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VALORIZAÇÃO
DO CÂMBIO E O COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL E DE SÃO PAULO DE JANEIRO A
AGOSTO DE 2010
José
Sidnei Gonçalves(1)
A análise do comércio exterior com base em estatísticas expressas em moeda brasileira permite avaliar os impactos na renda e na produção interna das transações com as demais nações. A valorização cambial recente cria uma preocupação para a competitividade da produção nacional ao afetar decisivamente os preços relativos. Os preços das mercadorias brasileiras precisam de valores maiores em dólar para cobrirem os custos de produção e serem competitivos nas vendas externas. Os das mercadorias estrangeiras se tornam mais baratos para aquisições internas no exterior. A persistência desse fato num horizonte largo de tempo, compromete as contas do comércio exterior brasileiro e penaliza a produção nacional. Tomando em valores constantes (2), a média da cotação da moeda norte-americana (US$), expressa em moeda nacional (R$) para período dos primeiros oito meses de cada ano, o valor do dólar recuou de R$2,24 em 2009 para R$1,80 em 2010, com tendência de caminhar para valores mais baixos ainda nos próximos meses. Com isso, apenas para preços no mercado internacional em 2010 maiores em no mínimo 19,5% é que seriam obtidos preços no mercado brasileiro com patamar similar ao de 2009. Quando se compara o valor médio da taxa de câmbio em agosto de 2010 (R$ 1,76/US$) com o verificado em janeiro de 2009 (R$ 2,47/US$) a valorização assume níveis muito elevados (28,8%). Mercadorias com o mesmo preço de US$ 100, teriam seus preços reduzidos para venda ou para compra em moeda brasileira de R$ 247 para R$ 176.
Isso produz relevantes impactos nos
efeitos internos do comércio exterior. De janeiro a agosto de 2010, as
exportações do Estado São Paulo (3) somaram R$ 58,43 bilhões
(25,9% do total nacional) e as importações (4) atingiram
R$43,2 bilhões (37,8% do total nacional), registraram um déficit de
R$18,89 bilhões. Em relação ao mesmo período de 2009, o valor das
exportações paulistas recuou 0,6% e o das importações aumentou 11,6 %,
com significativa elevação do déficit comercial (+79,9%) (Figura
1).
Figura 1
-
Balança Comercial, Estado de São Paulo, Janeiro a Agosto de 2009 e 2010. Fonte: Elaborada pelo
IEA/APTA a partir de dados básicos da SECEX/MDIC
Comparando-se o
período de janeiro a agosto de 2010 com o de 2009, as exportações
paulistas recuaram (-0,6%) e as brasileiras aumentaram (+3,8%), enquanto
que nas importações, o acréscimo foi maior no Brasil (18,1%) do que
Os agronegócios
paulistas apresentaram exportações com reduzido crescimento (2,7%),
atingindo R$22,67 bilhões; conquanto as importações tenham mostrado
maior acréscimo (5,8%), somando R$8,93 bilhões, gerando pequena elevação
do saldo comercial (+0,8%) em relação a janeiro a agosto de 2009,
atingindo R$13,74 bilhões (Figura
2). Esse incremento decorre, principalmente, das exportações de
açúcar que consistem no principal produto da agricultura paulista, cujos
preços internacionais refletem ainda a quebra de safra da Índia, que de
exportadora passou a importadora.
Figura
2
-
Balança Comercial dos Agronegócios Estado de São Paulo, Janeiro a Agosto
de 2009 e 2010.
Fonte: Elaborada pelo IEA/APTA a partir de dados básicos da SECEX/MDIC. Há que se destacar que as importações paulistas nos demais setores - exclusive os agronegócios - somaram R$ 68,39 bilhões para exportações de R$35,76 bilhões, gerando um déficit externo desse agregado, de R$ 32,63 bilhões. Essa persistência do déficit dos demais setores revela a dificuldade da recuperação de economias industriais como a paulista quanto aos impactos da crise econômica de 2008. De outro lado permite concluir que o déficit do comércio exterior paulista só não foi maior devido ao desempenho dos agronegócios estaduais, cujos saldos ainda se mantiveram positivos e crescentes.
