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Desbaste em Tangerinas

 Rose Mary Pio
 José Dagoberto De Negri

Para ter beleza e doçura, o fruto de uma tangerineira necessita de cuidados especiais. Além dos tratos culturais adequados como implantação correta da cultura, com correção do solo, adubação equilibrada e ajustada para as condições nutricionais da planta, manejo de defensivos conduzidos com critério para atingir o alvo e agredir menos o meio ambiente, há necessidade de se adotar outras técnicas que tenham como foco o aumento da produtividade, mas com qualidade de seu produto.

A produção de tangerina é destinada, basicamente, ao consumo como fruta fresca. Este fato aumenta muito a responsabilidade do produtor com relação ao seu aspecto físico e também ao seu sabor, que no caso do consumidor brasileiro tem que ser doce e com pouca acidez (Figuras 1 e 2). As variedades cítricas de maneira geral produzem muitas flores e dependendo da cultivar, somente uma pequena porcentagem têm pegamento, podendo ser inferior a 0,2%. Entretanto, esse baixo vingamento raramente é limitante à produção, tendo em vista o elevado número de flores produzido pela maioria das cultivares, que pode ser de 100.000 a 200.000 por planta adulta. Mesmo com toda essa queda natural, a produção de frutos ainda é muito intensa, como é o caso das variedades de tangerinas cultivadas comercialmente no País. A Ponkan apresenta alternância de produção, isto é, produz muito em um ano e pouco no ano seguinte. Assim sendo, os frutos produzidos, no ano com excesso de produção, são de tamanho pequeno, portanto com menor valor comercial para os padrões nacionais. A Murcott também floresce em abundância e a taxa de pegamento é bastante alta. Dessa maneira, os frutos ficam de tamanho pequeno e, em alguns casos, as plantas sofrem um processo de estresse que pode levá-la a morte.

Fig.1. Frutos de tangor Ortanique IAC 554

Fig.2. Frutos de tangerina Ponkan África-do-sul IAC 557.

As cultivares que apresentam sementes tem uma porcentagem maior de pegamento, pois o processo de polinização e as próprias sementes estimulam a síntese de hormônios nos ovários em desenvolvimento, evitando a queda da flor e do fruto inicial, ou seja, do ovário logo após a queda das pétalas. Técnicas para se reduzir o número de frutos como a poda, os raleios manual e químico podem ser utilizados para amenizar o problema e tornar o fruto de tamanho adequado para o mercado de fruta fresca. A poda promove a redução da área foliar e em conseqüência o desequilíbrio carboidrato/nitrogênio. Essa mudança implica no aumento do crescimento vegetativo e na redução de floração e, portanto, no declínio da produção. Para o caso das frutas destinadas ao consumo in natura, a poda deve ser realizada manualmente, com muito critério para que se eliminem os ramos improdutivos e se aproveite aqueles com potencial para produzir frutos. Esse procedimento faz com a planta tenha uma melhor conformação, inclusive com maior penetração de luz em seu interior, facilidade para aplicação de produtos fitossanitários e porte menor, o que favorece a colheita dos frutos (Fig. 3).

  Poda de Limpeza  
   
  Sem poda Com poda  

Fig.3. Plantas sem poda e com poda de ramos

A pratica do raleio, que pode ser químico e/ou manual, permite que a planta “segure” um número de frutos mais compatível com a sua capacidade de nutri-los de forma adequada. O raleio químico é realizado com o ácido 2-cloroetilfosfônico (ethephon), ácido giberélico ou auxinas. Importante saber que a ação desses reguladores depende de uma série de fatores como cultivar alvo da aplicação, estádio de desenvolvimento das plantas, condições climáticas, entre outros.

O modo de ação desses fitoreguladores é diferente, portanto, o momento correto de aplicação é importante para que a resposta não seja diferente do esperado (Fig. 4).

Fig. 4. Queda de folhas provocada pela aplicação de reguladores.

