando, e for constatada a presença inicial de pulgões.

Controle químico

O uso de inseticidas sistêmicos, no tratamento das sementes ou no solo, como disulfoton, acephate, carbofuran, imidacloprid, aldicarb, poderá proteger as plantas até os 25 dias, reduzindo a taxa de crescimento populacional dos pulgões. Alguns dos produtos indicados para o controle desses afídeos, em pulverização, são: carbosulfan, monocrotofós, metamidofós, dimetoato, endosulfan e diafentiuron. Devido à ação de choque, o carbosulfan constitui-se atualmente no principal produto para o controle dos pulgões. Em mistura com outros inseticidas de ação de contato ou sistêmica, como endosulfan mais carbosulfan, por exemplo, tem apresentado boa eficiência de controle de pulgões e oferecido maior proteção às cultivares suscetíveis às viroses. É importante a alternância de produtos para reduzir os riscos de surgimento de resistência do inseto aos inseticidas e desequilíbrio ambiental.

Amostragem e nível de controle

1) Cultivares resistentes à virose: CNPA- ITA 96, COODETEC 401, CS 50, ANTARES. Período crítico: 20 a 70 dias; 110 a 130 dias

Amostragem: presença de pulgões no limbo inferior das folhas, vistoriar a folha expandida mais alta na planta (ponteiro).

Nível de controle: a) 20 pulgões/ folha, b) 50% de plantas com pulgões

As cultivares DeltaOpal, COODETEC 402, 404, EPAMIG Precoce 1 são tolerantes/resistentes ao Mosaico da Nervuras de Ribeirão Bonito e também à bacteriose.

 

2) Cultivares suscetíveis à virose: CNPA-ITA 90, Deltapine A 90, IAC-22, SICALA 32, Deltapine 50 e Deltapine 20.

Período crítico: 5 a 100 dias; 110 a 130 dias

Amostragem: examinar a página inferior de várias folhas em toda a planta

Nível de controle:

a) > 3 pulgões/folha,

b) 5 a 10% de plantas com pulgões.

Controle biológico

É significativa a ação dos inimigos naturais na redução dos pulgões e, para preservar esta atividade, deve-se dar preferência aos inseticidas seletivos.

Na maioria das regiões produtoras de algodão têm-se constatada a ocorrência significativa de fungos entomófagos e vespinhas, geralmente coincidindo com as fases de frutificação e maturação do algodoeiro. A maior expressão dos agentes de controle natural depende da densidade dos pulgões e, normalmente, ocorre sobre altas populações destes últimos.

Nos EUA, A. gossypii é considerada praga ocasional no algodão e é muito difícil controlar esse pulgão com inseticidas foliares, por causa do alto nível de resistência aos inseticidas, além das populações de A. gossypii estarem sujeitas a epizootias, doenças fúngicas de ocorrência natural causadas por Neozygites frenesii e à ação de parasitoides braconídeos como Lysephlebus testaceipes.

Em Campinas, SP, levantamento de parasitoides em cultivares de algodão IAC-24 e DeltaOpal demonstrou a predominância de Lysephlebus testaceipes em comparação com Aphelinus gossypii e Aphidius SP., no que se refere ao número de espécimes, contudo, a eficiência no controle de A. gossypii foi considerada baixa.

O manejo adequado dos inseticidas poderá viabilizar a ação efetiva destes parasitoides.

Controle climático

As chuvas reduzem seu nível populacional.

Organismos geneticamente modificados (OGM)

Cultivares como NuOpal e DP 90 B, uma vez que foram desenvolvidas para controle de lepidópteros, não exercem nenhum controle sobre o pulgão A. gossypii.

Literatura consultada

Cia, E.; Freire, E.C.; Santos, W.J. Cultura do Algodoeiro. Piracicaba: POTAFOS, 1999. 286 p.

Gabriel, D.; Blanco, F.M.G.; Costa, V.A.; Fiorine, F.A.; Roberg, B.R. Parasitismo sobre Aphis gossypii Glover (Hemiptera: Aphididae), em algodoeiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 6., 2007, Uberlândia. Anais... Campina Grande, EMBRAPA-CNPA, 2007.

Gallo, D.; Nakano, O.; Silveira Neto, S.; Carvalho, R.P.L.; De Batista, G.C.D.; Berti Filho, E.; Parra, J.R.P.; Zucchi, R.A.; Bat, S. Entomologia Agrícola. Piracicaba: Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiróz. 2002. v.10. 920 p.

Layton, M. B.; Long, J.L.; Steinkraus, D. Influence of boll weevil eradication on aphid populations in Mississippi cotton. In: Beltwide Cotton Conference, 1999, Memphis. Proceedings… p. 845-848.

Saran, P.E., Santos, W.J. Manual de Pragas do Algodoeiro (Identificação, biologia e sintomas de danos). FMC. 2007. 280 p.

 

Origem: Instituto Biológico - www.biólógico.sp.gov.br

 


Dalva Gabriel possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade de São Paulo (1976). Atualmente é Pesquisador Científico efetivo do Instituto Biológico, Centro Experimental Central. Tem experiência na área de Agronomia , com ênfase em Fitossanidade.

Contato: dalva@biologico.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

GABRIEL, D.  Pulgão do algodoeiro: um sério problema. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_1/pulgao/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 14/01/2010

Veja Também...