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Preparação para nova safra de soja 2010/2011

 

Cley D. M. Nunes

 

O planejamento da próxima safra de soja é muito importante para o produtor.  Sabemos que o clima interfere diretamente na produtividade da cultura, mas não é só isso. Além deste, será preciso levar em consideração uma série de outros fatores como o uso de boa semente, o bom manejo do solo, a escolha correta das cultivares, semeadura na época correta, o uso correto de insumos (Rhizobium, adubo e calcário), dentre outros.

Na última safra tivemos ótimos índices de produtividade. No Brasil, a área cultivada para produção de grãos na safra 2009/10 foi de 47,5 milhões de hectares ou seja, inferior em 0,4% ou 172,1 mil hectares à safra anterior. A produção foi superior à safra 2008/09, produziu 146,9 milhões de toneladas, ou seja, mais de 8,7% ou 11,7 milhões de toneladas a mais.  A soja está entre as culturas mais cultivadas e se destaca em área plantada, tendo aumentado em 6,9% ou 1,5 milhões de hectares. A produção foi de 67,86 milhões de toneladas, representando um aumento de 18,7%, ou 10,7 milhões de toneladas, em relação aos 57,17 milhões de toneladas colhidas na safra passada.  A produtividade foi de 2.920 quilos por hectare, foi a maior média já obtida no Brasil, com 11% a mais que a safra do ano agrícola anterior, de 2.629 kg por hectare. Na Região Sul cresceu a área de plantio em 7,8% (643,8 mil hectares) e a produção foi de 24,98 milhões toneladas, equivalente a 36,8% da produção nacional. Os estados que se sobressaíram em crescimento de área foram Santa Catarina (14,1%), Paraná (10,7%) e Rio Grande do Sul (4,2%). A produtividade também aumentou em todos os estados da Região Sul com média de 2.801 kg por hectare, estando o Paraná e Santa Catarina acima da média, 3.140 e 2.950 kg por hectare, respectivamente (CONAB, 2010).

No momento, os produtores de soja em todo o país estão atentos a um novo evento de La Niña, quando ocorre um processo de resfriamento das águas do Oceano Pacífico, provocando alterações climáticas e retardando a ocorrência de chuvas a partir da primavera. O fenômeno La Niña está confirmado e deve provocar veranicos prolongados na primavera e no verão. A primeira consequência do fenômeno será para os produtores de Mato Grosso, com alta probabilidade de atrasar o plantio de soja.  As chuvas poderão chegar mais tarde nos meses de outubro e novembro para essa região, influenciando o plantio de soja, com possibilidade de redução da produção.  As melhores alternativas para evitar esta situação serão o escalonamento da época de semeadura e a diversificação de cultivares.

O nível de tecnologia adotado e a variabilidade climática explicam grande parte das flutuações no rendimento de grãos entre as cultivares, que ocorrem em diferentes safras e  locais. Particularmente para a cultura de soja, no Rio Grande do Sul (RS), onde a viabilidade de cultivo é praticamente em todo o estado, conforme os trabalhos de zoneamento agrícola, a  variável meteorológica determinante de oscilações no rendimento de grãos é a precipitação pluvial (deficiência hídrica), tanto interanual quanto entre as diferentes regiões.

Segundo as previsões meteorológicas, as lavouras do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e também de Mato Grosso do Sul não deverão enfrentar grandes problemas na fase de plantio entre outubro e novembro, porém deve-se considerar o risco de estiagem durante os meses de verão. Além disso, a continuidade do La Niña remete para um outono também com chuvas abaixo da média. Os preparativos para o início da semeadura estão adiantados, aguardando somente o fim das chuvas do inverno.

As recomendações para o plantio da soja em 15 estados e no Distrito Federal, para  a safra 2010/2011, foram publicadas, em 15 de setembro no Diário Oficial da União. O zoneamento agrícola orienta quanto aos tipos de solo, clima adequado, período de semeadura, cultivares indicadas e municípios aptos ao cultivo em cada região.

Os elementos climáticos que mais influenciam na produção da soja são a precipitação pluvial, a temperatura do ar e o fotoperíodo. A disponibilidade de água é importante, principalmente em dois períodos de desenvolvimento da cultura: germinação/emergência e floração/enchimento de grãos. Déficits hídricos expressivos, durante a floração/enchimento de grãos, provocam alterações fisiológicas na planta, como o fechamento dos estômatos e o enrolamento de folhas e, como consequência, causam a queda prematura de folhas e de flores e abortamento de vagens, resultando em redução do rendimento de grãos. A soja adapta-se melhor às temperaturas do ar entre 20ºC e 30ºC. A temperatura ideal para seu crescimento e desenvolvimento está em torno de 30ºC. A faixa de temperatura do solo adequada para semeadura varia de 20ºC a 30ºC, sendo 25ºC a temperatura ideal para uma emergência rápida e uniforme.  A soja, sendo basicamente uma planta de dias curtos, é influenciada pelas condições fotoperiódicas próprias de cada latitude, especialmente na duração do período de emergência à floração.

Outra preocupação dos produtores de soja são as doenças, principalmente a ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi Sydow. A doença possui alto potencial de dano à cultura, pois pode causar rápido amarelecimento e queda prematura de folhas, prejudicando a plena formação dos grãos, levando a grande prejuízo.