O raleio químico com pulverizações utilizando ethephon, realizado durante a plena queda natural dos frutos, promove a formação de elevada porcentagem de frutos grandes e diminui a alternância de produção, produzindo uma boa florada no ano seguinte. Tem desvantagens como a permanência de frutos que deveriam ser eliminados no interior da copa, devido às baixas pressões de pulverização; diminuição do teor de sólidos solúveis no suco dos frutos e se não ocorrer um ajuste na dosagem, a queda excessiva de folhas tem sido também notada. O raleio manual já se trata de uma técnica mais demorada, o que se justifica em pomares menores. Deve-se adotá-la depois da queda natural dos frutos por dois motivos: diminui o tempo gasto no trabalho e evita-se o raleio excessivo provocado por quedas posteriores. Para as nossas variedades comerciais recomenda-se um desbaste da ordem de 50% a 80% e que a distribuição seja de um fruto por ramo, distantes num raio de 20 cm. A prática tem mostrado que o comprimento de uma caneta é a distância ideal para se deixar um fruto do outro. As figuras 5 e 6 mostram o efeito do raleio manual na produção por planta e também no peso médio dos frutos da tangerina Ponkan. Pode­se notar que a produção por planta cai, mas é compensada com o aumento do peso do fruto. Neste caso deve-se avaliar se um desbaste mais suave, da ordem de 50% não é mais vantajoso, pois se aliam um peso mais adequado ao gosto do consumidor brasileiro e uma produção economicamente viável.

Fig. 5. Produção de tangerineira 'Ponkan' em relação à intensidade de raleio manual. UFLA, Lavras, 1999.
Fonte: Rufini & Ramos, 2002

Fig. 6. Peso médio dos frutos da tangerineira 'Ponkan' na colheita em relação à intensidade de raleio manual. UFLA, Lavras, 1999.
Fonte: Rufini & Ramos, 2002

Para plantios maiores pode-se esquematizar um raleio químico durante a queda natural dos frutinhos e depois dessa queda, aplicar o desbaste manual retirando os frutos excedentes. Vale ressaltar que qualquer que seja a técnica a ser adotada, a presença de um técnico experiente no assunto é importante para evitar transtornos de perda de safra do ano e nos subsequentes.

Citações Consultadas

Carvalho, J.E.B. de; Neves, C.S.V.J; Menegucci, J.L.P.; Silva, J.A.A. da Práticas Culturais. In: Mattos Junior, J.; De Negri, J. D.; Pio, R.M.; Pompeu Junior, J. (eds.)Citros. Campinas: Instituto Agronômico/Fundag. 449-482, 2005.

Domingues, M.C.S.; Ono, E.O.; Rodrigues, J.D. Reguladores vegetais e o desbaste químico de frutos de tangor Murcote. Sci. Agric., v.58, n.3, p.487-490, Piracicaba, 2001.

Rufini, J.C. M.; Ramos, J.D. Influência do raleio manual sobre a qualidade dos frutos da tangerineira ´Ponkan`(Citrus reticulata Blanco). Ciênc. Agrotec., Lavras, v.26, n.3, p.516-522, 2002.

Sartori, I.A. ; Koller, O.C. ; Theiser, S.; Souza, P.V.D. de ; Bender, R.J. ; Marodin, G.A.B. Efeito da poda, raleio de frutos e uso de fitoreguladores na produção de tangerinas (Citrus deliciosa Tenore). Rev.Bras.Frutic., v.29, n.1,Jaboticabal, p.5-10, 2007.


Origem: Instituto Agronômico - www.iac.sp.gov.br

 

Rose Mary Pio possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de São Carlos (1978), mestrado em Horticultura pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (1992) e doutorado em Horticultura pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (1997). Atualmente é pesquisadora nível VI do Instituto Agronômico de Campinas. Docente do Curso de Pós-Graduação do IAC, na área de Tecnologia da Produção Agrícola. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Melhoramento Vegetal, atuando principalmente na seleção de tangerinas visando ampliar o período de colheita de variedades do tipo Ponkan, tangerinas tolerantes a doenças e mais recentemente na avaliação de tangerinas sem sementes principalmente para a região sudoeste do Estado de São Paulo.
Contato: rose@iac.sp.gov.br

 José Dagoberto De Negri é Engenheiro Agrônomo Centro de Citricultura Sylvio Moreira/IAC



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte

Dados para citação bibliográfica(ABNT):
PIO, R.M.; De NEGRI, J.D.; Desbaste em Tangerinas.  2010. Artigo em Hipertexto. disponível em: <http://www.infobibos.com/artigos/2010_3/DesbasteTangerinas/index.htm>. Acesso em:
 

Publicado no Infobibos em 25/08/2010