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Diagnose de sintomas de fitotoxicidade devidos ao herbicida tebuthiuron em folhas de amendoim, em áreas de renovação de canaviais.

Sergio Veraguas Sanchez

 

Detalhes da clorose em diferentes estádios, até a necrose dos folíolos.

 

Vista geral dos sintomas de fitotoxicidade por tebuthiuron em áreas de renovação de canaviais, na região de Ribeirão Preto-SP (1.985/86).

 

Detalhe de plantas exibindo os sintomas de fitotoxicidade.

Na região de Ribeirão Preto, e principalmente o município de Pontal-SP, na década de oitenta, apresentava grandes áreas (>1.000 ha) com o cultivo de amendoim. Os produtores cultivavam esta oleaginosa em áreas próprias e arrendadas, das usinas e de outros produtores.

Estes cultivos em sucessão (rotação de culturas) são importantes para a movimentação e disponibilidade dos nutrientes dos horizontes inferiores para as camada mais superficiais do solo; para o controle de pragas e doenças, e o fornecimento de nitrogênio fixado através da associação simbiótica, pelas estirpes das bactérias do gênero Bradyrhizobium sp, no caso do amendoim.

No ano de 1.986, no mês de janeiro, em visitas de acompanhamento técnico a estas lavouras, observamos os sintomas aqui relatados. Embora os sintomas lembrassem fitotoxicidade por agrotóxicos; no entanto, seria necessário diagnosticar qual deles induziria os sintomas apresentados .

Seria causado por um herbicida, inseticida, ou fungicida?

Os sintomas apareciam em faixas ao longo dos terraços, ocorrerrendo também em reboleiras, bem localizadas (pontual), lembramos, também, da necessidade de se fazer uma avaliação do estado nutricional da lavoura de amendoim.

Nestas áreas, embora fosse um fato comum o uso de calcário, (como corretivo agrícola e fornecedor dos macronutrientes cálcio e magnésio), logo após a eliminação da soqueira da cana, não é possível haver uma correção eficaz da acidez do solo, além do fornecimento de cálcio e magnésio em quantidades adequadas às plantas, para o uso imediato das culturas em sucessão.

O calcário apresentando uma granulometria normal (com grânulos de tamanhos diversos) e com os valores de PRNT (poder relativo de neutralização total), de acordo com a legislação em vigor, disponibiliza o cálcio e o magnésio aos poucos, não apresentando resultados muito rápidos , como é o caso do calcário calcinado; isto poderia, portanto, induzir a uma deficiência de magnésio, e/ou cálcio, em solos pobres nestes nutrientes.

Estes fatos nos conduziram a outras linhas de pesquisa para o diagnóstico daquele distúrbio foliar.

Em primeiro lugar, fomos verificar se era devido a uma deficiência nutricional.; daí coletamos o material com os sintomas em plantas "doentes", e a mesma quantidade de folhas em plantas aparentemente normais, no mesmo talhão, e com uma certa proximidade às plantas "doentes", amostradas.

Levamos este material com os vários estádios sintomatológicos apresentados ao Laboratório Central da FCAV-UNESP, Campus de Jaboticabal; onde foram realizadas as análises de macro e micronutrientes.

Os resultados das análises das folhas demonstraram que o estado nutricional das plantas de amendoim era normal. As tabelas para verificação do estado nutricional das plantas de amendoim nos foram fornecidas pelo Prof. Dr. Paulo Affonso Bellingieri, da Disciplina de Química da UNESP de Jaboticabal, como podemos observar na tabela 1, e na análise foliar (última figura).

A descrição parcial do herbicida em questão,o seu uso adequado e seus efeitos residuais fitotóxicos sobre as culturas em sucessão foi também relatada pelo Engenheiro Agrônomo, Dr. Denizart Bolonhezi, pesquisador Científico da APTA Regional Centro-leste, SAA-SP, sediada em Ribeirão Preto –SP, e consta do capítulo V: Manejo cultural do amendoim, do livro O Agronegócio do amendoim no Brasil, editado pela EMBRAPA, cujo editor técnico é a Engª Agrª, Dra. Roseane Cavalcanti dos Santos; da EMBRAPA ALGODÃO- Campina Grande, Paraiba-Brasil.

Em áreas de renovação de canavial, quando é utilizado o herbicida tebuthiuron, devido ao seu amplo espectro e grande persistência no solo, podem ocorrer prejuízos nas culturas de sucessão. Embora apresente boa solubilidade, sua movimentação no solo é muito lenta, em virtude da forte adsorção às partículas coloidais de argila e matéria orgânica. As plantas leguminosas afetadas pelo herbicida tebuthiuron apresentam uma clorose predominantemente internerval, seguida de necrose e secamento das folhas, partindo das bordas para o centro. Nas plantas de amendoim os sintomas de fitotoxicidade podem ser confundidos com aqueles causados pela deficiência de magnésio. Para evitar problemas, recomenda-se que não seja aplicado o tebuthiuron nos últimos dois ciclos da cultura de cana-de-açúcar, de maneira que haja um intervalo de pelo menos três anos.

Engº Agrº, Dr. Denizart Bolonhezi-APTA-Regional Centro-leste

No mesmo período em que se faziam as análises foliares fomos com o material e fotografias dos sintomas foliares consultar o Prof.Dr. Júlio Cesar Durigan, da cadeira de Herbicidas e Ervas Daninhas da FCAV-UNESP, Campus de Jaboticabal, e o Prof. Dr. Osvaldo Pereira Godoy ,do Departamento de Agricultura da ESALQ-USP, em Piracicaba, com quem desenvolvíamos um projeto de pesquisa com amendoim; e ambos concluíram tratar-se de sintomas de um herbicida.

