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Influência das fumonisinas sobre as aves

Eliana Neire Castiglioni Tessari
Ana Lúcia Sicchiroli Paschoal Cardoso

 

O crescimento fúngico e a subsequente contaminação de alimentos animais e humanos por micotoxinas representam tanto um risco para a economia, quanto à saúde humana e animal. As micotoxinas de maior preocupação são produzidas por três gêneros de fungos: Aspergillus, Fusarium e Penicillium.

As principais classes de micotoxinas incluem as aflatoxinas, os tricotecenos, as fumonisinas, a zearalenona, a ocratoxina A e os alcaloides do ergot.

Nos países da América Latina, incluindo Brasil, Peru, Venezuela e Argentina, as aflatoxinas e as fumonisinas são as micotoxinas mais encontradas. No entanto, quando a estação fria vem acompanhada de alta umidade, a ocratoxina A, toxina T-2, deoxinivalenol (DON, vomitoxina), zearalenona e outras toxinas de Fusarium tornam-se comuns nesses países.

No Brasil, a contaminação fúngica dos alimentos é bastante frequente, uma vez que as condições climáticas propiciam o desenvolvimento dos fungos e a produção de micotoxinas. É importante ressaltar que o processamento e o armazenamento de grãos podem alterar a microbiota, porém as micotoxinas permanecem no produto devido à estabilidade química que apresentam.

Um dos mais recentes grupos de micotoxinas reconhecido é o das fumonisinas, que são metabólitos tóxicos secundários produzidos por fungos, principalmente pela espécie Fusarium moniliforme e pelo Fusarium proliferatum. Entretanto, fungos do gênero Alternaria spp. também podem produzir fumonisinas.

As fumonisinas estão associadas à leucoencefalomalácea equina (LEME) e ao edema pulmonar suíno, além de apresentarem atividade promotora de câncer em alguns testes laboratoriais.

A contaminação por F. moniliforme pode ocorrer pelos esporos, provenientes do solo, da própria semente contaminada no momento do plantio, pela veiculação de esporos pelo ar e por vetores como insetos que, além de transportar esporos, lesam a planta estabelecendo um local adequado para a germinação de conídeos disseminados pelo ar ou pela chuva. Esta contaminação ocorre principalmente no campo, mas também pode ser encontrada no armazenamento, caso as condições de temperatura e umidade sejam adequadas. As fumonisinas podem contaminar os grãos e são predominantemente detectadas no milho e seus derivados e estes podem ser usados em rações destinados à nutrição de aves.

Das fumonisinas identificadas até o momento, FB1, FB2 e FB3 são as mais isoladas em alimentos naturalmente contaminados, sendo a FB1 a mais abundante e a mais tóxica de seu grupo de micotoxinas, representando cerca de 70% da contaminação total dos alimentos e rações naturalmente contaminados, seguida pela FB2 e FB3. São carcinogênicas e citotóxicas para os animais.

O mecanismo de ação das fumonisinas ainda não é perfeitamente conhecido e, segundo alguns autores, a FB1 interfere na biossíntese e degradação de esfingolipídeos, devido à similaridade da molécula de FB1 com o complexo amino álcool esfingosina, que é um dos trinta aminoalcoóis de cadeia longa encontrados nos esfingolipídeos de várias espécies. Os esfingolipídeos mais abundantes dos tecidos animais são a esfingosina e os glicoesfingolipídeos. A inibição da biossíntese dos esfingolipídeos causa efeitos sobre a célula, pois estes componentes têm papel fundamental na estrutura da membrana, comunicação celular, interação intracelular e matrix celular, regulação de fatores de crescimento, como mensageiro de vários fatores, incluindo fator de necrose de tumor, interleucina 1 e fator de crescimento de nervos, ou seja, estão envolvidos na regulação do crescimento celular, diferenciação e transformação neoplásica.

Estudos revelaram que a FB1 age sobre antígenos de superfície de linfócitos T, além de interromper o equilíbrio da subpopulação linfocitária e inibir a síntese de DNA em linfócitos normais e com isto suprime a resposta imunológica dependente de antígenos T in vivo.

Para a maioria das aves domésticas as fumonisinas apresentam toxidez relativamente baixa, pois estas apresentam grande resistência frente a essas toxinas. Entretanto, estudos demonstraram que intoxicando pintos de 1 dia com 10 mg/kg (ppm) de FB1 na ração durante 6 dias contribuiu para o aparecimento de petéquias, aumentando o tempo de coagulação sanguínea e diminuindo a concentração de albumina sérica. Os sintomas mais graves como diarreia, diminuição do consumo de alimentos, diminuição do ganho de peso corporal, aumento do peso relativo do fígado e rins hepatite ou hiperplasia hepatocelular em frangos de corte, perus e patos, são observados nas doses maiores que 150 mg/kg de fumonisinas.

Estudos realizados utilizando-se material de cultura de F. moniliforme e de F. proliferatum contendo FB1 foram associados com baixo desempenho, aumento do peso relativo de vísceras e hepatite em frangos de corte.

As fumonisinas podem levar a um efeito imunossupressivo que pode estar diretamente relacionado com a inibição da síntese de proteína, incluindo uma diminuição nos títulos de IgG e IgA, redução no número de linfócitos e efeitos sobre a “bursa de Fabricius”, levando a uma redução na produção de anticorpos que pode resultar em um aumento a susceptibilidade às infecções por bactérias, vírus, fungos e doenças parasitárias, podendo comprometer a criação industrial de aves.

