BALANÇA COMERCIAL DOS AGRONEGÓCIOS PAULISTA E BRASILEIRO: COMPORTAMENTO NO PERÍODO 1997-2009

 

 José Sidnei Gonçalves

 

Nos últimos anos da década de 1990 as exportações dos agronegócios paulistas diminuíram, passando de US$ 6,36 bilhões em 1997, para US$ 5,46 bilhões em 2000. A partir de então passaram a exibir nítida tendência de crescimento, terminando essa fase em 2008 com US$ 16,99 bilhões. Em 2009 há reversão do crescimento contínuo recuando para US$ 15,98 bilhões (Figura 1 e Tabela 1).

 

 

As importações dos agronegócios paulistas caíram durante os seis primeiros anos da série analisada, de US$ 5,59 bilhões em 1997, para US$ 3,02 bilhões em 2002. Em 2003 iniciou-se fase de crescimento, terminando esse ciclo em 2008 com US$ 7,78 bilhões. Em 2009, as aquisições externas setoriais paulistas recuam para US$ 6,30 bilhões (Figura 2 e Tabela 1).

 

 

O saldo da balança comercial dos agronegócios paulistas aumentou continuamente no período 1997-2006, com exceção do ano de 2000, finalizando 2006 com um superávit de US$ 10,26 bilhões. Entretanto, de 2007 em diante verifica-se a reversão dessa tendência de crescimento dos saldos da balança comercial setorial, que recua para US$ 9,21 bilhões em 2008. No caso paulista, as quedas das divisas geradas pelas exportações de açúcar, cujos preços internacionais recuaram, explicam o recuo do superávit setorial no biênio 2007-08. Em 2009, ocorre nova reversão com aumento do saldo para US$ 9,69 bilhões, exatamente pela nova temporada altista do açúcar no mercado internacional e porque, em plena crise mundial, as importações recuam mais que as exportações (Figura 3 e Tabela 1).

 

 

O valor das exportações dos agronegócios do conjunto das outras Unidades da Federação - que no primeiro ano do período em análise atingiu US$ 18,60 bilhões - diminuiu até 1999, apresentando valores crescentes desse ano em diante, chegando a US$ 59,15 bilhões em 2008. Diferentemente dos agronegócios paulistas, esse desempenho das demais unidades da federação deriva, principalmente, dos aumentos das divisas obtidas com exportações de milho e soja, cujos preços internacionais apresentaram significativa alta no ano de 2007 e na primeira metade de 2008, fruto da política de biocombustíveis de outras nações, em especial da decisão norte-americana de produção de etanol a partir do milho, que elevou os preços internacionais dessa commodity. A crise econômica reverte esse crescimento contínuo em 2009 com recuo das vendas externas para US$ 51,58 bilhões. Esse desempenho que só não foi inferior face às compras chinesas de soja em grão.  (Figura 4 e Tabela 1).

 

 

As importações dos agronegócios do conjunto das outras Unidades da Federação exibiram, em linhas gerais, comportamento similar às dos agronegócios paulistas, com tendência de queda até 2002, e crescimento daí em diante, concluindo 2008 com a quantia de US$18,58 bilhões. Verifica-se o expressivo salto no biênio 2007-08, consequência do barateamento de produtos estrangeiros em função da valorização da moeda brasileira. Em 2009 as aquisições externas setoriais recuam de maneira expressiva para US$ 12,23 bilhões, dados os impactos mais imediatos da crise econômica mundial de 2008 que combinou menor demanda interna com desvalorização da moeda brasileira (Figura 5 e Tabela 1).

 

 

A balança comercial dos agronegócios do conjunto das outras Unidades da Federação mostrou  saldo em queda de US$ 1,70 bilhão entre os anos de 1997 e 1998.  Esse resultado passou a apresentar crescimento contínuo nos anos seguintes, terminando o ano de 2008 com superávit de US$ 40,5 bilhões. Em 2009, quando a crise produziu redução das importações em percentuais maior que o das exportações, o saldo comercial recuou para US$ 39,34 bilhões  (Figura 6 e Tabela 1).

