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Nutrição e imunidade em aves

Ana Lúcia Sicchiroli Paschoal Cardoso
Eliana Neire Castiglioni Tessari
 

A saúde das aves é um fator com profundas implicações para a indústria avícola, devido aos desafios sanitários associados com as práticas de produção intensiva, envolvendo as variáveis de manejo, genética e nutrição. As aves precisam de mecanismos de defesa contra agentes infecciosos e resistir à sua proliferação, o que pode resultar em doença, sendo o sistema imunológico das aves, o responsável pela defesa delas.

Uma das áreas da pesquisa que mais tem atraído a atenção dos técnicos em avicultura é a imunomodulação por meio da nutrição. Há estudos nos quais os efeitos de doses de vitaminas, minerais e aminoácidos sobre a imunidade humoral e celular têm sido relatados.

As vitaminas são nutrientes essenciais para o desenvolvimento animal, participam no metabolismo como imunomoduladores para melhorar as funções imunológicas e a resistência a infecções em aves e outros animais domésticos. As aves têm capacidade de síntese de algumas vitaminas, no entanto, a adição dos complexos vitamínicos nas dietas de frango garante o bom desenvolvimento, e respostas importantes para a sanidade animal como, por exemplo, a resposta imunológica.

Os minerais são de grande importância para o desenvolvimento das espécies, podendo atuar como componentes estruturais de órgãos e tecidos do corpo, como constituinte de fluidos na forma de eletrólitos e como catalizadores de processos enzimáticos e hormonais. A resposta das aves às concentrações dos minerais na dieta pode ser suplementada em níveis baixos, intermediários ou altos. O conhecimento do limite entre esses dois extremos deve ser constantemente observado quando se busca manter o equilíbrio fisiológico animal.

Salienta-se que as exigências nutricionais estabelecidas pelo NRC estão baseadas em níveis que maximizam as taxas de crescimento e o desempenho reprodutivo e previnem os sintomas de deficiência. Porém, esses padrões são exigências mínimas e raramente consideram a imunidade ou uma saúde ótima.

Como nos mamíferos, o sistema imune das aves é complexo e compreende uma série de células e fatores solúveis que devem trabalhar juntos para produzir uma resposta imune protetora e seu perfeito funcionamento depende da integridade das células que o compõe. O sistema imunológico é um sistema de controle que organiza respostas locais e sistêmicas para manter e restabelecer a homeostase nos animais. A seleção genética a que as aves foram submetidas, a frequência com que foram expostas a patógenos, a virulência dos patógenos e a eficácia das vacinações são pontos fundamentais na incidência de infecções nos lotes. No entanto, características da dieta podem modular a susceptibilidade das aves às infecções e o nível de algum nutriente ou o tipo de ingredientes pode vir a ter, às vezes, grande importância.

A interação entre a nutrição e a imunologia em aves compreende uma área de conhecimento que, nos últimos anos, tem recebido importantes contribuições de pesquisas científicas e ganhando espaço com recentes normas de mercado que impossibilitam o uso de quimioterápicos na avicultura. A nutrição como ferramenta para modular o sistema imunológico, produzindo um estado ideal de imunidade, tem se tornado um fato real não apenas em estados patológicos de imunodepressões, como também para a manutenção de estados saudáveis em aves sem comprometimento do seu sistema imune.

O desenvolvimento do sistema imunológico é iniciado durante o período embrionário e continua na primeira semana após a eclosão. Durante esta semana, ocorre um rápido aumento na população de leucócitos, por meio dos órgãos linfoides, e este aumento irá mediar a imunidade celular. Durante esse período, tanto o excesso como a deficiência de nutrientes pode ser prejudicial ao desenvolvimento do sistema imune das aves. De uma maneira geral, a deficiência crônica de micronutrientes pode ser mais prejudicial do que a deficiência de energia e proteína.

Ingredientes de pouca qualidade na dieta e a presença de micotoxinas prejudicam os mecanismos de defesa tornando os animais mais propensos a infecções entéricas, que diminuem a capacidade de absorção dos nutrientes importantes para uma eficiente resposta imune.

Conforme alguns estudos, pintos alojados em ambientes livres de micro-organismos crescem 15% mais rápido do que aqueles criados em situações convencionais, continuamente expostos a micro-organismos. Isto pode levar a um chamado estresse imunológico em razão da frequente ativação do sistema imunológico frente a desafios e a agentes estranhos.

Sabe-se que o sistema imune é relativamente resistente a deficiências nutricionais, pois é o sistema prioritariamente atendido pelos nutrientes disponíveis. A alta prioridade do sistema imune para os nutrientes é baseada na observação de que uma restrição alimentar ou proteica moderada é suficiente para prejudicar a taxa de crescimento, mas não prejudica os índices de imunocompetência. Tanto as respostas mediadas por células como o sistema humoral são aumentadas em aves restritas na alimentação por curtos períodos de tempo (12 a 24 horas). Os níveis da maioria dos nutrientes que maximizam a produção geralmente proporcionam um substrato adequado para o sistema imune funcionar satisfatoriamente.

Durante o estresse imunológico há queda no consumo de alimento, tornando-se prudente manipular a densidade energética da ração via ingredientes adequados para ajustar a densidade calórica da dieta.

Pesquisas mostram que o nível de vitamina A na dieta que maximiza o crescimento e a eficiência alimentar de frangos pode ser insuficiente para um ótimo desenvolvimento do sistema imune, podendo ser necessários para tanto, níveis 5 a 20 vezes mais altos.

Existem receptores para a vitamina D em um grande número de tipos celulares, incluindo células importantes para a resposta imune, como macrófagos. Os metabólitos da vitamina D podem suprimir a produção de imunoglobulinas e acentuar a atividade imunossupressora das células T.

