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Sistemas ecológicos de cultivo de trevo vesiculoso visando a produção de forragem e de sementes

 

Gilberto A Peripolli Bevilaqua
Rosemere Bergenmaier de Olanda

 

A introdução de leguminosas em sistemas agropastoris proporciona uma série de incrementos que vão desde o aumento da fertilidade do solo, por meio da fixação de nitrogênio, que resulta em aumento de rendimento agrícola, chegando a aumentos na quantidade e qualidade da forragem, seja ela proveniente de espécies cultivadas ou do próprio campo natural.  Dentre as alternativas de leguminosas forrageiras, plenamente adaptadas ao Rio Grande do Sul, encontra-se o trevo vesiculoso.

O trevo-vesiculoso (Trifolum vesiculosum) é uma importante forrageira anual de inverno. Seu uso possibilita uma grande melhoria em sistemas agropastoris. Seu rendimento, qualidade de forragem e produção de semente têm superado outras leguminosas de clima temperado como trevo-branco e cornichão (COELHO et al., 2002). Outra característica importante é a elevada dormência de sementes, característica esta que garante sua perenidade na área quando bem manejada. Essas particularidades possibilitam seu aproveitamento em sistemas de integração lavoura-pecuária, característica de sistemas diversificados, como é o caso das pequenas unidades de produção e assentamentos que desenvolvem a agricultura camponesa.

A multiplicidade de usos da cultura possibilita rendimentos econômicos diretos na produção de sementes e agregação de valor com a produção de carne, leite, lã, mel, além de cobertura de solo para uso do sistema plantio direto. Portanto, o trevo-vesiculoso, assim como outras leguminosas, é promotor de melhoria de sistemas de cultivos, mantendo e recuperando a fertilidade do solo, aumentando a disponibilidade de água e reduzindo a amplitude térmica do solo.

É indicado como forrageira para pastejo ou fenação, podendo ser utilizado consorciada ou não, pois apresenta baixíssimo risco de timpanismo. O trevo-vesiculoso, apesar de ter ciclo vegetativo anual, garante sua propagação para os anos subsequentes por ressemeadura natural, graças à ocorrência de sementes duras, acima de 70%, que se mantêm no solo por longo período, mantendo sua viabilidade (HOVELAND et al., 1969). Por outro lado, este fato leva a necessidade de escarificação das sementes, previamente à semeadura, para superar a dureza do tegumento e garantir a emergência requerida.

Foram instaladas unidades de observação dessa leguminosa nas sete unidades produtivas (UP), localizadas no assentamento Novo Arroio Grande, Arroio Grande, RS, com dimensão de aproximadamente 0,25ha. A adubação de base foi orientada pela análise de solo e pelas condições econômicas das famílias. Foram usados fertilizante NPK, esterco bovino curtido e seco, fosfato natural de Arad e calcário filler, de acordo com a disponibilidade de cada UP. A instalação de unidades experimentais envolveu a escolha da área, o preparo de solo, a inoculação e revestimento de sementes e posterior semeadura. Em condições de cima temperado a semeadura pode ser realizada nos meses de abril e maio, o que influenciará no rendimento da matéria seca e de semente.

A cultura, fenologicamente revelou, em média, os seguintes resultados: 6 dias para emergência, 27 dias para o aparecimento da 1° folha trifoliolada, de 55 dias para  a primeira ramificação, 113 dias para o início do florescimento, 157 dias para a plena floração e 209 dias para a colheita. Quanto ao aparecimento da sexta folha trifoliolada, primeira ramificação, início e plena floração e época de colheita das sementes houve pequena variação entre as unidades embora a grande diversidade de condições em que foram conduzidas as unidades experimentais.

Nas condições do trabalho, as plantas podem ser cortadas ou pastejadas, pois apresentaram boa capacidade de recuperação em ambos os casos. A época de corte ou pastoreio foi alcançado aos 85 dias após a emergência e foi ligeiramente mais precoce ao  indicado por outros autores que indicam aproximadamente 90 dias para o seu completo estabelecimento e início do pastejo (HOVELAND, 1973).