 

 

Em nível nacional, a partir de 2001 as exportações dos agronegócios inverteram a tendência de queda observada entre 1997 e 2000, seguindo o comportamento dos agronegócios paulistas, chegando em 2008 à quantia de US$ 76,14 bilhões. Em 2009 as vendas externas setoriais recuaram US$ 67,56 bilhões em decorrência da redução de demanda fruto da crise mundial, uma vez que o câmbio sofreu desvalorização no imediato pós-crise. Ainda assim, os resultados não foram inferiores dada a manutenção de elevado patamar das compras chinesas de soja em grão e os ganhos das maiores quantidades e melhores preços do açúcar, com resultado da quebra da safra da Índia que de exportadora passou a importadora do produto (Figura 7 Tabela 1).

 

 

O valor das importações dos agronegócios brasileiros passou de US$ 12,69 bilhões em 1997, para US$ 26,36 bilhões em 2008. Em linhas gerais, a tendência de queda verificada até 2002 inverteu-se desse ano em diante, fechando o período 2002-06 em patamar ainda inferior ao de 1997. De 2006 em diante, ocorreu aceleração das importações dos agronegócios brasileiros levando ao patamar de US$ 26,36 bilhões em 2008, com reflexo da combinação entre câmbio desvalorizado e da alta de preços de produtos essenciais como trigo e derivados e dos fertilizantes. Em 2009, a crise internacional faz recuar as aquisições externas setoriais como resultante da menor demanda e da queda de preços das commodities e dos insumos (Figura 8 Tabela 1).

 

 

Os saldos da balança comercial dos agronegócios brasileiros foram positivos em todos os anos de 1997 a 2006: porém, um ritmo mais acelerado de crescimento iniciou-se após o ano de 2000, fechando 2008 com superávit de US$ 49,78 bilhões. Em linhas gerais esse comportamento refletiu aumentos das exportações em percentuais maiores que os verificados nas importações setoriais. Em 2009, a crise obstou esse crescimento contínuo, reduzindo o saldo comercial setorial para US$ 49,03 bilhões. Esse desempenho do último ano decorreu de razão diversa dos anos anteriores, pois neste caso o superávit derivou de quedas das importações em percentuais maiores que os das exportações (Figura 8 Tabela 1).

 

A relevância dos agronegócios, que apresentaram saldos comerciais positivos em todos aos anos considerados (Tabela 1), pode ser aquilatada quando se considera o desempenho da balança comercial dos demais setores. Tanto para o Brasil como um todo, como para as demais Unidades da Federação (exclusive São Paulo), superávits passaram a existir apenas a partir de 2003, sendo que em São Paulo em todos aos anos há déficit das transações dos demais setores com o exterior, sendo estes inclusive crescentes nos últimos dois anos repercutindo no desempenho nacional (Tabela 2).

Tabela 1 – Balança Comercial dos Agronegócios do Brasil, de São Paulo e do Conjunto das Outras Unidades da Federação no Período 1997 – 2009

(US$ bilhões)

 

Brasil

Outras Unidades da Fed.

São Paulo.

Ano

Export.

Import.

Saldo.

Export.

Import.

 Saldo

Export.

Import.