No Mato Grosso, o vazio sanitário terminou no dia 15 de setembro. A legislação proíbe o plantio de soja durante esse período para evitar o surgimento e a propagação da ferrugem asiática da soja nas lavouras.  Durante o período do vazio sanitário, o plantio de soja só é permitido para pesquisa científica, com prévia autorização dos órgãos competentes.  Os plantios para fins de pesquisa também ficam sujeitos à fiscalização. Caso as áreas não respeitem os padrões de conformidade (ferrugem zero) serão sumariamente destruídas pela fiscalização. O objetivo da pesquisa neste período de proibição de plantio é o melhoramento genético, avanço das variedades, avaliação de outras doenças da soja e multiplicação de sementes genéticas. A expectativa das autoridades sanitárias em Mato Grosso é de que o número de focos tenha uma redução em relação ao ano passado (Fundação Rio Verde, 2010). A redução da severidade da doença faz que os produtores adotem esta prática de controle e vem aumentando a adesão ano a ano naquelas regiões e isso pode refletir diretamente no resultado da nova safra,  principalmente para Região Sul.

No Rio Grande do Sul  caso se confirmar a redução da precipitação no verão, haverá menor pressão dos patógenos, em especial da "ferrugem da soja", permitindo prever uma redução no número de aplicações de fungicidas em relação à safra passada e consequentemente, a redução nos custos de produção.

O período de vazio sanitário (período sem cultivo de soja) no Brasil ocorre em MT - 15/06 a 15/09; GO - 01/07 a 30/09; MS - 01/07 a 30/09; TO - 01/07 a 30/09; SP - 01/07 a 30/09; MG - 01/07 a 30/09; MA - 15/08 a 15/10; PR - 15/06 a 15/09 e na BA – 15/08 a 15/10.  No Rio Grande do Sul não há vazio sanitário, por haver inverno (baixas temperaturas) e esta condição não permitir a semeadura da soja, reduzindo o foco da doença.  Mesmo ocorrendo esta condição, é necessário que os produtores gaúchos erradiquem as plantas hospedeiras alternativas (feijão comum, Phaseolus vulgaris, e outras conhecidas como guaxas ou tigueras ou a própria soja) que possam ocorrer antes da época recomendada para plantio da soja.

Na safra 2009/2010, o Consórcio Antiferrugem informou que foram registrados 2.371 focos da doença, com as primeiras ocorrências da ferrugem no Tocantins, nos municípios de Lagoa da Confusão (25/08/2009) e Formoso do Araguaia (15/09/2009), e em Goiás no município de São Miguel do Araguaia (16/09/2009).  No RS, a epidemia teve início na região norte (maior produtora de soja) nos municípios de Três de Maio e Santiago no mês de novembro/2009; e na região sul, na última quinzena de fevereiro de 2010, em Capão do Leão. O estabelecimento de maior número de focos da doença no RS foi nos estádios Vn a R6, com 96 e 84 focos, respectivamente, sobressaindo-se R1 – 96 e R2 – 84 focos, principalmente nos meses de janeiro e fevereiro com 289 e 100 focos, respectivamente. O maior número focos no país ocorreu em MT (586) e GO (493), seguido do RS, com 393 focos (CONSORCIO ANTIFERRUGEM, 2010).

Neste momento, o manejo integrado de doenças é fundamental para racionalizar o uso dos agrotóxicos, além de garantir alta produtividade e qualidade do produto, reduzindo o número de aplicações de agrotóxicos, risco de intoxicação do aplicador, os custos de produção, impacto ao meio ambiente, e permitindo a inserção nos mercados mais exigentes, que garantem os melhores preços.  O ponto principal do manejo é o monitoramento das doenças.

Muitos produtores aplicam fungicidas na floração da soja, como regra de controle da doença. Grande parte acaba deixando o monitoramento para a segunda aplicação do produto. Portanto, é importante que os produtores/agrônomos responsáveis estejam atentos ao período de maior precipitação. Existe uma alta associação entre maior precipitação e umidade relativa alta com maior severidade da doença. O produtor tem que estar atento e vigilante, com atenção aos primeiros focos da doença na sua região para tomada de decisão de aplicação do fungicida.

A orientação para sogicultores é que concentrem a semeadura no início da época recomendada, evitando o atraso da semeadura, e/ou utilizem cultivares precoces e mais tolerantes, com o objetivo de escapar da época de maior quantidade de inóculo, além de adubação equilibrada e uma boa tecnologia de aplicação. 

A Reunião do Consórcio Antiferrugem, realizada em Brasília apresentou os resultados sumarizados de 31 ensaios de fungicidas executados na ultima safra em diferentes estados do Brasil, nas principais regiões produtoras, por 25 instituições, entre elas a Embrapa Clima Temperado. A comissão de fitopatologia responsável pelas informações passou a indicar para o controle da ferrugem somente a utilização de misturas comerciais de triazóis com estrobilurinas para o controle de ferrugem. Esta recomendação em mistura foi indicada porque o uso de triazóis, isoladamente  e de forma contínua, apresentou  menor ação de controle da doença nas safras de 2007/2008 e 2008/2009.


Cley Donizeti Martins Nunes possui graduação em Engenharia Agronomica pela Universidade Federal de Pelotas (1985) , mestrado em Agronomia pela Universidade Federal de Pelotas (1988) e doutorado em Ciência Fitossanidade pela Universidade Federal de Pelotas (2005) . Atualmente é Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Clima Temperado, Pelotas-RS. Tem experiência na área de Agronomia , com ênfase em Fitossanidade. Atuando principalmente nos seguintes temas: Arroz, Brusone, Resistência, Raças, Cultivares e Pyricularia.
Contato:
cley@cpact.embrapa.br



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Dados para citação bibliográfica(ABNT):

NUNES, C.D.M. Preparação para nova safra de soja 2010/2011. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_4/SafraSoja/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 28/10/2010