Infobibos - Informações Tecnológicas - www.infobibos.com

Controle da murcha bacteriana em substrato para plantio

Irene Maria Gatti de Almeida
Flávia Rodrigues Alves Patrício
Celso Sinigaglia

A murcha bacteriana, causada por Ralstonia solanacearum (anteriormente denominada Pseudomonas solanacearum), é uma das mais importantes doenças de plantas de origem bacteriana. R. solanacearum é habitante do solo e já foi relatada até em áreas recém-desbravadas. Essa bactéria é encontrada em todo o mundo, especialmente em regiões tropicais e subtropicais, e possui uma ampla gama de hospedeiros, tendo sido descrita em mais de 200 espécies vegetais, incluindo batata, tomate, pimentão, berinjela, banana, helicônia, pepino, abóbora-de-moita, eucalipto, fumo e plantas daninhas. No Brasil, ela se encontra disseminada por quase todo o território nacional, causando prejuízos em diversas culturas.

R. solanacearum apresenta grande diversidade, tendo sido descritas cinco raças, classificadas pela sua especificidade por hospedeiros, e cinco biovares, classificados conforme a habilidade em utilizar determinados açúcares e álcoois.

Por se tratar de patógeno de solo, o controle é muito difícil. Em áreas infestadas, a bactéria pode sobreviver associada à rizosfera de plantas não hospedeiras, dificultando ainda mais o seu controle. R. solanacearum pode ser propagada por mudas infectadas e pela água de irrigação.

As condições favoráveis para a ocorrência da doença são elevadas temperaturas do solo, de 28-32ºC, solos úmidos e encharcados, e que tenham pH abaixo de 7,0. Essas condições são, na maioria das vezes, prevalentes em cultivos protegidos e em casa de vegetação. A murcha bacteriana é também importante doença de muitas culturas desenvolvidas em vasos ou outro tipo de recipiente, como ornamentais e hortaliças, de elevado valor agregado (Figura 1).

Fig. 1 - Sistemas de culturas envasadas em condições de cobertura plástica. A, B, - no chão, sobre canteiros; C, D - sobre bancadas.

Os substratos utilizados para a produção de mudas e de culturas envasadas são, na maioria das vezes, desinfestados, visando manter a sanidade das culturas. A desinfestação pode ser feita pelo uso de vapor d’água, em autoclaves ou caldeiras e, até pouco tempo atrás, também com brometo de metila.

Entretanto, esses dois métodos apresentam limitações. O tratamento do solo com vapor pode ser muito drástico e reduzir populações de micro-organismos benéficos. Além disso, pode afetar a disponibilidade de micronutrientes, liberando-os em quantidades tóxicas para as plantas. O brometo de metila, pesticida utilizado como fumigante em pré-plantio, foi extinto do mercado porque, embora apresentasse alta eficiência e amplo espectro de ação, seu emprego apresentava riscos para o ambiente e para o homem, sendo o principal deles a destruição da camada de ozônio.

Como alternativa para a desinfestação de substratos, foi desenvolvido pela Dra. Raquel Ghini, da Embrapa Meio Ambiente, um equipamento denominado “coletor solar”, que utiliza a radiação solar. O coletor solar compreende seis tubos de alumínio com 15 cm de diâmetro colocados paralelamente em uma caixa de madeira (1,5 m x 1,0 m x 0,3 m) recoberta com plástico transparente. O substrato é colocado dentro dos tubos para tratamento (Figura 2) e normalmente, em condições de alta intensidade de radiação solar (maior que 1cal cm² min¹), a exposição por apenas um dia é suficiente para a erradicação de organismos fitopatogênicos.

 
Fig. 2 - Vista geral de um coletor solar para desinfestação de substrato.

As temperaturas obtidas no coletor solar são suficientes para controlar micro-organismos fitopatogênicos habitantes do solo, mas não para esterilizar completamente o substrato, dificultando a sua are-infestação, pois os micro-organismos antagonistas residentes não são eliminados. Também não há alteração na composição dos nutrientes do solo.

Em experimentos realizados por pesquisadores do Instituto Biológico e Embrapa Meio Ambiente, foi verificado que o coletor solar promoveu a erradicação de R. solanacearum com apenas um dia de exposição à plena radiação. Dentro do coletor solar, o substrato atingiu temperaturas acima de 60ºC por pelo menos 5h durante o dia, com uma temperatura máxima de aproximadamente 80ºC. Como planta-teste, para verificar a eficiência da técnica, foram utilizadas mudas de tomate. Estas apresentaram desenvolvimento normal, sem sintomas de murcha bacteriana, quando produzidas em substrato tratado no coletor solar. Por outro lado, 60 a 70% das mudas transplantadas para substrato não tratado morreram (Figura 3). Os resultados se repetiram em dois experimentos realizados, indicando que o coletor solar, além de eficiente contra fungos e nematoides fitopatogênicos, é também eficiente para erradicação de R. solanacearum de substratos infestados. Outra vantagem da técnica é que o substrato tratado pode ser reutilizado por inúmeras culturas além do tomateiro, inclusive ornamentais, como gerânio e begônia, bastante suscetíveis à murcha bacteriana (Figura 4). Adicionalmente, trata-se de um equipamento de baixo custo, fácil de construir e operar, e inócuo à saúde humana e ao meio ambiente.

 
Fig. 3 - Pus bacteriano exsudando da haste de muda de tomateiro infectado (seta).
 
 
Fig. 4 - Sintomas de infecção natural causados por causados Ralstonia solanacearum em plantas de A. gerânio e B. begônia.

Referências

Ghini, R. A solar colletor for soil disinfestation. Netherlands Journal of Plant Pathology, v.99, p.45-50, 1993.

Ghini, R.; Inomoto, M.M.; Saito, E.S. Coletor solar no controle de Meloidogyne arenaria em substratos para produção de mudas. Fitopatologia Brasileira, v.23, p.65-67, 1998.

Origem: Instituto Biológico - www.biologico.sp.gov.br 


Irene Maria Gatti de Almeida possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade de São Paulo (1974) e mestrado em Ciências (Energia Nuclear na Agricultura) pela Universidade de São Paulo (1980). Atualmente é Pesquisador Centífico do Instituto Biológico no Centro Experimental Central, Campinas-SP. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Fitopatologia, atuando principalmente nos seguintes temas: bacteriose, videira, cana-de-açúcar, orquídea e plantas ornamentais.
Contato: - gatti@biologico.sp.gov.br

 

Flávia Rodrigues Alves Patrício possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade de São Paulo (1982), mestrado em Agronomia (Fitopatologia) pela Universidade de São Paulo (1991) e doutorado em Agronomia (Fitopatologia) pela Universidade de São Paulo (2000). Atualmente é efetivo do Instituto Biológico no Centro Experimental Central, Campinas-SP. Tem experiência em doenças do cafeeiro, controle biológico de doenças de plantas, solarização e patologia de sementes.
Contato: flavia@biologico.sp.gov.br

 

Celso Sinigaglia possui especialização em Defensivos agrícolas - Utilização, toxicologia ... pela Universidade Federal de Viçosa (1987). É Pesquisador Científico do Instituto Biológico, no Centro experimental Central,  Campinas-SP
Contato: celso@biologico.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

ALMEIDA, I.M.G de; Patrício, F.R.A; SINIGAGLIA, C.  Controle da murcha bacteriana em substrato para plantio. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_3/MurchaBacteriana/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 12/07/2010