A balança comercial brasileira registrou superávit
de R$20,91 bilhões de janeiro a agosto de 2010, com exportações de
R$225,59 bilhões e importações de RS$204,68 bilhões. A queda no saldo
comercial (-52,6%)
aconteceu em função do reduzido aumento das exportações (3,8%) que se
mostrou muito menor que a elevação das importações (18,1%) (Figura
3). Fica nítido o impacto da valorização da moeda nacional que
barateando importações e tornando menos competitivas as exportações,
incrementou aquisições externas em proporção muito maior que as vendas
para o exterior.
Figura
3
- Balança Comercial, Brasil, Janeiro a Agosto de 2009 e 2010. Fonte: Elaborada pelo IEA/APTA a partir de dados
básicos da SECEX/MDIC. De janeiro a agosto de 2010, as exportações dos agronegócios brasileiros recuaram 14,2% em relação ao mesmo período do ano anterior, atingindo R$92,69 bilhões (41,1% do total). Já as importações do setor elevaram-se em 1,6%, também em comparação com janeiro a agosto de 2009, somando R$25,60 bilhões (12,5% do total). Isso provocou queda do superávit dos agronegócios, que foi de R$67,09 bilhões no período, sendo 11,2% inferior ao do mesmo período do ano anterior (Figura 4). Esse desempenho mostra os significativos impactos da valorização cambial sobre o comércio exterior setorial, contabilizando já expressivas perdas com recuo das vendas externas e aumento das aquisições no exterior.
Figura
4
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Balança Comercial dos Agronegócios, Brasil, Janeiro a Agosto de 2009 e
2010. Fonte: Elaborada pelo IEA/APTA a partir de dados
básicos da SECEX/MDIC. Ainda assim, o desempenho dos agronegócios sustentou a balança comercial brasileira, uma vez que os demais setores, com exportações de R$ 132,90 bilhões e importações de R$179,08 bilhões, produziram no período um déficit de R$ 46,18 bilhões. A continuidade desse processo de importações com taxas positivas de crescimento e exportações com taxas negativas e mais expressivas, acende o sinal de alerta sobre as contas externas brasileiras num futuro próximo. Há que se tomar decisões estratégicas para evitar maiores impactos do câmbio valorizado sobre as exportações nacionais.
De outro lado,
essa conjuntura ocorre em sucessão aos efeitos mais drásticos da crise
econômica mundial sobre economias industriais como a paulista. Tais
impactos somente não foram mais dramáticos sobre os agronegócios
estaduais pela situação favorável das vendas de açúcar cujos preços
deram um salto pela quebra da safra da Índia, amenizando os corolários
da crise econômica sobre a agricultura agroindustrial-exportadora
paulista, que se diferencia da realidade primário-exportadora das demais
unidades da federação. Tais elementos estruturais tornam espúrias as
comparações por vezes realizadas de comparação do desempenho da economia
paulista com a brasileira.
NOTAS
(1)
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Economia, Pesquisador Científico do
Instituto de Economia Agrícola (IEA) da Agência Paulista de Tecnologia
dos Agronegócios (APTA).
(2)Os
valores do comércio exterior refletem valores em moeda brasileira,
convertidos pela taxa de câmbio comercial para venda (R$ / US$) do Banco
Central, deflacionada pelo índice de Preços ao Consumidor Ampliado
(IPCA) da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
(IBGE) para expressar valores constantes médios do período de janeiro a
agosto de 2010.
(3)
Estado produtor (Unidade da Federação exportadora), para efeito de
divulgação estatística de exportação, é a Unidade da Federação onde
foram cultivados os produtos agrícolas, extraídos os minerais ou
fabricados os bens manufaturados, total ou parcialmente. Neste último
caso, o estado produtor é aquele no qual foi completada a última fase do
processo de fabricação para que o produto adote sua forma final.
(4)
Estado importador (Unidade da Federação importadora) é definido como a
Unidade da Federação do domicílio fiscal do importador.
Palavras-chave:
agronegócios, balança comercial, exportações, importações, câmbio.
Dados para citação bibliográfica(ABNT): GONÇALVES, J.S.; VICENTE, J.R. Valorização do câmbio e o comércio exterior do Brasil e de São Paulo de janeiro a agosto de 2010. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_3/cambio/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 22/09/2010 |