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PETRECHOS DE PESCA PERDIDOS NO MAR:
PROJETO INÉDITO NO BRASIL

Luiz Miguel Casarini

O PROJETO “Petrechos de Pesca Perdidos no Mar – Blue Line System”, uma parceria realizada entre o Instituto de Pesca e a Fundação para a Conservação e a Produção Florestal (*), é inédito no Brasil. Ele utiliza metodologias de estudo e de recolhimento de petrechos de pesca abandonados, perdidos ou descartados (PP-APD) no mar, material esse que provoca graves impactos no ambiente marinho. Em sua maioria, os trabalhos com lixo marinho são focados em materiais encontrados em praias.

No momento, a área de estudo do projeto abrange duas Unidades de Conservação de Proteção Integral (onde é proibida a pesca) pertencentes à Área de Proteção Ambiental Marinha Litoral Centro (APAMLC), quais sejam: o Parque Estadual Marinho Laje de Santos (PEMLS) e o Parque Estadual Xixová-Japuí (PEXJ).

A localização de todo o material encontrado é plotada em mapa e, dependendo do grau de impacto, esse material será recolhido ou não, quantificado e analisado (caracterização técnica do petrecho em laboratório), com vistas à compreensão do esforço pesqueiro realizado nas Unidades de Conservação (UC), à avaliação de impacto e à elaboração de medidas de mitigação e prevenção.

O projeto envolve duas fases: uma preventiva e outra mitigadora. Na preventiva desenvolvem-se recursos de conscientização, em termos de incentivo à responsabilidade socioambiental, com foco nos setores responsáveis pela fabricação e comercialização até redeiros e pescadores, buscando prevenir a perda de petrechos de pesca no mar. Na fase mitigadora trabalha-se no caminho inverso, ou seja, com o recolhimento do PP-APD e, após a sua caracterização, a destinação adequada: incineração ou descaracterização do material para reciclagem.

CONSEQUÊNCIAS AMBIENTAIS

Segundo a FAO, estima-se que, no mundo todo, cerca de 640 mil toneladas de petrechos de pesca são perdidas anualmente pela pesca amadora e industrial. Trata-se de materiais muito persistentes no ambiente, como partes de redes, que podem alcançar dezenas ou centenas de metros, cabos de fios sintéticos e anzóis, dentre outros materiais provenientes da chamada “pesca fantasma”, ou seja, que causa mortalidade (às vezes de maneira sofrida) de peixes de várias espécies, incluindo grandes raias e crustáceos, sem coletar-se, no entanto, nenhum grama de alimento. Tartarugas e mamíferos marinhos também ficam enroscados/aprisionados nesse material, morrendo inutilmente num ciclo perverso interminável.

AÇÕES CONCRETAS

Em janeiro de 2010 realizou-se a primeira campanha “Dive Clean” (campanha de recolhimento de PP-APD com método) no Parque da Laje de Santos, que contou com a participação de mergulhadores da Associação das Operadoras de Mergulho (AOM), monitores ambientais do referido Parque, Instituto de Pesca, bombeiros da Polícia Militar e Iate Clube de Santos. Nessa campanha retiraram-se cerca de 350 kg de petrechos de pesca de uma área que corresponde a apenas 0,36% do Parque, cuja área é de 5.000 hectares.
Em operações de rotina no Parque da Laje, onde os monitores ambientais recolhem petrechos de pesca durante as operações de mergulho nos finais de semanas, foram retirados até agora 200 kg de materiais, aproximadamente.

No dia 29 de outubro realizou-se no Parque Estadual Xixová-Japuí, em parceria com a empresa Nutecmar, a primeira sondagem do fundo marinho com o instrumento denominado “side-scan”, para a localização de petrechos de pesca. Os resultados dessa sondagem serviram de base para a primeira campanha “Dive Clean” nesse Parque, que ocorreu no dia 5 de novembro. Essa campanha contou ainda com a participação de mergulhadores da “Divers University”, da Associação das Operadoras de Mergulho (AOM) e do 17º Grupamento de Bombeiros.

AÇÕES FUTURAS

Tem-se a intenção de expandir a área de atuação do projeto para outras regiões. Como os impactos dos petrechos de pesca não apresentam barreiras, todo o ambiente marinho deve ser considerado.

É importante ressaltar que o projeto não incentiva o recolhimento de petrechos de pesca, por se tratar de materiais perigosos. Estes precisam ser previamente avaliados e, após a retirada, ter um destino adequado. Por apresentarem riscos de acidentes, os petrechos devem ser retirados somente por pessoas habilitadas.

(*) O Instituto de Pesca é um órgão da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, e a Fundação Florestal, à Secretaria do Meio Ambiente, ambas vinculadas ao governo paulista.

 


Luiz Miguel Casarini, Centro do Pescado Marinho, Santos (SP), Instituto de Pesca, www.pesca.sp.gov.br, 24 de novembro de 2010

Contatos:
Pesquisador Luiz Miguel Casarini, lumicas@pesca.sp.gov.br, fone: (13) 3261-5529
Site: www.bluelinesystem.blogspot.com, e-mail: blulinesystem@gmail.com
E-mails: PEMLS, pem.lajedesantos@fflorestal.sp.gov.br e PEXJ, pe.xixovajapui@fflorestal.sp.gov.br

Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com



Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

CASARINI, L.M. Petrechos de pesca perdidos no mar: projeto inédito no Brasil. 2011. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2011_1/petrechos/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 19/01/2011