Verificamos posteriormente tratar-se do herbicida tebuthiuron, confirmado por um colega da empresa produtora daquele agrotóxico. O interessante foi notar que naquele mesmo cultivo, várias plantas tiveram a regressão dos sintomas, nas áreas foliares desclorofiladas, com o retorno das chuvas naqueles dias.

Posteriormente, em novembro de 1991, com o a realização do V Seminário de Tecnologia Agronômica da COPERSUCAR, onde o assunto foi tratado, com o tema: Monitoramento de resíduos de herbicidas, onde foram apresentados os limites seguros de tolerância dos níveis de herbicidas no solo para o plantio de culturas em rotação com a cana, como o amendoim,a soja e o feijão; onde reatou-se a a necessidade de ser feita a coleta das amostras de solo para a análise laboratorial, através de metodologia apropriada, nos laboratórios do CTC, antiga COPERSUCAR, hoje Centro de Tecnologia Canavieira-CTC, com sede em Piracicaba-SP.

Limites máximos aceitáveis do princípio ativo Tebuthiuron no solo (ppm), para o cultivo de plantas em sucessão à cultura de cana-de-açúcar.

TEXTURA DO SOLO

CULTURAS

AMENDOIM

SOJA

FEIJÃO

Argilosa

0,08

0,08

0,08

Média

0,05

0,05

0,05

Arenosa

0,03

0,04

0,03

FONTE: IV Seminário de Tecnologia Agronômica.

 

TABELA 1. NÍVEIS DE NUTRIENTES PARA A PARTE AÉREA DO AMENDOIM (CAULE E FOLHAS).

MACRONUTRIENTES (%)

NITROGÊNIO

2,70-3,80

FÓSFORO

0,20-0,35

POTÁSSIO

1,70-3,30

CÁLCIO

0,75-1,75

MAGNÉSIO

0,30-0,50

ENXOFRE

0,20-0,30

MICRONUTRIENTES(ppm)

BORO

20-50

MANGANÊS

110-240

COBRE

6-15

FERRO

100-200

ZINCO

25-50

MOLIBDÊNIO

0,9-2,0

TABELA 2. LIMITES DE SUFICIÊNCIA DE NUTRIENTES PARA A PARTE AÉREA DO AMENDOIM( CAULE E FOLHAS).

MACRONUTRIENTES (%)

NITROGÊNIO

3,50-4,50

FÓSFORO

0,25-0,50

POTÁSSIO

2,00-3,00

CÁLCIO

1,25-2,00

MAGNÉSIO

0,30-0,80

ENXOFRE

NIHIL

MICRONUTRIENTES(ppm)

BORO

25-60

MANGANÊS

50-350

COBRE

NIHIL

FERRO

50-300

ZINCO

20-50

MOLIBDÊNIO

NIHIL

Estas tabelas são americanas, e nos foram fornecidas pelo Prof. Dr. Paulo Affonso Bellingieri, do Departamento de Tecnologia da FCAV-UNESP de Jaboticabal, em janeiro de 1986

Obs.: NIHIL= Não havia dados de pesquisa até a presente data, e ppm = partes por milhão ou mg/litro ou µg/mL, ou mg/kg.

ppm = mg/litro = µg/mL

Com a elucidação do caso, posteriormente passou-se a recomendar os cuidados necessários para o uso deste herbicida em áreas disponibilizadas para o cultivo rotacionado.

Os resultados das análises foliares são apresentados a seguir:

LITERATURA CITADA

Bolonhezi, D., Santos, R.C.,. Godoy, I. J.- Manejo cultural do amendoim. In: O agronegócio do amendoim no Brasil.Embrapa-Algodão, Campina Grande-Paraíba. 2006, p.230.

Seção de manejo de solos. Monitoramento de resíduos de herbicidas. In: V Seminário de tecnologia agronômica. Copersucar, São Paulo, novembro de 1991, p.366-367.


Sergio Veraguas Sanchez  possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1980), graduação em Curso de Formação de Professores da Parte Especial do Currículo de Ensino de 2º Grau - Habilitação agropecuária, pela UNESP-Campus de Jaboticabal-IBILCE-UNESP-Campus de São José do Rio Preto e USP-Campus de Ribeirão Preto (1982); possui o título de Especialista em Administração Rural, pela Universidade Federal de Lavras (2002)-MBA; Mestrado em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Paulista Júlio de Mesquita Filho (01/2007). Atualmente é assistente agropecuário VI, da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), junto ao Escritório de Desenvolvimento Rural de Ribeirão Preto (EDR-RP), como Monitor do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas (PEMH). Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Cultivo em Ambiente Protegido, atuando na assistência técnica e ensino nos seguintes temas: plasticultura e hidroponia; fruticultura: cultura de maracujá; amendoim; meio ambiente, agrotóxicos, manejo integrado de pragas (MIP-amendoim, MIP-soja) e controle alternativo de pragas e doenças de hortaliças, plantas medicinais e cana-de- açúcar.
Contato: sergio.sanchez@cati.sp.gov.br



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

SANCHEZ, S.V. Diagnose de sintomas de fitotoxicidade devidos ao herbicida tebuthiuron em folhas de amendoim, em áreas de renovação de canaviais. 2011. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2011_1/CloroseAmendoim/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 23/03/2011