Infobibos - Informações Tecnológicas - www.infobibos.com

Formação de Custos na Cafeicultura

Celso Luis Rodrigues Vegro

            Os preços são parâmetros que estruturam e condicionam o funcionamento do sistema econômico. Talvez, situem-se nos preços aquela variável menos considerada nas análises sobre os fenômenos econômicos sejam de caráter macro, meso ou microeconômicos. Dentre as possibilidades de organização dos fatores de produção (terra, trabalho e capital), a combinação de preços orienta pela seleção daquela de maior eficácia alocativa, ou seja, da maximização do lucro da empresa privada.

            Equivoco comum nas interpretações econômicas consiste em conferir aos preços uma condição absoluta. Os preços correlacionam-se uns para com os outros. No campo das commodities existe essa correlação, sendo o petróleo aquela que mais influencia o restante desse mercado. Por exemplo, é amplamente conhecida a relação de preços entre as cotações1 do petróleo e o custo dos fertilizantes nitrogenados. Assim, os preços são sempre relativos, essa característica pauta o funcionamento do sistema econômico.

Compreender que os preços são relativos ajuda a melhor analisar os fenômenos que dinamizam o sistema econômico. Assim, não se pode simplesmente anunciar que tal preço aumentou ou abaixou, pois as oscilações devem estar necessariamente referenciadas. O preço subiu ou diminuiu frente a quê? Não se deve nunca esquecer dessa condição relativa dos preços, caso contrário, as tentativas de interpretação dos movimentos da economia se tornam anacrônicas.

            Mesmo nas economias consideradas livres existe um grau de intervenção governamental na formação dos preços, pois se pressupõe que o mercado não provê de modo eficaz as necessidades da população (são as chamadas falhas do mercado). No Brasil, a correta decisão de recuperar o poder de compra do salário mínimo concedendo reajustes acima da inflação e do crescimento real da economia, exemplifica esse tipo de situação em que, de forma mandatória, um preço é posicionado para além de sua condição estabelecida pelo clássico mecanismo de oferta e demanda.

            A agropecuária por se tratar de uma atividade pulverizada, constitui um setor econômico com singularidades relevantes para a formação de preços, ou seja, com muitos ofertantes dispersos numa dada base territorial que pode ser desde uma região, um país ou o mundo. Raríssimas são as exceções em que existe uma capacidade formadora de preços (restrita a produtos artesanais e especialidades gourmet). Na comercialização de seus produtos, portanto, a produção agrícola é setor tomador de preços.

Essa condição se reproduz ainda com maior vigor na aquisição dos materiais utilizados para viabilizar o sistema de produção, pois os segmentos fornecedores da agricultura (no jargão econômico: a montante), são altamente oligopolizados, com incipiente competição entre seus concorrentes. Essa situação conduz tais grupos econômicos a administrarem seus mercados impondo preços aos seus clientes.

            Defensivamente a tais estruturas oligopolizadas, os produtores rurais esforçam-se por se organizar em torno de associações e  cooperativas de produção. Algumas empresas cooperativas posicionam-se entre as maiores empresas do país. No agronegócio Cafés do Brasil, há inúmeros exemplos bem sucedidos desse tipo de organização dos produtores. O êxito dessas formas coletivas de organização econômica confere poder de barganha aos cafeicultores, permitindo-lhes a obtenção de vantagens que de outra maneira não teriam.

            Mais recentemente, o processo que converte todos os bens econômicos em ativos financeiros endossáveis, modificou a forma como são formados os preços. Fatores como a taxa de juros básicos e a paridade cambial passaram a preponderar na determinação dos preços das economias nacionais. A existência de mercados bursáteis para as commodities agrícolas e sua capacidade em transmitir suas cotações para as transações no mercado físico, constituem uma faceta bastante concreta dessa orientação financeira nas decisões produtivas.

            Por fim, ainda outros dois elementos cruciais para a formação dos preços são a estrutura tributária e a logística de armazenamento e escoamento dos produtos. Os tributos podem conferir importantes distorções na formação dos preços. Ademais, estimula, a depender do tamanho da alíquota, grau elevado de informalidade nas transações. Normalmente, os produtos agrícolas seguem calendários em que existem safras e entressafras, exigindo a intermediação de agentes que se responsabilizam pela regularização da oferta ao longo do ano.  Ambos os fatores, ainda que externos à atividade produtiva também contribuem na formação dos preços.

            As bases materiais e tecnológicas dos sistemas de produção formam outro conjunto de elementos que compõe a formação dos custos. Na lavoura do café, é possível pensar em aspectos como: o tipo de solo em termos de sua fertilidade intrínseca e condição topográfica; a escolha do porte das variedades a serem usadas; a adoção da irrigação ou o cultivo em sequeiro e o manejo agronômico com maior ou menor incidência de operações mecanizadas, representam fatores que promovem fortes variações na formação dos custos. Assim, o estudo e a elaboração de projetos de investimento na cafeicultura, constituem-se numa ferramenta ímpar no planejamento dos custos médios que o sistema produtivo imaginado possuirá.

Efetuadas tais considerações pode-se então analisar a questão da formação dos custos de produção na cafeicultura. Com limitadíssimas capacidades de formar preços e relacionando-se com segmentos oligopolizados, a formação de custos virá sempre de fora da atividade. Tal compreensão impõe, inapelavelmente, para a necessidade de gerir com a máxima eficiência as bases materiais e tecnológicas do sistema de produção, visando obter resultado econômico desse esforço. O cafeicultor precisa se capacitar (e nisso a extensão tem papel crucial) para acompanhar seus custos e promover mudanças de manejo agronômico capazes de melhorar a produtividade do trabalho e minimizar o emprego dos insumos adquiridos externamente à propriedade. A formação de custos na cafeicultura é o elemento pelo qual nós podemos avaliar a técnica de gestão empregada e as decisões agronômicas adotadas. Ser eficiente nas duas coisas não é das tarefas mais cômodas, mas é disso que será feita a cafeicultura capaz de manter-se competitiva frente ao ciclo de preços que historicamente atua sobre segmento.

1 Preços e cotações não são sinônimos, embora a maior parte dos economistas não estabeleça distinções entre as duas terminologias. Devemos entender por cotação os valores de referência e sinalizadores de tendências. Já por preços, compreendem-se os valores ocorridos em negócios concretizados com transferência efetiva da propriedade dos bens e serviços produzidos.


Celso Luis Rodrigues Vegro é Engenheiro Agrônomo pela Escola Superior de Agricultura "Luíz de Queiróz" - USP/Piracicaba com especialização em Sistemas Agrários pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Concluiu mestrado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1992). Atualmente, atua como Pesquisador Científico nivel VI do Instituto de Economia Agrícola da Agência Paulista de Tecnologia para os Agronegócios da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Dentre as diversas áreas de estudo, concentram-se de trabalhos em temas ligados à coordenação de cadeias agroindustriais, inovação tecnológica e tendências do mercado de alimentos e bebidas, especialmente, do café.
Contato:
celvegro@iea.sp.gov.br 



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

VEGRO, C.L.R. Formação de Custos na Cafeicultura. 2011. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2011_1/CustosCafe/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 15/01/2011