Em casos de intoxicações, que causam lesões hepáticas de moderada a alta intensidade, observam-se alterações nos resultados das provas de função hepática, caracterizadas pelos aumentos séricos da enzima AST.

Resultados obtidos por pesquisadores do Instituto Biológico levaram a concluir que o consumo de ração feito pelas aves contendo níveis de FB1, a partir de 50 ppm, causa redução no peso corporal, diminuição na resposta imunológica humoral de frangos de corte vacinados e originam lesões significativas no fígado e rins de frangos de corte. Níveis de 200 ppm de FB1 aumentam o peso relativo do coração e do fígado de frangos de corte e levam a um aumento dos níveis séricos da enzima aspartato-aminotransferase (AST). Portanto, essas alterações que as fumonisinas causam podem afetar toda a cadeia produtiva, acarretando sérios danos à saúde das aves e grandes prejuízos econômicos.

A avicultura brasileira está em crescente expansão e tem que se adequar às exigências do mercado nacional e internacional, para isso estudos focados na prevenção de possíveis problemas que possam afetar o desempenho e a produção avícola são relevantes, tornando importante o estudo da fumonisina na cadeia de produção avícola, garantindo o controle desta micotoxina.

O Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio Avícola do Instituto Biológico vem pesquisando, em parceria com a Universidade de São Paulo - Campus de Pirassununga, os efeitos da fumonisina sobre o desempenho e resposta imunológica humoral em frangos de corte. Os resultados obtidos deram origem a artigos que foram publicados em revistas nacionais e internacionais.

Referências

Bacon, C.W.; Nelson, P.E. Fuminisin productin in corn by toxigenic strains of Fusarium moniliforme and Fusarium proliferatum. Journal of Food Protection, Ames, Iowa, v.57, p.514-521, 1994.

Mallmann, C.A.; Santurio, J.M.; Almeida, C.A.A.; Dilkin, P. Fumonisin B1 levels in cereals and feeds from southern Brazil. Arquivos do Instituto Biológico, São Paulo, v.68, n.1, p.41-45, 2001.

Pozzi, C.R.; Arcaro, J.R.P.; Arcaro Júnior, I.; Fagundes, H.; Corrêa, B. Aspectos relacionados à ocorrência e mecanismo de ação de fumonisinas. Ciência Rural, Santa Maria, v.32, n.5, p.901-907, 2002.

Ross, P.F.; Nelson, P.E.; Richard, J.L.; Osweiler, G.D.; Rice, L.G.; Plattner, R.D.; Wilson, T.M. Production of fumonisins by Fusarium moniliforme and F. proliferatum isolates associated with equine leukoencephalomalacia and pulmonary edema syndrome in swine. Applied and Environmental Microbiology, Baltimore, v.56, n.10, p.3225-3226, 1990.

Tessari, E.N.C. Efeitos da administração de aflatoxina B1 e fumonisina B1 sobre frangos de corte. 2004. 134f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia - Área de Qualidade e Produtividade Animal) - Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2004.

Wang, E.; Ross, F.P.; Wilson, T.M. Increases in serum sphingosine and sphinganine and decreases in complex sphingolipids in ponies given feed containing fumonisins, mycotoxins produced by Fusarium moniliforme. Journal of Nutrition, Bethesda, v.122, n.8, p.1706-1716, 1992.

Origem: Instituto Biológico - www.biologico.sp.gov.br


Eliana Neire Castiglioni Tessari concluiu o mestrado em zootecnia (qualidade e produtividade animal) pela Universidade de São Paulo em 2004. Atualmente é Pesquisador Científico do Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio Avícola do Instituto Biológico. Atua na área de imunologia e bacteriologia, com ênfase em microbiologia aviária. Em seu currículo Lattes os termos mais frequentes na contextualização da produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: aves, salmonella, coliformes, abatedouro avícola, coliformes, afb1, fb1, parâmetros hematológicos, resposta imunológica humoral, frangos de corte; efeitos tóxicos, água, granjas avícolas e antimicrobiano.
Contato:
etessari@biologico.sp.gov.br

 

Ana Lúcia Sicchiroli Paschoal Cardoso concluiu o mestrado em medicina veterinária pela universidade de São Paulo em 2004. Atualmente é Pesquisador Científico do Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio Avícola do Instituto Biológico. Atua na área de microbiologia e imunologia, com ênfase em avicultura. Em seu currículo Lattes os termos mais frequentes na contextualização da produção científica e tecnológica são: antimicrobianos, aves, Salmonella, micoplasmas aviários, Aspergillus spp., doença respiratória, fungos, campylobacter jejuni, pcr, hematologia aviaria, frangos de corte, afb1, fb1, efeitos tóxicos, água, aves, coliformes, qualidade da água, rede de abastecimento, Escherichia coli, teste de soroaglutinação rápida, elisa, teste de sensibilidade, carcaças de frango, incubatório, abatedouro avícola, segurança alimentar.
Contato:
alspcardoso@biologico.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

TESSARI, E.N.C.; CARDOSO, A.L.S.P.  Influência das fumonisinas sobre as aves. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_2/fumonisinas/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 12/04/2010