A vitamina E tem uma atuação importante sobre o sistema imunológico, seja por sua influência sobre a proliferação das células que compõe o sistema imunológico e de anticorpos ou a sua ação antioxidante e protetora da integridade das membranas. A maioria dos efeitos metabólicos da vitamina E é mediada por suas propriedades antioxidantes, principalmente em relação aos intermediários do oxigênio reativo (radicais livres). Os radicais livres são produzidos como resultado do metabolismo normal de todas as células, bem como durante uma resposta imune. Estes radicais junto com o óxido nítrico e enzimas de catabolismo matam bactérias, parasitas, células infectadas e causam danos às células sadias.

O uso do zinco orgânico é uma estratégia que pode beneficiar o desempenho das aves (matrizes, poedeiras e frangos de corte) na medida em que participa da estrutura de cerca de 160 enzimas (metaloenzimas) em diferentes espécies animais, maximizando as respostas aos desafios encontrados a campo. Quando fornecido em uma molécula orgânica estável no sistema digestivo do animal e eficientemente absorvido é capaz de aumentar os níveis circulantes deste mineral. Em nível mais adequado no sangue influencia de vários modos o desempenho das aves, tornando a resposta imunológica mais efetiva e mais prolongada.

O cobre atua como componente de enzimas, sendo que pelo menos três enzimas dependentes deste mineral funcionam na defesa antioxidante do organismo. Animais deficientes de cobre são mais suscetíveis a infecções, apresentando menor produção de anticorpos.

O selênio associado à vitamina E tem importante papel na qualidade da resposta imune, sendo importante constituinte de enzimas na cadeia de ações do sistema imune. A deficiência deste mineral prejudica o sistema imune aumentado o risco de infecções virais e bacterianas.

Há muitas situações nas quais as dietas, incluindo níveis vitamínicos, que maximizam o desempenho produtivo, não propiciam a máxima proteção imunológica. Isso pode ser facilmente verificado ao examinar tabelas de exigências nutricionais que otimizam o desempenho produtivo em condições de ausência quase que completa de desafio sanitário. É importante ressaltar que a deficiência crônica severa de micronutrientes (vitaminas e minerais) é mais debilitante ao sistema imunológico do que energia e proteína.

Ainda hoje se requer investigação quanto à relevância e as vantagens de utilizar suplementos nutricionais para potencializar o funcionamento do sistema imunológico, podendo, por conseguinte, melhorar o desempenho de produtividade de criação de aves domésticas e ser economicamente vantajoso.

No Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio Avícola do Instituto Biológico é realizado o teste ELISA que tem como finalidade avaliar a resposta imunológica humoral das aves. Este teste é frequentemente solicitado pelas empresas para monitoria sorológica, ou seja, verificar a resposta vacinal ou desafio de campo das aves, assim como em pesquisas para avaliar o incremento de nutrientes interagindo com o sistema imunológico. Muitas dessas pesquisas são realizadas em parcerias com professores e alunos pós-graduandos da Universidade de São Paulo (USP) - Campus Pirassununga.

Referências

Cardoso, A.L.S.P. Influência de níveis de zinco e vitamina E, isolados e associados, sobre o desempenho e a resposta imunológica humoral em frangos de corte. 2004. 88f. Dissertação (Mestrado em Nutrição e Produção Animal) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2004.

Ribeiro, A.M.L.; Kindlein, G. Nutrição e função imune em aves. In: ENCONTRO TÉCNICO SOBRE AVICULTURA DE CORTE DA REGIÃO DE DESCALVADO, IV., 2000, Descalvado, SP. Descalvado: 29 de novembro de 2000. p.12-22.

Silva I.C.M.; Ribeiro, A.M.L. Interação entre a nutrição e a imunologia em aves. Avisite Produção Animal - Avicultura, n.22, p.18-25, 2009.


Ana Lúcia Sicchiroli Paschoal Cardoso concluiu o mestrado em medicina veterinária pela universidade de São Paulo em 2004. Atualmente é Pesquisador Científico do Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio Avícola do Instituto Biológico. Atua na área de microbiologia e imunologia, com ênfase em avicultura. Em seu currículo Lattes os termos mais frequentes na contextualização da produção científica e tecnológica são: antimicrobianos, aves, Salmonella, micoplasmas aviários, Aspergillus spp., doença respiratória, fungos, campylobacter jejuni, pcr, hematologia aviaria, frangos de corte, afb1, fb1, efeitos tóxicos, água, aves, coliformes, qualidade da água, rede de abastecimento, Escherichia coli, teste de soroaglutinação rápida, elisa, teste de sensibilidade, carcaças de frango, incubatório, abatedouro avícola, segurança alimentar.
Contato:
alspcardoso@biologico.sp.gov.br

Eliana Neire Castiglioni Tessari concluiu o mestrado em zootecnia (qualidade e produtividade animal) pela Universidade de São Paulo em 2004. Atualmente é Pesquisador Científico do Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio Avícola do Instituto Biológico. Atua na área de imunologia e bacteriologia, com ênfase em microbiologia aviária. Em seu currículo Lattes os termos mais frequentes na contextualização da produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: aves, salmonella, coliformes, abatedouro avícola, coliformes, afb1, fb1, parâmetros hematológicos, resposta imunológica humoral, frangos de corte; efeitos tóxicos, água, granjas avícolas e antimicrobiano.
Contato:
etessari@biologico.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

CARDOSO, A.L.S.P.; TESSARI, E.N.C.   Nutrição e imunidade em aves. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_2/aves/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 17/05/2010