Infobibos - Informações Tecnológicas - www.infobibos.com

Efeito do recipiente de colheita na qualidade de morangos

Marise Cagnin Martins Parisi

A qualidade final de um produto agrícola é determinada, entre outros fatores, pela incidência de defeitos pós-colheita de natureza diversa (danos mecânicos, desordens fisiológicas e doenças), que são responsáveis por perdas significativas, qualitativas e/ou quantitativas, durante sua comercialização. Estes defeitos podem ter sua origem antes da colheita, ocorrer no momento da mesma, pelo manuseio incorreto, e continuar nas etapas subsequentes: casas de embalagens, transporte, mercados atacadista e varejista, até a mesa do consumidor. Apesar da falta de estimativas precisas das perdas causadas pelos defeitos pós-colheita para cada produto isoladamente, há um consenso de que elas variam de 10 a 50%, dependendo do produto, da região produtora e da tecnologia empregada na sua produção e conservação. A redução das perdas pós-colheita na cadeia de comercialização das frutas representa um constante desafio, já que estas apresentam alto teor de água e nutrientes e, mesmo depois de colhidas, mantêm processos biológicos em atividade, o que as predispõe a injúrias fisiológicas, mecânicas e doenças (Kader, 2002).

Nesse contexto, o morango (Fragariae X ananassa Duch.) destaca-se como um produto muito vulnerável à ocorrência de defeitos pós-colheita, caso não sejam adotadas técnicas adequadas de colheita e pós-colheita (Cantillano, 2003; Dias et al., 2005). A colheita do morango é uma das operações mais delicadas e importantes de todo o ciclo da cultura. Os frutos do morangueiro são muito frágeis e pouco resistentes, em virtude da epiderme delgada, grande porcentagem de água e alto metabolismo. Se os frutos forem colhidos muito maduros, poderão chegar com podridões ao mercado; se forem colhidos ainda verdes, terão alta acidez, adstringência e ausência de aroma. Em ambos os casos, o produto atinge baixo valor comercial (Cantillano, 2003). Normalmente, os frutos são colhidos em cestas de bambu ou caixas de madeira, antes de serem acondicionados nas embalagens definitivas nas casas de embalagens. Sabe-se que a colheita dos morangos diretamente na embalagem definitiva pode reduzir o manuseio dos frutos, com consequente redução de perdas (Snowdon, 1990; Balbino & Costa, 2006).

Experimentos visando a determinar o recipiente mais adequado para colheita de morangos estão sendo realizados por pesquisadores do IB há três anos, em uma propriedade localizada no município de Valinhos, SP. Na safra 2007, dos quatro tipos de recipientes avaliados (cestas de madeira, de bambu, plástica e cumbuca plástica) observou-se que a colheita definitiva na cumbuca de comercialização e em cestas plásticas proporcionou menor quantidade de doenças. Apesar da colheita direta na cumbuca ter resultado em menor incidência de doenças, resultou em maior proporção de danos mecânicos, provavelmente devido à falta de prática do colhedor em acondicionar frutos de diferentes tamanhos diretamente na cumbuca, o que promoveu o prensamento de muitos deles. Na colheita convencional, os frutos somente depois de classificados por tamanho, nas casas de embalagem, são acondicionados nas cumbucas, colocando-se os menores embaixo. Em função desses resultados, nas safras posteriores testou-se, também, a colheita direta na cumbuca de base reta, diferente da tradicional de base trapezoidal (Figura 1) e a desinfestação das cestas plásticas com diferentes sanificantes.

Fig. 1 - Recipientes avaliados para colheita de morangos. Cestas de madeira, de palha, cumbucas plásticas e cesta plástica (à esquerda) e detalhe dos dois tipos de cumbucas plásticas (à direita): de base trapezoidal (em cima) e base reta (abaixo).

Resultados obtidos na safra 2009 reforçaram dados anteriores de que a colheita de morangos em cestas plásticas e direto na cumbuca de comercialização resulta em menor incidência de doenças. Nesta safra pode constatar-se, também, a importância da desinfestação das cestas plásticas e a igualdade do uso de cumbucas de bases trapezoidal e reta. A porcentagem de danos mecânicos não diferiu entre os tratamentos nas safras 2008 e 2009. A diferença na incidência de doenças em morangos colhidos em diferentes recipientes pode ser atribuída à sobrevivência diferencial de inóculo dos patógenos nos mesmos. A cesta plástica, de superfície lisa e retentora de menor umidade, deve permitir menor permanência de inóculo de patógenos, quando comparada à cesta de palha e à de madeira.

Apesar das pesquisas ainda estarem em andamento, pode-se inferir que as cestas de madeira e bambu, tradicionalmente utilizadas por produtores de morango, devem ser substituídas por cestas plásticas ou pela colheita definitiva nas cumbucas de comercialização. Acredita-se que nas condições brasileiras, a adoção das cestas plásticas desinfestadas seja a prática mais fácil e rápida a ser adotada. O tipo de sanificante mais adequado para desinfestação destas cestas plásticas ainda está sendo avaliado.

Bibliografia citada

Balbino, J.M. de S.; Costa, H. Manejo na colheita e em pós-colheita do morango. In: Balbino, J.M. de S. (ed.) Tecnologias para produção, colheita e pós-colheita de morangueiro. 2ª ed., p.69-74, 2006.

Cantillano, F.F. Morango: pós-colheita. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2003. 28 p. (Frutas do Brasil; 42).

Dias, M.S.C.; Costa, H.; Canulo, R.S. Morango: Conquistando novas fronteiras. Informe Agropecuário, v.28, p.64-77, 2007.

Kader, A. (ed.) Postharvest Technology of Horticultural Crops. 3ª ed., 535 p., 2002.

Martins, M.C.; Sinigaglia, C.; Batista, G.R.; Lourenço, S.A.; Amorim, L. Caracterização e quantificação de injúrias pós-colheita na cadeia de comercialização do morango. Summa Phytopathologica, v.34, p.S.52, 2008.

Snowdon, A.L. A Colour Atlas of Postharvest Diseases and Disorders of Fruit and Vegetables. v.1. General Introduction and Fruits. 302 p.London: Wolfe Scientific, 1990.

 

Origem: Instituto Biológico - www.Biologico.sp.gov.br


Marise Cagnin Martins Parisi possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1990), mestrado em Agronomia (Fitopatologia) pela Universidade de São Paulo (1994) e doutorado em Agronomia (Fitopatologia) pela Universidade de São Paulo (1999). Atualmente é pesquisador científico do Instituto Biológico, Centro Experimental Central. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Fitopatologia, atuando principalmente nos seguintes temas: pós-colheita e diagnose e controle de doenças de hortaliças.
Contato: marise@biologico.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

JPARISI, M.C.M.  Efeito do recipiente de colheita na qualidade de morangos. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_1/RecipienteMorango/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 07/01/2010

Veja Também...