            O trevo vesiculoso apresenta alto rendimento de matéria seca e qualidade de forragem, e, no presente trabalho, resultou em média de 1.666 kg ha-1 de massa seca aos 85 dias após a emergência e com altura média de 45 cm. É importante salientar que os valores referem-se a um único corte realizado no estádio de pré-floração. O corte do trevo vesiculoso foi feito entre 26 a 28 de setembro. Apesar da realização de pastejo em uma das UPs, a variação pôde ser considerada pequena, indicando inclusive a possibilidade de realização de mais um corte, antes da produção de sementes. A proteína bruta na forragem foi de 26,9% e a fibra digestiva neutra 31%, apresentando pequena variação entre as unidades de produção, confirmando informações de BALL (1991).

            De modo geral, o acréscimo de 240 kg ha-1 de fosfato natural de Arad mostrou-se adequado. O uso de adubos orgânicos possibilita melhor desempenho das plantas no estádio inicial, enquanto a fixação de nitrogênio pelo rizóbio ainda é pequena.

            A produção de sementes alcançou em média 259,2 kg-1, mas atingiu pico de 636,1 kg.ha-1 o que significa uma excelente oportunidade de geração de renda aos agricultores. Acredita-se que uma adubação adequada dos campos de produção possa apresentar um efeito mais pronunciado na quantidade de sementes, aliado obviamente, a um bom manejo do pastejo das plantas dentro da época recomendada. Outro fator que pode contribui significativamente para o alto desvio padrão na produtividade de sementes entre as unidades produtivas refere-se a resposta da planta a polinização pela ação de insetos. A abelha (Apis mellifera) é responsável por 80% da polinização entomófila e torna-se importante as áreas de produção de sementes estarem protegidas do vento, pois em condição de ventos com velocidade acima de 20 km/h as abelhas cessam seus vôos (CARAMBULA,1981).

O trevo vesiculoso pode ter diferentes funções em sistemas de produção diversificado como é o caso de pequenas unidades de produção onde se desenvolve agricultura camponesa. Nesse sentido pode ser utilizado na produção de forragem para pastejo, produção de sementes, produção apícola, adubação verde e como cobertura de solo para plantio direto. A cultura apresenta bons rendimentos de matéria seca e alta qualidade de forragem, podendo ser considerada alternativa para otimização dos sistemas de produção de leite, mesmo em solos de baixa fertilidade a partir do uso de adubação orgânica e do aporte de fósforo utilizando fosfatos naturais. É possível obter bons rendimentos de semente, mesmo em solos com restrições de fertilidade. O estabelecimento da cultura pode ser efetuada com cultivo solteiro e consorciado com outras espécies, se adequando às diferentes condições ambientais e econômicas encontradas nas unidades de produção.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BALL, D.M. et al. Southern forages. Norcross: International Plant Nutrition Institute, 4ª ed, 1991. 332p.

CARAMBULA, M. Produccion de semillas de plantas forrajeras. Montevideo: Hemisfério Sur, 1981. 650p.

COELHO, R.W., RODRIGUES, R.C.; REIS, J.C.L. Rendimento de forragem e composição bromatológica de quatro leguminosas de estação fria. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2002. (Embrapa Clima Temperado. Comunicado Técnico,78).

HOVELAND, C.S. et al. Yuchi arrowleaf clover. Auburn: Auburn University, 1969. 27p. (Auburn University. Bulletin, 396).


Gilberto A Peripolli Bevilaqua possui graduação em Agromomia pela Universidade Federal de Santa Maria (1986), mestrado em Ciência e Tecnologia de Sementes pela Universidade Federal de Pelotas (1993) e doutorado em Ciência e Tecnologia de Sementes pela Universidade Federal de Pelotas (1996). Atualmente é pesquisador A da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Produção e Beneficiamento de Sementes, atuando principalmente nos seguintes temas: Produção de sementes, variedades crioulas, feijão, plantas medicinais e capacitação.

Rosemere Bergenmaier de Olanda é Eng. Agr., Mestre em Agronomia/Sistemas de Produção Agrícola Familiar, UFPEL



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

BEVILAQUA, G.A.P.; OLANDA, R.B. de Sistemas ecológicos de cultivo de trevo vesiculoso visando a produção de forragem e de sementes. 2010. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2010_4/trevo/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 30/11/2010