 Saldo

1997

24,96

12,69

12,28

18,60

7,09

11,51

6,36

5,59

0,77

1998

23,05

12,28

10,77

16,85

7,04

9,81

6,20

5,24

0,97

1999

21,66

9,11

12,56

15,46

5,24

10,22

6,21

3,87

2,34

2000

21,78

9,47

12,31

16,32

5,63

10,69

5,46

3,84

1,62

2001

25,01

8,56

16,45

18,81

5,01

13,80

6,20

3,55

2,64

2002

26,06

7,68

18,38

19,52

4,66

14,86

6,54

3,02

3,52

2003

32,43

8,51

23,92

24,76

5,34

19,42

7,67

3,17

4,50

2004

41,51

10,20

31,31

31,47

6,44

25,03

10,04

3,76

6,28

2005

46,30

10,07

36,23

34,55

6,29

28,26

11,75

3,78

7,97

2006

52,04

11,86

40,18

37,29

7,37

29,92

14,75

4,49

10,26

2007

61,88

17,21

44,67

46,36

11,68

34,68

15,52

5,53

9,99

2008

76,14

26,36

49,78

59,15

18,58

40,57

16,99

7,78

9,21

2009

67,56

18,53

49,03

51,58

12,23

39,34

15,98

6,30

9,69

Fonte:Elaborada pelo IEA/APTA/SAAESP a partir de dados básicos da SECEX/MDIC

A crise internacional que abalou as economias das principais nações mundiais impactou de forma decisiva a balança comercial dos agronegócios, com quedas tanto das exportações como das importações refletindo em menores fluxos de comércio. Os dois principais produtos das exportações setoriais, no caso, a soja em grão do conjunto das demais unidades da federação, em função da persistente demanda chinesa, e do açúcar paulista, dada a quebra da safra da Índia, sustentaram o desempenho das exportações dos agronegócios brasileiros. Da mesma forma que a queda dos preços das commodities como o trigo, e dos insumos como fertilizantes, levaram a queda das importações setoriais. Nesse cenário, de menores vendas externas, não há como não se preocupar com o desempenho dos agronegócios no futuro próximo, dados os investimentos realizados na perspectiva de continuidade do crescimento das vendas externas.  

Tabela 2 – Balança Comercial dos Demais Setores do Brasil,  de São Paulo e do Conjunto das   Outras Unidades da Federação no Período  1997 – 2009

(US$ bilhões)

 

Brasil

Outras Unidades da Fed.

São Paulo.

Ano

Export.

Import.

Saldo.

Export.

Import.

 Saldo

Export.

Import.

 Saldo

1997

28,03

47,06

-19,03

16,29

24,13

-7,83

11,74

22,93

-11,20

1998

28,09

45,44

-17,35

16,07

22,74

-6,68

12,02

22,69

-10,67

1999

26,35

40,10

-13,75

15,01

20,66

-5,65

11,33

19,44

-8,11

2000

33,31

46,31

-13,00

18,98

24,58

-5,60

14,33

21,73

-7,41

2001

33,22

47,01

-13,80

18,79

25,79

-7,00

14,43

21,23

-6,80

2002

34,30

39,56

-5,26

20,73

22,74

-2,01

13,57

16,82

-3,25

2003

40,65

39,79

0,86

25,25

22,63

2,62

15,40

17,16

-1,76

2004

54,96

52,63

2,33

33,96

29,28

4,68

21,00

23,35

-2,35

2005

72,01

63,54

8,47

45,75

36,82

8,93

26,26

26,72

-0,46

2006

85,77

79,49

6,28

54,37

46,93

7,44

31,40

32,56

-1,16

2007

98,77

103,41

-4,64

62,56

60,52

2,04

36,21

42,89

-6,68

2008

121,80

146,62

-24,82

81,46

88,05

-6,59

40,34

58,57

-18,23

2009

85,44

109,12

-23,68

58,96

64,93

-5,97

26,48

44,19

-17,71

Fonte:Elaborada pelo IEA/APTA/SAAESP a partir de dados básicos da SECEX/MDIC

Em linhas gerais fica caracterizada a importância dos agronegócios para as contas eternas brasileiras, na medida em que os demais setores da economia apresentam déficits nas suas transações com o exterior. Da mesma maneira há outro elemento essencial, derivado de que a estrutura agroindustrial paulista, em especial a de bens de capital e insumos, acaba sustentando com as importações dessas mercadorias, os surtos modernizadores dos agronegócios das outras unidades da federação brasileira. Ademais, São Paulo com sua logística privilegiada e estrutura de agroserviços transacionais e financeiros, concentra o fluxo dos produtos destinados aos exterior, conformando-se como principal plataforma do comércio exterior setorial.

Palavras-chave: agronegócios, balança comercial, exportações, importações

03/03/2010


JOSÉ SIDNEI GONÇALVES, Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciências Econômicas.

Pesquisador Científico do Instituto de Economia Agrícola (IEA) da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegíocios (APTA).
e-mail :
sydy@iea.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

GONÇALVES, J.S. Balança comercial dos agronegócios paulista e brasileiro: comportamento no período 1997-2009. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/ComercioExterior/2010_2/BalancaComercial/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 05/04/2010